30 abril 2010

Vermelho e Branco.


Branco e Vermelho. Em algum tom diferente, essencial. Em alguma voz macia, confortável. Em alguma carne e osso impossivel de abandonar, de desatrelar do pensamento. Vermelho e branco, branco e vermelho. Em todos os pontos. Em solas e fios, branco e vermelho. Como uma provocação, um desafio; venha e tome. Assim, vermelho e branco.
Vermelho e branco, e só meu. Nos meus pensamentos, nos meus olhos, nas minhas buscas. Porém, Vermelho e branco e nunca meu. Como uma vitória. Vitória de branco e vermelho, longe de mim. O mesmo branco e vermelho, dançanto frente a mim. A mesma provocação bicolor, dia após dia, rubra e nula. Vermelho e branco. Repetindo os passos e os toques, e os sorrisos, que mesmo não sendo, me chamam vermelho e branco. Um sorriso que me esquenta e que me faz pensar em vermelho. E em branco. Branco e vermelho. Lindo.
Lindo demais para apenas branco e vermelho. Ainda sim, só vermelho e branco. E lindo.

21 abril 2010

"Palavras, apenas"

 ­Não consegui acreditar quando vi as palavras ali, claras, vivas e expostas aos meus olhos. Doeu. Como um golpe, como um tiro. Eu quase pude ouvir o estampido. Certamente, eu senti o impacto. Quase podia sentir o ferimento. Talvez eu pudesse. A dor eu certamente sentia.
 ­Estava indignada. Era meu. A palavra era minha. Era eu. Definição, não tão simples, não tão básica. Era mais. Pra mim, era carinho. Era sinal. Eu me sentia completa entre o apelido e o abraço. Eu me sentia próxima. Mas não era.
 ­Ao que parece, era categoria. E a palavra que era minha, a chamada, a caricia, não era. Era qualquer uma, qualquer coisa. Não, não me tornava especial. Eu nunca fora especial. Eu fui iludida. Eu fui momento, fui presença, presente apenas por alguns poucos meses, algumas poucas fases. Eu nunca fui. Eu estava.
 ­E dei então, um cálido adeus a sua eterna amizade. Eu era colega. Eu era alguém apenas, era conhecida. Dei adeus então, a tudo que tinha significado entre nós. Fechei meus olhos cheios de lágrimas, cheios de lembranças, e as apaguei. Eu me fechei á nossa antiga profundidade. Eu seria pequena, apenas, dali por diante. Pequena com sentido literal. Sem nenhum sinonimo que você pudesse citar. Eu era pequena, era rasa. E eu me senti crescer então, por perceber. Me senti ganhar o mundo, de uma maneira muito, muito cruel. Dóia crescer daquele jeito.
 Não, eu já não era baixinha.





"Palavras apenas,
Palavras pequenas
Palavras ao vento"
Cássia Eller

18 abril 2010

"I don't feel so bad"

Alguma coisa pulsava em mim. Repulsa. Algum ódio desenfreado, algum desprezo com razão. Repulsa. Pulsa. Saía dos poros com tanta facilidade, naturalidade, que eu achava dificil crer que não estivera ali desde sempre. Talvez estivesse. Provavelmente estava.
Repulsa, pulsando desde sempre. Eu só a guardava. Eu só não a deixava saltar fora de mim. Ela era guardada a sete chaves no meu peito feliz e frágil, era parte de mim que eu escondia por que não tinha por que mostrar.
Eu tinha orgulho de mim e a repulsa não era necessaria, por que nao haviam inimigos capazes. E mesmo alguns capazes, não eram indignos. Eu poderia sobreviver a eles. Mas aos incapazes, aos indignos, aos donos de alguma sorte ou talismã, não, a esses eu só tinha repulsa. Pulsa. Repulsa. Pura Repulsa.
Escutei musica. Escutei gritos. Vi luzes. E tudo me deu tanto asco, tanto nojo, tanta raiva, que eu quis me trancar em salas vazias e a prova de sons. Eu só queria um pouco de silêncio, e uma maneira de fazer silêncio às dores que me ameaçavam. Não, não por coisas tão pequenas. Desculpa aí, mas não aceito sofrer. Desse mal não. E a repulsa pulsa. Pura. Por mim, dessa vez. E por eles.
Quis tapar meus ouvidos para não ter que escutar o canto. Tentei. Mas a musica se alastrava, queimando, o canto de vitória que não me deixava pensar. Então cantei. Outras musicas, mais bonitas, mais minhas, mais cheias de glória e de histórias. E minha propria voz fazia o mundo sumir, e eu so era capaz de escutar meus proprios gritos, meus proprios motivos.
Eu cantava e chorava, e fechava os olhos pra não chorar.
Eu era vitoriosa.
Eu era.
Não era.
Eu era só repulsa. Pulsando. Cantando. Expulsando os pensamentos e as dores.
Eu era silêncio. E queria silêncio. Cantando.

