26 março 2011

"Todos somos uno"

por causa disso aqui no 365nuncas: 05 de março, fazendo alguma coisa

 Aquilo me bateu de um jeito estranho, como se eu vivesse num mundo estranho, cheia de gente estranha, que não sabe quem mais é gente além de si mesmo. Doeu. E antes que eu visse ou entendesse estava chorando, lágrimas grandes, lágrimas minhas, lágrimas tristes. Quem eu estava enterrando mesmo? Ah, é verdade. Minha esperança. Mas não importa o que seja dito, as histórias que me contem, eu vou me manter firme aqui na minha certeza. Gente boa ainda existe, gente que faz valer a pena. E quanto mais vocês disserem que não, mas eu vou bater o pé. Vou fazer pirraça pra mostrar que eu estou do lado certo. Como me ensinaram por aí, eu vou ser cada vez mais honesta, mais correta, na minha birra pra quem faz do jeito errado. Pra quem anda por aí de olhos fechados e despido de consciência, pra não se ver dentro do outro e perceber que nada tem de diferente.Mas eu tô chegando aí, carregando um espelho de moldura grande e com meus olhos bem abertos.
Só quero ver quem vai me parar.


"No importa sexo, no importa religión, no importa ideología...Todos somos iguales!"
 Christian Chavez.

22 março 2011

No tom de voz.



    É só que o que havia entre eles era muito mais do que podiam traduzir palavras, sinais ou canções. Era aquele tipo de amor antigo, quase palpável, que era quase capaz de ser visto como uma terceira pessoa entre eles. Sempre foi assim. O problema nunca foi amor. Sempre houve amor. Amor demais.
   E mesmo agora, quando não eram mais um só, o tom de voz dele só lembrava ela. Como se por baixo de toda e qualquer palavra, morasse um pedido para que ela voltasse, um desejo intenso dela, uma saudade imensa dele. Provavelmente existia. E ele sempre a desejaria, sempre a amaria, ainda que não soubesse amá-la. Sempre sorriria ao se lembrar dos dias felizes e esperaria pela chance de fazê-la feliz em milhares de outros, ainda que soubesse que seu exagero - por que sim, ele a amava demais - iria, eventualmente, afastá-la de novo. Trazer a dor de novo. Fazer sofrer tudo de novo.
  E ela ia fugir fingindo desprezo enquanto estava em desespero e sorriria falso enquanto queria chorar e seria em vão, por que ele saberia ler cada canto dela, como sempre soube. Ele a conhecia muito bem, todas as pequenas manias, os segredos, os dedos enrolados nos cabelos e as lágrimas acumuladas nos olhos que, de longe, pareciam risonhos. E ele sabia que ela o amava, e a amava ele mesmo, intensamente, trôpega e sofridamente, de tal maneira que jamais deixaria de fazê-lo. E ainda que não estivessem juntos, que fossem apenas cordiais, bons amigos, ele sempre saberia - e sentiria - que por debaixo da pele, dentro das veias, corria o mesmo amor do primeiro beijo.
  E por isso, pela essência, pelo amor, ele queria acreditar. Queria acalentar a esperança de que algum dia, onde ele era menos, ela seria mais, e eles saberiam encaixar seus defeitos, falhas e pulsações de modo a não deixar espaços. Pra nunca mais haver espaços. Para só sobrar amor. Amor demais.


pra eles.

17 março 2011

Rimas pobres de um amor infantil.

