27 dezembro 2009
Velha Infância.
Oh boneca, tão delicada, tão quebrável, tão afável, tão amável.
Ah boneca, eu que um dia eu te amei, agora já não o sei, só sei que um dia sonhei.
Ah boneca, se pudesse te dizer, se pudesse me lembrar, se pudesse, apenas se eu pudesse.
Oh boneca, não se frustre, não chores, não, não chores por mim.
Vou partir, é fato, é inevitável, mas ficarás, perpetuarás e seus olhos, delicados, iluminarão outras faces, incendiarão outros corações, apaixonarão outros amantes.
Então boneca, não se zangues, não me odeies e não me esqueças, apenas viva, viva outros amores, viva outras dores, faça de si um arco-iris de plástico, cheio de vida, cheio de promessas.
Então boneca, já me vou, partirei, sem olhar pra trás, pros pequenos sonhos, pros pequenos trechos, pros pequenos passos, pra peça de plástico que não te dei.
Boneca, minha querida, minha vida, meu amor, foi um prazer um dia te ter, mas agora, agora não te quero mais.
Adeus.
22 dezembro 2009
Promessas.
Eles se acusavam. Se defendiam. Choravam.
Eles eram amigos, amantes, irmãos. E nada poderia fazê-los parar, se afastar, se machucar o suficiente para romper o laço. Nada era suficiente para que deixassem de pertencer.
- Você prometeu que não mais leria os meus pretextos. - Soluçou. - Prometeu.
- Foi sem querer. - Ele se desculpou, sem jeito. - Eu só não pude evitar. Pareceu tão claro. Tão obvio.
Ela suspirou pesadamente. Cheia de dor. Cheia do desespero de não poder deixá-lo pra trás. De não conseguir parar de amá-lo, pelo menos o suficiente para correr na direção contrária. Para um esconderijo seguro.
- Eu não quero fazer isso. Eu não quero sofrer. Não mais.
- E o que eu poderia fazer? Eu não quero que você sofra. E eu não posso deixar você.
- Mas, mas...
As desculpas fugiam. Ela não queria deixá-lo. Não podia. Mas tampouco poderia conviver com aquilo. Com aquela dor.
- Porque tão triste?
- Porque não posso seguir. Porque nao posso te deixar. Eu nem ao menos sei se realmente quero. Embora eu precise, definitivamente precise.
Ele passou a mão pelo rosto, como quem tenta levar a face embora. Como quem tenta expurgar os problemas. Como quem tenta se levar de si mesmo, pra longe dela, para não causar a sua dor.
- Não é tão ruim. Nós temos um ao outro. Acima de tudo. Como nossa unica certeza.
- E como isso pode ser bom? Em que planeta o fato de eu te amar tanto que não posso partir é bom?
Ele fez silencio. Ele não tinha respostas.
- Em que planeta o fato de você não me amar suficiente é bom? Não quero um meio termo. Não quero essa tristeza. Eu só não quero. Não a aguento.
- Eu sinto muito.
- Não, não sente. Você não sente muito, você, na verdade, não sente quase nada. Você não sente nem metade do que deveria para me ver feliz. Tudo o que você faz é não sentir.
- Mas eu...
- Você me prometeu, e eu fiquei esperando que cumprisse. Agora, sou somente sombras. Densas e intransponiveis sombras.
- Mas eu...
- Você prometeu, e eu fui incapaz de apagar os traços. Agora só restam eles. Por que eu já me desfiz.
- Eu nao deveria tê-lo feito então. Prometido. - E as palavras eram facas. - Eu só achei que fosse o certo.
- Promessas nunca são certas, se você não pode cumprí-las. Você apenas me feriu, fazendo-as.
- E agora?
- Só silencio. Só sombras. Só dor.
- Mas eu não quero que seja assim.
- É tarde. - Ela sorriu. - Agora é muito tarde.
- Porque?
- Por que você viu através dos meus pretextos. - E por detrás das lágrimas, sorriu. - E me viu de verdade, amando você. E agora, agora é tarde.
like a star.
It used to feel like heaven | Costumava parecer o paraíso |
It used to feel like may | Costuma parecer Maio |
I used to hear those violins playing our strings like a symphony | Eu costumava ouvir aqueles violinos tocando nossa música como uma sinfonia |
now they've gone, away | Agora eles foram-se embora |
nobody wants to know the truth | Ninguém quer conhecer a verdade |
until their hearts broken | Até que suas asas quebrem |
dont you dare tell them | Você não ousa cortar-lhe |
what you think to do | O que você pensa fazer |
till they get over | Até eles superarem? |
you can only learn these things | Você só vai aprender essas coisas |
from experience | De sua experiência |
when you get older | Quando você ficar mais velho |
I just wish that someone would have told me | Eu só queria que alguém tivesse me dito |
till it happpens to you | Até que aconteça com você |
till it happens to you | Até que aconteça com você |
Corrine Bailey Rae
07 dezembro 2009
Apenas mentiras.
- Você mentiu.
Ela acusou, e sua voz era suave. Quase como se ela não se importasse. Quase.
- Não é bem assim.
Ele se defendeu, mas suas palavras eram vazias. Todas eram.
- Está fazendo de novo. Mentindo de novo.
E seu tom era cômico, de leve, uma caricia à risada que algo a impedia de dar. Apenas uma linha. Apenas um lembrete.
- Você não acredita.
E ele tentou construir sua cena, refazer o seu palco. O mundo onde ela se importava. O mundo onde ele tinha sucesso. Mas não dessa vez.
- Você não me dá motivos.
Procurou-a com o olhar, desesperado, arrependido, culpado. Mas não a teria, não mais a teria. Ela que já não o queria, que o evitaria, que não o procuraria. Ela, cujo olhar ele jamais encontraria. Ela, que agora sorria, que achava graça do fim do quê seria um grande amor. Ela que ele nunca mais veria.
A respiração dela, pesada, cansada e traída se espalhou pela sala pequena, se chocando com os moveis, se fazendo audível. Ele a sentiu naquele sopro, ele que a amava, ele que a traíra. Ele que a queria. Que sempre quis.
E silêncio, macabro e contínuo. Necessário silêncio. Verdadeiro Silêncio. Significativo Silêncio. Apenas silêncio.
Apenas mentiras.
26 novembro 2009
Vãs.
E eu fico me perguntando porquê você fez todas aquelas promessas, se sabia que algum dia ia acabar. E agora eu as fico repetindo na memória, vez após a outra, procurando a falha que levou tudo ao fim. E é tanta saudade, e é tanta vontade de você que não sei como proceder. Como continuar. E é tanta saudade, e são tantas lembranças e foram tantas promessas. Todas e tantas em vão. E agora, são só sussurros longínquos na minha memória. Sussurros de você. Sussuros de nós.
18 novembro 2009
Vítima, Definição.
E o ar fresco era algo bom, pra variar, já que eu e a minha realidade obscura viviamos em alguma atmosfera de puro enxofre. Eu não tinha nenhuma noção de tempo ou espaço, nem de como andava pelas ruas mortas da cidade viva, mas caminhava, guiada pelo instinto que me levava para casa todos as noites depois do meu trabalho entediante. Rotina.
Talvez ele, o instinto, fosse homicida ou suicida ou só não prezasse por coisa alguma. O fato é que naquela noite, me levou àquela ruela nua, apagada e morta. Onde eu morri. Assim, de repente, num estampido. Um estalo, um zunido e um beijo.
Beijo da morte.
E então, quente e rápido, veio o sangue. E antes que pudesse tocá-lo ou entendê-lo, a queda. E sem vida, no chão, eu percebi: era vítima. E como tal, fui prenchida por dor e gelo. Por percepção. Pelo secreto dom da observação.
Sabe Deus qual era o sentido daquilo, o porquê daquele frio, a razão daquele tiro.
E o tempo era espaço, era infinito, era angustia e eu via o sangue fluir, manchar e se espalhar.
E eu não via luzes, flashes ou alguma escuridão clichê, eu só via a rua vazia de um ângulo errado, meio de lado, e escutava alguma risada ao longe, de gente feliz. De gente que ia sobreviver aquela noite não-tão-colorida.
E eu ali, caída, vítima da corriqueira violência que nos dá bom dia pela manhã. Mais uma, eu era agora estátistica, dado, sem rosto ou sabor. Eu era indigente por definição.
Eu era a definição manchada de sangue.
Talvez ele, o instinto, fosse homicida ou suicida ou só não prezasse por coisa alguma. O fato é que naquela noite, me levou àquela ruela nua, apagada e morta. Onde eu morri. Assim, de repente, num estampido. Um estalo, um zunido e um beijo.
Beijo da morte.
E então, quente e rápido, veio o sangue. E antes que pudesse tocá-lo ou entendê-lo, a queda. E sem vida, no chão, eu percebi: era vítima. E como tal, fui prenchida por dor e gelo. Por percepção. Pelo secreto dom da observação.
Sabe Deus qual era o sentido daquilo, o porquê daquele frio, a razão daquele tiro.
E o tempo era espaço, era infinito, era angustia e eu via o sangue fluir, manchar e se espalhar.
E eu não via luzes, flashes ou alguma escuridão clichê, eu só via a rua vazia de um ângulo errado, meio de lado, e escutava alguma risada ao longe, de gente feliz. De gente que ia sobreviver aquela noite não-tão-colorida.
E eu ali, caída, vítima da corriqueira violência que nos dá bom dia pela manhã. Mais uma, eu era agora estátistica, dado, sem rosto ou sabor. Eu era indigente por definição.
Eu era a definição manchada de sangue.
13 novembro 2009
céu de três estrelas.
Todas as pessoas que faziam parte daquele céu, naquela tarde eram água. Lágrimas salgadas, tristes e completas, lágrimas de separação escorriam de todos eles. Lágrimas de adeus.
E pedidos e promessas se ouviam por todos os lados. E palavras como amizade, eterno e intenso se ouviam em todos os cantos, repetidas por todas as bocas.
Mais e mais promessas.
Mais e mais esperança, mais e mais conforto para os corações concluintes. Para aqueles que se lançavam ao alto agora, aqueles que choravam a despedida dos três anos mais intensos de sua vida. Aqueles anos médios, em que eles colecionavam estrelas para por no seu céu particular.
Cabeças e mais cabeças se aglomeravam no pátio molhado, rostos e mais rostos familiares se distanciavam para sempre.
Nunca mais seria o mesmo.
Nunca mais todos juntos, uma geração única de três estrelas.
E no meio das despedidas, uma pergunta pertinente. Uma duvida real, uma duvida cruel.
"E o que a gente vai fazer com todas as lembranças?" Uma das menores perguntou, entre lágrimas.
O uniforme branco e azul estava suado, molhado, sujo com a poeira da tristeza da despedida. Assim como todos os outros. Braços alheios se estendiam em volta dele, em abraços apertados e cheios de significados. Cheios de saudades.
"Vamos guardar nas estrelas. Nós temos três delas agora." a maior respondeu. " E nós teremos três pra sempre, nós vamos sempre ser parte da história desse céu azul de Pedro II".
"Você promete?"
"Eu não preciso. É um fato. É só olhar pra cima, para ver como existem estrelas naquele azul marinho hoje."
05 novembro 2009
Debaixo do Temporal.
Era apenas uma viagem ao interior do país, mas ele se sentiu entrando em outra dimensão. A cidade pequena, a falta de muros nos quintais bem cuidados. As crianças que corriam pelas ruas, com bolas, bicicletas e patins. Tudo aquilo era tão diferente, tão estranho que ele quase não podia aceitar. Era muito, muito longe do que ele estava acostumado. Da realidade dele.
Talvez por isso ela tivesse ido embora. Talvez fosse o motivo das plantas terem morrido, dos quadros terem caído e da falta de luz na sala de estar. Talvez. Mas, ainda que fosse, ele não podia deixar que continuasse sendo. Ele precisava dela, afinal.