"Came without a warning so I had to shoot him dead
He won't come around here anymore
Come around here?
I don't feel so bad"
Wake up Call - Maroon 5.

16 abril 2010

Ruptura.

O quarto era pequeno demais para nós dois e todos os nossos problemas. As paredes pareciam frágeis demais, o mundo era frágil demais. Ou talvez os nossos gritos fossem fortes demais. Talvez estivessem altos demais. Tão altos que nós já não escutávamos. Nem um ao outro, nem a nós mesmos. Pelo menos, eu não tinha idéia do que estava falando.
A pausa surgiu, mas durou apenas alguns segundos. O necessário apenas para recuperarmos o fôlego, refazermos a linha do pensamento e tomar algumas resoluções. Eu tomei as minhas, pelo menos.
- Já chega disso, eu não quero mais brigar.
- Um pouco tarde pra isso, não acha? Já estamos brigando.
- Por que?
Fiquei momentaneamente sem palavras. Eu não tinha idéia do porquê. Eu só sabia que brigávamos e fazíamos isso o tempo todo. Nós nunca nos importávamos muito com os motivos.
- Você não sabe, não é? Não se importa mais.
- Não é verdade. – Eu comecei, mas minha voz não tinha certeza nenhuma. Ele percebeu. Sempre o fazia.
- Você sabe que é. Eu só não consigo entender.
- Nem eu. Eu juro, nem eu.
- Mas você devia. Você deveria saber o que quer.
- Eu sei o que eu quero.
- E o que é?
Me calei. Nós dois tínhamos essa resposta. Ela estava ali, exposta. Verbalizá-la seria torná-la real, mas alguém tinha que fazer. E eu fiz.
- Acho que já chegou a hora de acabar com isso. Eu quero o divórcio.

13 abril 2010

"E eu vi aquele sorriso se apagar só pra mim.
Eu vi, e a sensação foi horrivel."

10 abril 2010

Lembranças.

- Você está apaixonada?
- Não.
- Mensagem pessoal bastante sugestiva. Eu diria que está sim.
- Eu só sempre estive. Desde que eu me lembro. E eu nao consigo esquecer.
- Bizarro... Algo tipo alma gêmea?
- Vai saber. - Suspiro. Talvez lágrimas. - É só mais um daqueles casos do cara perfeito que voce nunca teve a chance de tocar. E que voce só pode escutar e dizer, todos os dias, dia após dia, o quanto amava. E de repente acaba, some, e ficam só as lembranças. E aí volta e meia você fica deprimida por que sumiu. Por que acabou.
- Entendo...
- Não entende. Aposto que não.
- Já passei por uma situação semelhante. A diferença é que não era um cara, obviamente, e sim uma garota. Na verdade, acho que foi a única garota que eu amei de verdade. Quando eu estava sozinho eu lembrava dela. E nos momentos felizes eu gostaria de tê-la do meu lado. E quando eu ficava triste, só de ouvi-la falar, eu já me sentia feliz.
Suspirei, por que sabia como era. Por que aquele diálogo me trazia lembranças. Lembranças demais.
- A gente não podia simplesmente esquecer?
- Era como se ela me transportasse para outro mundo. - Ele continuou, e eu quase sorri. Somente quase. - Mas acho que nesses casos o tempo é o maior aliado. Embora ele seja algum tipo de torturador.
- É, eu sei. Eu só não aguento mais esperar.
E ficamos silencio. Porque era saudade. Saudade de todos os lados.


.# obrigada belém pela conversa, e pela inspiração :)

07 abril 2010

Um Pouco de Solidão.


