23 junho 2013

Fadiga


- E se você quer saber, eu tô cansada. Cansada de ter que me explicar, de ter que engolir minha tristeza, de ter que disfarçar. Tô cansada de sentir tudo isso e não ter o que fazer, de te encarar nos olhos sem resposta a dar quando você pergunta "mas o que você quer?". E eu fico tão irritada de te ver tentar, me olhar de cima, do alto do pedestal de "comigo está tudo bem, obrigada" e "ai que dó, tadinha, vive em dor". E eu sei que a culpa não é sua e que você quer ajudar, mas é como eu me sinto, ás vezes. É que eu tô navegando sem rumo, eu tô em dor em alto mar e não tem nada que eu possa fazer sobre isso. Eu não quero pena e eu não quero que você me dê uma resposta, eu só não quero palavra vazia, uma opção sem sentido. Eu já me sinto impotente. Eu me sinto demais.
E ele se cala e a encara e tampouco tem palavras, por que ele não sabe bem, e nunca soube, o que fazer por ela. E ele procura os olhos castanhos, cheios d'água e abre os braços e a engolfa, a embala, a aproxima tanto que, por momentos, eles são um. Ela fecha os olhos e abraça o peito e tenta esquecer do mundo na sensação de casa que ele sempre é.
(Por que já faz tempo que ele é sua única certeza).
- Não se desfaz, por favor.
Ele pede, ele implora, ele sussurra e a lágrima dela escapa, incapaz de morar dentro do castanho por mias um segundo que fosse.
- Tá tão difícil.
- Eu não sei. Eu queria saber, mas eu não sei. Pra mim nunca foi tão ruim. Mas fica firme. Por favor. Não vai embora de mim, tá? Não vai.
E ela silencia e se afasta um pouco, só um pouco, para olhá-lo nos olhos. Porque o castanho dele sempre foi corda de segurança, sempre foi motivo pra manter pé firme no chão, apesar de tudo. E ela precisa ficar, precisa permanecer com ele. Por que aí já dói bem menos.
- Não me deixa partir, então. Me deixa ficar bem aqui.
E ele a puxa de volta, num abraço meio sem jeito, sem angulo, por que a única certeza que ele tem quando o assunto é a tristeza dela é que ele pode segurá-la no peito e mantê-la aquecida. Ele pode amá-la, e disso nenhum dos dois nunca esquece.
- Eu prometo que no final vai ficar tudo bem.
- Como você pode prometer uma coisa dessas, seu bobo? Você não sabe.
- Eu acredito. E nem é só isso, nem é apenas fé; é lógica. Quero dizer, nós dois estamos bem, não é?
- É claro. Nós somos a única coisa certa em mim nesse momento.
- Então pronto. Se a gente ficar junto, vai ficar tudo bem. Simples assim. Então espera. Respira. Eu prometo que no final tudo vai dar certo.

21 junho 2013

Vem pra rua

Hoje é dia de lágrimas. De tristeza mesmo, de medo, do horror de ter que ver policiais atirando bomba de gás na porta de um hospital (isso mesmo, eu disse HOSPITAL), dando tiro de borracha em gente sentada no chão, jogando bomba em gente que tava num bar, na Lapa, de boa na lagoa, ou se escondendo da repressão absurda mesmo, fugido da violência que comia solta no centro da cidade. Mas também é dia de chorar de orgulho, por que os meus, a gente, tá na rua gritando e cantando pelos nossos direitos, por que o país é nosso e a gente cansou de bagunça. E é isso mesmo e a gente não pode parar. Amanhã vai ser maior.


20 junho 2013

Esvair.

Não sei mais encarar solidão. Não sei mais o que fazer de mim. Se me abraço, falta espaço, falta gente, falta calor, falta quem se importe. Tenho me entorpecido, me distraído, me derrubado só quando ninguém olha (ninguém olha). E  te olhar nos olhos tem me desfeito em lágrima e eu não sei mais do que me componho. Não sei mais me colar. Quero levitar também. Estou cansada de doer. E escrever sempre me acalma, mesmo que eu molhe as páginas pingando e sangrando metade de mim. Pintar a letra pra mim é escorrer minha dor. Pra mim é me libertar. Então dê-me o papel, dê-me a pele, deixe-me esvair em tinta, em palavra, em letra e som. Eu quero levitar.