E ali estava ele, longe de casa, na frente da casa que ele sabia que pertencia a ela. Ele a podia sentir em todos os detalhes. Paredes cor de rosa. Portas vermelhas. Janelas com flores. As cortinas de renda branca que ela tanto desejava colocar na sala deles, na cidade.
Ele só pode sorrir, porque aquilo era tão a cara dela. E ele sentia tanta falta. Das flores sobre a mesa, dos quadros coloridos nas paredes. Do som da risada alta de madrugada, da luz no corredor.
Na escada da entrada, uma velha senhora bordava o que parecia uma toalha. Não levantou a cabeça de seu trabalho nem por um segundo, mas era impossivel que não o tivesse percebido se aproximar. Ele estava agora muito proximo dela, da porta e de sua mulher lá dentro.
- Por favor... - E a velha senhora o olhou, conjecturando. Ele se sentiu desconfortavel sob seu olhar. Quem não se sentiria.
- Ela não está.
- Mas, eu nem ao menos tive a chance de...
- Eu sei quem é você, meu filho. - E seu tom de voz era cansado, pausado e sábio. Idoso. - E ainda que ela estivesse, eu diria que ela nao está para você. Ela não quer te ver.
- Acredito que ela terá que me dizer isso para me fazer desistir.
- Ora, ela não está. Então, vá, saia, saia.
- Eu a quero de volta, a quero comigo e não posso sair sem ela. Vou sentar no gramado e esperar, se necessário.
- Para quê? A pôs pra fora, antes de tudo.
- Jamais o teria feito. Nós discutimos num dia, e no outro ela já havia ido.
- Você a negou um pedido. Uma ínfima demonstração do que vocês tinham. Um título.
- Ela não estava sendo...
- Ela só queria ficar na tempestade com você. No precipício, ainda que fosse. E tudo o que ela pediu foi um abrigo debaixo das suas asas. Mas tudo o quê recebeu foi uma rajada de vento.
Ele parou. Os passarinhos se calaram por um instante e a voz dele saiu num fiapo. O mau tempo parecia dentro dele.
- Onde ela está?
- Sinto muito, ela caiu.
-
trecho de algo que ainda está sendo escrito x)
Talvez por isso ela tivesse ido embora. Talvez fosse o motivo das plantas terem morrido, dos quadros terem caído e da falta de luz na sala de estar. Talvez. Mas, ainda que fosse, ele não podia deixar que continuasse sendo. Ele precisava dela, afinal.
E ali estava ele, longe de casa, na frente da casa que ele sabia que pertencia a ela. Ele a podia sentir em todos os detalhes. Paredes cor de rosa. Portas vermelhas. Janelas com flores. As cortinas de renda branca que ela tanto desejava colocar na sala deles, na cidade.
Ele só pode sorrir, porque aquilo era tão a cara dela. E ele sentia tanta falta. Das flores sobre a mesa, dos quadros coloridos nas paredes. Do som da risada alta de madrugada, da luz no corredor.
Na escada da entrada, uma velha senhora bordava o que parecia uma toalha. Não levantou a cabeça de seu trabalho nem por um segundo, mas era impossivel que não o tivesse percebido se aproximar. Ele estava agora muito proximo dela, da porta e de sua mulher lá dentro.
- Por favor... - E a velha senhora o olhou, conjecturando. Ele se sentiu desconfortavel sob seu olhar. Quem não se sentiria.
- Ela não está.
- Mas, eu nem ao menos tive a chance de...
- Eu sei quem é você, meu filho. - E seu tom de voz era cansado, pausado e sábio. Idoso. - E ainda que ela estivesse, eu diria que ela nao está para você. Ela não quer te ver.
- Acredito que ela terá que me dizer isso para me fazer desistir.
- Ora, ela não está. Então, vá, saia, saia.
- Eu a quero de volta, a quero comigo e não posso sair sem ela. Vou sentar no gramado e esperar, se necessário.
- Para quê? A pôs pra fora, antes de tudo.
- Jamais o teria feito. Nós discutimos num dia, e no outro ela já havia ido.
- Você a negou um pedido. Uma ínfima demonstração do que vocês tinham. Um título.
- Ela não estava sendo...
- Ela só queria ficar na tempestade com você. No precipício, ainda que fosse. E tudo o que ela pediu foi um abrigo debaixo das suas asas. Mas tudo o quê recebeu foi uma rajada de vento.
Ele parou. Os passarinhos se calaram por um instante e a voz dele saiu num fiapo. O mau tempo parecia dentro dele.
- Onde ela está?
- Sinto muito, ela caiu.
-
trecho de algo que ainda está sendo escrito x)
31 outubro 2009
Curvas.
Escondi meu rosto na curva do seu pescoço, apenas por procurar um lugar onde o mundo não me alcançaria. Dali eu não via seu sorriso, nao via suas lágrimas, não via você. Eu só sentia, quieto e calmo, e eu só podia imaginar, tranquilo e sereno, como eu precisava. Como eu queria.
Sua respiração era a minha, meu sentir era seu.
Na curva do teu pescoço eu descansava, na curva da tua alma eu me infiltrava. Eu me instalava em ti, como você em mim. Eu fazia de você minha morada, meu esconderijo, meu porto seguro. Eu fazia você, eu pertencia a você, eu me atava a você. Mesmo nas mais violentas curvas, eu simplesmente me segurava mais forte e seus braços nunca me deixavam partir. Me moldavam.
E eu podia sentir todas as suas nuances, todos os teus limites, todos os seus segredos. Nós nos encontramos naquelas curvas. Naquela chuva. Naquela esquina. E eu era tua desde então, era parte de ti, me escondia em ti. Nas suas curvas, nas minhas curvas, nas suas mãos. No nosso encontro. No nosso contato.
E nas suas curvas eu me achei, e nas minhas curvas se perdeu. E pertencemos. E caminhamos. E pertencemos.
26 outubro 2009
Chorar por sorrir.
Ela mais uma vez chorou.
E para a maior das ironias, ela novamente chora por um sorriso. E para maior das surpresas do circo, ela cometeu o mesmo erro de se deixar levar por um sorriso encantador, por um ar de vida leve. Ela se deixou apaixonar, e chorou de verdade por isso.
Sua recompensa foi só a água, as lágrimas que escorreram amargas e incessantes sobre o seu rosto, à luz do dia. Ao lado de estranhos. Ao lado da pena alheia, de gente que nunca a havia visto. De gente que não se importava. De pessoas que evitavam o banco onde a pobre se enroscara na esperança de desaparecer sob o sol quente.
E ela, contra todas as ordens da sua mente consciente do erro, se deixou acalentar na esperança de que os olhares fossem pra ela. De que as coincidências fossem algo mais. De que o sorriso era dela. De que o garoto, o garoto do sorriso, o garoto com quem ela esbarrava todos os dias pelo corredor do seu trabalho desgastante fosse... Pobre tola, se deixou enganar pelos desejos do próprio coração solitário. E agora, chora, sem ombros, sem palavras e sem sorrisos. Sem presenças.
E ela chora, desesperada, sobre rodas de ônibus, sobre camas quentes, sobre a luz do sol e ursos de pelúcia. Sobre qualquer lugar em que ela possa se recostar, em qualquer lugar e a qualquer momento que o coração precise desabafar. Por pra fora essa esperança masoquista que persiste, que corta e que fere. Que faz chorar. Que faz sangrar e se esconder.
Que envergonha.
Ela chora, porque não há nada mais que fazer.
Ela chora, porque chorar dói menos.
Ela chora, porque já não sabe sorrir.
A vida levou seus sorrisos.
E para a maior das ironias, ela novamente chora por um sorriso. E para maior das surpresas do circo, ela cometeu o mesmo erro de se deixar levar por um sorriso encantador, por um ar de vida leve. Ela se deixou apaixonar, e chorou de verdade por isso.
Sua recompensa foi só a água, as lágrimas que escorreram amargas e incessantes sobre o seu rosto, à luz do dia. Ao lado de estranhos. Ao lado da pena alheia, de gente que nunca a havia visto. De gente que não se importava. De pessoas que evitavam o banco onde a pobre se enroscara na esperança de desaparecer sob o sol quente.
E ela, contra todas as ordens da sua mente consciente do erro, se deixou acalentar na esperança de que os olhares fossem pra ela. De que as coincidências fossem algo mais. De que o sorriso era dela. De que o garoto, o garoto do sorriso, o garoto com quem ela esbarrava todos os dias pelo corredor do seu trabalho desgastante fosse... Pobre tola, se deixou enganar pelos desejos do próprio coração solitário. E agora, chora, sem ombros, sem palavras e sem sorrisos. Sem presenças.
E ela chora, desesperada, sobre rodas de ônibus, sobre camas quentes, sobre a luz do sol e ursos de pelúcia. Sobre qualquer lugar em que ela possa se recostar, em qualquer lugar e a qualquer momento que o coração precise desabafar. Por pra fora essa esperança masoquista que persiste, que corta e que fere. Que faz chorar. Que faz sangrar e se esconder.
Que envergonha.
Ela chora, porque não há nada mais que fazer.
Ela chora, porque chorar dói menos.
Ela chora, porque já não sabe sorrir.
A vida levou seus sorrisos.
17 outubro 2009
Na soleira da porta.
Ela abriu a porta de casa e a primeira coisa que viu foi o conhecido contorno das costas magras que ela tanto admirava. Um susto e um sorriso.
Uma saudade.
A única coisa que ele foi capaz de dizer quando a viu foi "Oi". Ao vê-la, seus olhos quase se arregalaram e sua boca quase se abriu num pequeno ''Oh'' de surpresa. E ele realmente foi pego de surpresa, realmente esperava que ela já não estivesse lá. Que ela já não esperasse por ele. Um susto e uma não-expressão.
Uma dúvida.
E depois de tantos meses de ausência infinita, ela definitivamente esperava por algo mais. Que o encontro fosse mágico. Que as palavras fossem poucas, mas precisas, devido somente, e tão somente, ao calor do momento. Ao abraço e aos beijos que ocupariam todos os segundos do doce reencontro.
Mas ali estavam, parados frente a frente, ela com o sorriso que esmorecia e ele com a mesma expressão surpresa que criara no primeiro segundo, no primeiro fio do cabelo loiro que ele conseguiu enxergar na soleira da porta.
Ela tossiu de leve, como quem pedia que ele falasse. Ele coçou a cabeça, sem jeito e sem palavras. Balbuciou alguma coisa sobre não esperar vê-la, ao que foi prontamente respondido com um sorriso e um brincalhão "moro aqui". Ele pensou sobre isso. Fazia sentido. E ela permaneceu em silencio, observando sua confusão e sua linha aparente de pensamento. Afinal, ela era óbvia: ele acreditara que ela havia partido.
E então? Ele não a queria mais? Ele arranjara alguém? Ele jogara fora todo o seu amor? E ela? Ela que queria pular sobre ele. Queria beijá-lo. O queria. E o quis por tanto tempo, com tanta afeição, com tanta saudade. E ali estava ele, inalcançável. Distante e sem jeito como um estranho que se encara no metrô.
Ela queria chorar. E ela iria. Mas não ali, no lugar que acalentava até agora, até o presente segundo, o amor imenso que dividiram antes de sua partida. De sua não-volta.
E então, quase que por um segundo inteiro, os olhares se encontraram.
Meia volta. Fora de casa. Da sua própria casa. Da casa deles.
Um sussurro. Uma desculpa. Uma única lágrima.
"A gente se fala depois. Eu... acho que volto amanhã".
E saiu.
Uma saudade.
A única coisa que ele foi capaz de dizer quando a viu foi "Oi". Ao vê-la, seus olhos quase se arregalaram e sua boca quase se abriu num pequeno ''Oh'' de surpresa. E ele realmente foi pego de surpresa, realmente esperava que ela já não estivesse lá. Que ela já não esperasse por ele. Um susto e uma não-expressão.
