24 abril 2012

Dois pra lá.

Já faz é tempo desde a última vez que dancei por um sorriso (e como doeu), e não tenho mais os passos nas pontas de mim. Não conheço mais as canções de amor que me embalavam antes, desaprendi o pouco que sabia sobre me movimentar ao redor. O toque agora me assusta, ao invés de guiar. E a verdade é que não sei mais dançar. Já esfriou tanto em mim, essa coisa de amor, que nem sorrir amor eu sei mais. Ai, e agora? Ai, o que vai ser de mim?


12 abril 2012

Ponto e vírgula (ah, menina).

Perdera o amor pelos pontos, assim como perdera por ele. Só tinha olhos para vírgulas agora. Sem espaço, sem pausas, um após o outro. Só virgulas acompanham seu pensamento agora. Seu batimento cardíaco.  Pontos exigiam demais daquela garota que não sabia parar. Cujas lágrimas se emendavam na risada, cujo sonho se transformava em desespero em questão de segundos. Ah sim, só as virgulas lhe podiam acompanhar, uma emoção após a outra, um pensamento desordenado seguindo outro, seguindo uma canção, seguindo uma frase daquele filme que lhe tocara a alma - e os olhos - havia anos. Só virgulas podiam acompanhar o ritmo da zona que virava sua mente, do campo escuro e vazio e cheio e decorado com medo de solidão. Ah, pobre criança, amante de vírgulas, de prosas, de olhos claros, de castanho, de pequenos príncipes e verde-céu e loucos com suas caixas. Amava tudo que não fazia sentido, que se lia e falava sem pausas, que ria alto e apertava os olhos pra ficar feliz. Pra fazer graça. Ah, menina confusa, sem pausas, sem ar, sempre com seus fones de ouvido e sua música sem intervalos, cujas letras ela escreveria na pele não fosse o medo das agulhas que espalham a tinta. Ah, menina, vê se cresce, se descansa, se fecha os olhos e pensa antes de correr a mão pro papel. Correr pra quê. Sua corrida nem tem linha de chegada. Não tem nem ponto final. É só vírgula, depois de vírgula, depois de vírgula... é só essa angústia que nunca acaba e um ponto em cima de uma vírgula - por que nunca termina, nunca termina, nunca termina ;

08 abril 2012

falando em cacos.

ninguém se importa se a dor é minha e vai silenciosa por sob a pele. e se eu sorrir posso enganar a todos, por que ninguém quer mesmo a verdade. ninguém quer sentir a saudade. ninguém vai deixar a cidade. nem eu. nem minha dor. ela vai quieta, por dentro de mim, navegando cansada pelas minhas veias. e somos só eu e ela por dentro da carne que é minha, gritando um grito que não sai, olhando as paredes de concreto que não se movem nem pra me oprimir. e é a minha dor e o meu sorriso falso e o meu corpo débil segurando tudo pelas ruas cinzentas e o asfalto quente da cidade cheia, que parece deserta. e numa hora dessas, qualquer multidão é deserto. e eu vou sorrindo, vou fingindo, vou dizendo e cantando e escrevendo e guardando, guardando tudo, até mesmo aquela dor que não devia ter doído tanto, que eu não devia ter sentido tanto, mas guardei. é que não sei mais viver sem o fingir. mas vou partir, vou ruir, vou sumir, explodir. e aí não vai ter mais nada de mim. (nem os cacos daquele sorriso falso que um dia sorri).

06 abril 2012

Cinza-solidão.

Vou sufocando, devagar, aos olhos de todos. Bem ás vistas, que é pra não restar dúvida de que me falta o ar. Vou submergindo, afundando, incapaz de estender a mão e encontrar a beira, a bóia, o cais. Vou sufocar. Vou me afogar. Vou afundar. Me perder. E eu já não sei se é lágrima ou mar ou água ou chuva ou ar, só que a dor é tão intensa que até o céu se deu ao trabalho de mudar de cor pra me acompanhar. E de repente tudo é cinza, tudo é cimento, concreto, e até os passarinhos ficam em silêncio, com medo do bater de asas quebrar o que resta de mim. É que de repente, sou mais frágil que vidro. Uma única brisa e me vou, perdida pra sempre, cacos ao chão. E a dor é tanta e tão sorrateira, que não sei reagir. E meu corpo para, incapaz, encolhendo quando devia esticar, buscando ar, o sentido, o motivo, a alguma coisa que devia me fazer viver. É que eu não sei viver. E ninguém me segura, ninguém me acompanha e sozinha parece tão pior. E eu me culpo pela solidão, me culpo por não me saber levar, me culpo por minha infelicidade, por que a culpa é mesmo minha, por que a vida é minha e as rédeas quem tem na mão sou eu. Mas não sei guiar, nunca soube, e sabe Deus se algum dia vou aprender. E é só nele que eu confio, só nele que vai minha fé, por que sua companhia silenciosa é a única que eu tenho, e apesar de saber que está lá a falta do toque me dói na alma. E como dói, como escorre a lágrima, como falta o fôlego mesmo quando eu penso na caminhada que me vai pela frente e tudo bem que podia melhorar. E como é triste quando o céu está cinza. Como é triste gostar tanto de azul e não saber colorir.

01 abril 2012

Te espero sentada.

Me sentei neste banco a tarde toda a sua espera, tentando não me deixar levar pela chuva a cada hora que passava. Vesti meu melhor vestido, mostrei meu maior sorriso e esperei, como esperei, mas você não veio. Soltei todos os balões, despetalei todas as flores e afastei todos os pombos e crianças enquanto procurava te reconhecer entre os vários passantes, mas você não passou. Como pôde me deixar aqui e partir pra sempre, como pôde caminhar sem mim este caminho que nos pertence? Não me deixe aqui pra enlouquecer neste banco cercado pelos corpos débeis das pobres margaridas que eu desfolhei. Vem me encontrar, amor. De vestido branco, de alma pura e cabelo ao vento, vem me levar da dor. Vem e me leva, amor.

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