14 junho 2013

Silenciosamente

Dessa vez, minha depressão não está feita de palavras. Muito pelo contrário, está feita de silêncio, de amargor, de engolir a seco a dor que não me deixa levantar da cama (ou tampouco me deixa dormir). Mas ela não não me deixa, ela não vai embora, ela se recusa a partir nas letras que desenho pra ela morar. Faço com cuidado cada palavra e arquiteto cada lágrima que cai no papel, mas a maldita não me abandona, não me deixa respirar (ela não vai embora, ela não me deixa). E eu fico em silêncio, por que eu não tenho mais o que dizer, e eu fico seca, por que eu não tenho mais o que chorar. E eu fico, por que minha dor quer me acompanhar e eu não consigo dar mais um passo que seja com ela atada ao meu peito. É pesado demais pra continuar. E aí eu fico até parar de respirar.

11 junho 2013

Virtual (Ou Spotted)


Spotted: UFF
Tuesday 
"Pra morena que eu segurei hoje quando tropeçou no 4º andar da Biomédicas: ande mais devagar. Não quero nenhum outro cara bancando o herói e tendo desculpa pra chegar assim pertinho desse sorriso perfeito. Se precisar de salva-vidas de novo, é só me dar um grito".
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  • Mayara Antunes As meninas agora estão caindo em cima, mesmo.
    Like · Reply · 27 · Tuesday at 11:08pm via mobile

    Ana Levi  Era você Tayla Couto? É você que vive caindo aqui nos corredores, pelo menos.
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Spotted: UFF
Tuesday 
"Pro menino que me segurou no corredor da biomédicas quando eu ia caindo: muito obrigada. Eu estava tão atrasada e envergonhada na hora que nem agradeci direito. Você foi um gracinha e me salvou de um belo mergulho no chão".
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  • Ana Levi O que você estava fazendo no biomédicas, anyway? Volta pro campus que te pertence, Tayla!
    Like · Reply ·  Tuesday at 12:18pm via mobile

    Tayla Couto Fui buscar a Nathalia Azevedo pra almoçar, que ideia. E escorreguei feio lá no corredor da sala dela, mais um pouco eu beijava o chão.
    Like · Reply · 3 · Tuesday at 12:22pm via mobile


Spotted: UFF
Thursday 
"T.C de letras, que eu salvei de novo na biomédica depois que você tropeçou por que suas amigas não paravam de te empurrar pra esbarrar em mim: não precisava ficar com tanta vergonha nem ter ido embora tão rápido; agora nós estamos quites. Naquele dia eu salvei você do tombo, e hoje você salvou meu dia com aquele sorriso tímido".
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  • Rômulo Porto Se eu fosse ela ficava com vergonha das amigas, por que vou te contar...
    Like · Reply · 15 · Thursday at 19:28pm via mobile

    Luís Fernando O cara era tão feio que a garota saiu correndo...
    Like · Reply · Thursday at 19:48pm via web

    Nathalia Azevedo Tayla Couto 
    Like · Reply · 4 · Thursday at 20:20pm via mobile

    Ana Levi Que que Tayla tá fazendo também que nem parou pra conversar com o cara?
    Like · Reply · 12 · Thursday at 20:21pm via web

    Pedro Evari Correndo pras aulas em outro campus, aparentemente. Ou correndo de mim, vai saber.
    Like · Reply · 2 ·Thursday at 20:21pm via web


Spotted: UFF
Friday
"P.E. da biomédica, que eu salvei com um sorriso, da próxima vez não precisa esperar eu tropeçar pra me salvar".
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  • Pedro Evari Pode deixar que, no que depender de mim, você não cai nunca mais.
    Like · Reply · 65 · Friday at 13:48pm via mobile

    Tayla Couto Tô contando com isso.
    Like · Reply · 40 · Friday at 14:07pm via mobile

    Bruno Gonçalves Aê, Pedro Evari, finalmente conseguiu...
    Like · Reply · 1 · Friday 14:14pm via web

    Nathalia Azevedo Até por que, o único jeito de você levar a melhor sobre a timidez da Tayla é mesmo abraçando bem apertado e não deixando a doida fugir...
    Like · Reply · 6 · Friday 15:15pm via web

    Pedro Evari Relaxa, Nathalia, não tô pretendendo deixar ela ir embora.
    Like · Reply · 35 · Friday at 15:23pm via mobile

    Spotted: UFF Acho que a gente fechou outro casal, isso sim.
    Like · Reply · 25 · Friday at 19:58pm via web

e fecharam mesmo.