Uma dúvida.
E depois de tantos meses de ausência infinita, ela definitivamente esperava por algo mais. Que o encontro fosse mágico. Que as palavras fossem poucas, mas precisas, devido somente, e tão somente, ao calor do momento. Ao abraço e aos beijos que ocupariam todos os segundos do doce reencontro.
Mas ali estavam, parados frente a frente, ela com o sorriso que esmorecia e ele com a mesma expressão surpresa que criara no primeiro segundo, no primeiro fio do cabelo loiro que ele conseguiu enxergar na soleira da porta.
Ela tossiu de leve, como quem pedia que ele falasse. Ele coçou a cabeça, sem jeito e sem palavras. Balbuciou alguma coisa sobre não esperar vê-la, ao que foi prontamente respondido com um sorriso e um brincalhão "moro aqui". Ele pensou sobre isso. Fazia sentido. E ela permaneceu em silencio, observando sua confusão e sua linha aparente de pensamento. Afinal, ela era óbvia: ele acreditara que ela havia partido.
E então? Ele não a queria mais? Ele arranjara alguém? Ele jogara fora todo o seu amor? E ela? Ela que queria pular sobre ele. Queria beijá-lo. O queria. E o quis por tanto tempo, com tanta afeição, com tanta saudade. E ali estava ele, inalcançável. Distante e sem jeito como um estranho que se encara no metrô.
Ela queria chorar. E ela iria. Mas não ali, no lugar que acalentava até agora, até o presente segundo, o amor imenso que dividiram antes de sua partida. De sua não-volta.
E então, quase que por um segundo inteiro, os olhares se encontraram.
Meia volta. Fora de casa. Da sua própria casa. Da casa deles.
Um sussurro. Uma desculpa. Uma única lágrima.
"A gente se fala depois. Eu... acho que volto amanhã".
E saiu.
08 outubro 2009
Gestualmente música.
Luz. Som. Multidão.
Gestos.
Os movimentos eram sensuais, sinuosos, sedutores. Seu corpo era luz, era som, era só o compasso, o ritmo da musica.
Os cabelos castanhos reluziam, voavam, exalavam rosas ao menor dos toques das suas mãos delicadas. E ela se despenteava por vontade própria, ela se desarrumava só pelo prazer de se desarrumar.
Ela estava livre de todos e de si mesma, ela existia só pela liberdade de ser quem quisesse. De fazer o que quisesse. Do jeito que quisesse.
E não importavam as pessoas ao redor, o espaço, o pouco espaço, era todo dela. E os corpos que se tocavam, que se esbarravam, que se afastavam para vê-la se mover.
Ela despertava os olhares, ela atraia a massa, ela esteve sempre no meio da roda. Ela era exibição pura e simples e ela estava gestualmente num holofote. Ela se comportava como se estivesse em um. De fato, ela estava em um.
Luz. Som. Sorriso.
Gestos.
Ela era a atração, ela era o elemento principal da uma boate escura e viva. Que respirava e exalava sensualidade. Que era inaudivel e se fazia ouvir. Que ressoava pela cidade o enorme som da diversão. Da libertinagem.
E ela era o calor daquele lugar, do lugar mais quente. Ela era musica, ela era os passos, ela era o rebolado. Ela era mulher.
Mais que isso, ela era a mulher.
E era luz.
E era gestos.
Gestos.
Os movimentos eram sensuais, sinuosos, sedutores. Seu corpo era luz, era som, era só o compasso, o ritmo da musica.
Os cabelos castanhos reluziam, voavam, exalavam rosas ao menor dos toques das suas mãos delicadas. E ela se despenteava por vontade própria, ela se desarrumava só pelo prazer de se desarrumar.
Ela estava livre de todos e de si mesma, ela existia só pela liberdade de ser quem quisesse. De fazer o que quisesse. Do jeito que quisesse.
E não importavam as pessoas ao redor, o espaço, o pouco espaço, era todo dela. E os corpos que se tocavam, que se esbarravam, que se afastavam para vê-la se mover.
Ela despertava os olhares, ela atraia a massa, ela esteve sempre no meio da roda. Ela era exibição pura e simples e ela estava gestualmente num holofote. Ela se comportava como se estivesse em um. De fato, ela estava em um.
Luz. Som. Sorriso.
Gestos.
Ela era a atração, ela era o elemento principal da uma boate escura e viva. Que respirava e exalava sensualidade. Que era inaudivel e se fazia ouvir. Que ressoava pela cidade o enorme som da diversão. Da libertinagem.
E ela era o calor daquele lugar, do lugar mais quente. Ela era musica, ela era os passos, ela era o rebolado. Ela era mulher.
Mais que isso, ela era a mulher.
E era luz.
E era gestos.
28 setembro 2009
saudades.
Eu observei ela se isolar com sua caixinha de musica tão amada sobre a bancada de grama do pátio molhado. Eu registrei todos os seus movimentos, seus gestos, seu olhar perdido. Registrei tambem as lágrimas que ela não quis deixar escapar. Mas eu podia quase senti-las, quase como se fossem em mim.
Saudades.
Mal único e (des)necessário, que machuca, que provoca e faz doer. De verdade, essa é a intenção. Não existe nenhuma outra razão para que se deseje ter de novo algo que já se foi. Não importa o quanto tenha sido bom e completo e reconfortante, se acabou não existia mais nada. Não existia mais tempo. Então a saudade, o sentimento é só pela dor. Pelo masoquismo, na maioria dos casos.
Ela sabia disso, estava cruelmente consciente e por isso não as deixava escorrer. Ela prendia seu sofrimento, escondia seu sentimento. Se calava.
Ela o guardava cuidadosamente no peito frágil, o seu amado, em si. Dentro de si.
Guardava suas lembranças, suas palavras, seus sorrisos.
Suas juras.
E seu peito não era capaz de protestos, os armazenava, superlotava a si mesmo com o sentimento molestador.
Ah, a saudade que eu podia ver se abarrotando nela naquela manhã de segunda. Infiltrando seu peito e substindo o ar de seus pulmões com a questão que ela nunca se deixa esquecer.
A pergunta que a levou até a bancada do pátio, a pergunta que a fez mirar o céu e ignorar todo o universo ao seu redor para se infiltrar na sua caixinha de memórias, onde ele era vívido, risonho e, principalmente, dela.
Será que ele também sente saudades...?
19 setembro 2009
Sepulcral.
Em algum lugar do meu silêncio está doendo.
E eu não consigo isolar isso, não consigo fazê-lo gritar para que eu encontre a fonte e não consigo fazê-lo ficar quieto de tal maneira que não incomode.
Não posso gritar por socorro, porque meu silêncio exige que eu o mantenha. Ele não quer ser quebrado. "Já existem coisas suficientes partidas em você, menina" é o que ele me diz quando tento.
Como responder a isso? Ele não está errado. Na verdade, ele está tão certo que não consigo encontrar argumentos para combatê-lo.
Silêncio estúpido.
Você também está me partindo. Porque o silêncio também me machuca.
E em algum lugar dele, continua doendo. Rasgando, cortando e me fazendo sangrar.
E a fonte é invisível, implícita e esquiva.
E da minha parte, das duas partes, de todas as partes saem mais vozes aumentar para esse silêncio. Elas falam sem parar coisas que meus ouvidos não conseguem ouvir ou apreciar. Entender.
Em algum lugar desse silêncio, a falta do seu sentido me corta. O volume da sua voz inexistente me corta. As palavras.
Ah, suas palavras.
E em algum lugar do nosso silêncio, eu assassinei nossas sobras. Nossos pensamentos, nossas conversas, nossos interesses.
E nesse algum lugar, as nossas vozes ficarão mudas para sempre. E meu silêncio exigente e sabido, correto para toda uma eternidade. Por que sim, já existem coisas partidas em mim.
E mortas.
18 setembro 2009
Horário Nobre.
Ela sentou no sofá e contemplou a TV desligada, fonte de alienação sem fim de toda a população que ela conhecia.
Ela sentou e observou que o vazio da tela enegrecida era quase tão vazio como a mente dos que a seguiam tao fielmente.
Ela mirou os botões práticos, ela mirou a diversão sem cerebro que seduzia todo um país.
Pensou nos enredos repetitivos, nos nomes cômicos, nos bordões enjoativos que invadiam seu dia-a-dia. Nas fofocas, nos artistas, nos protagonistas do circo do qual nós, população, somos os palhaços. Os marionetes.
E ela pensou no único chamado que o seu povo, o brasileiro, atendia sem pestanejar.
Ela lembrou do único som que os faria levantar de sua rotina, de sua entorpecência comoda e natural.
E entao ela sorriu.
E ligou a TV.
Plim-Plim.
Fim das Mentes.
Plim-Plim.
Fim do Mundo.
Mas não importa. É a hora da novela.
14 setembro 2009
O Silêncio dos Confidentes
Perdi meu confidente.
E de repente, o silêncio comum é mais acolhedor que o silêncio dele.
E assim, de uma hora pra outra, eu me cansei dos meus sentimentos, da falta dos seus, cheguei a exaustão no que diz respeito a nós. No que diz respeito a mim.
E agora, enquanto o fim do mundo se aproxima e me engole, tudo o que eu não quero ouvir é aquela velha falta de opniões dele, aquela falta de senso do real que tanto me acalentava antes.
É engraçado pensar que cheguei a divisar sua sombra no escuro. É irônico, na verdade, constatar que agora eu fujo dela. Dele.
Cheguei ao ponto em que não apenas perdi o confidente. Me desfiz do amigo.
E o mais íncrivel, é que não estou chateada com isso. Na verdade, me sinto bem.
O sorriso é sorriso.
A lágrima é lágrima.
Sem máscara alguma, depois de tanto tempo me escondendo. Sem sentimento nenhum, depois de tanto tempo te sentindo. Sem a depressão ou os suspiros que costumavam me envolver quando era você.
Só o silencio.
Só o confortável vazio onde antes havia um amigo.
E o eco.
04 setembro 2009
O Doce Mais Velho e A Menina.
Sentados no banco da praça, eles olhavam o dia passar. Na verdade, ele olhava, já que as lágrimas grossas e prateadas não deixavam a pequena ver nem ao menos o céu azul a sua frente.
Sua tristeza era vista em seu rosto, e seu rabo de cavalo castanho claro parecia trazer algum amargor que lhe pesava sobre a cabeça. O vestido rosa era leve, mas só ele era algum traço de leveza naquela criatura. Todo o seu ser era de algum metal instransponível e arredio, que se recusava a deixá-la prosseguir. Ela era uma âncora em suas dores infantis.
Tão nova, tão perdida.
- Não, não chore, meu bem. - O mais velho tentou, inutilmente, acalmar aquela pequena menina. Não surtiu efeito, é claro.
Ao contrario, seu berro era cada vez mais agudo, seu tormento cada vez mais pronunciado. Um sofrimento que não cabia em criança e que era posto pra fora em forma de choro.
Pobrezinha, é tudo o que ela revelava na mente dos alheios.
- Não, por favor, não chore. - Ele repetiu, como quem alenta, como quem acaricia. Sua voz era doce veludo, seu olhar era só preocupação e sua expressão era de quem se importava. O doce mais velho que toda menina chorona precisa.
Não que ela reconhecesse isso. Não que ela visse alguma alternativa de não sofrimento no seu choro incessante.
- Por favor, não sofra. Por favor, me ouça. Por favor, me veja. Estou aqui, então por favor, por favor, não chore.
Palavras e pedidos, oferecimentos e petições. Ele implorava pelo fim do seu sofrimento. Tudo foi ignorado, todas as ofertas esquecidas assim que sairam da boca daquele doce mais velho. Ela não podia ouvir. Não sabia parar.
