31 dezembro 2010

Happy New Year.

Levantamos as taças e gritamos nossos melhores desejos pro ano que chegava. Escutei alguém rindo atrás de mim e depois mais gritos, seguidos de um splash alto o suficiente para molhar o vestido branco que eu usava. Vi os sorrisos dos amigos que eu conquistara no ano que passara, vi as promessas nos olhos de pessoas que eu não conhecia, vi uma felicidade tocável no ar, uma esperança que revestia de dourado mesmo os piores temores dos corações mais solitários. Vimos os fogos explodirem no céu acima de nós, berramos nosso melhor berro de adeus a tudo de ruim que vivemos no ano passado e nos jogamos na piscina, bebados como gambás, felizes como crianças e prontos como adultos para o próximo passo. Nem senti diferença quando me abraçaram a cintura e me deram um feliz ano novo particular ao pé do ouvido. Não me virei, mas sorri. E eu não queria ver nenhum rosto antes de sentir a paz que me inundava todo primeiro minuto de um ano seguinte. Ela viria. E nada era muito importante por que tudo importava demais. E eu ainda segurava a taça vazia que virara antes de mergulhar. Joguei-a para fora, expulsei-a para dar lugar a outra. Era ano novo. Era tudo novo. Era meu ano novo. Feliz 2011.

29 dezembro 2010

17 de Agosto.

Ela se aninhou na cama vazia, lembrando que da ultima vez ele aparecera pra lhe fazer companhia e dizer ternuras. Mas desta vez estava só, e as lágrimas corriam com vontade pelo rosto manchado. Não havia ninguém para lhe dizer palavra, não havia para quem fingir esperança ou justificar sua dor. Só ela, o choro e a convulsão que lhe sacudia o corpo ocasionalmente entre os suspiros. Não restava nada. Só a sensação.

12 dezembro 2010

Malas Prontas.


Eu não aguento mais me sentar aqui e falar de solidão. Não aguento pensar em traição, em esquecimento, em gratidão. Detesto ver seus olhos nos retratos, me encarando como se esperassem uma reação. Como se esperassem que eu seguisse em frente sem eles. Como eu devia fazer. Como eu queria fazer. Mas eu fico aqui, chorando nos cantos, falando de solidão, de traição, de abandono, de ursos de pelúcia e caras ideiais. De gente que não vem, de sorrisos que não existem e abraços que jamais sairão do infinito que eu desenhei. E eu fico estática, viro estátua, fico presa nos meus lamentos, nas minhas canções, nas imagens que uso para distrair minha mente frágilizada por meu costume de me achar vulnerável. E eu sinto a revolta batendo nas paredes, borbulhando no sangue, me dizendo com a voz mansa pra ir embora e largar tudo pra trás. Pra esquecer os rostos e os momentos, para me fazer suficiente e para sorrir sozinha em alguma estação de pedra do outro lado do oceano, do mundo. Mas eu olho em volta e não vejo as malas, não vejo a determinação. Nem pra me consolar eu sirvo. Mas eu vou. Vou deixar as fotos nas paredes, os sorrisos pra trás, os amigos longe das lembranças e vou levar malas cheias de um futuro novo pra bem longe. Longe de onde dói. Nem que eu fuja pra sempre, nem que eu chore pra sempre, nem que eu me esforce pra sempre. Eu não vou me sentar aqui para sempre e chorar por vocês, olhares acusadores, que não me deixam em paz, mas me deixam o tempo todo. Vocês são tão reais quanto as palavras que digito enquanto me queimo. Vocês não são nada além de palavras e lembranças tolas. Palavras cruas e sem valor.   


ps: Escrito ao som de Swan In The Water, do Justin Nozuka.

06 dezembro 2010

Píer.


Peito vazio, abraço vazio, sentido vazio. Frio, vento, chuva e mãos dadas num píer escuro. Mãos de outrem. Um sorriso, um beijo uma chama interna, eterna, escondida no fundo do peito. Ela desejou poder ficar e ele não queria que ela partisse. E, no último minuto, o afago e o pedido quase mudo por uma próxima vez. Ela sorriu e a voz deixou o ar. A promessa pairou por um segundo, e misturou-se ao vento, levada para longe. Ele sorriu seu melhor sorriso de despedida. Partiram ambos.
E o frio, e o vento, e a chuva cairam sem parar no píer escuro. E sem par. Mas as mãos, ainda que distantes, sentiam-se. Mãos de outrém. Mãos de um outro alguém.

03 dezembro 2010

Porta da Frente.

Quem é você pra me olhar nos olhos e me dizer onde ir? Cadê sua identidade, sua sombra, que te comprova? Quem te confirma? Quem te ama (além de mim) e quem te norteia o batimento? Por quem orbitas? Por que não me olhas e por que me mandas embora? Se não me amas, que seja, a porta da frente é tua e faz dela o uso que mais te aprazir. Só não bate, que foi serviço caro e a manutenção do meu coração partido anda custando muito. É muito projeto de homem formado tentando partí-lo a marretadas. Mas não te preocupes não, que eu tô no seguro. Se eu ruir, aparece rápido quem me cola. E quem troca a fechadura da porta. E se tranca dentro.

26 novembro 2010

Bullets.

Depressão se alastrou pelo meu corpo com a velocidade de uma bala. Um tiro seco, incomum, que não me trouxe nada além de uma dor intima e cruel, e nenhuma lágrima. Eu não era capaz de chorar. Assim como não era capaz de me mover. Meus braços e pernas eram pedras de gelo, pesadas e frias que me arrastavam pra baixo devagar. Minha mente tentava me bater. Na falta de mãos, usava palavras.Idiota. Incapaz. Inútil.
E embora quisesse chorar, eu apenas sorri, parcialmente entorpecida com minha própria dor. As palavras me feriam, mas ela não se silenciaria por isso. Ninguém iria. Desejei não ter ouvidos para precisar escutá-la. Desejei dormir. Mas, veja bem, seria difícil. Era eu quem me dizia. Era eu quem me maltratava. Como estava, era capaz que mesmo em sonhos eu me maltrasse. Acordaria em tiras, em sangue, em pedaços. Pedaços de mim.
Cansada, olhei no espelho o retrato da tristeza que eu era. Eu era cansaço, era depressão e era inutilidade em sua forma mais pura. Sorri completamente, sorri por que nao conseguia arcar com nenhum outro movimento em meu rosto; o sorriso me vinha mais fácil e era algo a que eu já estava habituada. Eu o fingia o tempo todo, desde sempre, para evitar perguntas. Eu fazia todos acreditarem que eu era feliz de verdade, por que sorria o tempo todo. O meu rosto sorria sozinho. E eu sorria minha depressão para o espelho, querendo chorar. Sorria minha tristeza, incapaz de desfazer o sorriso.
Incapaz.
O revólver em cima da mesa nunca me pareceu tão convidativo.
Um segundo.
E bum.



Sorri minha morte para a eternidade.

25 novembro 2010

Invisiveis (Eu ou você?)

Ela falava com vozes invisíveis. Assim, como quem necessita desabafar, como quem precisa botar pra fora. Ela falava pro alto, esperando que alguém lhe respondesse. Mas esperava por uma resposta que, na verdade, não esperava. Ela acreditava, desejava, mas não via as chances. Era solitária. Ela se sentia só, simplesmente. Ela queria algo, alguém. E gritava, e sofria e e se encolhia em salvas vazias, pedindo pro infinito responder. Esperando o invisível aparecer. Ela esperava um toque, uma luz, uma prova. Uma palavra. Ela só queria um traço. Só queria alguém que lhe dissesse que podia escutar. E que se importava. De verdade. E, no final das contas, ela só não queria o invisível. Ser invisível, sentir o invisível. Ela queria ver. E ouvir. E sentir. E acreditar.

24 novembro 2010

Desafio de Férias 2010/2011

Olha eu aí (:



Então minhas crianças, a Pâm, do Garota It está promovendo um Desafio de Férias Literário. Como se participar já não fosse muito divertido (estou atrás de um desafio desse tipo que eu conseguisse participar desde o ano passado), ela ainda vai sortear um livro no final *-*
É aberto, então se você não é blogueira também pode participar. Basta fazer uma conta no Skoob.
As informações estão na página da inscrição, mas eu vou colocar aqui mesmo assim. E postar a minha lista, é claro.
Participem todas, (e todos, por que não). O mais legal é isso.
Você não fica super animado de entrar nesse tipo de desafio? *-*

Informações Gerais:
•Você deverá ler e resenhar pelo menos dois livros por mês. Os livros terão que ser LIDOS e RESENHADOS no prazo corrente do desafio. Ou seja, não vale livros que você leu em novembro, outubro, ou qualquer mês anterior.
•Você pode ler muito mais livros, porém, dois livros por mês é o mínimo.
•As resenhas deverão ser postadas em algum lugar público que outras pessoas possam ler. Então, caso você não tenha blog, a resenha poderá ser publicada no Skoob.
•Será aceito qualquer gênero literário. Este desafio é um incentivo a leitura, então mesmo se não são livros do assunto do blog, sinta-se livre para participar.


Regras Gerais:
•Você deverá postar uma lista em seu blog ou no tópico do Desafio no Skoob (caso não tenha blog), com todos os livros que você pretende ler no Desafio de Férias. É necessário que você coloque o banner e um link para o post do desafio no site do Garota It para que as pessoas interessadas possam participar (é só clicar no banner no inicio da postagem, queridos).
•Os sorteios só serão válidos para território brasileiro
•Após a leitura e resenha você deverá adicionar o link para a resenha no post correspondente ao mês.
•Quanto mais livros lidos, mais chances de ganhar o sorteio.
•Não é necessário seguir o blog, mas você segue que é pra deixar todo mundo feliz -q
Sua lista de leituras pode mudar a qualquer momento. Você poderá remover e adicionar qualquer livro que quiser. Ela será apenas uma “meta de leitura”, que servirá como base para quem quiser acompanhar o desafio.


Aí vai a minha lista. Eu pretendo realmente me ater a ela, mas não posso prometer, haha. Os primieiros livros eu vou comprar com certeza, mas os ultimos vão depender de espréstimos, presentes de natal e um pouco de sorte (vai que eu acho uma promoção no submarino, haha). Qualquer alteração que eu precise fazer na lista, será feita nesse post.
Eu gostei bastante desse desafio, e me propus a participar justamente pela liberdade de mudar a lista. de leitura Os outros que eu tinha visto até agora queriam que eu separasse os livros por  nome e genero que eu leria no ano que vem inteiro! Jamais seria capaz, haha. Então, essa eu consigo x)
Agora chega, aí vai a minha lista:

  • Querido John, de Nicholas Sparks
  • Percy Jackson - Os Arquivos do Semideus, de Rick Riordan
  • Eragon, de Christopher Paolini
  • Eldest, de Christopher Paolini
  • Brisingr, de Christopher Paolini
  • Tentada, de PC e Kristin Cast. 
  • A mão esquerda de Deus, de Paul Hoffman 
  • O Milagre, de Nicholas Sparks 
  • Cidade dos Ossos, de Cassanda Claire
  • The Hunger Games (Jogos Vorazes), de Suzanne Collins
  • Razão e Sensibilidade, de Jane Austen 
  • É Agora ou Nunca - Marian Keys
  • Fallen - Lauren Kate

Era isso. 
Beijo, beijo e participem também!
*-*

18 novembro 2010

Vão

- A gente não pode ser, você sabe, amigo?
  A separação pairava sobre suas cabeças, pesada e irrefreável como um divisor de águas: antes e depois deles. E os olhos dela marejavam um amor que ainda sentia, vivo, no peito e uma nova vida, vazia, sem ele. Mas se ele queria uma vida sem ela, nada lhe restava além de se despedir. Uma despedida que parecia errada só por existir. Uma despedida que engolia demais. Amor demais, tempo demais. Eles demais.
- Não. - E o tom dela era categórico. - Não, a gente não pode.
- Mas eu não queria, voce sabe, perder o contato com voce. Eu nao queria que a gente se afastasse só por que não estamos mais juntos como antes... - E ele capturou o olhar decidido dela e fraquejou. Mas completou, assim mesmo. - Eu queria ter você sempre por perto.
- Não dá. - E a voz dela amoleceu. - Não cabe. Não mesmo.
- Por que não?
- Por que a gente viveu demais... Viveu muito e foi lindo, e se tem que acabar... Não pode sobrar nada. Só a lembrança, você entende?
- Não, não consigo.
- Nós tivemos muito juntos, amor. - E ela corou de leve por não conseguir refrear a palavra com a qual sempre o definiu. Amor. - É isso, vê? - Ela gesticulou como quem se dá de exemplo, de explicação. - Não existe uma maneira de diminuir tudo aquilo que foi tão intenso e tão grande entre a gente até restar apenas uma boa amizade. Não pode restar nada. Qualquer centelha, qualquer fagulha que sobre vai ser sempre muito mais que isso. Pra mim e pra você.
- Eu sinto muito por isso. Eu não...
- Sente não. Eu prometo que vou tentar não sentir também. - E a voz não era uma acusação, mas um pedido. Afável, suave e carinhoso. Sua despedida. Ela sorriu. - Vai ser feliz, vai?