Ele se aproximou da cama e se sentou ao meu lado. Não fez som algum, mas eu sabia que estava ali. Por isso, nao me assustei quando sua mão correu pelos meus cabelos, num afago silencioso.
- Nunca te vi tao frágil. - Ele comentou.
- Nunca estive tão. - Respondi.
- Tem alguma coisa a ver com...?
- Eu só estou me sentindo um pouco sozinha. - Interrompi antes que começassem as suposições. Até por que, era verdade. Eu me sentia sozinha.
- Eu estou aqui. - Ele afirmou, e a voz era puro carinho.
- Eu sei.
- Então deve saber que não está sozinha.
- Eu sei. - Repeti. - Só não sinto. Não sinto ninguém.
Ele interrompeu por um segundo suas caricias e estendeu a mão para afagar meu rosto. Hesitante, como sempre, ele me tocou, meu rosto gelado. Foi rápido e macio, fulgaz. Nem ao menos tive a chance de parar de respirar. De sentir.
- Mas eu estou bem aqui. - Ele disse, e voltou a mergulhar os dedos em meus cabelos.
Concordei com a cabeça, como quem absorve uma informação. Mas não absorvi nada. A sensação ainda era a mesma, e eu ainda sentia frio. Meu corpo tremeria, se fosse capaz de sentir.
Me encolhi mais e me movi, buscando seu corpo. Minha cabeça se aninhou em seu colo e minhas mãos se procuraram e se prenderam. Eu me sentia a cada segundo mais vulneravel. Ele quase podia perceber. Quase.
Se abaixou e me beijou o rosto. Foi sincero, mas não senti nada. Nem o toque dos lábios, nem o calor deles. Forcei um sorriso. Eu era boa atriz; ele acreditou. Ou talvez, ele apenas fosse tolo. Sorriu também, e se perdeu. O carinho continuava, lento, mas quase automatico. Ele nem percebia que o fazia. Ou talvez percebesse, mas tinha, certamente, sua mente em algum outro lugar. E não fazia a menor diferença. Ele já não existia. Nunca existiu, desde o príncipio.
Fechei meus olhos e tentei adormecer. Fingi adormecer. Mas mesmo em meus sonhos criados eu estava só. Senti uma lágrima escorrer solitária por meus olhos fechados. Seria a unica, tal como eu.
Senti palavras escapando de mim num sussuro, sem minha permissão ou ordem. Talvez eu respondesse uma pergunta. Talvez não. Mas eu certamente sussurrava. Falava sozinha, talvez.
- Eu ainda me sinto só.
- Eu nao posso fazer mais. - Ele me respondeu, e eu não consegui identificar o tom, ainda que a voz estivesse tão próxima de mim, colada ao meu ouvido. Só sei que doeu. Mas menti. Como sempre.
- Tudo bem. - E ele roçou o próprio rosto no meu, me maltratando com o meu não-sentir. Por que não, eu não sentia nada. - Eu só me sinto só.

01 abril 2010

Despedida.