08 junho 2013

Entre tuas mãos


- Eu sou problema, sabe? Problema dos grandes.
- Vale a pena.
Ele responde, confiante, feito daquele sorriso levado que eu sei que ele separa só pra mim.
Ele não entende. Digo isso a ele, e ele dá um passo a mais em minha direção.
- Eu não estou brincando. Eu sou causa grande, lágrimas de madrugada, depressão que vem em ondas. Eu sou saudade aleatória até de gente que eu nem lembro mais.
Ele sabe que eu não sou capaz de dizer o nome, pronunciar a palavra. Ele já conhece uma parte dos meus danos. Sabe onde estão algumas das minhas cicatrizes.
Mas é só o começo e ele precisa entender.
- Eu sei que não sou boneca, mas eu tô quebrada. E a evidência é clara, as peças estão pra todo lado. Eu tô partida, você tem que ver. Isso aqui é só fachada, a parte da frente que tá colada pra mostrar na vitrine.
- Eu não ligo. Eu quero você.
Ele diz, e a voz é tão firme que eu até acredito - apesar de ainda não concordar. Ele não sabe bem onde está se metendo. Não imagina a extensão do rasgo no peito da mulher que ele segura entre os braços, tão protetor.
- Vai doer se você desistir quando descobrir que eu era caótica demais pra você.
- Eu estou te tomando inteira, boneca. Com os rasgos, os cortes e as peças faltando. Por que eu não tô aqui pra amar só uma parte de você, seja o rostinho bonito ou o corpo que foi feito pra encaixar no meu. Eu quero o pacote completo. E, quem sabe, eu não posso consertar você? Colar uma parte, fazer uns remendos. Não sou nenhum mestre e tenho eu mesmo alguns cacos faltando, mas tenho certeza de que dá pra improvisar um conserto.
Eu rio, mas posso sentir minhas lágrimas borbulhando por trás do sorriso. Ainda não sei se acredito. Estive partida por tempo demais.
Ele me abraça mais apertado.
- Não me manda embora, boneca. - Ele roça o rosto no meu e meus olhos se fecham. - Me deixa ficar. Me deixa pelo menos tentar de deixar inteira de novo.
Uma lágrima escorre e morre cativa de seus lábios. Não sei o que estou fazendo quando roço os meus nos dele, mas posso me sentir ceder.
Eu também o quero.
- Eu espero que saiba o que está fazendo, - sussurro, minhas mãos perdidas em seu cabelo, nós dois tão próximos que, por um momento, meu peito sente inteiro como nunca é. - por que estou colocando todos os pedaços de mim em suas mãos. E é isso, é final. Se me quer, sou tua.


05 junho 2013

Querida Daisy,

Peço-te perdão pela intrusão, pela pressa e pelo tom forçado de poesia que escorre de mim, mas já não sou capaz de calar o peito ou de aguardar, nem um segundo a mais, pela sua resposta. E eu sei que é rude, mas oras, nunca soube ignorar meus instintos. Estou desesperada.
Minha insônia e as palavras que não sei ordenar não tem me deixado descansar. Não sei bem o que fazer de mim. Tenho evitado as lágrimas, por que tenho essa sensação de que, uma vez que comece, não serei capaz de parar, e acho que ainda não estou pronta pra encarar esses demônios. Por isso, tenho evitado os espelhos.
Não sei bem o que espero dessa mensagem. Não quero uma resposta ou uma solução.Quero um fim. Deus sabe que, se estou de pé nesse desfiladeiro, é por que tenho medo do que me espera depois do salto. Sou muito da menina católica que vovó criou para me permitir tirar de mim a vida que me foi dada. Sei bem que não tenho o direito. Mas estou evitando as ribanceiras, só por precaução. Já me despi da esperança, mas não quero dar espaço pro manto da loucura. Não quero mesmo.
Hoje foi difícil. Todas as lágrimas alheias pareciam rolar por mim e todas as músicas pareciam cantar meu coração partido pela vida que não vivi. E eu não sei dizer quanto do meu sal ficou contra a janela, ou quantos olhos me viram balbuciar a letra que pedia às vozes que gostassem de mim, por que eu só queria ser aquecida, amada, confortada. E todas as palavras que guardei e disse, e todos os abraços que me embalaram, por um segundo, me colaram por mais uma noite, mais um pouco, só um pouco, até que esta carta ficasse cheia de mim em pedaços, em sobras, em água e sal. Mas eu sei que você não se incomoda, que você me aceita partida e que você me entende quando em escala de cinza, por que a gente fala em poesia, em azul e em Leminsky, mas sabe bem o que se enconde sobre as nuvens. E tem chovido em mim sem parar, Daisy. Tem chovido oceanos.
Eu já te contei que não sei nadar, Daisy? Nunca aprendi. E essa coisa de acompanhar a correnteza, de rio da vida, de oceano de mim, tem me afogado um pouco. Tá quase impossível manter a cabeça pra fora d'água. Acho que é difícil mesmo boiar quando se quer afundar (mas não se preocupe, Daisy, querida. Essa carta é só um desabafo.  Ainda não estou abraçando âncoras. Ainda tô firme.).
Te escrevo de novo se conseguir chegar á praia. Colocarei uns grãos de areia no envelope, que é pra você dividir comigo um pôr-do-sol em terra firme. Pra compartilhar da minha paz de espírito.