10 novembro 2010

Suspira, que é desculpa.

Então, o título é promissor, mas o post nem tanto, haha.
Gente, desculpa a demora. Não foi descaso, nem falta de criatividade (contei 12 textos que estão no Bohemio, o meu caderno de rascunho, que estão para ser postados aqui). Foi preguiça mesmo.
Eu andei pensando em mudar o template do infinito também, então tenho me concentrado em frequentar esses sites que disponibilizam backgrounds (por que eu ainda nao obtive muito sucesso com os meus próprios) e tenho tentado fazer alguma coisa nova. Mas não consegui nada.
Nesse meio tempo, estou resolvendo problemas do Três Lápis, meu mais novo e adorado blog, em conjunto com a Zoe e a Mel do DeFatto. Ele é um blog literário (embora não goste muito dessa definição. Blog literário não deveria ser um que poste literatura, ao invés de comentar sobre ela?) Anyway, é um blog literário onde nós vamos falar sobre os livros que lemos (bem ou mal, haha). Sintam-se a vontade para comentar lá e seguir também.
Cheguem lá *-*
Então, era só isso.
Aguardem mudanças no look do infinito pra breve.
E aguardem as postagens também, haha.
Enquanto isso, leiam e comentem os antigos, que vocês nunca comentaram... Eu quase tenho coisa pra caramba postada, vai? x)
Beijo, Beijo.

04 novembro 2010

Tenso

Ele murmurou alguma coisa acerca do quando me amava. Admito que não prestei atenção nele. Eu não tinha muita certeza se andava merecendo ser amada. Eu andava me sentindo muito pouco. Pequena demais para ter qualquer importância. E embora tudo o que eu quisesse fosse um bom colo, eu já passara tanto tempo me embalando que não sabia se, de fato, eu poderia ter alguma afeição. Soava errado. Soava tenso, e não intenso como deveria soar. Soava errado.
Mas era tão quente...

31 outubro 2010

Pensando en ti...

É mais fácil - e muito mais difícil - sofrer pela lembrança que nunca foi. E nas noites, nas manhãs, fica só aquele vazio do sorriso que não me colore e do abraço que não signigicava nada. E quando eu fecho meus olhos, não vejo nada. Não há nada aqui pra mim. Não há ninguém .

Visão

Voltava os olhos pra mim com tanto calor que eu via muito além do castanho. Via luz. E me parecia tão perfeita que, como um anjo, me levava as dores e as preocupações. Mas era tão distraída que não reconhecia em mim amor, e sorria meio vazio, meio desejosa, ás vezes. E eu, fraco de palavras e declarações, lhe fazia carinhos e lhe olhava nos olhos para mostrar o que sentia. O que sinto, ainda hoje, por aquela pequena mulher que me sorri pelas manhãs. E eu tento. Chamo-lhe de amor, o meu amor, e entrelaço nossas mãos numa promessa. Faço de tudo que posso para mostrar-lhe e desenho no ar nossos nomes num pedido msem palavras pela eternidade. E deixo claro, como posso, para minha pequena -que se recusa a ver - que o meu azul só quer aquele castanho. Que minhas mãos só querem as dela e que meu coração há muito descobriu que não pode haver nenhuma outra. Ele bate castanho. Bate por ela.

28 outubro 2010

Cegueira

Ele me chamava de amor e sorria pra mim com um muita facilidade. Com que simplicidade ele voltava aqueles olhos muito azuis pro meu castanho e me falava de pôr-do-sóis. Seu carinho lhe fugia das mãos e transbordava pelo corpo, sempre unido ao meu, fosse num abraço ou numa caricia silenciosa e descompromissada na base do meu pescoço. Ele me olhava singelo e me falava banalidades o tempo todo. E não por que me amasse. Não por que eu pudesse fazê-lo feliz. Por que ele era assim. Uma existência leve, suave, feita de afagos. Um sopro, uma brisa, um suspiro de amor-perfeito. Como mágica, como um encanto pairando sobre o mundo. Sobre mim e minha pequena existência. Por que ele sorria e me falava de amor o tempo todo. Por que era feliz. E fazia feliz. Me fazia feliz.

21 outubro 2010

Caro amigo perdido,

Acho incrível poder mensurar o quanto as pessoas crescem em tão pouco tempo. Quero dizer, nós já nos conhecemos há alguns anos e você mudou tanto desde então... Acho até que eu mudei alguma coisa. Bem pouquinho, mas mudei.
Me lembro que você não era muito mais alto do que eu. Pra ser sincera, você tinha quase a minha altura e, embora negasse, eram apenas alguns dedos de diferença. Eu adorava isso em você. De algum modo, parecia deixar você mais... alcançável. Eu facilmente podia encontrar seus olhos e facilmente podia descobrir o que queria neles. Eu podia ver - quase tocar - seu interesse pelas pessoas ao meu redor. Doía, mas estava ali. Era quase meu, de alguma forma.
Pelo menos, o meu despeito tornava você o meu baixinho.
Mas um ano depois, quando você veio eu já não podia te ver... Muito menos chamá-lo de meu. Crescera, de muitas formas, o garoto genérico pelo qual eu me apaixonara uma vez. Eu já não tinha acesso aos seus olhos, aos seus sentimentos. E, de alguma forma, tudo o que era meu em você já tinha, naquela época, ficado pra trás. Eu via um outro sob o mesmo de sempre, um diferente, nas nossas poucas conversas. E agora...
Dois anos. Não te vejo. E quando vejo, não reconheço. Mas não tenho certeza se vi... Pode ter sido alguma miragem. Algum desejo oculto de recuperar o amigo que foi meu. Deus sabe que tenho me sentido muito sozinha, de verdade. E eu bem que queria um amigo, um amor, pra olhar nos olhos de vez em quando. De vez em sempre.
Mas não tenho. E nem te culpo - muito. Eu posso entender. Você só cresceu. E, aos poucos, me deixou pra trás. Acontece com todo mundo. Quando se vai assim tão longe, quando se cresce assim, tão alto, é difícil mesmo olhar pra trás. É difícil achar aquela antiga amiga, baixinha, no meio do mundo novo. Mas tudo bem. Todo mundo sempre parte. Só não me culpa por sentir saudade. Afinal de contas, eu sempre fui daquelas nostálgicas.
Da mesma de sempre,
B.

07 outubro 2010

Samba de moça.


Solidão qualquer Zé sente, e na calada da noite faz um samba que é pro coração acalmar. Dor todo mundo tem, já que ninguém é imune ao sofrimento e corações, em geral, não tem senso de preservação e não ligam muito pro que fazem com os donos. Nada me faz especial então, num contexto geral. Só que é minha dor, minha solidão, meu coração precário. Meu samba de cadência bem acabada, falando de sal e solidão. E só o que o faz especial sou eu. É o meu batuque, feito pro meu rebolado e pra minha frustração. Pra mim é único. E enquanto eu cantar pra mim e embalar meu peito na canção, haverá esperança. Serei ainda pessoa à espera de quem saiba encaixar-se nos meus versos. Serei ainda moça nova à espera de quem se jogue na roda comigo. E me faça feliz. E me faça sambar.

05 outubro 2010

Fulgaz.

As lágrimas rolavam continuamente, como um rio. Os olhos já não eram visíveis por detrás daquela cachoeira. Ela não conseguia ser feliz.
- Só me promete que não vai me deixar. - Ela implorou.
Os olhos dele estavam insondáveis.
- Não sei se posso. Droga, não sei nem mesmo se quero.
- Mas...
- Eu quero seguir em frente, certo?
- E me deixar pra trás?
A voz era triste. Não havia nela resignação ou desespero ou traição. Só dor. Pura e intensa.
Ele não respondeu.
Ela sentiu solidão.
- Eu nunca aprendi a ser sozinha, sabe. Sempre estive rodeada, mesmo que constantemente abandonada. Idas e vindas constantes, companhias rápidas, intensas e inesqueciveis que se iam assim que eu me acostumava a tê-las. E não é justo que tudo que eu vá ter de qualquer coisa são lembranças. Lembranças de um pai, de uma família, de amigos. De um lugar feliz, de pessoas especiais. Tudo o que eu posso ser é lembrança? Tudo o que eu posso ter é um pequeno intervalo de tempo na vida de alguém?
Ele não a olhava. Não tinha coragem de procurar os olhos sinceros e doloridos e lhe dizer que não podia fazer nada. Que, cedo ou tarde, iria partir.
- Eu não sei. Não tenho as respostas, tampouco.
Ela se abraçou, ainda chorando. Tanta solidão a engolia ultimamente. E ela sentia tanto frio.
- Eu tenho medo. Eu não quero viver de solidão. Quero viver de algo mais.
Ele suspirou, culpado. Partiria também, antes que ela se desse conta, e não havia nada que pudesse ser feito para evitar. A vida o levaria, como levara tantos outros, dos caminhos daquela pequena companheira. Da querida amiga que em breve seria de outrora.
- Então respira um pouco de companhia. Aproveita-a bem e guarde para os dias chuvosos e de trânsito ruim. E se deixa existir. Viver, de fato, é para poucos.

30 setembro 2010

Mentirinhas.


Chorei quietinha, pra não ser ouvida, pra não ser consolada por gente que não liga (e quem liga?). Me escondi pra sentir sozinha, pra não ganhar os abraços fingidos e os meio sorrisos de má vontade que se soltam das bocas daqueles que fazem fila pra rir de quem passa chorando. De quem passa sofrendo. De quem vive sentindo. Fiquei em silêncio e menti, de cara lavada, pra fazer passar mais rápido as pessoas de quem eu não queria ver nem mesmo a sombra sob a parede. Eu disse tudo bem e sorri falso e sequei os olhos antes mesmos das lágrimas cairem. Eu me apaixonei sozinha, e fingi que não. Pois pior que chorar sem lágrimas, que sentir e esconder sob a pele, é se apaixonar de novo e de novo pelo mesmo olhar sem cor e abraço vazio, sem calor. E eu minto que não, que é pra ninguém menosprezar aquele sentimento. O meu sentimento que eu mesma menosprezo. E eu me ocupo de outras dores que é pra eu mesma não saber que está doendo. Por que assim, nem eu me incomodo de pensar que não há amor pra mim naquele espaço vazio. Eu minto que não há espaço vazio. Eu minto que não há dor. E assim não dói dor de amor.

