28 junho 2010

A outra.

Eu andei devagar até a porta da frente, pé ante pé com o coração nas mãos e o medo de acordar as vidas que ali viviam. Medo que não devia ter.
Eu ainda não sabia bem o que devia fazer ali, onde não era bem vinda. Na verdade, ali me desconheciam. Ali não deveriam saber da minha existência. Mas eu queria. Desejava, do fundo do meu coração, ser descoberta.
Eu queria bater à porta, acordar a mulher e lhe contar minha história. Eu, teoricamente, fora ali para isso. Eu caminhara por todas as ruas que iam da minha casa até ali, do meu ninho até aquele lar, apenas para isso. Eu queria quebrar as vidraças e gritar o nome do homem que me arrancara o juízo até que o mundo entendesse que ele era meu, mais que de outros, por que me fizera outra.
E eu queria uma cena, queria que a máscara se desfizesse e caísse, se estilhaçasse. Eu queria ouvir gritos e descorrer sobre o prazer. Eu queria falar do meu amor e desdenhar do dela, o falho.
A falha que eu queria. Por que eu queria mais que apenas o deleite. Eu queria a verdade que eu não tinha. Mas não podia.
Eu não tinha o direito.
Eu era apenas a outra.


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