28 agosto 2009

Ruptura.


Quero gritar pras paredes e quebrar os pratos pra provar que eu também sou de verdade. Que tenho sentimentos, tenho sensações, tenho lembranças. Tenho alma.
Leve em consideração da próxima vez que for usar de poucas palavras. Leve em consideração da próxima vez que for ser superficial. Leve em consideração quando acreditar que sou de plástico, que não faz diferença e que o abraço não é de todo necessário.

Sou pessoa.
Acalentei a verdade de que era. De verdade, acredito que era.
Eu acreditava, esperava, desejava e delirava, como qualquer pessoa, que se criasse algo. Que você reconhecesse algo.

Mesmo que visse de outro modo. Mesmo que não do meu modo. Desde que de algum modo.

Acalentei a crença de que seria. De verdade, cheguei a acreditar que era. Você me disse que era.

Sorri com você acreditando que fosse. Meu melhor sorriso, minha maior felicidade.
Outro eu. Outro sorriso que não é mais meu.

Você também nunca foi meu. Nada que fosse meu.

E eu tinha esperanças. Tinha sonhos. Tinha crenças. Tinha alma.
Eu era pessoa.

24 agosto 2009

Monólogo de um traidor.

Então, eu menti pra você. Te enganei. Te traí. Te escondi a verdade, te omiti meus fatos, meus casos, meus porquês. Te iludi em todos os sentidos da palavra e expressão. E te magooei, por extensão. Tão fundo que sem chance de volta, de perdão, de um outro prisma para minha delicada situação.
Não é mesmo?
E então, eu sou escória. Sou resto, sou lixo, sou falso. Sou ignorado, ignorante, ingrato e tão falsamente quanto possivel em minha inocência sentimental. Agora, sou picareta por profissão e meliante por prazer. Com certeza, do tipo vilão dos seus mais complexos pesadelos. Os mais reais também.
Não é mesmo?
Julgues-me, se quiser. Não me importo. Não me incomodo. Nao te julgarei por que me julgas. Não te julgarei por motivo nenhum, não levantarei contra ti minhas palavras ferinas.
Eu acho. Eu espero. Eu pretendo.
Afinal, eu não sou escória. Não pra mim. No meu delicado cristal, no meu plano de visão, era tudo natural. Um simples formar parte que, pela primeira vez desde sempre, me inclui ao invés de me excluir. Te excluir era detalhe, não relevante na hora da minha surpresa felicidade. Não consigo me sentir culpado por sentir o pertencer que nunca é meu.
Então sim, me pinte de vilão e me dê as armas do assassinato brutal dos seus frágeis sentimentos e tire as fotos da captura.
Provas físicas pro seu julgamento.

Não que você precisasse delas. Não que fosse me entender. Não que estivesse disposta, desde o começo, a olhar por outro lado que não fosse o seu.
Então sim, faça o que quiser. Me julgue o quanto quiser. Me difame, me ignore, me odeie por quanto tempo precisar. Não quero que seja assim, que fique assim, que sinta assim, mas tampouco quero perder o pertencer que me foi extendido tão gentilmente, tão livremente. Pela primeira vez. Minha primeira vez.
Então, vou esperar em silêncio que se decida por voltar.
Ou não.
Ainda vou estar.
Pra sempre vou estar.

23 agosto 2009

Dove credi di andare, se tutti i tuoi pensieri restano qui?
Come pensi di amare, se ormai non trovi amare dentro di te?

20 agosto 2009

O fim.

E ele se perguntava o quê tinha feito de errado. Se o tinha feito de fato, desconhecia. Não era capaz de lembrar. E sozinho com suas dúvidas, ele a viu se afastar em silêncio. Com medo de perdê-la, segurou-a e recebeu em troca apenas frieza e ignorância. Como sempre, ela só lhe era amável quando queria. Se quisesse. Se o desejasse. E sem alternativa, ele a abandonou.
Não chorou. Nenhum deles o fez. E assim acabou todo o amor que juraram, que prometeram durar pra sempre. Sem lágrimas. Sem volta.

16 agosto 2009

Felicidade?