18 setembro 2010

"Não é que eu não ame você"

Eles se olharam tensos, e ela parecia chocada com o que tinha acabado de ouvir. Seus olhos azuis estavam intensos, elétricos, de repente muito vivos para o rosto pálido contornado pelo cabelo loiro demais, quase branco. Mas ela ainda era linda. Mesmo com aquela expressão (entre o ofendida e o irritada), ela ainda era uma das garotas mais lindas que ele jamais veria.
"Linda demais para sofrer de amor", dissera-lhe certa vez o pai, seu confidente mais fiel, quando ela lhe confessara que se apaixonara por alguém que não era capaz de amar ninguém, nem a sí mesmo - que dirá a ela.
Linda demais para sofrer de amor? E isso lá existia?!
E agora ali estava ele, o sem-vergonha, lhe pedindo, sem nenhum pudor, que o ajudasse. Lhe pedindo que se traísse.
Bem papai, você estava obviamente errado.
- Você sabe que eu amo você, não é?
- Sei.
- E ainda sim pretende me pedir isso? Abusar assim? - De mim? Do meu amor?, ela poderia ter acrescentado, mas soaria por demais dramático. Ela não estava estrelando uma série adolescente, no final das contas.
Ele suspirou de leve. Parecia debater consigo mesmo algo importante. Ela imaginou por um segundo vê-lo corar, mas não era possivel. Não aquele cara. E quando ele levantou os olhos para ela, não havia nem a sombra de qualquer traço de rubor em seu rosto.
- Não é que eu não ame você. É só que eu ainda não estou pronto pra admitir.
A boca de Anie se abriu num pequeno "ah" enfezado.
- Você não presta.
- Eu sei. Mas ainda sim você me ama.
- Por que eu sou muito idiota.
- Não, não é não. É por que eu sou o cara certo pra você.
- Não parece, hein.
- Eu sei. Mas é só que essa ainda não é a hora certa. Falta só um pouco.
- Um pouco? - Ela perguntou, achando até graça. Ele estava mesmo, mesmo, lhe pedindo para esperá-lo? Aquele safado?
- É. Um pouco, e eu vou poder amar você. Direito.
- Direito.
Ela repetiu, sem tom. Ele sorriu. Ela baixou os olhos, para não se deixar levar pelo sorriso branco demais e quente demais do cara que ela amava.
- Eu ainda não...
- Fica quieto. Eu vou fazer como que você quer. Mas eu não quero ouvir nem uma palavra sobre nada disso. E também não quero mais ouvir sobre esse "um pouco". É ridículo.
E o sorriso dele ficou ainda maior.
- É por isso que eu amo você.
- Não, não ama não. Quem te ama sou eu. Você é só um cara que não presta.
- Eu sei. Mas eu sou o cara que não presta que você escolheu.
Ela murmurou um "blablabla" sem som e ele soltou um risinho. Os olhos azuis de Anie pareciam querer comê-lo, então ele lhe segurou a mão, tranquilo. Alisou os dedos compridos de unhas bem feitas. Ele gostava dela. Mesmo. Mas ainda não estava pronto. Ele ainda não podia garantir que não a machucaria. Não de verdade.
- Relaxa. Vai tudo se encaixar no final.
E ela não olhou pra ele, por que tinha certeza de que ele estava certo. Cedo ou tarde, ele ia acabar admitindo. E talvez, só talvez, ela ia poder descobrir que ele prestava. Ela acreditava nisso.
Só um pouco.

After all.

Fui faz tempo uma menina assustada. Abandonada por si mesma. Mas desisti de esperar que alguém viesse me buscar (já que eu não me bastava) e me tornei apenas solitária. Uma menina daquelas que passa as tardes sozinha, as noites sozinha e as manhã sozinhas. Mas quem precisa de companhia, after all? Aprenderei a me bastar, se é só o que terei. Aprenderei de um jeito ou de outro. Para, daqui um tempo, ser muito mais que uma boba menina assustada. Ser uma menina daquelas que, vai saber, chegam até a impressionar. Daquelas que sorri. Sorri de verdade.

09 setembro 2010

Desencanto.

Era macio. Colorido. Era de alguma forma, de algum modo, muito, muito especial. Eu só queria tocá-lo. E por dias, por vezes, tudo o que eu queria era tocá-lo. Mas se tornou opaco. Escuro e sem vida, sem apelo. Perdi a vontade de você. Perdi a sede, o calor. E por pouco, por muito, te perdi completamente. E nem liguei.

Coisas da vida.

O peito nunca doeu tanto por causa tão pequena, traição tão pequena. Solidão nunca foi tão intensa, tão propensa ou tão real. E eu volto ao ursinho de pelúcia saudoso, ao único companheiro. Mas agora nem ele me conforta. É dor demais pra um algo inanimado. É dor demais até pra mim.

Recisão

Afrouxei os laços em volta dos seus pulsos, porque sei que não és minha.
Afastei de mim, a passos lentos, a devoção e a incondicionalidade que sempre nos rodeou, por que já entendi que sou apenas eu. Não quero entrar no mérito do "sempre fui" por que mesmo imaginar solidão por tanto tempo já me machuca. Me enche os olhos d'agua.
Agradeci em voz baixa - e em letras apologéticas - por todos os anos e por todas as lembranças, que são apenas o que levarei comigo.
Acenei meu adeus seco e sentido, sorrindo forçado e me recusando a pensar em traição.
Assinei os termos, dei meia volta e chorei meu pranto sem lágrimas e sem sinais - meu sofrimento era só resquicio e já não tinha mais graça ou sentido, nem mesmo para mim.
Tranquei nossas fotos numa caixa no alto do armário e recebi a solidão a pão-de-ló. Se ela era tudo o que eu tinha, que fosse ao menos bem tratada, para que depois, não saísse reclamando de solidão.

06 setembro 2010

"Costas Distantes"

Ela observou, com os olhos reservados de muitas emoções, as costas dos seus amigos seguirem seus caminhos, a passos firmes e decididos. A maioria deles agora tinha novas companhias para sua nova jornada e parecia bem feliz; mas ela não podia confirmar já que não podia ver seus rostos para confirmar se neles havia sorrisos. O máximo que podia fazer, dali onde se mantinha estática, era esperar que sentissem falta dela em algum ponto do caminho e lhe voltassem então suas memórias mais sorridentes e felizes. Desejar que pensassem nela com algum carinho. Com alguma saudade.
Ela bem que tentou se resignar a sua nova vida de solidão. Ela se prepara para isso, tempos atrás, mas foi surpreendida com os mais valiosos amigos que pôde ter. E agora, três anos depois do que ela previra, se via sozinha. A solidão viera, de todo modo. Ela não pôde fugir.
- Cedo ou tarde todo mundo tinha que ir embora mesmo. - Ela ouviu a voz sentenciar, não parecendo realmente incomodada com aquela triste realidade. - Algúem disse, em algum ponto do caminho, que as pessoas sempre deixam você pra trás.
- É, eu sei... - Ela respondeu devagar à voz sem rosto. - Mas tinha mesmo que ser todo mundo ao mesmo tempo? Como se participassem todos de uma maratona para ver quem ia primeiro?
A pobre perguntou, parecendo ressentida do modo como as coisas iam.
- Bem, é a vida, querida.
E ela suspirou, cansada demais dessa respostinha incompleta para se dignar a respondê-la.
- E você, está esperando o quê pra partir?
Houve silencio por um momento, e então a voz saiu meio risonha, como quem zomba da coragem da pequena de peitá-la.
- Apenas o Sol se pôr. Aí, minha cara, nem essa sombra medíocre que eu sou você terá por companhia.
- Ora, é mesmo? E quem me garante que não é melhor a solidão?
- Vai saber logo.
- Então pretendes mesmo partir?
A pergunta soara de algum modo doce, de algum modo dolorida, mas ninguém a respondeu.
- Eu perguntei se é verdade que partirás? - Ela repetiu, uma nota de pânico se mostrando em sua voz fina.
A própria voz pareceu ganhar eco em seus ouvidos, mas não era verdade; o silêncio era tudo o que era latente ao seu redor. Parecia contínuo, um grito que se estendia, devagar e preguiçoso do mundo invisivel e vazio que a rodeava agora. Tremeu. E percebendo seu frio, notou o que lhe ocorria.
Lá se fora o Sol. E lá se fora o ultimo dos restantes, a sua ultima companhia. Lá se fora sua amarga consciência. Seus ressentidos sentimentos.
E nada restou à pobre além de dizer olá àquela escuridão. A mesma escuridão que já não lhe permitiria nem mesmo divisar as costas das pessoas que lhe deixavam para trás. Nada lhe restou além de lhe fazer uma mesura à guisa de boas maneiras. E também à solidão que veio com ela.
Eterna, até lhe provarem o contrário. Eterna e Inquebrável.

05 setembro 2010

Alternativo.

Fiquei me perguntando se teria sido diferente se você tivesse ficado. Se teríamos lutado por nós com unhas e dentes, se nos agarraríamos um ao outro como se não houvesse mais ninguém a amar. Fico as vezes até imaginando suas palavras, desenhando no ar o seu rosto doce das minhas lembranças e escutando, sem querer, a sua voz como soava de manhã, no pé do meu ouvido. E é por acalentar, as vezes, essas alucinações, que fico me perguntando se você poderia ter ficado, mesmo que um pouco, pra tentar me aceitar com meus defeitos e me acariciar com sua perfeição desconcertante (que, de fato, só era perfeita aos meus olhos). Às vezes eu fico me perguntando, mas não gasto muito tempo por que tenho todas as respostas. Você jamais teria ficado, quer eu tivesse escolha quer não. Você era orgulhoso demais, e ainda é, admito, para aceitar mesmo a minha dúvida sobre a vida daquele momento. Mas eu gosto de me perguntar, mesmo assim. Faz mal nenhum sonhar contigo.

01 agosto 2010

Secretária Eletrônica.

- Eu fiquei esperando que você ligasse e se desculpasse, que dissesse que tudo foi uma bobeira e que nem ao menos entendia por que estava agindo daquele jeito. Mas, bem... você não me ligou. E eu percebi que era a minha deixa pra seguir em frente. E eu fui. Sem pestanejar ou pensar duas vezes sobre isso, por que não era minha obrigação me desculpar por você. E eu estava tão cansada de fazê-lo. E por mais que eu te amasse muito, não cabia a mim fazer a ligação que consertaria tudo. Por que dessa vez, só dessa vez, eu queria ver você admitir que a culpa era sua, e não minha. Eu queria ver você sendo homem o suficiente para admitir os próprios erros, e não simplesmente jogar a culpa nos meus atos. Você não é decorrente dos meus atos, então os seus atos também não deveriam ser. Então não me venha agora me dizer que você pensou melhor sobre isso e viu que o seu lugar é comigo. As coisas não são tão simples assim. Não adianta você se desculpar agora, anos depois, por que descobriu que a vida não é completa sem mim. Você não está fazendo nada diferente de anos atrás, quando me ligava dizendo que me perdoava, mesmo que os erros fossem seus. Você não mudou nada, e ainda não é nada além de um garoto. E eu não tenho tempo para esperar que você cresça. Pra ser sincera, eu nem ao menos tenho vontade. Então, mesmo que você conseguisse admitir seus erros agora, eu não diria pra você perder seu tempo analisando tudo isso e dissecando os seus erros, por que simplesmente não vai fazer diferença. Então, é a sua vez. Acho que essa é a sua deixa pra seguir em frente.