E finalmente, inspirada por algum sopro de tranquilidade, parou. Olhou para ele, seu doce mais velho, e tocou-lhe a face com a pequena mão, como quem se desculpa.
E sem as palavras que não sabia pronunciar, deixou a ultima lágrima escorrer. Se levantou de salto, beijou-lhe a testa e partiu. E no fim de tudo, ela agarrou sua sombrinha cor-de-rosa e voou pra longe, voou para o nunca mais.
Sua tristeza era vista em seu rosto, e seu rabo de cavalo castanho claro parecia trazer algum amargor que lhe pesava sobre a cabeça. O vestido rosa era leve, mas só ele era algum traço de leveza naquela criatura. Todo o seu ser era de algum metal instransponível e arredio, que se recusava a deixá-la prosseguir. Ela era uma âncora em suas dores infantis.
Tão nova, tão perdida.
- Não, não chore, meu bem. - O mais velho tentou, inutilmente, acalmar aquela pequena menina. Não surtiu efeito, é claro.
Ao contrario, seu berro era cada vez mais agudo, seu tormento cada vez mais pronunciado. Um sofrimento que não cabia em criança e que era posto pra fora em forma de choro.
Pobrezinha, é tudo o que ela revelava na mente dos alheios.
- Não, por favor, não chore. - Ele repetiu, como quem alenta, como quem acaricia. Sua voz era doce veludo, seu olhar era só preocupação e sua expressão era de quem se importava. O doce mais velho que toda menina chorona precisa.
Não que ela reconhecesse isso. Não que ela visse alguma alternativa de não sofrimento no seu choro incessante.
- Por favor, não sofra. Por favor, me ouça. Por favor, me veja. Estou aqui, então por favor, por favor, não chore.
Palavras e pedidos, oferecimentos e petições. Ele implorava pelo fim do seu sofrimento. Tudo foi ignorado, todas as ofertas esquecidas assim que sairam da boca daquele doce mais velho. Ela não podia ouvir. Não sabia parar.
E finalmente, inspirada por algum sopro de tranquilidade, parou. Olhou para ele, seu doce mais velho, e tocou-lhe a face com a pequena mão, como quem se desculpa.
E sem as palavras que não sabia pronunciar, deixou a ultima lágrima escorrer. Se levantou de salto, beijou-lhe a testa e partiu. E no fim de tudo, ela agarrou sua sombrinha cor-de-rosa e voou pra longe, voou para o nunca mais.
03 setembro 2009
Na sala do juiz.
Estão presentes na sessão:
Violência. Ilusão. Falsidade. Traição.
Medidas?
Palavras, atos, pensamentos, silêncio.
Lágrimas e silêncio, o silêncio mais intenso e mais cheios de significados e sentimentos que já se criou. Ou não criou.
Era mesmo silêncio...?
Afinal, o silêncio é ausencia. Ausência de palavras, de sentimentos, de porquês. De ligações. Todas partiram-se.
Solução?
Ela tentou, ela escreveu, ela chorou. Mas na sua fraqueza, não falou.
Não se arrependeu, não perdoou, se magoou.
Magoou.
O verbo estava agora tão presente na sua vida que ela já nao sabia quem era o sujeito da ação. A vítima da ação, muito menos. Se é que havia alguma. Se é que ela não era criação. Não sabia nem ao menos qual era a situação, que dirá suas continuações, seus desprendimentos. Suas consequências.
Afundaram em meio a confusão, ao silêncio, ao rancor. Uma decepção que surgiu do nada, de uma ação corriqueira, cordial. Um cuidado que virou a já mencionada traição. E agora ela está presente, no banco dos réus e das testemunhas. Ambivalente traidora.
E ainda há violência. E crueldade.
E o silêncio retumbante e violento que espancava os sentimentos de todos os envolvidos. Ou pelo menos, de alguns deles.
E aqueles olharem incendiários que dilaceravam o oposto. Castigavam sem pena, maltratavam sem pena.
Ódio. Violência. Mágoa.
Resolução?
Fim.
28 agosto 2009
Ruptura.
Quero gritar pras paredes e quebrar os pratos pra provar que eu também sou de verdade. Que tenho sentimentos, tenho sensações, tenho lembranças. Tenho alma.
Leve em consideração da próxima vez que for usar de poucas palavras. Leve em consideração da próxima vez que for ser superficial. Leve em consideração quando acreditar que sou de plástico, que não faz diferença e que o abraço não é de todo necessário.
Sou pessoa.
Acalentei a verdade de que era. De verdade, acredito que era.
Eu acreditava, esperava, desejava e delirava, como qualquer pessoa, que se criasse algo. Que você reconhecesse algo.
Mesmo que visse de outro modo. Mesmo que não do meu modo. Desde que de algum modo.
Acalentei a crença de que seria. De verdade, cheguei a acreditar que era. Você me disse que era.
Sorri com você acreditando que fosse. Meu melhor sorriso, minha maior felicidade.
Outro eu. Outro sorriso que não é mais meu.
Você também nunca foi meu. Nada que fosse meu.
E eu tinha esperanças. Tinha sonhos. Tinha crenças. Tinha alma.
Eu era pessoa.
24 agosto 2009
Monólogo de um traidor.
Então, eu menti pra você. Te enganei. Te traí. Te escondi a verdade, te omiti meus fatos, meus casos, meus porquês. Te iludi em todos os sentidos da palavra e expressão. E te magooei, por extensão. Tão fundo que sem chance de volta, de perdão, de um outro prisma para minha delicada situação.
Não é mesmo?
E então, eu sou escória. Sou resto, sou lixo, sou falso. Sou ignorado, ignorante, ingrato e tão falsamente quanto possivel em minha inocência sentimental. Agora, sou picareta por profissão e meliante por prazer. Com certeza, do tipo vilão dos seus mais complexos pesadelos. Os mais reais também.
Não é mesmo?
Julgues-me, se quiser. Não me importo. Não me incomodo. Nao te julgarei por que me julgas. Não te julgarei por motivo nenhum, não levantarei contra ti minhas palavras ferinas.
Eu acho. Eu espero. Eu pretendo.
Afinal, eu não sou escória. Não pra mim. No meu delicado cristal, no meu plano de visão, era tudo natural. Um simples formar parte que, pela primeira vez desde sempre, me inclui ao invés de me excluir. Te excluir era detalhe, não relevante na hora da minha surpresa felicidade. Não consigo me sentir culpado por sentir o pertencer que nunca é meu.
Então sim, me pinte de vilão e me dê as armas do assassinato brutal dos seus frágeis sentimentos e tire as fotos da captura.
Provas físicas pro seu julgamento.
Não que você precisasse delas. Não que fosse me entender. Não que estivesse disposta, desde o começo, a olhar por outro lado que não fosse o seu.
Então sim, faça o que quiser. Me julgue o quanto quiser. Me difame, me ignore, me odeie por quanto tempo precisar. Não quero que seja assim, que fique assim, que sinta assim, mas tampouco quero perder o pertencer que me foi extendido tão gentilmente, tão livremente. Pela primeira vez. Minha primeira vez.
Então, vou esperar em silêncio que se decida por voltar.
Ou não.
Ainda vou estar.
Pra sempre vou estar.
Não é mesmo?
E então, eu sou escória. Sou resto, sou lixo, sou falso. Sou ignorado, ignorante, ingrato e tão falsamente quanto possivel em minha inocência sentimental. Agora, sou picareta por profissão e meliante por prazer. Com certeza, do tipo vilão dos seus mais complexos pesadelos. Os mais reais também.
Não é mesmo?
Julgues-me, se quiser. Não me importo. Não me incomodo. Nao te julgarei por que me julgas. Não te julgarei por motivo nenhum, não levantarei contra ti minhas palavras ferinas.
Eu acho. Eu espero. Eu pretendo.
Afinal, eu não sou escória. Não pra mim. No meu delicado cristal, no meu plano de visão, era tudo natural. Um simples formar parte que, pela primeira vez desde sempre, me inclui ao invés de me excluir. Te excluir era detalhe, não relevante na hora da minha surpresa felicidade. Não consigo me sentir culpado por sentir o pertencer que nunca é meu.
Então sim, me pinte de vilão e me dê as armas do assassinato brutal dos seus frágeis sentimentos e tire as fotos da captura.
Provas físicas pro seu julgamento.
Não que você precisasse delas. Não que fosse me entender. Não que estivesse disposta, desde o começo, a olhar por outro lado que não fosse o seu.
Então sim, faça o que quiser. Me julgue o quanto quiser. Me difame, me ignore, me odeie por quanto tempo precisar. Não quero que seja assim, que fique assim, que sinta assim, mas tampouco quero perder o pertencer que me foi extendido tão gentilmente, tão livremente. Pela primeira vez. Minha primeira vez.
Então, vou esperar em silêncio que se decida por voltar.
Ou não.
Ainda vou estar.
Pra sempre vou estar.
20 agosto 2009
O fim.
E ele se perguntava o quê tinha feito de errado. Se o tinha feito de fato, desconhecia. Não era capaz de lembrar. E sozinho com suas dúvidas, ele a viu se afastar em silêncio. Com medo de perdê-la, segurou-a e recebeu em troca apenas frieza e ignorância. Como sempre, ela só lhe era amável quando queria. Se quisesse. Se o desejasse. E sem alternativa, ele a abandonou.
Não chorou. Nenhum deles o fez. E assim acabou todo o amor que juraram, que prometeram durar pra sempre. Sem lágrimas. Sem volta.
Não chorou. Nenhum deles o fez. E assim acabou todo o amor que juraram, que prometeram durar pra sempre. Sem lágrimas. Sem volta.
16 agosto 2009
Felicidade?
- O que eu realmente quero dizer é: que papo é esse de felicidade? Isso não existe.
Incrédula. Era o que ela era. Mas devo admitir que também não acreditava na história de final feliz que pregavam por aí. Não é como se fossemos alcançar. Talvez um momento de alegria, um segundo onde o calor fosse mais intenso e coração mais quieto. Felicidade, jamais.
- Eu acho que você está sendo pessimista. É claro que existe felicidade.
Esperançoso, otimista, tolo. Não aranjaria palavras mais precisas para aquele jovem rapaz. Apaixonado pela própria vida, pela melhor amiga, pelas coincidencias que tomavam seus dias de assalto. O tipo de pessoa que confia no acaso e acredita que tudo vai melhorar. No minimo, ridículo.
- Eu não vou discutir com você. Nunca dá em nada, de todo modo. Você é incorrigível.
- Agora eu sou o teimoso?
- Não sempre foi?
- Tive a impressão que era o contrário.
Eles se olharam por um momento, se medindo, se estudando. Quase como se não se conhecessem há anos.
Sorriram.
E tudo o que havia entre eles era cumplicidade. Ainda que fossem tão opostos, ainda que fizessem parte, de tantos modos, um do outro. Era amor, eles sabiam, mas não iam admitir. Ambos eram os teimosos.
- Gosto desse seu sorriso.
- Eu não gosto muito desse seu. - Ela admitiu. - É o seu sorriso de vitória. Odeio perder.
Ele riu.
- Eu sei. Mas eu não posso fazer nada, se eu sempre ganho.
- Não é muito justo, você sabe. Você nem merece todas essas vitórias. E ficar exibindo elas pra mim, é tão errado.
- Eu fico feliz quando ganho. Principalmente de você. E é direito meu exibir todas essa felicidade.
- Diga satisfação.
- Porque?
- Já falei, isso não existe. Não seja o teimoso dessa vez.
- Não posso dizer que não é felicidade. Eu fico feliz quando estou com você, sinto muito se você não e capaz de aceitar isso.
- Também fico. - E ele sorriu, e ousou sorrir seu sorriso mais vitorioso. - Satisfeita. - Ela se viu obrigada a adicionar.
- Você fica feliz e sabe disso. Satisfação não é suficiente pra descrever isso.
- Como você é convencido!