 ­ Como a minha garota tinha pedido, nós terminamos na véspera da viagem para a faculdade. Foi uma despedida estranha. Nós passamos o dia todo juntos, dormimos juntos, e pela manhã nós ainda éramos um casal, mas sabíamos que estava acabando ali. Eu queria chorar, mas tinha prometido a ela que não o faria. E eu não o fiz.
 ­ Ela não quis uma festa de despedida, então passei o dia acompanhando-a, levando-a na casa de todos, vendo-a se despedir de todos que fizeram parte da nossa vida até ali. Aquela mudança, e eu sentia isso no ar ao redor de nós, era permanente, imutável. Aquela partida era para nunca mais regressar. Aquele era um adeus de verdade, das pessoas, da cidade, das paredes. Nós não íamos voltar ali.
 ­ Fiquei surpreso por não vê-la derramar nenhuma lágrima, mesmo enquanto falava com as amigas que a acompanharam desde sempre. Ela sorriu quando se despediu delas, e prometeu voltar para vê-las, e prometeu sentir saudades. Me vi dizendo aquelas coisas para as pessoas também, depois de algum tempo. Eu também partiria em breve, e eu quase me esquecera disso. Eu mergulhara tanto na partida dela, que quase esquecera de mim. Eu, que seria outro quando nos reencontrássemos. Mais maduro, mais preparado, nos trilhos certos para realizar o meu sonho. Mas, e disso eu tinha certeza, ainda seria dela. Eu sempre seria dela.
 ­ Eu ainda a levei ao aeroporto naquele dia, e só então eu a vi derramar algumas lágrimas. Ela me disse, sorrindo, que era fraca e que estava quebrando a promessa. Mas que ela seria forte dali pra frente, e que não voltaria a fazê-lo.
- Você não chorou quando se despediu das suas amigas, ou dos seus pais. – Eu disse, quase achando graça.
- É mais fácil com eles, eu acho. Eles não fazem parte de mim do jeito que você faz.
- Sua mãe ficaria ofendida. – Eu ri, de leve. Era quase superficial.
- Ela já não gosta muito de você mesmo.
- O que é meio injusto, você sabe.
 ­ Ela riu e o som era tão leve quanto o da minha própria risada. Não machucou muito. Coisas piores me machucavam agora. A solidão que eu sentiria em minutos, por exemplo.
- Ora, você levou a menininha dela e a tornou uma mocinha. – Ela disse, e o tom se tornou parecido com o que a mãe dela começou a usar comigo depois da nossa primeira vez. – Como ousou fazer isso com a menininha dela?
- Bem, você parece mais que isso pra mim.
- Eu sou. Mas a culpa é só sua. – Ela disse, pondo o dedo sobre o meu nariz, e um sorriso sapeca tomou conta dela.
 ­ Ficamos em silencio por um momento, e eu tirei sua mão de meu rosto, apenas para segurá-la e acompanhar as linhas com o olhar. Eu tinha medo de olhar nos seus olhos e me despedir. Mas eu teria que fazê-lo, a qualquer momento. Eu só não queria deixá-la partir.
- Quando voltaremos a nos ver?
- Não me faça perguntas que eu não posso responder. Eu não sei. Espero que em breve.
- Eu também. Eu... vou sentir a sua falta.
- É claro que vai. – Ela afirmou. – Eu não quero ouvir o contrário de ninguém. Sinta minha falta pra sempre. Sempre lembre-se de mim. Me promete?
- Não havia nem a necessidade de você pedir. – Eu disse, sorrindo pra ela, sentindo meu peito queimar pela força com a qual eu segurava as minhas lágrimas.
- Vai passar rápido. – Ela disse, e eu podia sentir a esperança na voz dela.
- Vai se arrastar, como sempre acontece quando estamos separados.
- Não seja pessimista, bobinho. Vai dar tudo certo.
- Não consigo ver como.
- Seja forte. Por mim. – Foi golpe baixo, e eu sabia que ela também achava. Ela tinha total consciência que eu faria qualquer coisa por ela.
 ­ Concordei sem sons, mas eu sabia que ela entendera. Eu já não tinha palavra alguma para respondê-la, e ela não precisava de nenhuma. Nós já haviamos passado dessa fase de palavras, consentimentos e negativas. Eu simplesmente seria forte, por que ela pedira. Eu seria qualquer coisa. Qualquer um.
 ­ Passei meus braços pelo corpo pequeno dela, tomando-o pra mim. Eu sentiria tanta falta daquilo, do nosso contato, das nossas conversas. Eu sentiria falta de olhar pra ela e saber o que se passava, de ler através de todo e qualquer pretexto que ela inventasse. Eu sentiria falta de ser “nós”, agora que seria apenas eu.
- Eu te amo. – Eu sussurrei no ouvido dela e a senti estremecer em meus braços.
- Eu também.
 ­ Foi a resposta quase inaudível dela. A apertei mais em meus braços, desejando nunca soltá-la, e nós trocamos um ultimo beijo ali no saguão do aeroporto, antes dela me dar as costas.
 ­ Eu não esperei o avião sair pra sumir daquele lugar e deixar minhas lágrimas descerem livremente. Eu me sentia estranhamente dilacerado, e por mais piegas que isso possa parecer, eu realmente sentia que aquela que eu sempre chamaria de minha tinha levado uma parte de mim com ela. E eu nunca a esqueci, nem por um momento, por todo o tempo em que ficamos separados. E eu fui forte, e nunca chorei. Mas a lembrança esteve sempre lá. Me aquecendo. Esperando.
 ­ E eu nunca a esqueci.
 ­ E eu nunca a esqueci pra sempre.

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