21 julho 2010

Olhos D'agua.

- Você me disse que nunca partiria. - Ela acusou.
- Eu gostaria de poder ficar. - Ele se desculpou.
E ela o olhou profundamente, só para encontrá-lo com os olhos cheios de culpa e pesar. Mas nela havia apenas alguma fúria. A fúria do primeiro choque, que velava a dor que devia sentir. Que sentiria, certamente, se ele a deixasse.
- Quantas promessas suas foram falsas?
- Nenhuma. - Mas ele não a olhava.
- Está mentindo.
- Por favor, não diga assim. - Ele pediu.
- Eu quero saber quantas juras foram em vão. - Pressionou.
Ele fez silencio por um momento, e o corpo dela sentiu a tensão no ar. As palavras que viriam a seguir eram o destino e a consagração. Seria o ponto final. Ela só não sabia de quê.
Ele respirou fundo e passou as mãos pelo cabelo escuro, exasperado. Não queria que fosse daquele jeito. Queria que fosse fácil, rápido e indolor. Mas nada com ela era fácil. Nunca fora.
- Te juro que quando as fiz, nenhuma era. - E ela sorriu, de leve. - Mas agora, bem agora, todas elas são.
E a sombra do seu sorriso sumiu.
- Por que, então?
- Por que eu amava você. Eu queria você. Eu respirava você. E agora não mais.
- Mas como, tão rápido? Tão... repentinamente.
- Um olhar ou dois. Eu descobri um outro peito onde me encaixo, descobri outros braços que me alentam. E não quero partir, deixá-los, jamais.
Ela o encarou, chocada com a sinceridade dele que doía nela. Chocada com o rumo que a relação de anos tomara. Que a amizade, o carinho e todas as lembranças se dirigiam agora para o fim rápido e o esquecimento inevitável.
- Ao menos diga que sente muito.
- Eu sinto. Muito amor, desesperado, mas por outra. E agora, agora já não há espaço pra você.
Ela deu uma risada fria e ressentida. Sarcástica até a dor.
- Com que facilidade se despede da mulher que um dia jurou amar.
- Por favor, não pense que não sinto por você.
- Não quero que tenha pena de mim. – E ela lhe virou as costas, sentida. – Não, não é isso o que eu quero de você.
- Eu... já não posso te dar o que quer.
- Então, de todo nosso amor só restou a pena? É só o que pode me dar?
Ele se calou e ela não pode conter um soluço. Um maldito soluço.
- Oh, não chores. Por favor, não chores.
E ele estendeu as mãos alvas e firmes para tocá-la e consolá-la, a mulher que um dia amou, mas a bela sentiu-o se aproximar, como sempre o fez, e se afastou, fugindo dele e da dor. E embora nos olhos dele houvesse choque, ele a compreendeu.
- Por favor, não mais me toques. Jamais, nunca mais.
Ele suspirou.
- Eu o faria, se assim ajudasse seu coração. Mas não posso, por que me importo. Não quero vê-la sofrer.
- E eu não quero vê-lo, mas ainda sim aqui está você.
E ela fez um gesto para indicá-lo, e ele finalmente a viu por inteiro. Pobre mulher, pobre menina, linda e partida, tomada por lágrimas. Os olhos verdes brilhavam de dor e os cabelos, tão castanhos quanto os dele, caiam do coque, como se a partida dele os desestruturasse também. Os tirasse de órbita.
E ele voltou a passar a mão pelo próprio cabelo, procurando uma saída. Quase doía nele a dor que doía nela.
Agiu por impulso. Tomou-a nos braços como sempre, aninhando-a em seu peito forte e quente, e murmurou frases sem sentido, palavras soltas. Ele queria curá-la, queria que não houvesse causado ferimento algum. Ela se debateu em seu abraço. Ele sussurrou o quanto a amara.
- Me solte, não me diga nada, não me diga essas palavras.
- Você sabe que eu não posso deixá-la assim. Você sabe que eu te amo mais que isso.
- Só vá embora. Eu não quero um amor pela metade. Eu não quero um alento pela lembrança.
Ele novamente se calou e concordou com a cabeça, mas se viu incapaz de soltá-la. Seu corpo parecia ter vontade própria. Assim como o dela, que se unira o dele uma ultima vez, na ultima chance que teriam para guardar is detalhes e as essências um do outro. O ultimo entrelace.
- Vão estar para sempre. É um fato, não um desejo. Mas nós vamos saber conviver com isso, e seguir em frente.
- Você promete? – Ela pediu baixo, chorosa e descrente. Apaixonada.
- Sim. E é minha ultima promessa.
Ela concordou com a cabeça e eles se separaram. Os olhos se encontraram uma ultima vez, no ultimo mergulho castanho e verde da eternidade. Ela quase sorriu seu sorriso de despedida, mas lágrimas o tomavam, cristalinas e preciosas. Ele sorriu sua dor, ele se despediu. E partiu. E as ultimas palavras do caso de amor ecoaram pra sempre, nas noites e nas lágrimas de todo casal cheio de um amor que não se mostrava suficiente. De um amor que acabava, hora ou outra.
“Não chores, amada. Não agüento ver teus olhos assim cheios d’agua... então não chores menina. Minha menina.”



“Leve na lembrança a singela melodia que eu fiz pra ti, oh bem amada. Princesa, olhos d'água, menina da lua...”
Menina da Lua, Maria Rita.

07 julho 2010

Vai (Então tá, né)

Então tá, né. Vai. Se joga no mundo, me deixa pra trás. Me esquece. Apaga as lembranças, os desejos, as nossas metas. Rasga as fotos, os sorrisos e as camisas. Vai embora, correndo, desesperado. Vai, e não me olha de canto, com saudade, com vontade de mim. Perdeu o direito de sentir. Perdeu o direito de mim. Então vai, e não volta. Eu não vou esperar.

28 junho 2010

A outra.

Eu andei devagar até a porta da frente, pé ante pé com o coração nas mãos e o medo de acordar as vidas que ali viviam. Medo que não devia ter.
Eu ainda não sabia bem o que devia fazer ali, onde não era bem vinda. Na verdade, ali me desconheciam. Ali não deveriam saber da minha existência. Mas eu queria. Desejava, do fundo do meu coração, ser descoberta.
Eu queria bater à porta, acordar a mulher e lhe contar minha história. Eu, teoricamente, fora ali para isso. Eu caminhara por todas as ruas que iam da minha casa até ali, do meu ninho até aquele lar, apenas para isso. Eu queria quebrar as vidraças e gritar o nome do homem que me arrancara o juízo até que o mundo entendesse que ele era meu, mais que de outros, por que me fizera outra.
E eu queria uma cena, queria que a máscara se desfizesse e caísse, se estilhaçasse. Eu queria ouvir gritos e descorrer sobre o prazer. Eu queria falar do meu amor e desdenhar do dela, o falho.
A falha que eu queria. Por que eu queria mais que apenas o deleite. Eu queria a verdade que eu não tinha. Mas não podia.
Eu não tinha o direito.
Eu era apenas a outra.

23 junho 2010

Poliester.

Tudo o que eu ainda tinha de você era aquela camisa rasgada, cheia daquele seu cheiro. Eu já perdera todo o resto. Esquecera dos seus olhos, do seu sorriso. Esqueci o tom de voz que você usava pela manhã. Esqueci seu endereço, seu telefone. Seu nome. Esqueci a cor dos seus carinhos, esqueci a sensação dos seus lábios sobre os meus. Do seu corpo sobre o meu. Esqueci o mundo que era o meu mundo ao seu lado. Esqueci por que quis. Por que precisei. Esqueci até perder. Esqueci pra sempre.
Mas aquele cheiro... Aquela camisa impregnada de você, aquilo eu jamais poderia esquecer. Aquela camisa era o resto de nós, a sombra de você e o único traço de minha memória que eu não expulsei. Aquilo é tudo o que eu me permito admitir que ainda é amor entre nós. Aquilo, aquela camisa, é tudo o que eu tenho. Pra sempre.

16 junho 2010

Amelie.

A pequenina Amelie estava tão doente que quase já não levantava da cama. Os lençóis brancos pareciam-lhe parte do corpo, o travesseiro já parecia moldado à cabeça. O ursinho de pelúcia era sua única companhia constante. Ficava dia e noite sobre a cama, mas longe dos braços magros que queriam abraçá-lo com toda a pouca força que detinham. Mas nem isso Amelie podia. A febre, os espirros, a saúde fragil. Não, ela não podia tocá-lo. Ela não podia, sob circunstancia alguma, respirá-lo.
Os cabelos loiros caiam pelo travesseiro, sem vida. O sorriso, outrora tao presente, esmorecia mais a cada dia, e até mesmo o Sol parecia desanimado quando entrava pela janela do quarto da pequena. As paredes respondiam a ele amarelas, tristes, como quem esperavam um desastre, uma desgraça.
Os pais adoeciam com ela a cada dia, a cada espirro e a cada tarde em que a pobrezinha ardia de febre. A mãe chorava tanto que secava por horas e o pai, homem forte, já perdera mais de 3kg, apenas caminhando pela casa, perdido.
Rumo era a ultima coisa que qualquer um naquela casa tinha.
Até o cachorro da familia parecia desanimado.
O ar era pesado pelas escadas, o silencio era triste pelos comodos. Ninguem tinha confiança, ninguém detinha em si um único raio de esperança pelos cabelos loiros da pequena enferma.
Apenas uma pessoa ainda acreditava: o unico que tinha permissão para visitá-la. O menino, Austin, vinha todos os dias vê-la. As vezes, a observava dormir, as vezes conversava com ela. Quando tinha sorte, Amelie sorria. E Austin ia embora feliz.
Austin vinha, todas as tardes, para trazer sua flor. E a depositava, brilhante, sob a cama da menina. E, pouco a pouco, a cama se encheu delas.
E no pé da escada, na rua, todos os dias, mais flores. Amarelas, rosas, brancas.
Flores, múltiplas e coloridas. Vivas.
Os passantes, os amigos, as vizinhas, as doces senhoras da Igreja da esquina, todos deixavam-lhe flores todos os dias.
E na manhã de domingo, quando Amelie abriu os olhos, viu se cercada por elas. Flores, radiantes, por todos os lados, tomavam seu corpo frágil ao invés do abitual lençol amarelo opressor. E, naquela manhã, Amelie teve esperança.
E desceu as escadas engatinhando, como um bebe, enquanto os pais dormiam.
E sorriu para o cachorro, e sorriu para as paredes, que lhe respondiam com seu silêncio mais orgulhoso.
Amelie sorria.
Caminhou devagar até o hall.
A porta se abriu.
E só haviam flores.

13 junho 2010

Muse


"You trick your lovers that you're wicked and devine
You may be a sinner
But your innocence is mine."
Muse - Undisclosed Desires

07 junho 2010

Aquele meu velho amigo.