Até outro dia,
da amiga,
T.

03 junho 2013

Segundo Encontro

 

- Vou te ligar mais tarde, então.
Ele avisa, sorrindo suave pra mim.
- Tudo bem.
Eu digo, não muito certa do para onde isso está caminhando.
- Eu encontro você no salão? Na Igreja? Não fui a muitos casamentos, não tenho certeza.
- Oi?
- O Casamento. Eu vou com você, lembra?
Minhas sobrancelhas se levantam sem ordem específica. Estou surpresa.
- Isso nunca foi acordado, se bem me lembro.
- Foi sim. Tenho certeza. Eu, você, encontro, casamento, beijos e a sua avó. Tenho certeza de que cobrimos isso em algum momento da noite. Não finge que esqueceu; você não estava bebendo.
- Eu lembro da conversa. – Eu digo, indignada. – Eu não lembro é de ter concordado com isso. Aliás, lembro-me de ter dito algo pelas linhas de “nem pensar” e “a gente se conhece há dois dias”.
- Detalhes.
- Sério, você não pode ir. Eu nem tenho convite sobrando.
- Vou ser seu “mais um”.
Fecho meus olhos, pressentindo um desastre. Ele me beija, o que me pega de surpresa, devo admitir. Ele está tentando me subornar, tenho certeza.
- Sossega.
- Então estamos acertados.
Sacudo minha cabeça, vencida.
- Que seja. Se você quer se enfiar no meio de toda a família de uma perfeita estranha, vá em frente. Não vou te impedir.
- Não?
Ele exibe a vitória nos olhos, e parece tão bonito pela manhã que quero beijá-lo de novo.
- Só me liga mais tarde e a gente marca um lugar.
- Quer que eu vá te buscar?
- Outra cidade, lembra? Não se preocupe comigo.
Ele simplesmente sorri então, parecendo satisfeito que tenha me dobrado, afinal. Prefiro evitar pensar sobre isso, que é pra não ficar desenhando todas as situações estranhas pelas quais, certamente, vou passar mais tarde. Ele me tira de mim e beija mais uma vez, repentinamente cheio de energia, e eu me deixo abraçar, me deixando encaixar em seus braços. Não sei mesmo quando ficamos tão familiares.
Afastamo-nos devagar e sorrimos, um sorriso em que não cabe muito bem em minha normal timidez de fim de festa. Reviro os olhos quando ele parece bobo demais á minha frente, por que sei que ele só o faz para impedir que um gelo se forme entre nós.
- Até mais tarde, então, né...
- Fica mais alegrinha, vai. Isso é legal.
- É claro, é claro.
- É sério. – Ele diz, e soa tão terrivelmente natural que eu me pergunto se ele costuma frequentar casamentos de estranhos comumente. – Quero dizer, quantas vezes você já saiu da balada com um encontro marcado? É raro, hã?
- Não é muito um encontro, né, no casamento da minha prima e tudo.
- É claro que é. - Ele me dá um selinho que se demora sobre meus lábios por um segundo a mais, e se afasta com uma risada. - É por que isso é diferente. Espera só.
- Não faça promessas ainda, bonitinho. Você está prestes a conhecer todos os meus tios ciumentos e minhas avós bobas. E você nem ao menos me conhece direito, ainda.
Ele ri, parecendo seguro de si (e de mim, o que é ainda mais estranho).
- Vale a pena.
É tudo o que ele diz ao me beijar uma última vez e ainda outra última antes de sair, perigosamente satisfeito, em direção aos pontos de taxi. E eu tenho certeza de que fiquei louca e cacei todo tipo de problema quando recebo a mensagem, menos de quinze minutos depois que nos separamos:

E isso é, sim, um encontro. Espera pra ver.

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