- Me diga se não é verdade - Ele exigiu, esnobe.
- Eu, eu... Ah, tanto faz. Entenda como quiser.
E ele sorriu de novo e ela não acompanhou, embora quisesse. Afinal, ela realmente a sentia. A tão não-querida e desacreditada felicidade. E ela o mirou, ressabiada. Dividida entre o ofendida e o contente, entre a descrença e o real, o que pulsava no seu peito. Cerrou os olhos, descontente com mais uma vitória do campo inimigo.
Ah, sim, ela definitivamente a sentia.
13 agosto 2009
Ela.
Ela chorava. Ela sorria. Ela se controlava pra não se descontrolar.
Não sei o que pensar sobre isso.
Não sei o que escrever sobre isso.
Não sei nem se tenho vontade de fazê-lo.
Ainda sim, aqui estou, tentando.
Porque?
Ela não vale a pena, ela nunca valeu.
Ela tem sentimentos demais, ela se importa de menos, ela chora demais, ela sofre demais, ela sorri demais, ela finge demais.
Se esforça demais. Se força.
Pra quem?
Pra que platéia ela faz o show? Quem está olhando pra ela? Onde estão os holofotes, porque não os posso ver?
Porque diabos ela está agarrando os ursos de pelucia e se escondendo neles, porque as lágrimas estão escapando? Porque ela se comporta como uma menina? Porque não pode crescer?
A cama agora está desarrumada e o cobertor escuro tapou-lhe a cabeça; sua tentativa de se esconder e ocultar de mim, de sí e do mundo seu sofrimento insano, imenso e sem causa. Tentativa em vão, fracassada. Seu rosto desapareceu mas eu ainda posso ouvi-la. Os guinchos silenciosos, os gritos mudos, os soluços secos, a dor.
Sua dor. Minha.
Qual é o problema?
Diga pra mim, esclareça pra mim, encontre-o pra mim. Me deixe encará-lo.
Onde está?
Me diga onde, me diga onde procurar, me diga pelo quê eu deveria...
Me ajude a te ajudar, me ajude a te achar, a te salvar. Me ajude. Se ajude.
Se ajude a mim.
Não sei o que pensar sobre isso.
Não sei o que escrever sobre isso.
Não sei nem se tenho vontade de fazê-lo.
Ainda sim, aqui estou, tentando.
Porque?
Ela não vale a pena, ela nunca valeu.
Ela tem sentimentos demais, ela se importa de menos, ela chora demais, ela sofre demais, ela sorri demais, ela finge demais.
Se esforça demais. Se força.
Pra quem?
Pra que platéia ela faz o show? Quem está olhando pra ela? Onde estão os holofotes, porque não os posso ver?
Porque diabos ela está agarrando os ursos de pelucia e se escondendo neles, porque as lágrimas estão escapando? Porque ela se comporta como uma menina? Porque não pode crescer?
A cama agora está desarrumada e o cobertor escuro tapou-lhe a cabeça; sua tentativa de se esconder e ocultar de mim, de sí e do mundo seu sofrimento insano, imenso e sem causa. Tentativa em vão, fracassada. Seu rosto desapareceu mas eu ainda posso ouvi-la. Os guinchos silenciosos, os gritos mudos, os soluços secos, a dor.
Sua dor. Minha.
Qual é o problema?
Diga pra mim, esclareça pra mim, encontre-o pra mim. Me deixe encará-lo.
Onde está?
Me diga onde, me diga onde procurar, me diga pelo quê eu deveria...
Me ajude a te ajudar, me ajude a te achar, a te salvar. Me ajude. Se ajude.
Se ajude a mim.
08 agosto 2009
Ao redor da mesa.
A conversa já durava horas, mas nenhum deles parecia disposto a levantar e partir. Dar as costas um ao outro, ainda que fossem apenas caminhos opostos numa calçada, era inconcebível. E por isso eles continuavam, bem dispostos, a discutir as pequenas delícias e infortúnios da vida, a falar sobre o tempo, sobre os amores, as dores, a falar. Era uma pratica comum pra eles, quase como o abraço apertado da recepção. Não que estivessem há muito tempo separados, não que se falassem pouco ou que morassem longe. Eles só sentiam a vontade, a necessidade, de se aproximar ainda mais assim que os olhos batiam um no outro.
Atração Gravitacional.
- Ela não é uma das exceções a que me referi, meu bem.
- E o que isto quer dizer?
- Que ela não é flor que se cheire. Que ela não é um amor. Que ela não é pra você.
- Fico me perguntando se você tem alguma opção viável pra mim.
Ela sorriu, e ele revirou os olhos. Ah, okey, ele nunca entendia. E eu quero dizer nunca mesmo. Como ele poderia, afinal? Era só um menino.
Eles eram aquele tipo de casal de amigos que as pessoas são incapazes de aceitar que sejam apenas amigos. Mas eles o eram, e satisfeitos. Na verdade, eles, os dois, estavam muito felizes com isso. Com o simples fato que nenhum deles jamais teve a necessidade de sentir mais que a amizade profunda e incondicional que eles alimentavam. Um pelo outro, quero dizer. Nada mais que isso.
E ela o olhava, o seu pequeno grande menino, enquanto ele mirava a chuva enjoada que insistia em se chocar com a janela alta do bar confortável onde eles se encontravam sempre. Ele parecia de outro mundo, ele era um estranho e ele estava encantando com os pingos e respingos. E como nas canções mais antigas, a chuva, para ele, poderia ser uma chuva de felicidade.
Ela compreendeu isso, sorriu e se deixou encantar também.
Ele desviou seu olhar por segundos para olhar para ela, sua tão querida amiga de sempre. E ela era do mundo dele, sua estranha, a menina que se encantava com os pingos e respingos das gotas de chuva.
E ele sabia que naquele mundo que eles dividiam, a chuva era só um detalhe. A felicidade estava provavelmente escondida dentro das paredes daquele lugar familiar, ou talvez dentro das tão estimadas gotas. E eles sabiam, de algum modo, onde encontrá-la. Juntos.
01 agosto 2009
Histórias De Princesas
Ela não se olhava no espelho há dias. Tinha medo do reflexo. De qualquer modo, ela não queria encarar a si mesma e constatar o que quer que fosse naqueles dias. Era mais seguro – principalmente pra ela – ficar assim. Sem pressões – especialmente vindas de si mesma. Sem imagens para sua mente cruel maltratar e criticar.
E então, sem coragem – ou vontade – para encarar o mundo, ela se sentava na janela para ver os dias passarem. Ela não queria fazer nada realmente, ela não tinha vocação nem talento, afinal. Ela só queria (e sabia) observar. E assim, com papel e lápis na mão, registrava com emoções tudo o que os olhos viam. Todos os finais e começos do mundo alheio, todas as nuances do desconhecido viver que ela rejeitava. Toda a vida que se desenrolava diante dos seus olhos, todo o desenvolvimento que ela nunca seria capaz de alcançar.
Às vezes ela imaginava também. E nos seus delírios, príncipes vivos e coloridos galopavam com sua pressa inconstante e vigorosa em seus cavalos negros, para ao fim da jornada tomarem-na com paixão entre os braços e buscarem seus lábios ansiosos. Ms mesmo ali, nos seus quase sonhos, ela não tinha a perfeição: Seus homens era cheios de defeitos e gracejos que jamais fariam parte da idealização de qualquer outra menina. Incompletos e esperando por ela.
Mas ela não era outra menina e era aquele jeito imperfeito e inocente sedutor que a fascinava. Incomum, inquieto e especial. Ela procurava tudo o que os homens são, mas escondem para agradar – ela procurava o autêntico. Ela queria o sincero e natural príncipe encantado do cavalo negro. O selvagem, o bruto, o que chegaria mais próximo de ser um homem de verdade.
Até porque, ela se encontrava muito longe de ser uma princesa, e o príncipe encantado não poderia, portanto, ser seu par ideal. Então ela se apaixonara pela versão alternativa, o único rebelde o suficiente para arrancá-la de seu estupor e puxá-la para o outro lado da janela, para a vida. E ela queria viver, queria viver com ele. Ela o queria acima de tudo e, embora suas prioridades biológicas fossem outras, nada convenceria sua cabeça de estar errada. Ela acreditava naquela verdade e acreditava nele.
E então ela espera. Ela segue descrevendo os dias de sua janela, ela segue acompanhando a vida, segue registrando o mundo enquanto espera por ele, o seu amor. E na sua realidade alternativa, onde ela é princesa e ele príncipe, o universo também espera por ela. Pelo momento em que ela encontrar o motivo da vida e a sua felicidade de fim de livro.
-
okay, prometo que esse é o ultimo texto que eu escrevo nesse tema :x
27 julho 2009
Ela, a bitch.
Ela corre por aí desde pequena, pulando das pedras da cachoeira, pulando das escadas, ela pula. Ela joga terra nos vizinhos, ela odeia os gatos, ela não se preocupa em abaixar a voz. Ela era má influência, ela era assustadora, ela era a errada. A única certeza que tinham dela era que era imprevisível e todos os seus atos eram temidos. Ninguém nunca esqueceu como ela reagiu quando o cachorrinho morreu e ninguém desconhece o culpado de todas as explosões de adrenalina e de tijolos da cidade.
Seus porquês são um mistério. Provavelmente nem ela sabe porquê ela é assim.
Ela destroçou o coração do mocinho, ela esqueceu o nome do cara por quem se apaixonou, ela nem imaginava quantos ela já tinha beijado naquela unica noite. Ela não se considerava fácil, ela não se achava grande coisa, ela não pensava em si mesma e nem nos outros. Ela negou o pedido de casamento, ela desprezou a promoção, ela esqueceu do carnaval. Ela abraçou o perigo, ela beijou o desconhecido, ela se entregou ao incerto. Ela fechou os olhos e atravessou a rua, ela correu nua pelo calçadão e conseguiu escapar da polícia. Definitivamente, ela não tem jeito. Nunca teve. E pra esse caso sem solução não há nada a fazer; ela faz tudo para sí mesma. E não há nada que se possa acrescentar, ela já é suficiente. Problema o suficiente, mulher o suficiente, maravilhosa o suficiente. Ela é bitch, ela é divertida, ela é dada; definitivamente, ela é o que quer ser.
Definitivamente, não há nada que eu possa dizer para defini-la. Ela é definitiva o suficiente também. Pra mim, pelo menos. Pra ela. Pra quem quiser.
Seus porquês são um mistério. Provavelmente nem ela sabe porquê ela é assim.
Ela destroçou o coração do mocinho, ela esqueceu o nome do cara por quem se apaixonou, ela nem imaginava quantos ela já tinha beijado naquela unica noite. Ela não se considerava fácil, ela não se achava grande coisa, ela não pensava em si mesma e nem nos outros. Ela negou o pedido de casamento, ela desprezou a promoção, ela esqueceu do carnaval. Ela abraçou o perigo, ela beijou o desconhecido, ela se entregou ao incerto. Ela fechou os olhos e atravessou a rua, ela correu nua pelo calçadão e conseguiu escapar da polícia. Definitivamente, ela não tem jeito. Nunca teve. E pra esse caso sem solução não há nada a fazer; ela faz tudo para sí mesma. E não há nada que se possa acrescentar, ela já é suficiente. Problema o suficiente, mulher o suficiente, maravilhosa o suficiente. Ela é bitch, ela é divertida, ela é dada; definitivamente, ela é o que quer ser.
Definitivamente, não há nada que eu possa dizer para defini-la. Ela é definitiva o suficiente também. Pra mim, pelo menos. Pra ela. Pra quem quiser.
17 julho 2009
A Falha dos Contos de Fada.
Os mocinhos sempre tem final feliz. Isso é tão verdadeiro quanto que os vilões da história sempre são pegos no final. E mesmo que eles não recebam a devida punição, pelo menos a máscara cai e nós temos a quem culpar por todo o estrago e caos. É clichê, mas é o natural.