E de repente o meu melhor amigo não é mais meu.
É dela.
E aquela dor que eu sufoquei por tanto tempo, que eu já tinha certeza de ter enterrado, volta pra mim. E eu não tenho certeza se eu consigo pensar claramente, eu não sei nem se eu quero pensar claramente. Não quero de verdade ser capaz de ver tão nitidamente as imagens do futuro, as imagens que a minha mente já viu e que me força a repetir diante dos olhos vezes incontáveis.
Eu tenho consciencia que não pedi demais. Tenho a certeza que não sonhei mais alto do que eu podia saltar, tenho certeza que era alcançável. Você estava ali, tão perto, tão tocável. E então sumiu, como fumaça entre meus dedos, como ar.
E enquanto eu me lamentava por ter só a mim mesma para abraçar, enquanto eu chorava pela triste realidade de nunca te ter, você sonhava com aquela que eu passei a abominar por culpa única e exclusivamente sua. E do medo, medo que eu ainda tenho, de te perder pra sempre.
Mas, por quanto tempo?
Quanto vai ser necessário para eu aprender e entender que não tenho direitos de você? Por quanto tempo eu vou me calar até conseguir falar porque eu já não aguento sua companhia? Por quanto tempo eu vou ter que acalentar você até te abandonar? Por quanto tempo essa dor ainda vai ser amizade?
Não é uma pergunta assim tão dificil. Não é realmente.
Entao, por favor, só me diga... Por quanto tempo?

05 junho 2010

Adeus.


- Foi-se o tempo em que eu confiava em você.
- É uma pena. - Ele disse, o tom de voz quase sentido.
- Não, não é não. - Ela disse, inflexivel.


26 maio 2010

Marília (trecho)

"(...) Ela se tornou, sem saber, o remédio pros meus dias infelizes. E tudo o que eu precisava era algum cabelo colorido e alguma palavra sobre seguir em frente. E assim, roxo tornou-se minha cor favorita. E o sorriso que apertava os olhos, o meu preferido.
Comecei com os abraços; apertados, intensos, meus. E eu achava divertido vê-la ficar surpresa com o afeto repentino. Contato não era muito a praia dela (lembra da capacidade de aniquilar pessoas?). Mas eu continuei. Dia após dia, mês após mês, me servindo de doses saudáveis da garota que foi se revelando uma pessoa divertida, amável, tranqüila e cheia de congruências comigo. E como conseqüência, eu continuei precisando dela mesmo depois que o roxo se foi. Não era mais apenas a decisão, o cabelo, o sorriso ou a tranqüilidade. Eu tinha um amiga, daquelas de verdade, na garota que escrevia as palavras doces e amargas que me lembrava a mim.
E então eles vieram. Os meio-abraços, tímidos e sem jeito, em retribuição ao meu afeto mal explicado. Mas não se enganem, eu ficava feliz por recebê-los. Eram os melhores meio-abraços que eu poderia receber pela manhã. Tornaram-se um pequeno vicio. Nossa pequena troca. E eu invadia sua sala todos os dias para dar-lhe um sorriso (e tentar quebrar-lhe as costelas com afeto) e ganhava um meio-abraço cheio dos seus pequenos significados. E nós passamos a trocar letras e a dividir pânicos e salas de avaliações lotadas com notas baixas. Pelo menos nos fazíamos companhia. E da companhia vieram então o maior presente, os abraços inteiros. Sim, estamos realmente falando de dois braços!
E então, chegamos aquele ponto, o ponto tenso onde os caminhos se separam. Chegamos aos abraços cheios de lágrimas e ás promessas que só vamos tentar cumprir. Chegamos ao fim do lugar-comum, dos nomes em comum, do presente em comum. E mesmo agora os abraços, mesmo que inteiros, perdem a intensidade, por que perdem a freqüência. Chegamos no ponto das lembranças. Dos encontros raros. Dos desencontros. Das saudades intensas. Imensas."


ps: trecho do conto da historia da coisa que eu escrevi pra minha querida amiguinha Mah. Eu ia postar inteiro, mas ficou muito grande. vai só o trecho então.
T.

21 maio 2010

Caderno de Anotações.


Ela se sentou frente ao caderno, olhos fechados, sono. Ela queria esquecer o mundo lá fora, ela queria voar pra longe. Ela detestava o ao redor. Ela detestava as vozes, ela detestava o mundo lá fora, querendo comê-la, querendo desaparecer com tudo o que a fazia diferente. Ela só gostava do seu silêncio, das suas paredes, das suas folhas. Ela queria tanto, tanto, voar pra longe, mais longe que o longe, fora do alcance das vozes, das mãos, do desdem dos que eram massa. Massa sem raça, sem vitória, sem história. Massa que ela não era.
Mas... Ela não podia voar pra longe. Ela não tinha asas. Não tinha brisa para carregá-la nem cometa para agarrar a cauda.
Ela só tinha um caderno.
Onde voava nas linhas, nas histórias.
Ela só tinha aquilo.
Só folhas.

16 maio 2010

Felicidade.

Pensa em mim vez ou outra e me ame, nem que seja por pensamento. O importante, eu juro, é o sentimento. Ele só precisa existir pra me deixar feliz. Eu só preciso ter certeza dele. Eu só preciso ter certeza de você. Então exista, mesmo que só por alguns momentos, preu ter certeza de que não é ilusão. E se mostre, sorrindo, preu ter uma imagem a guardar. Não vou precisar do toque, de inicio, ou da palavra, da declaração. Só me deixe ver em seus olhos que existe uma verdade, e eu me darei por satisfeita. É que eu sou criança. E criança se satisfaz com pouco. Criança só quer amor de verdade. Criança só quer saber de felicidade. E você me faz feliz. Então, te encontro por aí. Não foge de mim, não. E quando me ver, sorri. Eu vou sorrir também. E ser feliz.

10 maio 2010

Contraste.

Pela manhã ela era só um emaranhado negro de cabelos sob o travesseiro branco e sobre o peito alvo do homem que a amava. O homem que ela amava.
Pela manhã, ele era só mais um apaixonado que observa a sua particurlar razão do amanhecer sorrir durante o sono. Durante sonhos. Durante um sonho com ele. Durante uma lembrança de uma tarde de amor.
Pela manhã, eram só homem e mulher, possivelmente desacordados, mas ainda sim visivelmente, palpavelmente apaixonados. Unidos em todas as possibilidades, dedos e corpos e cabelos, como se fossem um. Eles eram.
E pela manhã a diferença tornava-se clara, mas divina, como arte. Preto no branco, branco e preto, misturados, unidos e entrelaçados. E de manhã não existiam palavras, só os carinhos, os toques e os suspiros.
De manhã, tudo tornava-se banal, tudo era pouco ante a beleza e a perfeição obvia do contraste das peles em movimento suave sobre a cama. E de manhã, enquanto se amavam e abriam os olhos para absorver a beleza oposta, não existiam as críticas, não existiam vozes e não existiam olhares cheios de qualquer censura. E de manhã eles se banhavam um do outro para ter o suficiente para o dia. Para ter a dose certa de preto e branco.
Pela manhã, nus, absorvendo e observando o sol, eles sentiam e vibraram luz, vibravam contraste. Banhados nela, se sentiam e se viam perfeitamente, diferentes e identicos, unidos no contraste perfeito, no entrelace perfeito, num casal.
De manhã, eles se reconheciam e admitiam, livres, loucos e extremamente apaixonados.
De manhã, eles eram apenas e muito mais que homem e mulher. Eles eram perfeição. Preto e Branco. Contraste.

07 maio 2010

Harta.


Me cansei. Depois de tanto tempo e tantos anos, estou farta. Não quero mais. Não te quero mais. E é fato, nao possibilidade. Deixou de ser desejo para ser mais. Muito mais. Ato.
Não serei mais a menina que espera o correio a espera das suas letras. Elas nunca me diziam muito mesmo. Elas diziam pouco, muito pouco, de você e de mim. Elas nao me embebiam o suficiente em você. E agora, nao faz diferença. Não quero você.
Não vou mais esperar as ligações, a voz. Estou imune. Não ouvirei as palavras vazias, as promessas falsas. Desconsiderarei toda e qualquer declaração, assim como desconsiderarei sua existencia tola. Também não a quero.
Vou apagar todo e qualquer registro de você. Não quero nem a lembrança. Não quero a sombra nem a carne. Não quero, é fato. Não te quero. Então não me procure, por que eu não te reconheço. Nem teus atos. É tudo. Adeus.

06 maio 2010

"Fiquei com medo do pra onde caminhava. Fiquei assustada com quem era eu. E no medo, me isolei. Se alguém for bancar o herói, essa é a hora."

30 abril 2010

Vermelho e Branco.


Branco e Vermelho. Em algum tom diferente, essencial. Em alguma voz macia, confortável. Em alguma carne e osso impossivel de abandonar, de desatrelar do pensamento. Vermelho e branco, branco e vermelho. Em todos os pontos. Em solas e fios, branco e vermelho. Como uma provocação, um desafio; venha e tome. Assim, vermelho e branco.
Vermelho e branco, e só meu. Nos meus pensamentos, nos meus olhos, nas minhas buscas. Porém, Vermelho e branco e nunca meu. Como uma vitória. Vitória de branco e vermelho, longe de mim. O mesmo branco e vermelho, dançanto frente a mim. A mesma provocação bicolor, dia após dia, rubra e nula. Vermelho e branco. Repetindo os passos e os toques, e os sorrisos, que mesmo não sendo, me chamam vermelho e branco. Um sorriso que me esquenta e que me faz pensar em vermelho. E em branco. Branco e vermelho. Lindo.
Lindo demais para apenas branco e vermelho. Ainda sim, só vermelho e branco. E lindo.

21 abril 2010

"Palavras, apenas"

 ­Não consegui acreditar quando vi as palavras ali, claras, vivas e expostas aos meus olhos. Doeu. Como um golpe, como um tiro. Eu quase pude ouvir o estampido. Certamente, eu senti o impacto. Quase podia sentir o ferimento. Talvez eu pudesse. A dor eu certamente sentia.
 ­Estava indignada. Era meu. A palavra era minha. Era eu. Definição, não tão simples, não tão básica. Era mais. Pra mim, era carinho. Era sinal. Eu me sentia completa entre o apelido e o abraço. Eu me sentia próxima. Mas não era.
 ­Ao que parece, era categoria. E a palavra que era minha, a chamada, a caricia, não era. Era qualquer uma, qualquer coisa. Não, não me tornava especial. Eu nunca fora especial. Eu fui iludida. Eu fui momento, fui presença, presente apenas por alguns poucos meses, algumas poucas fases. Eu nunca fui. Eu estava.
 ­E dei então, um cálido adeus a sua eterna amizade. Eu era colega. Eu era alguém apenas, era conhecida. Dei adeus então, a tudo que tinha significado entre nós. Fechei meus olhos cheios de lágrimas, cheios de lembranças, e as apaguei. Eu me fechei á nossa antiga profundidade. Eu seria pequena, apenas, dali por diante. Pequena com sentido literal. Sem nenhum sinonimo que você pudesse citar. Eu era pequena, era rasa. E eu me senti crescer então, por perceber. Me senti ganhar o mundo, de uma maneira muito, muito cruel. Dóia crescer daquele jeito.
 Não, eu já não era baixinha.





