12 outubro 2017

Miudezas.

    

Eu tentei mil vezes, de mil formas, dar palavras aos meus sentimentos. Mas é tudo dor e já fazem sete dias que seu sorriso deixou de ser.  E eu tenho tentado guardar cada momento, cada lembrança. E eu tenho tentado em grupo, eu tenho tentado sozinha, eu prometo, eu tenho tentado. E eu me lembro.
    Eu me lembro das noites. Me lembro das piadas, das histórias, do sofá apertado demais pro seu número de amigos e da cozinha desorganizada, cheia de copos, de pratos, de um pré festa qualquer que deixou mais lembranças do antes do que do depois.
    E eu me lembro dos filmes ruins e das risadas e dos vídeos engraçados divididos numa sala pequena, com dois gatos, um mar de canecas e livros sobre engenharias que nunca vou entender. Eu me lembro da coleção de facas, intocáveis por ninguém mais, porque a cozinha é sua e você faz os pratos e não, não é pra ajudar.
    E eu me lembro do colo quente e das lágrimas amargas, das promessas e da experiencia que você dividiu quando eu rui em pontos que eu não sabia que podia, minhas costas contra facas que eu não esperava que me apunhalassem. Eu me lembro de você entrando porta adentro, cuidado e risada e olhos atentos, porque você bebeu e pode se arrepender.
   E eu me lembro de você numa mesa de bar, 27 de agosto, apesar de tudo, vinda de longe pra me dar um abraço porque é dia de comemorar, é meu aniversário, e na próxima, você promete, a gente vai dividir uma cerveja. E eu me lembro da troca das letras, do apelido bobo, da história embriagada, da volta no taxi e dos seus ciúmes bobos daqueles garotos que eram seus, só seus.
    Eu me lembro da amizade, das tardes na praia, da gente no engarrafamento, das gírias estranhas, das conversas de hétero, dos batons importados, dos vestidos chineses, das fotos incríveis, dos olhos claros, do cabelo comprido, do curto, do ralo, da máquina. E eu me lembro do medo, da esperança, da certeza de que tudo ia dar certo, só para, no final, não dar. E eu me lembro da notícia, dos gritos, das lágrimas, da saudade no peito que não vai pra lugar nenhum porque você foi, você foi, e a gente ficou.
   E eu me lembro do quanto eu te amo e das poucas vezes que te falei, e do quanto você ria e me chamava de brega porque nossa amizade começou emprestada e estendeu pra todo sempre, e das vezes que eu acabei no fim da praia sozinha contigo e uns silêncios estranhos, umas pessoas aleatórias, umas garrafas na geladeira.
   E eu me lembro e eu me lembro e eu não vou esquecer, enquanto eu respirar, músicas e manhãs e miúdas e pra sempre. E eu me lembro do verde, dos abraços, do seu amor e do quanto era porto seguro ter você ali, fim da praia, colo quente, comida boa, dois gatos. E eu me lembro e eu não te esqueço, e você vai e a gente fica, e a gente lembra. Até a próxima. Cadê d miúda.

05 junho 2017

Bomba Relógio.


Às vezes acho graça em como as coisas chegaram ao fim.
Eu, que sempre soube que tínhamos data pra acabar, que nunca achei que você fosse durar, que cantava, cheia de zomba, sobre como não éramos pra sempre, como você não era "o cara", me apaixonei tão boba, caí fundo demais aos seus pés.
E você, que dizia que me queria, que se enrolava ao redor do meu pescoço, que pedia desculpas por não ser capaz de me deixar fora de alcance todas as vezes em que estávamos lado a lado, foi quem me deixou de lado, quem me deixou pra trás, antes mesmo deu perceber que você de mim só queria a superfície.
É que seus olhos eram sempre tão intensos nos meus que eu não sabia mais diminuir. Acostumei a viver à toda, sempre em velocidade máxima, potência infinita, nunca parando para circundar cuidadosamente as curvas, para aproveitar a vista. Não precisava. Me acostumei a viver o borrão, a sentir o vento nos cabelos, a fechar os olhos e sentir você do lado, mão na minha, pele na pele, riso contra a minha orelha.
E eu acabo achando graça que eu, que sempre soube que nós eramos bomba-relógio, tenha me deixado abater, ainda que tardiamente, pela explosão. É que fica sempre um pouco de mim nas mãos de quem me deixa pra trás.

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