Mas e os coadjuvantes da história? Os melhores amigos dos mocinhos, as meninas apaixonadas desde a infância, os caras divertidos que dão leveza aquelas histórias velhas e sem graça que são os contos de fada? Eles não tem direito ao seu final feliz? Eles não deviam ter a chance também? Afinal, muitos e muitas delas são tão mais incriveis que os mocinhos e mocinhas, sempre tão revoltantemente corretos, tão mais pessoas de verdade. É muito mais fácil se afeiçoar a esses, a se encontrar neles, acolhê-los e esperar que consigam o seu próprio feliz-pra-sempre.
Mas o que encontramos? Toneladas de melhores amigas de coração partido, chorando nos cantos das cerimônias suntuosas dos casamentos dos mocinhos revoltantes. Quilos e quilos de caras engraçados largados ao relento, olhando de longe enquanto a melhor amiga se agarra ao mauricinho da história, o bonzinho rapaz que roubou o coração da sua amada para sempre e sempre. E no fim, eles sempre são obrigados a desistir. Eles nunca chegam lá. Nunca conseguem alcançar o amor de suas vidas, e são sempre condenados a ficarem "felizes" vendo a felicidade do seu amor- com outra pessoa.
O que isso diz sobre a vida, sobre o conto de fada que supostamente é a nossa vida? O que te resta esperar quando você definitivamente não é o mocinho ou a mocinha da história? Se você é só o melhor amigo?
Eu digo, definitivamente nós, os coadjuvantes, temos que fazer um levante. Não é possível, não é aceitável que nós não possamos ser felizes. Exijam seu final feliz. Corram atrás dele, não desistam, não abram mão. Façam sumir os finais clássicos dos contos de fada, façam desaparecer a preferência da vida pelos mocinhos. Afinal, fadas não existem, mas os vilões estão por todos os lados. A ingenuidade está totalmente fora de moda e nós, os coadjuvantes, somo muito reais e perceptivos para perecermos sozinhos.
Criem os seus finais, e acabem logo com essa regra estúpida.
Eu já cansei de mocinhos.
14 julho 2009
Férias.
Mais um.
Só mais um.
Acredite só se quiser, mas ela já não era capaz de dizer - ou pensar- mais nada. Conseguia ficar quase alegre com isso, o pensamento da liberdade, mesmo que para chegar até lá ela tivesse que rolar por alguns degraus antes. Ela já caíra da escadaria mesmo. Um ou outro degrau, uma ou outra turbulência, à essa altura, não era nada. Ela já passara pelo pior. Ou pelo menos, por coisas piores que aquelas, que uns poucos degraus até o chão. Até o fundo.
Só mais um.
Só mais um dia e ela nem pensaria no assunto. Claro que não definitivamente, não ainda, mas por algumas longas semanas. Que fossem horas, desde que fossem. Ela precisava daquele tempo para recostar a cabeça no travesseiro e pensar que o mundo não era nada, que podia rodar a vontade e ela não precisaria seguir com ele. Paz.
Ah, só mais um dia.
Um dia e paz.
Só mais um.
Acredite só se quiser, mas ela já não era capaz de dizer - ou pensar- mais nada. Conseguia ficar quase alegre com isso, o pensamento da liberdade, mesmo que para chegar até lá ela tivesse que rolar por alguns degraus antes. Ela já caíra da escadaria mesmo. Um ou outro degrau, uma ou outra turbulência, à essa altura, não era nada. Ela já passara pelo pior. Ou pelo menos, por coisas piores que aquelas, que uns poucos degraus até o chão. Até o fundo.
Só mais um.
Só mais um dia e ela nem pensaria no assunto. Claro que não definitivamente, não ainda, mas por algumas longas semanas. Que fossem horas, desde que fossem. Ela precisava daquele tempo para recostar a cabeça no travesseiro e pensar que o mundo não era nada, que podia rodar a vontade e ela não precisaria seguir com ele. Paz.
Ah, só mais um dia.
Um dia e paz.
11 julho 2009
abrindo o sol.
Senti o telefone vibrar no bolso e já prevendo quem era, o ignorei. O sol queimava minhas pálpebras e aquecia tudo que era eu, e eu me sentia satisfeita por poder apreciar o fim de tarde que eu tanto gostava sem realmente me preocupar com ninguém. Me sentia rebelde e ingrata pela minha desconsideração, mas a sensação era quente e provocativa, de algum modo satisfatória.
Sabia que o toque viria me incomodar a qualquer momento. A música nunca pararia até eu atender o pedido de socorro da voz que sairia triste e desesperada do outro lado, mas eu estava disposta a escutá-la (a música) até que deixasse de tocar. Não estava disposta a perder o fim de tarde em troca de uma transtornada conversa sobre problemas sem solução. Ou que nao queriam ser solucionados. Eu realmente não queria me deixar engolir pela realidade que até pouco me engolira, a realidade que eu lutei tanto pra abandonar. Eu estava segura longe dela, e nao estava preparada pra voltar. Provavelmente, nunca estaria.
Abracei a mim mesma e me deixei sentir o Sol. Era bom, quente e reconfortante. E pensando em como eu não conseguia ver razão de ser nisso até poucos dias atrás - quando uma mão amiga me puxou pra fora do véu negro que tentava me empurrar poço abaixo - eu percebi o quão egoísta estava sendo. Ignora-la, deixar de ajudá-la, embora agora parecesse cômodo, não era justo. Ela precisava de mim, assim como eu precisei de um ombro, e eu sabia disso. A unica diferença entre as nossas situações é que eu procurei ajuda e não recebi. Eu fui ignorada na única vez em que queria atenção. Ela, bem, ela não queria ajuda, mas ainda sim eu ia dá-la. Era meu dever, era minha obrigação como pessoa que se importava com ela.
Suspirei e perdi meu olhar uma ultima vez no mar vermelho antes de apertar o botão que abria a porta para o mundo real e escuro da minha melhor amiga. Era hora de fazer alguma coisa de verdade, de abrir o sol para mais alguém. Quase pude sorrir quando pensei na minha felicidade - e na dela - quando ela fosse capaz de sentir o calor também. De entender e apreciar isso. Quase contente com essa predição - da felicidade - eu me armei de paciência e de uma fé inabalável e confiante em Deus, no sol, no amor do mundo. Estava pronta para o send. Hora de enfrentar o escuro.
- Alô?
Sabia que o toque viria me incomodar a qualquer momento. A música nunca pararia até eu atender o pedido de socorro da voz que sairia triste e desesperada do outro lado, mas eu estava disposta a escutá-la (a música) até que deixasse de tocar. Não estava disposta a perder o fim de tarde em troca de uma transtornada conversa sobre problemas sem solução. Ou que nao queriam ser solucionados. Eu realmente não queria me deixar engolir pela realidade que até pouco me engolira, a realidade que eu lutei tanto pra abandonar. Eu estava segura longe dela, e nao estava preparada pra voltar. Provavelmente, nunca estaria.
Abracei a mim mesma e me deixei sentir o Sol. Era bom, quente e reconfortante. E pensando em como eu não conseguia ver razão de ser nisso até poucos dias atrás - quando uma mão amiga me puxou pra fora do véu negro que tentava me empurrar poço abaixo - eu percebi o quão egoísta estava sendo. Ignora-la, deixar de ajudá-la, embora agora parecesse cômodo, não era justo. Ela precisava de mim, assim como eu precisei de um ombro, e eu sabia disso. A unica diferença entre as nossas situações é que eu procurei ajuda e não recebi. Eu fui ignorada na única vez em que queria atenção. Ela, bem, ela não queria ajuda, mas ainda sim eu ia dá-la. Era meu dever, era minha obrigação como pessoa que se importava com ela.
Suspirei e perdi meu olhar uma ultima vez no mar vermelho antes de apertar o botão que abria a porta para o mundo real e escuro da minha melhor amiga. Era hora de fazer alguma coisa de verdade, de abrir o sol para mais alguém. Quase pude sorrir quando pensei na minha felicidade - e na dela - quando ela fosse capaz de sentir o calor também. De entender e apreciar isso. Quase contente com essa predição - da felicidade - eu me armei de paciência e de uma fé inabalável e confiante em Deus, no sol, no amor do mundo. Estava pronta para o send. Hora de enfrentar o escuro.
- Alô?
09 julho 2009
a morte da protagonista.
A folha em branco me encarava. E eu não tinha nada pra escrever nela. Prometi escrever a minha irmã uma carta falando sobre as novidades, falando sobre os dias no hospital, as visitas que recebia, sobre a minha melhora no tratamento. Infelizmente essa ultima parte não era verdade, mas eu jamais iria dizer isso a ela. Minha dedicada irmã provavelmente despencaria de Paris, onde ela estuda moda hoje, só para me ver definhar nessa cama onde eu certamente morrerei daqui há semanas, se tiver sorte. Eu não quero que ela passe por isso, nem quero passar tampouco. Quero que as pessoas tenham lembranças felizes de mim, e que pensem que eu estava feliz, no fim. Mesmo que eu não estivesse. Mesmo que doesse e eu tivesse que agüentar calada. E eu quase podia sentir meu sangue fluindo, pingando, manchando a ponta do lençol. Infelizmente, pra mim, eu só quase podia fazer isso. E quando o vermelho vivo tomou conta da cama, já era tarde demais para pedir socorro. Morri.
05 julho 2009
E era incrível o quanto era quente e o quanto era bom. Mesmo que não fosse de verdade, que não fosse eu, que não fosse meu.
Eu estava aquecida, eu estava feliz.
E naquela hora de felicidade, de madrugada, eu era completa, eu estava cheia do sentimento que nao podia viver, mas que sentia, por outros.
Eu amava.
E eu era feliz.
Eu estava aquecida, eu estava feliz.
E naquela hora de felicidade, de madrugada, eu era completa, eu estava cheia do sentimento que nao podia viver, mas que sentia, por outros.
Eu amava.
E eu era feliz.
02 julho 2009
Sobre sentidos
Sentada num banco alto e com o olhar fixo na mesa, dividia sua aflição apenas com um amigo que considerava do peito, mas que na verdade, era apenas próximo. Você nunca é capaz de saber quem realmente é amigo hoje em dia, e a menina, na sua inocência, era ainda mais incapaz. Acolhia todos à sua volta de bom grado, e esperava que o contrário também acontecesse. Ela queria ser acolhida, afinal.
Encarou a folha em branco pelo que pareceram horas a ambos. As feições - que não eram de todo bonitas - estavam quase que retorcidas, procurando alguma inspiração e lógica para realizar a tal tarefa que a folha em branco lhe pedia aos berros, mas ela não se sentia capaz de seguir uma única linha de raciocínio por muito tempo. Na verdade, ao final do parágrafo, já esquecera o que escrevera no início.
- Eu...preciso fazer sentido? - A menina perguntou, parecendo confusa e perturbada somente com a idéia.
- Eu... acredito que não. - O outro respondeu. Não olhava pra ela, nunca o fazia, mas estava atento a conversa tanto quanto podia.
- É que... eu acho que não sei fazer sentido. - Ele riu. - Estou falando muito sério aqui.
- É inevitável, desculpe. - Disse ele, referindo-se ao riso. - Mas enfim, é claro que você sabe fazer sentido.
- Eu nego. - A pequena respondeu, convicta. - Eu não sou capaz de me entender, como outras pessoas...?
- Talvez a sua confusão faça sentido para alguém. - Ela o mirou, descrente. - Existem milhões de pessoas pelo mundo. Quem te garante que pelo menos uma nao vai entender o que você diz?
- Estou confusa. - Ele riu. - Pare de rir.
- Desculpe, meu bem. Mas acontece que a sua confusão é engraçada.
- Então porque eu não acho?
- Porque você é o sujeito. - Ele deu mais uma risadinha. - Não se preocupe. Tudo vai ficar bem.