"Palavras apenas,
Palavras pequenas
Palavras ao vento"
Cássia Eller

18 abril 2010

"I don't feel so bad"

Alguma coisa pulsava em mim. Repulsa. Algum ódio desenfreado, algum desprezo com razão. Repulsa. Pulsa. Saía dos poros com tanta facilidade, naturalidade, que eu achava dificil crer que não estivera ali desde sempre. Talvez estivesse. Provavelmente estava.
Repulsa, pulsando desde sempre. Eu só a guardava. Eu só não a deixava saltar fora de mim. Ela era guardada a sete chaves no meu peito feliz e frágil, era parte de mim que eu escondia por que não tinha por que mostrar.
Eu tinha orgulho de mim e a repulsa não era necessaria, por que nao haviam inimigos capazes. E mesmo alguns capazes, não eram indignos. Eu poderia sobreviver a eles. Mas aos incapazes, aos indignos, aos donos de alguma sorte ou talismã, não, a esses eu só tinha repulsa. Pulsa. Repulsa. Pura Repulsa.
Escutei musica. Escutei gritos. Vi luzes. E tudo me deu tanto asco, tanto nojo, tanta raiva, que eu quis me trancar em salas vazias e a prova de sons. Eu só queria um pouco de silêncio, e uma maneira de fazer silêncio às dores que me ameaçavam. Não, não por coisas tão pequenas. Desculpa aí, mas não aceito sofrer. Desse mal não. E a repulsa pulsa. Pura. Por mim, dessa vez. E por eles.
Quis tapar meus ouvidos para não ter que escutar o canto. Tentei. Mas a musica se alastrava, queimando, o canto de vitória que não me deixava pensar. Então cantei. Outras musicas, mais bonitas, mais minhas, mais cheias de glória e de histórias. E minha propria voz fazia o mundo sumir, e eu so era capaz de escutar meus proprios gritos, meus proprios motivos.
Eu cantava e chorava, e fechava os olhos pra não chorar.
Eu era vitoriosa.
Eu era.
Não era.
Eu era só repulsa. Pulsando. Cantando. Expulsando os pensamentos e as dores.
Eu era silêncio. E queria silêncio. Cantando.

"Came without a warning so I had to shoot him dead
He won't come around here anymore
Come around here?
I don't feel so bad"
Wake up Call - Maroon 5.

16 abril 2010

Ruptura.

O quarto era pequeno demais para nós dois e todos os nossos problemas. As paredes pareciam frágeis demais, o mundo era frágil demais. Ou talvez os nossos gritos fossem fortes demais. Talvez estivessem altos demais. Tão altos que nós já não escutávamos. Nem um ao outro, nem a nós mesmos. Pelo menos, eu não tinha idéia do que estava falando.
A pausa surgiu, mas durou apenas alguns segundos. O necessário apenas para recuperarmos o fôlego, refazermos a linha do pensamento e tomar algumas resoluções. Eu tomei as minhas, pelo menos.
- Já chega disso, eu não quero mais brigar.
- Um pouco tarde pra isso, não acha? Já estamos brigando.
- Por que?
Fiquei momentaneamente sem palavras. Eu não tinha idéia do porquê. Eu só sabia que brigávamos e fazíamos isso o tempo todo. Nós nunca nos importávamos muito com os motivos.
- Você não sabe, não é? Não se importa mais.
- Não é verdade. – Eu comecei, mas minha voz não tinha certeza nenhuma. Ele percebeu. Sempre o fazia.
- Você sabe que é. Eu só não consigo entender.
- Nem eu. Eu juro, nem eu.
- Mas você devia. Você deveria saber o que quer.
- Eu sei o que eu quero.
- E o que é?
Me calei. Nós dois tínhamos essa resposta. Ela estava ali, exposta. Verbalizá-la seria torná-la real, mas alguém tinha que fazer. E eu fiz.
- Acho que já chegou a hora de acabar com isso. Eu quero o divórcio.

13 abril 2010

"E eu vi aquele sorriso se apagar só pra mim.
Eu vi, e a sensação foi horrivel."

10 abril 2010

Lembranças.

- Você está apaixonada?
- Não.
- Mensagem pessoal bastante sugestiva. Eu diria que está sim.
- Eu só sempre estive. Desde que eu me lembro. E eu nao consigo esquecer.
- Bizarro... Algo tipo alma gêmea?
- Vai saber. - Suspiro. Talvez lágrimas. - É só mais um daqueles casos do cara perfeito que voce nunca teve a chance de tocar. E que voce só pode escutar e dizer, todos os dias, dia após dia, o quanto amava. E de repente acaba, some, e ficam só as lembranças. E aí volta e meia você fica deprimida por que sumiu. Por que acabou.
- Entendo...
- Não entende. Aposto que não.
- Já passei por uma situação semelhante. A diferença é que não era um cara, obviamente, e sim uma garota. Na verdade, acho que foi a única garota que eu amei de verdade. Quando eu estava sozinho eu lembrava dela. E nos momentos felizes eu gostaria de tê-la do meu lado. E quando eu ficava triste, só de ouvi-la falar, eu já me sentia feliz.
Suspirei, por que sabia como era. Por que aquele diálogo me trazia lembranças. Lembranças demais.
- A gente não podia simplesmente esquecer?
- Era como se ela me transportasse para outro mundo. - Ele continuou, e eu quase sorri. Somente quase. - Mas acho que nesses casos o tempo é o maior aliado. Embora ele seja algum tipo de torturador.
- É, eu sei. Eu só não aguento mais esperar.
E ficamos silencio. Porque era saudade. Saudade de todos os lados.


.# obrigada belém pela conversa, e pela inspiração :)

07 abril 2010

Um Pouco de Solidão.


Ele se aproximou da cama e se sentou ao meu lado. Não fez som algum, mas eu sabia que estava ali. Por isso, nao me assustei quando sua mão correu pelos meus cabelos, num afago silencioso.
- Nunca te vi tao frágil. - Ele comentou.
- Nunca estive tão. - Respondi.
- Tem alguma coisa a ver com...?
- Eu só estou me sentindo um pouco sozinha. - Interrompi antes que começassem as suposições. Até por que, era verdade. Eu me sentia sozinha.
- Eu estou aqui. - Ele afirmou, e a voz era puro carinho.
- Eu sei.
- Então deve saber que não está sozinha.
- Eu sei. - Repeti. - Só não sinto. Não sinto ninguém.
Ele interrompeu por um segundo suas caricias e estendeu a mão para afagar meu rosto. Hesitante, como sempre, ele me tocou, meu rosto gelado. Foi rápido e macio, fulgaz. Nem ao menos tive a chance de parar de respirar. De sentir.
- Mas eu estou bem aqui. - Ele disse, e voltou a mergulhar os dedos em meus cabelos.
Concordei com a cabeça, como quem absorve uma informação. Mas não absorvi nada. A sensação ainda era a mesma, e eu ainda sentia frio. Meu corpo tremeria, se fosse capaz de sentir.
Me encolhi mais e me movi, buscando seu corpo. Minha cabeça se aninhou em seu colo e minhas mãos se procuraram e se prenderam. Eu me sentia a cada segundo mais vulneravel. Ele quase podia perceber. Quase.
Se abaixou e me beijou o rosto. Foi sincero, mas não senti nada. Nem o toque dos lábios, nem o calor deles. Forcei um sorriso. Eu era boa atriz; ele acreditou. Ou talvez, ele apenas fosse tolo. Sorriu também, e se perdeu. O carinho continuava, lento, mas quase automatico. Ele nem percebia que o fazia. Ou talvez percebesse, mas tinha, certamente, sua mente em algum outro lugar. E não fazia a menor diferença. Ele já não existia. Nunca existiu, desde o príncipio.
Fechei meus olhos e tentei adormecer. Fingi adormecer. Mas mesmo em meus sonhos criados eu estava só. Senti uma lágrima escorrer solitária por meus olhos fechados. Seria a unica, tal como eu.
Senti palavras escapando de mim num sussuro, sem minha permissão ou ordem. Talvez eu respondesse uma pergunta. Talvez não. Mas eu certamente sussurrava. Falava sozinha, talvez.
- Eu ainda me sinto só.
- Eu nao posso fazer mais. - Ele me respondeu, e eu não consegui identificar o tom, ainda que a voz estivesse tão próxima de mim, colada ao meu ouvido. Só sei que doeu. Mas menti. Como sempre.
- Tudo bem. - E ele roçou o próprio rosto no meu, me maltratando com o meu não-sentir. Por que não, eu não sentia nada. - Eu só me sinto só.

01 abril 2010

Despedida.

 ­ Como a minha garota tinha pedido, nós terminamos na véspera da viagem para a faculdade. Foi uma despedida estranha. Nós passamos o dia todo juntos, dormimos juntos, e pela manhã nós ainda éramos um casal, mas sabíamos que estava acabando ali. Eu queria chorar, mas tinha prometido a ela que não o faria. E eu não o fiz.
 ­ Ela não quis uma festa de despedida, então passei o dia acompanhando-a, levando-a na casa de todos, vendo-a se despedir de todos que fizeram parte da nossa vida até ali. Aquela mudança, e eu sentia isso no ar ao redor de nós, era permanente, imutável. Aquela partida era para nunca mais regressar. Aquele era um adeus de verdade, das pessoas, da cidade, das paredes. Nós não íamos voltar ali.
 ­ Fiquei surpreso por não vê-la derramar nenhuma lágrima, mesmo enquanto falava com as amigas que a acompanharam desde sempre. Ela sorriu quando se despediu delas, e prometeu voltar para vê-las, e prometeu sentir saudades. Me vi dizendo aquelas coisas para as pessoas também, depois de algum tempo. Eu também partiria em breve, e eu quase me esquecera disso. Eu mergulhara tanto na partida dela, que quase esquecera de mim. Eu, que seria outro quando nos reencontrássemos. Mais maduro, mais preparado, nos trilhos certos para realizar o meu sonho. Mas, e disso eu tinha certeza, ainda seria dela. Eu sempre seria dela.
 ­ Eu ainda a levei ao aeroporto naquele dia, e só então eu a vi derramar algumas lágrimas. Ela me disse, sorrindo, que era fraca e que estava quebrando a promessa. Mas que ela seria forte dali pra frente, e que não voltaria a fazê-lo.
- Você não chorou quando se despediu das suas amigas, ou dos seus pais. – Eu disse, quase achando graça.
- É mais fácil com eles, eu acho. Eles não fazem parte de mim do jeito que você faz.
- Sua mãe ficaria ofendida. – Eu ri, de leve. Era quase superficial.
- Ela já não gosta muito de você mesmo.
- O que é meio injusto, você sabe.
 ­ Ela riu e o som era tão leve quanto o da minha própria risada. Não machucou muito. Coisas piores me machucavam agora. A solidão que eu sentiria em minutos, por exemplo.
- Ora, você levou a menininha dela e a tornou uma mocinha. – Ela disse, e o tom se tornou parecido com o que a mãe dela começou a usar comigo depois da nossa primeira vez. – Como ousou fazer isso com a menininha dela?
- Bem, você parece mais que isso pra mim.
- Eu sou. Mas a culpa é só sua. – Ela disse, pondo o dedo sobre o meu nariz, e um sorriso sapeca tomou conta dela.
 ­ Ficamos em silencio por um momento, e eu tirei sua mão de meu rosto, apenas para segurá-la e acompanhar as linhas com o olhar. Eu tinha medo de olhar nos seus olhos e me despedir. Mas eu teria que fazê-lo, a qualquer momento. Eu só não queria deixá-la partir.
- Quando voltaremos a nos ver?
- Não me faça perguntas que eu não posso responder. Eu não sei. Espero que em breve.
- Eu também. Eu... vou sentir a sua falta.
- É claro que vai. – Ela afirmou. – Eu não quero ouvir o contrário de ninguém. Sinta minha falta pra sempre. Sempre lembre-se de mim. Me promete?
- Não havia nem a necessidade de você pedir. – Eu disse, sorrindo pra ela, sentindo meu peito queimar pela força com a qual eu segurava as minhas lágrimas.
- Vai passar rápido. – Ela disse, e eu podia sentir a esperança na voz dela.
- Vai se arrastar, como sempre acontece quando estamos separados.
- Não seja pessimista, bobinho. Vai dar tudo certo.
- Não consigo ver como.
- Seja forte. Por mim. – Foi golpe baixo, e eu sabia que ela também achava. Ela tinha total consciência que eu faria qualquer coisa por ela.
 ­ Concordei sem sons, mas eu sabia que ela entendera. Eu já não tinha palavra alguma para respondê-la, e ela não precisava de nenhuma. Nós já haviamos passado dessa fase de palavras, consentimentos e negativas. Eu simplesmente seria forte, por que ela pedira. Eu seria qualquer coisa. Qualquer um.
 ­ Passei meus braços pelo corpo pequeno dela, tomando-o pra mim. Eu sentiria tanta falta daquilo, do nosso contato, das nossas conversas. Eu sentiria falta de olhar pra ela e saber o que se passava, de ler através de todo e qualquer pretexto que ela inventasse. Eu sentiria falta de ser “nós”, agora que seria apenas eu.
- Eu te amo. – Eu sussurrei no ouvido dela e a senti estremecer em meus braços.
- Eu também.
 ­ Foi a resposta quase inaudível dela. A apertei mais em meus braços, desejando nunca soltá-la, e nós trocamos um ultimo beijo ali no saguão do aeroporto, antes dela me dar as costas.
 ­ Eu não esperei o avião sair pra sumir daquele lugar e deixar minhas lágrimas descerem livremente. Eu me sentia estranhamente dilacerado, e por mais piegas que isso possa parecer, eu realmente sentia que aquela que eu sempre chamaria de minha tinha levado uma parte de mim com ela. E eu nunca a esqueci, nem por um momento, por todo o tempo em que ficamos separados. E eu fui forte, e nunca chorei. Mas a lembrança esteve sempre lá. Me aquecendo. Esperando.
 ­ E eu nunca a esqueci.
 ­ E eu nunca a esqueci pra sempre.