- O que eu realmente quero dizer é: que papo é esse de felicidade? Isso não existe.
Incrédula. Era o que ela era. Mas devo admitir que também não acreditava na história de final feliz que pregavam por aí. Não é como se fossemos alcançar. Talvez um momento de alegria, um segundo onde o calor fosse mais intenso e coração mais quieto. Felicidade, jamais.
- Eu acho que você está sendo pessimista. É claro que existe felicidade.
Esperançoso, otimista, tolo. Não aranjaria palavras mais precisas para aquele jovem rapaz. Apaixonado pela própria vida, pela melhor amiga, pelas coincidencias que tomavam seus dias de assalto. O tipo de pessoa que confia no acaso e acredita que tudo vai melhorar. No minimo, ridículo.
- Eu não vou discutir com você. Nunca dá em nada, de todo modo. Você é incorrigível.
- Agora eu sou o teimoso?
- Não sempre foi?
- Tive a impressão que era o contrário.
Eles se olharam por um momento, se medindo, se estudando. Quase como se não se conhecessem há anos.
Sorriram.

E tudo o que havia entre eles era cumplicidade. Ainda que fossem tão opostos, ainda que fizessem parte, de tantos modos, um do outro. Era amor, eles sabiam, mas não iam admitir. Ambos eram os teimosos.
- Gosto desse seu sorriso.
- Eu não gosto muito desse seu. - Ela admitiu. - É o seu sorriso de vitória. Odeio perder.
Ele riu.
- Eu sei. Mas eu não posso fazer nada, se eu sempre ganho.
- Não é muito justo, você sabe. Você nem merece todas essas vitórias. E ficar exibindo elas pra mim, é tão errado.
- Eu fico feliz quando ganho. Principalmente de você. E é direito meu exibir todas essa felicidade.
- Diga satisfação.
- Porque?
- Já falei, isso não existe. Não seja o teimoso dessa vez.
- Não posso dizer que não é felicidade. Eu fico feliz quando estou com você, sinto muito se você não e capaz de aceitar isso.
- Também fico. - E ele sorriu, e ousou sorrir seu sorriso mais vitorioso. - Satisfeita. - Ela se viu obrigada a adicionar.
- Você fica feliz e sabe disso. Satisfação não é suficiente pra descrever isso.
- Como você é convencido!
- Me diga se não é verdade - Ele exigiu, esnobe.
- Eu, eu... Ah, tanto faz. Entenda como quiser.
E ele sorriu de novo e ela não acompanhou, embora quisesse. Afinal, ela realmente a sentia. A tão não-querida e desacreditada felicidade. E ela o mirou, ressabiada. Dividida entre o ofendida e o contente, entre a descrença e o real, o que pulsava no seu peito. Cerrou os olhos, descontente com mais uma vitória do campo inimigo.
Ah, sim, ela definitivamente a sentia.

13 agosto 2009

Ela.

Ela chorava. Ela sorria. Ela se controlava pra não se descontrolar.
Não sei o que pensar sobre isso.
Não sei o que escrever sobre isso.
Não sei nem se tenho vontade de fazê-lo.
Ainda sim, aqui estou, tentando.
Porque?
Ela não vale a pena, ela nunca valeu.
Ela tem sentimentos demais, ela se importa de menos, ela chora demais, ela sofre demais, ela sorri demais, ela finge demais.
Se esforça demais. Se força.
Pra quem?
Pra que platéia ela faz o show? Quem está olhando pra ela? Onde estão os holofotes, porque não os posso ver?
Porque diabos ela está agarrando os ursos de pelucia e se escondendo neles, porque as lágrimas estão escapando? Porque ela se comporta como uma menina? Porque não pode crescer?
A cama agora está desarrumada e o cobertor escuro tapou-lhe a cabeça; sua tentativa de se esconder e ocultar de mim, de sí e do mundo seu sofrimento insano, imenso e sem causa. Tentativa em vão, fracassada. Seu rosto desapareceu mas eu ainda posso ouvi-la. Os guinchos silenciosos, os gritos mudos, os soluços secos, a dor.
Sua dor. Minha.

Qual é o problema?
Diga pra mim, esclareça pra mim, encontre-o pra mim. Me deixe encará-lo.
Onde está?
Me diga onde, me diga onde procurar, me diga pelo quê eu deveria...
Me ajude a te ajudar, me ajude a te achar, a te salvar. Me ajude. Se ajude.
Se ajude a mim.

08 agosto 2009

Ao redor da mesa.


A conversa já durava horas, mas nenhum deles parecia disposto a levantar e partir. Dar as costas um ao outro, ainda que fossem apenas caminhos opostos numa calçada, era inconcebível. E por isso eles continuavam, bem dispostos, a discutir as pequenas delícias e infortúnios da vida, a falar sobre o tempo, sobre os amores, as dores, a falar. Era uma pratica comum pra eles, quase como o abraço apertado da recepção. Não que estivessem há muito tempo separados, não que se falassem pouco ou que morassem longe. Eles só sentiam a vontade, a necessidade, de se aproximar ainda mais assim que os olhos batiam um no outro.
Atração Gravitacional.
- Ela não é uma das exceções a que me referi, meu bem.