- E minha única opção é acreditar em você?
- Se você encontrar alguma outra, fique a vontade.
- Tudo bem, eu fico com você. - Ele riu. - Mas que fique claro que é por falta de alternativas.
- Claro, claro, meu bem.
- E a tarefa? Ande, me ajude!
- Ora, meu bem. É simples: Não faça sentido.
sem texto.
Ela não escrevia nada há semanas.
Pensava as frases, as sentenças, as histórias, mas não era capaz de traduzi-las. E ficava assim, encarando a folha vazia, caneta na mão, por minutos imensuráveis.
Sem saber por onde começar, onde terminar ou como ligar os fatos.
Coçava o rosto, se descabelava, berrava e desistia.
Talvez depois.
Depois.
Talvez.
Pensava as frases, as sentenças, as histórias, mas não era capaz de traduzi-las. E ficava assim, encarando a folha vazia, caneta na mão, por minutos imensuráveis.
Sem saber por onde começar, onde terminar ou como ligar os fatos.
Coçava o rosto, se descabelava, berrava e desistia.
Talvez depois.
Depois.
Talvez.
28 junho 2009
Em silêncio.
E a minha felicidade se mostrou fumaça, que se esvaiu rápido, sumindo antes que eu tivesse a chance de capturá-la. E eu nem ao menos fui capaz de entender o porquê, já que antes, segundos antes, eu era como o sol, radiante, expandindo em sorrisos e abraços. E de repente depressão me envolveu, e eu chorava rios profundos até mesmo nos comerciais e propagandas de tv. Eu estava sem controle.
E eu me calei e chorei em silêncio, pra dentro, me afundando numa tristeza que desconhecia sua causa. Mas o fiz satisfeita, ou pelo menos tão satisfeita quanto a situação me permitia, sem nenhum peso por me obrigar a sofrer sozinha. O silêncio me é comodo, evita perguntas, evita que eu me magoe por que, na verdade, não haveriam perguntas. O silêncio é quase anestésico, quase um remédio para minha dor sem motivos, mas ainda sim existente.
E eu fiquei quieta, incapaz de sorrir, mas ainda sim intacta para olhos externos. Eu me deixei aparentar a dor apenas nas letras que expus ao mundo, talvez porque soubesse que ninguém jamais leria. Ainda sim, na minha cabeça confusa, era o meu modo de deixar os outros saberem. Meu modo de fingir que alguém sabia e que se importava por eu estar sufocando lentamente, submergindo, me afogando por dentro. E no meu infinito particular, no meu infinito de letras e de sentimentos, o invisível me respondia e me dizia para não sofrer.
E eu chorei de gratidão.
20 junho 2009
E agora outro sorriso.
Era o mesmo cenário. Os mesmos amigos, a mesma mureta, o mesmo pôr do sol, os mesmos sorrisos. Mas havia na essência da cena, algo de diferente. Algo que ele se perguntava o quê seria no silêncio dos seus sempre privados pensamentos.
- E aí? - Ele perguntou, parecendo tão entediado quanto sempre.
- O quê?
- Você parece... diferente hoje. - Ela olhou pra ele de canto de olho. - Na verdade, ultimamente você tem andado... estranha.
- Sério? - E ele concordou com a cabeça. - Não acho.
E ficaram em silêncio por algum tempo, ela não parecendo muito consciente dele ao seu lado. Ele, por outro lado, não tirava os olhos dela, tentando sem sucesso absorver a causa da mudança que ele notara recentemente. Ela já não estava tão ansiosa, já não falava tanto, não sorria tanto. Perdia o olhar no infinito tantas vezes enquanto estavam juntos, que nem ao menos parecia estar ao lado dele. Estava em um mundo próprio, privado, onde ninguém tinha permissão de ir. Pelo menos, não ele. E isso era tão novo, tão inesperado que até mesmo ele, um distraído, foi capaz de reparar.
- Ah, como é? Tem que ter acontecido alguma coisa.
- Não, não aconteceu. – Ele apertou os olhos, mas ela não viu. Estava mirando o sol ao longe.
- Você não quer me contar, tudo bem.
Era o tipo de frase que funcionava com ela. Era incapaz de aceitar que ele não acreditasse nela, incapaz de se manter tranqüila ante a um “você não confia em mim”. Provaria que confiava, como sempre fazia, mesmo que se traísse ao fazê-lo. Ela não precisava confiar em si mesma, afinal. Ninguém o fazia, porque haveria ela?
- Você sabe que não é verdade. E eu odeio quando você faz isso. – Ela suspirou.
- Isso o quê?
- Joga a minha insegurança contra mim. – Ele piscou, perdido por um segundo nos próprios atos. – A sua mente é fechada, você não é capaz de dividir comigo o que sente. Não mais, pelo menos. Mas eu não, eu sou obrigada a te contar cada pequena aflição, mesmo quando eu não sei o que estou sentindo. Desculpe, não tenho nada pra te dizer agora. E eu nem estou me sentindo culpada. Estou confusa nesse momento.
Mais um silêncio, dessa vez constrangido, tomou conta do espaço entre eles. Ele nunca reparara que ela se incomodava com as atitudes ou com o silêncio dele. Nunca parou nem ao menos pra pensar na possibilidade. Ele nunca parava pra pensar muito nela, na verdade. Se sentiu culpado por isso. Principalmente, porque ele sabia que ela pensava.
- Desculpe.
- Tudo bem. – Mas sua voz era áspera. Ela voltou a suspirar. – Estou acostumada mesmo.
- Desculpe. – Ele repetiu.
- Eu já disse que tudo bem. Não faz diferença agora. – E ela olhou pra cima, pro céu avermelhado que sorria pra ela. Mas ela não sorria de volta pra ele.
Ela chorava.
Prateada e silenciosa, a lágrima correu pelo rosto triste da menina. Singela e única, quase imperceptível na luz fraca do entardecer, mas ainda sim presente, viva, cortante.
- Porque você está chorando? – E o tom de pânico dele era risível. Infelizmente, ela não conseguia sorrir.
- Não sei. – E junto com o suspiro, vindo do fundo do peito, mais lágrimas vieram, correram e mancharam o rosto da menina. – Eu não sei, eu não entendo, eu não sou capaz de fazer isso.
- Isso o quê?
- Não sei! – Soluço. – Eu estou pensando. Pensando muito. Não consigo parar. Não consigo sentir. Não está saindo nada de bom disso.
- Dá pra ser mais clara?
- Eu... acho que me apaixonei por um sorriso.
- Você já tinha me contado isso. – Ele falou, e deu um meio sorriso por estar conseguindo chegar lá, finalmente.
Uma solução?
- Mas agora é diferente. Eu não tenho certeza.
- Porque não?
Ela não olhava pra ele, mas parecia pensar numa resposta. Seu olhar – e suas lágrimas – continuavam brilhando para o entardecer, cristalinas, cheias de vida e de significados ocultos. Cheios de um sentido que ele não conseguia compreender.
- É especial. Mas não é quente. Me faz esquecer todos os outros sorrisos que já me fizeram sorrir na vida, mas não me faz sorrir. É perfeito, mas não é pra mim. Não é de verdade dessa vez, é... está me deixando confusa, e está doendo. Está doendo porque está apagando o meu outro sorriso de mim, e está me deixando sem nada. É ruim, é ruim e é sufocante.
- Eu...
Ele não tinha o que dizer, não havia palavras pra dizer a ela. E ela continuava chorando, soluçando, se desfazendo. Ali, bem ao lado dele. Ele estava meio que impotente. Inútil.
E por não ser mais capaz de salvá-la, ele passou o braço por seu ombro, esperando que aquilo pelo menos a confortasse. Não havia mais nada que ele pudesse fazer agora. Não dependia mais dele. E ele não poderia sorrir nem se quisesse, e nem se pudesse ajudaria de algo. Ela agora tinha outro sorriso. E o sorriso nem era dela.
18 junho 2009
Retratos: A queda.
" - Muito magrinha.
- E de ladinho é feinha pra caramba.
- ... "
- ... "
E você automaticamente pensa em me dizer, em vista disso, algum pensamento ou frase clichê do tipo "o que importa é o que você sente". Não nego a verdade disso, mas vai dizer que não é um belo de um chute no ego escutar uma coisa dessas? Afinal de contas, não é exatamente pra você mesma que você, menina, se arruma e se empeteca todo dia pela manhã. Talvez até seja, mas, nem que seja numa pequena parte, você está esperando que alguém note, que alguém elogie ou pelo menos que alguém te dê um sorriso amigável pela tentativa. Eu bem que já desconfiava que ultimamente eu não andava lá grandes coisas (não que já tenha sido algum dia), mas ainda sim ouvir a verdade tão nua e crua, como que me batendo, em palavras de gente que nunca me viu? Sei lá... Caí lá de cima.
14 junho 2009
Chorando sobre rodas
E é claro que no momento em que meu lápis tocou o papel, todas as palavras desapareceram. Toda dor tangível e aplicável, no entanto, continuarou presente. Eu não era capaz de expurgá-la de mim, então ela continuava latejando impertinente em tudo o que era eu. E isso realmente doía.
Talvez fosse um pedido mudo, talvez significasse alguma coisa. Eu jamais saberia dizer. O único que eu sabia – e mais que isso, sentia – era a dor e ela me dilacerava de todas as maneiras imagináveis.
As lágrimas que eu continha tentavam a todo minuto escapar por alguma brecha; a menor palavra ou toque – seguidos de um olhar estratégico – uma ou duas forçavam saída. Eu estava ruindo lentamente, vendo meu disfarce e minha máscara desabando pouco a pouco. Não havia mais onde me esconder, atrás de ninguém parecia seguro o suficiente. Os ombros fugiam como que ao toque de um sinal na hora mais precisa, e eu me mantinha de pé, ainda que cambaleante, esperando um momento certo pra deixar sair, de algum jeito.
Mas agora não havia mais como e o chão parecia estranhamente próximo de mim de algum jeito, talvez eu estivesse desmaiando. Talvez não. Eu ainda estava presa na minha consciência vermelha-vivo despedaçada e sem vontade de me recompor, já que não havia mesmo ninguém pra fazer isso por mim – aquele maldito sinal.
E agora? Como continuar? Como parar? Só... Como?
O Amante Universal.
Mãos sem corpo me abraçaram e aqueceram meu ser.
Lábios sem rosto me beijaram, macios como o veludo que forma o céu claro.
Olhos profundos me fitaram, olhos que boiavam na superfície do infinito. Verdes azuis, castanhos, cinza, âmbar; tom nenhum jamais seria capaz de descrever a intensidade da cor daqueles olhos tão perfeitos. Incríveis e indiscutivelmente lindos, brilhando só pra mim. Só por mim.
As mãos, delicadas, descobriam meu corpo, me aninhando e fazendo descobrir emoções e sensações que eu não conhecia. Que nem ao menos imaginava existirem. E assim, suaves, estas mesmas mãos pousaram-se na minha cintura, fazendo dela propriedade sua.
Os lábios, agora tocavam lentamente meus olhos, descansando sobre minhas pálpebras fechadas e me enchendo de ternos sentimentos. Eu o amava. Eu o amava e precisava de mais dele do que aquele contato curto podia me dar. Eu precisava de intensidade, de força e de feracidade, e de ansiar por isso meu desejo se converteu em desespero.
Tive medo. Apavorei-me com a idéia de abrir meus olhos e perdê-lo para o infinito ao qual ele pertencia. Sentindo minha aflição, de suas mãos estenderam-se braços que me cercaram de seu corpo sem matéria e me prenderam com força em seu corpo incompleto. Tremi.
Ainda de olhos fechados e tolamente apreensiva, eu almejava por muito mais do homem que me segurava em si, do meu homem invisível e intocável que me amava com tanta intensidade que inexistia só por mim. Ainda sim, feito só pra mim.