24 março 2010

Marias-Chiquinhas.


E ela ia ficando pra trás, presa na sua quase-infância. O sorriso que me chamara a atenção de inicio ia acabando aos poucos, esmorecendo, minguando até sumir. Eu podia ver, sentada de lado no meu banco, como o mundo exterior a afetava cada vez menos. Como a cada segundo ela se importava menos com ele, abandonada, e ele fazia o mesmo com ela. Os companheiros estavam lá, ao seu lado e ao redor dela, envoltos em gargalhadas e brincadeiras, beijos, abraços e toques. Mas ela estava alheia, como que pertencente a outro mundo, os olhos depressivos e as marias-chiquinhas balançando com os solavancos suaves do onibus. E o vento, ah o vento. Fazia seus olhos se encherem de lágrimas. Algumas até escorriam.
Era doce para meus olhos, mas de algum modo sofrivel. Uma adorável cena preto-e-branca que deveria ser registrada por toda e qualquer forma de vida. A melancolia da menina que não conseguia crescer. O suave desenvolver da gota d'agua sobre o rosto claro, palido, cheio de pequenos sonhos de juventude. A meiga e cruel consequência de não fazer parte do tempo certo, do próprio tempo.
Os outros nao notaram sua felicidade, sempre cândida, se esvair. Não lhe dirigiram palavra, toque ou mesmo olhar. E ela, criança solitária em sua adolescencia, tampouco. Ignorava-os para dar atenção as suas lágrimas silenciosas e rápidas, transparentes, principalmente aos olhos amigos. Mas eu não era sua amiga. Eu a percebi.
Talvez não fosse, afinal, o vento que a fazia chorar. Talvez não fossem os solavancos que lhe sacudiam os cabelos, o corpo. Talvez ela nao percebesse que nao deveria ser mais criança. Talvez ela não fosse. Talvez milhões de hipoteses explicassem suas lágrimas. Talvez eu não devesse olhá-la, talvez ela não devesse chorar. Talvez. Milhões de talvez.

#maybe alguma coisa para o trabalho de Teoria da Percepção. Mas acho que já desisti dele.

15 março 2010

Meu Primeiro Amor.


Ele correu até a casa decidido, sem nenhuma duvida sobre o quê fazia. Adentrou o quintal facilmente, ultrapassou a varanda e bateu a porta não uma, mas três vezes, com a mão firme. Estava certo. Pelo menos, até abaixar o braço, colando-o de novo ao corpo. Nesse momento, entrou em pânico.
Talvez desse sorte e ela não estivesse em casa. Mas se lembrava de ter visto as janelas abertas, então ela obviamente estava lá. Pensou em correr o caminho de volta, mas não teve tempo; antes que tivesse a chance, ela abriu a porta. Ele gelou.
Piscou duas vezes enquanto absorvia a imagem de pé na porta. Não se lembrava de Becky sendo tão bonita. O cabelo castanho estava solto, como sempre ultimamente, e isso a deixava ainda mais incrível. Era estranho estar frente a frente com ela agora. Ele perdeu as palavras por um momento e os olhos buscaram um ponto seguro pra mirar. Escolheram os tênis dela. Ele passou então a encarar o allstar vermelho como se fosse algo de incrivelmente interessante. Como se nunca o houvesse visto antes.
- Er... oi.
Ela estranhou.
- E aí, Jr?
- Tudo bem. – Ela fez que sim com a cabeça, como quem concorda. Ele não prestou atenção, embora a olhasse. Talvez o certo seja dizer que os olhos dele estavam voltados pra ela. – Você... como você está? Seu pai falou que você não quis ir ao treino, então pensei que...
- Bem, eu estou bem, quero dizer, normal. Estou usando saias, o que é decididamente estranho, mas estou legal.
E olhar dele automaticamente se desviou para as pernas dela. Ele se perguntou se era normal achá-las bonitas. Quase corou com o pensamento, e não foi capaz de levantar a cabeça novamente. Os olhos voltaram ao allstar vermelho dela – de novo.
- Os... garotos estavam perguntando se você vai voltar ao time. Sabe como é, você é muito boa.
Becky segurou um suspiro e se deixou escorar no batente da porta. As mãos percorreram rapidamente os cabelos, num gesto novo e desconhecido dela. Foi tão rápido que Jr. nem tinha certeza se acontecera mesmo. Não parecia certo nela. Ou pelo menos, não devia parecer. Mas ele só conseguia pensar no quanto o gesto caia bem nela.
- Os garotos...
Ela disse, e o tom descontente da voz dela o fez levantar os olhos. A expressão no rosto era quase a mesma da voz, descontente e quase raivosa. Era fácil perceber que ela não estava satisfeita.
- Eu... acho que eles estão sentindo a sua falta, você sabe.
- Os garotos. – Ela repetiu, no mesmo tom. – Bem, eu sempre posso visitá-los. Não é como se eu não soubesse onde todos eles moram.
- Eu acho que você devia voltar. – E ela o olhou com os olhos grandes e ele gaguejou. – Pelos garotos, e pelo seu pai também. E tem o seu tio. Todos eles estão, você sabe, contando com você.
- Na verdade, acho que não. Agora que o papai e o tio Kevin se juntaram, vão ter um monte de garotos para ocupar a minha vaga no time. – Ela disse, a cabeça novamente encostada no batente.
- Eles não vão ser tão bons.
- Bem, é claro que não. – Ela riu e ele deu alguns passos pra trás, procurando apoio. Se sentou na mureta da varanda, ainda absorvendo a explosão que o riso dela fez no seu cérebro. Ela não pareceu perceber. – Mas vou estar vigiando para garantir que a qualidade não caia muito.
- Mas eles não vão ser, você sabe, você.
- Como você é bom observador, Júnior.
Ele quase riu.
- Eu só acho que seria mais divertido se você estivesse lá.
- Eu vou estar lá, na verdade. Na torcida, como as outras meninas.
- Não é a mesma coisa. – Ele reclamou. – E você não é como as outras meninas.
Ela deu alguns poucos passos e se sentou ao lado dele, sem conseguir conter um suspiro. As mãos se abriram sobre a madeira, quase que segurando-a. O que não fazia sentido, já que Becky escalava a pilastra desde que tinha quatro anos. Não, ela definitivamente não corria o risco de cair. Não dali, pelo menos.
- Talvez esse seja o meu problema. – Ela disse a meia voz. – Talvez eu devesse. Ser como as outras garotas.
- Eu não acho que você precise parecer com elas.
- Aí é que está... eu quero.
E ele a olhou, meio de lado, quase surpreso. Ela estava ali, tão perto, que ele podia contar as sardas no rosto claro, a mão dela a centímetros da dele. E dali ele a via tão perfeita que não podia entender por que ela queria ser como qualquer outra.
- Mas não se preocupe com isso. – Ela disse, depois de um silencio estranhamente constrangedor. – Eu não acho que vá mudar radicalmente. Então não saia da linha, porque eu sempre vou ser a icebox, pronta pra acabar com você a qualquer hora.
E ela saltou da mureta para o chão delicadamente, fazendo o cabelo ondular atrás de si. Junior piscou de novo, perdido por alguns segundos. Ela virou pra ele, sorrindo de leve.
- Bem, é isso.
- É, é isso sim.
Ele confirmou.
E Becky lhe deu as costas, para dar os poucos passos de volta a sua porta. Ao perceber , ele agiu por impulso. As duas mãos seguraram a dela que ficara pra trás, virando-a, e dos lábios dele saiu um tímido “Espera”. Ela paralisou.
Os olhos deles se encontraram e ela sentiu o rosto esquentar, mas foi incapaz de fazer um movimento. Talvez fosse por que as mãos dele fossem quentes na dela, ou por que elas se encaixavam perfeitamente e ela não quisesse quebrar aquele contato. De qualquer modo, ela permanecia estática com a mão entre as dele, ouvindo o coração sair completamente do ritmo e se deixando perder no azul claro que coloria os olhos dele.
E ela não sabia por que diabos estava tão tensa, mas podia quase sentir os cabelos loiros dele refletindo nos próprios olhos castanhos. E mais que nunca, Jr. se parecia com os príncipes das histórias que a mãe contava quando ainda era viva. E ela não sabia por se sentia daquele jeito, já que mesmo com Junior, nunca havia sido tão intenso. Ela tremeu.
E ele só conseguia pensar em como era bom tê-la por perto. Os olhos dele estavam dentro dos dela, e ele registrava como castanho era lindo. Afinal, tudo nela era castanho; os cabelos, os olhos, as sardas. Uma explosão castanha bem diante dos seus olhos, segura em suas mãos. Ele não queria soltá-la nunca mais.
Desceu da mureta ainda segurando sua mão, e deu alguns passos até quase encostar o nariz no dela. Ele podia sentir a respiração quente dela, tão acelerada quanto a dele. Não tinha certeza se o coração que escutava era o dela ou o dele, mas era alto o suficiente para se fazer ouvir pelo outro. Ele não se importava. Reuniu alguma coragem para sorrir. Ela corou.
- Uma vez... – Ele começou. – Você me perguntou se fosse como as meninas da torcida eu ficaria assim com você.
Ela concordou com a cabeça, relembrando a tarde constrangedora em que tiveram tal conversa, meses atrás.
– Bem, a resposta é não. – Ele continuou, e os olhos dela se arregalaram. – Eu gosto do jeito que você é. Você é melhor que todas elas. – E ela sorriu. – E é só com você que eu quero ficar assim.
E ele não disse mais nada. Os lábios inexperientes se buscaram e se encontraram sozinhos, como que predestinados. E quando se separaram sorriram, como crianças que descobrem o primeiro amor. Eles o eram.
E naquela tarde, não disseram mais nada. Não foi preciso. Eles só sentiram. Pela primeira vez.

13 março 2010

Talvez Romance.

