27 dezembro 2009

Velha Infância.


Oh boneca, tão delicada, tão quebrável, tão afável, tão amável.
Ah boneca, eu que um dia eu te amei, agora já não o sei, só sei que um dia sonhei.
Ah boneca, se pudesse te dizer, se pudesse me lembrar, se pudesse, apenas se eu pudesse.
Oh boneca, não se frustre, não chores, não, não chores por mim.
Vou partir, é fato, é inevitável, mas ficarás, perpetuarás e seus olhos, delicados, iluminarão outras faces, incendiarão outros corações, apaixonarão outros amantes.
Então boneca, não se zangues, não me odeies e não me esqueças, apenas viva, viva outros amores, viva outras dores, faça de si um arco-iris de plástico, cheio de vida, cheio de promessas.
Então boneca, já me vou, partirei, sem olhar pra trás, pros pequenos sonhos, pros pequenos trechos, pros pequenos passos, pra peça de plástico que não te dei.
Boneca, minha querida, minha vida, meu amor, foi um prazer um dia te ter, mas agora, agora não te quero mais.
Adeus.

22 dezembro 2009

Promessas.


Eles se acusavam. Se defendiam. Choravam.
Eles eram amigos, amantes, irmãos. E nada poderia fazê-los parar, se afastar, se machucar o suficiente para romper o laço. Nada era suficiente para que deixassem de pertencer.
- Você prometeu que não mais leria os meus pretextos. - Soluçou. - Prometeu.
- Foi sem querer. - Ele se desculpou, sem jeito. - Eu só não pude evitar. Pareceu tão claro. Tão obvio.
Ela suspirou pesadamente. Cheia de dor. Cheia do desespero de não poder deixá-lo pra trás. De não conseguir parar de amá-lo, pelo menos o suficiente para correr na direção contrária. Para um esconderijo seguro.
- Eu não quero fazer isso. Eu não quero sofrer. Não mais.
- E o que eu poderia fazer? Eu não quero que você sofra. E eu não posso deixar você.
- Mas, mas...
As desculpas fugiam. Ela não queria deixá-lo. Não podia. Mas tampouco poderia conviver com aquilo. Com aquela dor.
- Porque tão triste?
- Porque não posso seguir. Porque nao posso te deixar. Eu nem ao menos sei se realmente quero. Embora eu precise, definitivamente precise.
Ele passou a mão pelo rosto, como quem tenta levar a face embora. Como quem tenta expurgar os problemas. Como quem tenta se levar de si mesmo, pra longe dela, para não causar a sua dor.
- Não é tão ruim. Nós temos um ao outro. Acima de tudo. Como nossa unica certeza.
- E como isso pode ser bom? Em que planeta o fato de eu te amar tanto que não posso partir é bom?
Ele fez silencio. Ele não tinha respostas.
- Em que planeta o fato de você não me amar suficiente é bom? Não quero um meio termo. Não quero essa tristeza. Eu só não quero. Não a aguento.
- Eu sinto muito.
- Não, não sente. Você não sente muito, você, na verdade, não sente quase nada. Você não sente nem metade do que deveria para me ver feliz. Tudo o que você faz é não sentir.
- Mas eu...
- Você me prometeu, e eu fiquei esperando que cumprisse. Agora, sou somente sombras. Densas e intransponiveis sombras.
- Mas eu...
- Você prometeu, e eu fui incapaz de apagar os traços. Agora só restam eles. Por que eu já me desfiz.
- Eu nao deveria tê-lo feito então. Prometido. - E as palavras eram facas. - Eu só achei que fosse o certo.
- Promessas nunca são certas, se você não pode cumprí-las. Você apenas me feriu, fazendo-as.
- E agora?
- Só silencio. Só sombras. Só dor.
- Mas eu não quero que seja assim.
- É tarde. - Ela sorriu. - Agora é muito tarde.
- Porque?
- Por que você viu através dos meus pretextos. - E por detrás das lágrimas, sorriu. - E me viu de verdade, amando você. E agora, agora é tarde.

like a star.


It used to feel like heavenCostumava parecer o paraíso
It used to feel like may Costuma parecer Maio
I used to hear those violins playing our strings like a symphony Eu costumava ouvir aqueles violinos tocando nossa música como uma sinfonia
now they've gone, away Agora eles foram-se embora
nobody wants to know the truth Ninguém quer conhecer a verdade
until their hearts broken Até que suas asas quebrem
dont you dare tell them Você não ousa cortar-lhe
what you think to do O que você pensa fazer
till they get over Até eles superarem?
you can only learn these things Você só vai aprender essas coisas
from experience De sua experiência
when you get older Quando você ficar mais velho
I just wish that someone would have told me Eu só queria que alguém tivesse me dito
till it happpens to you Até que aconteça com você
till it happens to you Até que aconteça com você


Corrine Bailey Rae

07 dezembro 2009

Apenas mentiras.


- Você mentiu.
Ela acusou, e sua voz era suave. Quase como se ela não se importasse. Quase.
- Não é bem assim.
Ele se defendeu, mas suas palavras eram vazias. Todas eram.
- Está fazendo de novo. Mentindo de novo.
E seu tom era cômico, de leve, uma caricia à risada que algo a impedia de dar. Apenas uma linha. Apenas um lembrete.
- Você não acredita.
E ele tentou construir sua cena, refazer o seu palco. O mundo onde ela se importava. O mundo onde ele tinha sucesso. Mas não dessa vez.
- Você não me dá motivos.
Procurou-a com o olhar, desesperado, arrependido, culpado. Mas não a teria, não mais a teria. Ela que já não o queria, que o evitaria, que não o procuraria. Ela, cujo olhar ele jamais encontraria. Ela, que agora sorria, que achava graça do fim do quê seria um grande amor. Ela que ele nunca mais veria.
A respiração dela, pesada, cansada e traída se espalhou pela sala pequena, se chocando com os moveis, se fazendo audível. Ele a sentiu naquele sopro, ele que a amava, ele que a traíra. Ele que a queria. Que sempre quis.
E silêncio, macabro e contínuo. Necessário silêncio. Verdadeiro Silêncio. Significativo Silêncio. Apenas silêncio.
Apenas mentiras.

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