Eu queria mais do que ser envolvida só por braços fortes em abraços quentes, eu queria mais que apenas os lábios que passeavam pelo meu rosto febril. Eu queria a massa, a textura e o corpo do homem que me amava, do meu homem inexistente, mas ainda sim completa e totalmente meu. Meu amante universal, meu homem sem formas, sem cor, sem pele, sem ossos e sem rosto.
Perfeito em gestos, em toques, em sussurros e carinhos. Perfeito em ser, pra mim, o não ser incompleto que apenas me completava. Perfeito pelo simples fato de me amar sem nenhuma barreira, nem mesmo física.
Energia, sentimento, ele, eu.
Nós.
11 junho 2009
Quase lado a lado.
Ela estava chorando. Sentada nos degraus de pedra, soluçando desesperada, com o coração reduzido a estilhaços. Ela era dor na sua forma mais simples e mais pura: ela era a desesperança feita em lágrimas. Gotas cristalinas de um coração partido, despedaçado e semi-morto. Triste.
Ele estava ao lado, mas não perto o suficiente. Nem mesmo em pensamentos. Distante, frio, impassível e insensível ao sofrimento ao seu lado. Nenhuma pergunta saiu de seus lábios e nenhum toque surgiu de suas mãos. Ele só precisaria estender o braço, só precisaria se importar. Mas ele não o fez. Permaneceu estático, neutro e inatingível. Gélido.
E assim, lado a lado, eles permaneceram. Inconscientes do resto do mundo e quase inconscientes um do outro. Quase, porque ela sabia que ele estava ali, e era isso que provavelmente a convertia em água e soluços. Quase, porque ele sabia que ela estava ali, mas não se sentia impelido a ajudá-la.
Quase porque ela o amava e era incapaz de não senti-lo. Quase porque ele a conhecia, e não era capaz de amá-la.
Ele estava ao lado, mas não perto o suficiente. Nem mesmo em pensamentos. Distante, frio, impassível e insensível ao sofrimento ao seu lado. Nenhuma pergunta saiu de seus lábios e nenhum toque surgiu de suas mãos. Ele só precisaria estender o braço, só precisaria se importar. Mas ele não o fez. Permaneceu estático, neutro e inatingível. Gélido.
E assim, lado a lado, eles permaneceram. Inconscientes do resto do mundo e quase inconscientes um do outro. Quase, porque ela sabia que ele estava ali, e era isso que provavelmente a convertia em água e soluços. Quase, porque ele sabia que ela estava ali, mas não se sentia impelido a ajudá-la.
Quase porque ela o amava e era incapaz de não senti-lo. Quase porque ele a conhecia, e não era capaz de amá-la.
07 junho 2009
Sem título.
Duas lagrimas grossas, profundas e cruéis desceram pelo meu rosto. Não fui capaz de desvendar e descobrir o porquê, de entender, mas senti a dor que as criou, profunda e gelada. Medonha.
E aqui, na realidade dura do meu quarto, do meu mundo real, não há ninguém para secá-las. Nenhum par de mãos amorosas vai sair do infinito para me acalentar e confortar. Sou só eu por mim mesma aqui, zelando por mim.
Não há vozes amigas perguntando porquês, não há abraços, não existem palavras de consolo. É tudo frio, profundo, amargo e cruel, assim como minhas lágrimas.
O mundo inteiro estava dentro daquelas gotas d’água destinadas a morrerem em meus lábios. O mundo todo, o meu mundo, era água e sal, rolando rosto abaixo.
Era mar, era revolta, era dor.
Mas era meu.
E acabou bem ali, antes do mim do meu rosto.
Antes do meu fim.
E aqui, na realidade dura do meu quarto, do meu mundo real, não há ninguém para secá-las. Nenhum par de mãos amorosas vai sair do infinito para me acalentar e confortar. Sou só eu por mim mesma aqui, zelando por mim.
Não há vozes amigas perguntando porquês, não há abraços, não existem palavras de consolo. É tudo frio, profundo, amargo e cruel, assim como minhas lágrimas.
O mundo inteiro estava dentro daquelas gotas d’água destinadas a morrerem em meus lábios. O mundo todo, o meu mundo, era água e sal, rolando rosto abaixo.
Era mar, era revolta, era dor.
Mas era meu.
E acabou bem ali, antes do mim do meu rosto.
Antes do meu fim.
05 junho 2009
Impressão.
- Escrevi textos novos.
Ela começou e ele sorriu.
- Quero ler.
- Não acho que seja boa idéia. – Ela colocou, e ele apertou os olhos numa pergunta muda. Ela explicou melhor, então. – Eu não quero que você leia.
- Posso saber porque?
A mente dela era capaz de responder essa, facilmente, aliás. Ela tinha medo do que os olhos dele encontrariam em suas letras, tão repletas de seus próprios pensamentos e delírios que eram quase um retrato falado de sua consciência.
Os sentimentos da pobre menina eram tão cheios dele, que ela tinha certeza que ele seria capaz de se encontrar facilmente em sua escrita logo nas primeiras linhas. Tremia só de pensar nessa possibilidade.
- Não, acho melhor não.
- Ah, qual é, não podem estar tão ruins.
- Não acho que estejam. Só não quero que você veja.
- Por quê? – A ofensa estava em sua voz, mas ela a ignorou.
- Porque são meus esboços, meus dramas. Não parece certo que você os leia. – E ele certamente se perguntava porque então o resto do mundo podia vê-los. Ela não os exibia sempre?
- Por que me disse que escreveu então?
- Achei que você ia ficar feliz de saber, feliz por mim. – Ela foi firme. – Mas não quer dizer que vou deixar você ler.
- Qual o preconceito comigo?
- Nenhum. – Ele apertou os olhos, querendo sondá-la, e ela sorriu.
“É só que você está impresso demais nisso”.
- Então?
- O que você diria se encontrasse a si mesmo num texto?
- Ah... Talvez eu ficasse lisonjeado.
- E se esse texto fosse meu?
- Eu não sei. – Ele respondeu, momentaneamente desarmado.
Ficou em silencio por algum tempo. Depois sorriu, sem graça, e encontrou nela só um olhar sério. Ele nunca pensara nem ao menos na possibilidade. Será que ela...?
- Enfim, não acho que seja uma boa idéia.
- Está sendo meio injusta.
- Por quê? – E seu tom de voz tinha mesmo uma pergunta.
- Porque você deixa desconhecidos lerem!
- Faz muito mais sentido. Eles não me conhecem.
- É isso que faz a diferença?
- E se você estivesse num texto? E se não fosse bom? O que você diria? O que você me diria?
- Eu não sei!
- Então não! – Ele abriu a boca para protestar. – Volte com uma resposta e te deixo ler.
- Eu vou voltar.
- E eu vou esperar.
- Claro que vai.
Se olharam carrancudos, e ela revirou os olhos. Estava chateada.
“E isso vai me render mais algumas linhas, que eu espero sinceramente que você também não leia”.
Ela começou e ele sorriu.
- Quero ler.
- Não acho que seja boa idéia. – Ela colocou, e ele apertou os olhos numa pergunta muda. Ela explicou melhor, então. – Eu não quero que você leia.
- Posso saber porque?
A mente dela era capaz de responder essa, facilmente, aliás. Ela tinha medo do que os olhos dele encontrariam em suas letras, tão repletas de seus próprios pensamentos e delírios que eram quase um retrato falado de sua consciência.
Os sentimentos da pobre menina eram tão cheios dele, que ela tinha certeza que ele seria capaz de se encontrar facilmente em sua escrita logo nas primeiras linhas. Tremia só de pensar nessa possibilidade.
- Não, acho melhor não.
- Ah, qual é, não podem estar tão ruins.
- Não acho que estejam. Só não quero que você veja.
- Por quê? – A ofensa estava em sua voz, mas ela a ignorou.
- Porque são meus esboços, meus dramas. Não parece certo que você os leia. – E ele certamente se perguntava porque então o resto do mundo podia vê-los. Ela não os exibia sempre?
- Por que me disse que escreveu então?
- Achei que você ia ficar feliz de saber, feliz por mim. – Ela foi firme. – Mas não quer dizer que vou deixar você ler.
- Qual o preconceito comigo?
- Nenhum. – Ele apertou os olhos, querendo sondá-la, e ela sorriu.
“É só que você está impresso demais nisso”.
- Então?
- O que você diria se encontrasse a si mesmo num texto?
- Ah... Talvez eu ficasse lisonjeado.
- E se esse texto fosse meu?
- Eu não sei. – Ele respondeu, momentaneamente desarmado.
Ficou em silencio por algum tempo. Depois sorriu, sem graça, e encontrou nela só um olhar sério. Ele nunca pensara nem ao menos na possibilidade. Será que ela...?
- Enfim, não acho que seja uma boa idéia.
- Está sendo meio injusta.
- Por quê? – E seu tom de voz tinha mesmo uma pergunta.
- Porque você deixa desconhecidos lerem!
- Faz muito mais sentido. Eles não me conhecem.
- É isso que faz a diferença?
- E se você estivesse num texto? E se não fosse bom? O que você diria? O que você me diria?
- Eu não sei!
- Então não! – Ele abriu a boca para protestar. – Volte com uma resposta e te deixo ler.
- Eu vou voltar.
- E eu vou esperar.
- Claro que vai.
Se olharam carrancudos, e ela revirou os olhos. Estava chateada.
“E isso vai me render mais algumas linhas, que eu espero sinceramente que você também não leia”.
01 junho 2009
Sunny Day.
Ela me irrita. É fato, não há o que discutir.
Seus sentimentos, seus sorrisos, seu amor, seu ódio.
Ela é pra mim quase tanto quanto eu sou (ou tento ser) pra ela, com a diferença de que ela não é incondicional.
Ela só me quer pra sorrir, porque tanto ela quanto eu já cansamos das minhas lágrimas, da minha dor.
Ela me diz ter tanto amor, ela me faz tantas promessas, mas ela foge.
Ela parte, ela me engana, ela me trai.
Já passou do tempo em que eu me magoava com isso.
Já se foi a época em que eu chorava por isso.
Agora, eu-e-ela só existe nos dias de sol. Nos dias de luz, de paz.
Porque eu já aprendi que nas sombras, na chuva, no desespero, nem ela nem eu somos suficientes.
Nós somos incompetentes.
Não servimos parar sanar as dores uma da outra.
Nós não acreditamos mais que podemos.
Nós bem que queríamos, nós bem que desejamos, mas isso também não é suficiente.
Quase nada é.
Querer não é poder e fazer é muito mais que desejar.
Nós já aprendemos isso também.
Mas nós não desistimos.
Afinal, nos dias de sol, tudo é tão alegre...
Seus sentimentos, seus sorrisos, seu amor, seu ódio.
Ela é pra mim quase tanto quanto eu sou (ou tento ser) pra ela, com a diferença de que ela não é incondicional.
Ela só me quer pra sorrir, porque tanto ela quanto eu já cansamos das minhas lágrimas, da minha dor.
Ela me diz ter tanto amor, ela me faz tantas promessas, mas ela foge.
Ela parte, ela me engana, ela me trai.
Já passou do tempo em que eu me magoava com isso.
Já se foi a época em que eu chorava por isso.
Agora, eu-e-ela só existe nos dias de sol. Nos dias de luz, de paz.
Porque eu já aprendi que nas sombras, na chuva, no desespero, nem ela nem eu somos suficientes.
Nós somos incompetentes.
Não servimos parar sanar as dores uma da outra.
Nós não acreditamos mais que podemos.
Nós bem que queríamos, nós bem que desejamos, mas isso também não é suficiente.
Quase nada é.
Querer não é poder e fazer é muito mais que desejar.
Nós já aprendemos isso também.
Mas nós não desistimos.
Afinal, nos dias de sol, tudo é tão alegre...
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