Pra garotas românticas que não sabem o quê esperar, os planos são sempre muito importantes; eles ajudam a controlar o nervoso, mesmo que se saiba que sempre, na hora H, todos eles vão por água abaixo. Nada de camas macias, flores, velas e muitos lençóis; apenas um e o outro e o céu. Talvez assim seja melhor, no final das contas. Talvez ainda mais romântico que o plano original.
Era pra ser só um inocente passeio na praia, uma escapadela rápida daquela festa de aniversário lotada ali perto. Tudo bem, talvez não fosse tão inocente. Mas posso jurar, não havia planos maiores quando começaram as passadas. Só o passeio.
E então vem o frio, os abraços, os beijos. E não depois de uma eternidade deles, os sorrisos. E ainda que ele parecesse um pouco bobo, eu sabia bem, quase sentia, que ele não o era. Era puro charme. Ele sempre começava assim. E não demora muito e ele começa a olhar diferente também. E o sangue corre pro rosto, por que tremo só de pensar que eu sei o que ele quer. O que eu quero.
E começa assim. Devagar, pausado, como se o mundo pudesse esperar. Mas os beijos, as mãos, e mesmo os corpos não nos deixam enganar por muito tempo: é preciso mais. Isso está claro até mesmo (ou talvez principalmente) nos atos. Nos sons e palavras jogadas no vento não mais tão gelado da noite.
E o mundo fica mais intenso a cada segundo, até que eu perca a consciência dele e tome de outro. E aderindo ao maior dos clichês, um mundo novo e inexplorado, super colorido, quase brilhante se expande diante de mim. No meio de mim. Decididamente extasiante. E lá tudo gira sem pausas até parar n'alguma grande explosão, trazendo minha consciência de volta ao seu país (e corpo) de origem.
E então as palavras somem e algum carinho inocente vai ocupar espaço nas nossas mãos, que vão se entrelaçar quando nossos corpos se re-organizarem na areia nua. Talvez tudo se entrelace e não haja espaços.

E não vão haver palavras pra descrever. Apenas a lua, as estrelas e algum romance
.

25 fevereiro 2010

Deu bad.

Foi rápido. Apenas alguns dias, dois ou três, e BAM, ele se recusou a voltar a abrir os olhos. Morreu, e essa é a unica definição cabivel, ao menos por enquanto. Se é que a morte pode ser um estado assim tão passageiro quanto eu espero que seja pro meu velho e querido amigo.
Eu o olho de quando em quando, já que não posso evita-lo sempre, já que ele está ali, estacionado, inutil, ao lado da minha porta de madeira. E é um tanto quanto triste, meio sofrível, vê-lo mudo e imprestável, jogado ali, acumulando poeira. E não há nada que eu possa fazer, já que meu intelecto reduzido não me deixa salvá-lo, não me deixa fazê-lo renascer. Bem, não tenho e nem nunca tive todo esse poder. Fazer o quê.
E o mais triste, é que existem culpados. Uma criança e uma mulher, não necessáriamente nessa ordem, puseram fim no meu querido. Sitios estranhos atrás de sitios estranhos e portas abertas mesmo aos mais mau-encarados individuos: elas não tiveram noção nenhuma no uso, e consideração nenhuma com todas as informações e quilos de conteudo necessário a minha sobrevivencia. Tudo bem, talvez eu esteja exagerando. Talvez não. Mas você sabe, eu sou quase a rainha do drama. Eu escuto sempre isso.
Mas é assim mesmo. Eu vou ter que ficar esperando. Alguma hora, algum desses grandes gênios vão inventar um meio de trazê-lo de volta. Na verdade, vão só por em prática, já que o método já existe.
Aí eu volto também.
Me espera.


Bem, é claro que eu exagerei, mas no final das contas, o texto ficou engraçadinho. E deixo claro que Deu Bad é a coisa mais bizarra que eu já ouvi (nem de longe, mas...), mas é que eu acho isso uma coisa tão engraçada, que foi a oportunidade perfeita .-.
Anyway, como deu pra perceber (ou não) estou sem computador por tempo indeterminado. Logo depois de da minha volta de Porto, eu fiquei dois dias fora de casa e foi o suficiente pra mamãe por um bom e velho virús come-windows no meu neném. Estou esperando que ele volte dos mortos (de novo) pra poder voltar a ativa.
Mas a boa noticia é que eu já tenho coisas escritas pra postar. Eu só preciso de um lugar pra digita-las, e depois postá-las :x
Bem, volto quando der.
Beijos,
Thai.

07 fevereiro 2010

Telefonema.


O telefone tocou mas, como sempre, eu fiz pouco caso dele. Não me sentia à vontade no meio da linha telefônica, tendo que me contentar só com voz quando tudo o que eu queria era contato.
Não pretendia atender, mas fui vencida pela insistência de fosse quem fosse, que ligou mais de três vezes seguidas, pelo tempo que me pareceu a eternidade. Talvez eu deva dizer que a única coisa que me perturba mais que falar ao telefone era o som do mesmo. Sim, eu sou uma daquelas pessoas ranzinzas que detestam o toque do telefone. Ainda sim, fui simpática ao atender o meu aparelho abominado, colocado a força por minha mãe histérica na minha sala de estar, assim que fui morar sozinha.
- Olá.
- Boa Noite.
Não reconheci a voz, então cataloguei por alguns segundos quais seriam os homens que me ligariam àquela hora - por que aquela era, definitivamente, uma voz masculina. Seriam eles: meus tios, meus avós, meus irmãos ou meu melhor amigo gay em alguma emergência, mas eu reconheceria essas vozes facilmente. Não tinha idéia de quem era.
- Eu não quero parecer grossa, mas... quem é?
- Bem, você esqueceu fácil de mim. E rápido.
- Eu deveria me lembrar agora?
- Ora, passei a tarde com você.
Considerando que eu acabara de chegar em casa depois de passar o final de semana com cerca de 40 pessoas, a informação não queria dizer absolutamente nada. Ainda poderia ser qualquer um.
- Vai ter que ser mais especifico.
- Estou me sentindo usado.
- Eu abusei de você durante o fim de semana?
Perguntei, mas minha voz era um sorriso.
- Não, mas eu bem que queria.
Não me contive e gargalhei. Agora já sabia quem era. Somente uma pessoa seria adorável o suficiente no meio de todos aqueles para fazer esse tipo de brincadeira e ainda sim soar elogioso, ou divertido ou completamente amável.
- Tudo bem, agora eu sei quem é.
- Ora, o que um abuso não faz, não é?
- Não seja bobo.
- Não acho que possa mudar tão radicalmente.
Eu ri de novo.
- Tudo bem então, seja bobo. Mas me diga, o que você quer a essa hora? Já é tarde.
- Não é não.
- Bem, eu estou de pijamas, então eu diria que é sim. Eu estou em casa agora, e meu horário de balada perde completamente a validade aqui no meu refugio feliz.
Ele riu, e eu reconheci o som da risada, apenas para confirmar sua identidade. Me perguntei o que faria com que ele me ligasse tão de repente. Não sabia que tínhamos desenvolvido tal grau de intimidade em apenas alguns poucos dias. Era bom saber que eu tinha conquistado sua confiança em tão pouco tempo.
- Bem, então, o que tem a dizer?
- Diga-me quais são minhas chances com você.
Direto e simples, percebi. Sorri, percebendo que eu nunca o era. Provavelmente, nunca seria.
- Em escala?
- É, pode ser.
- Você quer o quê, de zero a dez?
- Eu quero do jeito que você preferir.
Sorri e agradeci, pela primeira vez em anos, por estar ao telefone. Ou ele teria me visto corar e todas as palavras a seguir seriam desnecessárias.
- Seis.
- Seis, de dez?
- É. O que acha?
- Acho que seis é um número muito bom.
- Mesmo?
- Claro. É mais que a metade. Pouco mais, é verdade, mas já quer dizer que você...
- Estou interessada?
- Isso é uma confirmação?
- Talvez.
Um silêncio, curto, se seguiu e eu me permiti aumentar meu sorriso.
- Você está decentemente vestida agora?
- Porque?
Perguntei, e acho que minha voz soou desconfiada demais. Talvez até assustada.
- Por que eu cheguei em casa, desfiz as malas, mas não consegui dormir. Então eu sai pra andar e liguei pra você.
- E isso quer dizer....?
- Que eu estou na sua calçada, no celular, perguntando se você esta interessada em mim o suficiente pra me deixar entrar. Ou pra sair.
- Você lembra que eu estou de pijamas, não é?
Eu disse, mas não soava mais assustada. Na verdade, estava tentada a aceitar sua oferta. Tentada demais, devo acrescentar.
- Não acho particularmente importante. Prometo que não vou abusar de você.
Eu ri.
- Me dá dois minutos.
- Como você quiser.
E eu tive, pela primeira vez desde a minha adolescência, receio em desligar ao telefone. Eu queria escutar a voz.
- Não desliga?
Eu pedi, e minha voz era quase infantil. Eu o escutei rir do outro lado da linha.
- Só quando você chegar aqui em baixo, eu prometo.
Não fiz muito enquanto andava pela casa a procura dos chinelos. Coloquei-os de qualquer jeito e me olhei no espelho do corredor, só pra constatar que estava de meias, além do pijama nada comprido. Suspirei, com preguiça apenas da idéia de me trocar. Então, num impulso, saí correndo.
Desci dois lances de escadas aos saltos (e as gargalhadas), e abri a porta do prédio antigo para dar de cara com a rua de paralelepípedos, meia dúzia de passantes, o céu mais estrelado de todos os tempos e ele, parado, me olhando feito bobo.
Eu ri apenas por ver seu olhar. Ele agora parecia entender com que espécie de maluca ele tinha se metido. Mas parecia achar isso divertido, tanto quanto eu, ouso dizer.
Não hesitei muito; fui até ele, com minhas meias e chinelos, e joguei meus braços em volta do seu pescoço, com um sorriso que eu sabia ser divertido, ainda por minha inesperada corrida pelas escadas. Ele também sorria em resposta.
- Parece surpreso.
- Não esperava que corresse.
Ele disse, mas o tom ainda era divertido.
- Eu apenas fiquei com preguiça de me trocar. Era correr ou desistir.
- Eu corria o risco de sua preguiça me manter longe de você por mais um dia inteiro?
- Minha preguiça me faz fazer ou deixar de fazer todo tipo de coisas. Então não reclame.
Ele riu.
- Eu não seria capaz.
- Agora, a gente pode parar de falar.
Eu disse, e o sorriso dele assumiu um tom novo.
- Eu não ia sugerir isso tão rápido. Eu ia arrumar outra maneira divertida de transformar seu seis em, não sei, talvez um oito.
- Eu desci as escadas aos saltos, então acho que você pode ter o numero que quiser.
- Você está se entregando agora?
- Não. Estou te dando uma chance.
- Não parece ruim.
- Não é. Você tem um beijo, uma boa conversa e um boa noite. E isso é tudo.
- Para o primeiro dia, não parece tão ruim.
- Bem, que bom que chegamos a esse acordo.
Ele sorriu e aproximou os lábios dos meus. Eu o fiz parar antes que atingisse o alvo; não que eu não estivesse cheia de vontade dos dele.
- Só me faça uma promessa?
- Já no primeiro dia?
Ele perguntou, parecendo achar graça.
- Pegar ou largar.
Ele me olhou, nos olhos primeiramente, mas seus olhos não demoraram para voltar aos meus lábios. Ele sacudiu a cabeça positivamente, vencido.
- É só dizer.
- Sem telefonemas.
Ele sorriu.
- Acho que posso tentar isso.
- Tudo bem então.
E nós nos beijamos.

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