- E o que isto quer dizer?
- Que ela não é flor que se cheire. Que ela não é um amor. Que ela não é pra você.

- Fico me perguntando se você tem alguma opção viável pra mim.
Ela sorriu, e ele revirou os olhos. Ah, okey, ele nunca entendia. E eu quero dizer nunca mesmo. Como ele poderia, afinal? Era só um menino.

Eles eram aquele tipo de casal de amigos que as pessoas são incapazes de aceitar que sejam apenas amigos. Mas eles o eram, e satisfeitos. Na verdade, eles, os dois, estavam muito felizes com isso. Com o simples fato que nenhum deles jamais teve a necessidade de sentir mais que a amizade profunda e incondicional que eles alimentavam. Um pelo outro, quero dizer. Nada mais que isso.
E ela o olhava, o seu pequeno grande menino, enquanto ele mirava a chuva enjoada que insistia em se chocar com a janela alta do bar confortável onde eles se encontravam sempre. Ele parecia de outro mundo, ele era um estranho e ele estava encantando com os pingos e respingos. E como nas canções mais antigas, a chuva, para ele, poderia ser uma chuva de felicidade.
Ela compreendeu isso, sorriu e se deixou encantar também.

Ele desviou seu olhar por segundos para olhar para ela, sua tão querida amiga de sempre. E ela era do mundo dele, sua estranha, a menina que se encantava com os pingos e respingos das gotas de chuva.
E ele sabia que naquele mundo que eles dividiam, a chuva era só um detalhe. A felicidade estava provavelmente escondida dentro das paredes daquele lugar familiar, ou talvez dentro das tão estimadas gotas. E eles sabiam, de algum modo, onde encontrá-la. Juntos.

01 agosto 2009

Histórias De Princesas


Ela não se olhava no espelho há dias. Tinha medo do reflexo. De qualquer modo, ela não queria encarar a si mesma e constatar o que quer que fosse naqueles dias. Era mais seguro – principalmente pra ela – ficar assim. Sem pressões – especialmente vindas de si mesma. Sem imagens para sua mente cruel maltratar e criticar.

E então, sem coragem – ou vontade – para encarar o mundo, ela se sentava na janela para ver os dias passarem. Ela não queria fazer nada realmente, ela não tinha vocação nem talento, afinal. Ela só queria (e sabia) observar. E assim, com papel e lápis na mão, registrava com emoções tudo o que os olhos viam. Todos os finais e começos do mundo alheio, todas as nuances do desconhecido viver que ela rejeitava. Toda a vida que se desenrolava diante dos seus olhos, todo o desenvolvimento que ela nunca seria capaz de alcançar.
Às vezes ela imaginava também. E nos seus delírios, príncipes vivos e coloridos galopavam com sua pressa inconstante e vigorosa em seus cavalos negros, para ao fim da jornada tomarem-na com paixão entre os braços e buscarem seus lábios ansiosos. Ms mesmo ali, nos seus quase sonhos, ela não tinha a perfeição: Seus homens era cheios de defeitos e gracejos que jamais fariam parte da idealização de qualquer outra menina. Incompletos e esperando por ela.
Mas ela não era outra menina e era aquele jeito imperfeito e inocente sedutor que a fascinava. Incomum, inquieto e especial. Ela procurava tudo o que os homens são, mas escondem para agradar – ela procurava o autêntico. Ela queria o sincero e natural príncipe encantado do cavalo negro. O selvagem, o bruto, o que chegaria mais próximo de ser um homem de verdade.
Até porque, ela se encontrava muito longe de ser uma princesa, e o príncipe encantado não poderia, portanto, ser seu par ideal. Então ela se apaixonara pela versão alternativa, o único rebelde o suficiente para arrancá-la de seu estupor e puxá-la para o outro lado da janela, para a vida. E ela queria viver, queria viver com ele. Ela o queria acima de tudo e, embora suas prioridades biológicas fossem outras, nada convenceria sua cabeça de estar errada. Ela acreditava naquela verdade e acreditava nele.
E então ela espera. Ela segue descrevendo os dias de sua janela, ela segue acompanhando a vida, segue registrando o mundo enquanto espera por ele, o seu amor. E na sua realidade alternativa, onde ela é princesa e ele príncipe, o universo também espera por ela. Pelo momento em que ela encontrar o motivo da vida e a sua felicidade de fim de livro.

-
okay, prometo que esse é o ultimo texto que eu escrevo nesse tema :x

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