Você poderia ir embora, se quisesse, por que tem o direito disso. A capacidade. Mas sei que não tem a vontade, por que me olha com esses olhos cheios desse amor que você me jura. E eu poderia morrer de tristeza, por que não sinto o mesmo, por que não amo nada - nem ninguém. Mas não vou. Porque ainda que eu não ame, eu me sinto o suficiente pra me preservar. Vai que eu amo depois. Vai que eu te amo depois. Vai que eu me amo depois. Vai que eu sinto a vontade, a necessidade de preencher meu coração. Vai que eu me pego pensando em você, pensando em alguém, e sonhando, mesmo que só um pouquinho, com um dia de carinho e abraço e sorriso. Não é crime querer ser feliz. Crime é você me amar e exigir que seja recíproco. Crime é você querer controlar meu coração. Eu sou criança, você sabe, e não sei amar como você quer. Não sei amar de jeito nenhum. E bem que eu queria crescer pra você, pra amar você, pra querer você. Mas eu não vou. Não assim, tão de repente. Eu prezo pela minha inocência, pelo meu sorriso e pelo meu próprio tempo. Então não vem com esse relógio e essa cara amarrada querendo fazer de mim alguém que eu não sou. Me ama e me aceita, e se quiser, se puder, me espera. É promessa minha que meu coração, cedo ou tarde, vai bater mais forte por alguém. E se você estiver aqui, você sempre esteve aqui, eu vou olhar pra você, e vai ser diferente. Vai ser especial. Mas é você quem sabe. Eu não vou implorar. Não vou influenciar sua decisão, por não quero pensar que te fiz hesitar. A decisão é sua. O tempo é seu. E é direito seu não esperar o tempo meu. É escolha tua ver se vale a pena. Afinal de contas, sou só eu. É só meu sorriso suave, meu corpo frágil, meus pensamentos infantis que te fazem rir. Meu amor de criança. Não se iluda, não me iluda, e não vá embora se quiser esperar. Você sabe, você me conhece, você me ama. Você me viu até agora, você me acompanhou até aqui, você me viu chorar e sorrir e me segurou entre os braços tantas vezes que eu quase nunca soube o que é sentir solidão. Então faz assim, por você, por mim. Não me deixa com o gosto da culpa na boca por que eu ainda não cresci pra te amar. Não vai embora se quiser ficar. Não caminha pra longe se não for voltar. E não se esqueça de nunca deixar de me amar.

11 março 2011

Sábado de Carnaval.


O primeiro sinal foram os olhos. Fixos nos meus, claros como o céu, cheios de intensidade. De algum desejo proibido que meu corpo de carnaval queria, mas não ia realizar. O segundo talvez tenha sido o modo como se aproximou. Como se, por toda a multidão, ele pudesse me sentir ou ver, como se num mundo preto-e-branco, só existisse a mim em cores. Como se eu fosse única e especial. Feita pra ele.
  Mais sinais gritavam em volta de nós, da multidão, do turbilhão confuso de fantasias, espumas e confetes, mas não era neles que minha mente e meus olhos estavam concentrados. Longe deles. Perto, muito perto, de um outro ele. Um de carne, osso e tentação.
  A música ao redor de nós talvez não fosse tão lenta ou tão sensual ou tão divertida, mas era como eu a escutava, a sentia. E meu corpo respondia, como que automaticamente, como se a dança que nós dividíamos fluísse naturalmente de nós e para nós. E era reciproco, eu sabia, e não só por que podia ler nos olhos dele, mas por que seu sorriso entregava, satisfeito, a certeza que eu já tinha.
  O espaço entre nós se estreitou quase que expontaneamente, e antes de saber seu nome eu já podia sentir suas mãos ao redor da minha cintura. Seus lábios miravam os meus, mas desviaram antes de encontrá-los e se dirigiram, marotos, aos meus ouvidos ansiosos por seu inédito tom e som de voz.
  Ouvi a risada antes das palavras. Um nome. Um elogio. Uma graça. Sorri. Pronunciei talvez as mesmas coisas. Talvez até as mesmas palavras. Pude ouvir a risada mais uma vez antes de encarar o rosto vivo e bonito novamente. Ele também sorria.
  O próximo passo era tão óbvio que eu me deixei fechar os olhos mesmo antes dos nossos lábios se tocarem. Os corpos já estavam devidamente entrelaçados, e minhas mãos pareciam ter encontrado seu lugar nos cabelos escuros do homem entre meus braços. O tempo já não era tão importante e nós abusamos dele, indiscriminadamente, como crianças. Talvez nem tanto como crianças. Talvez como adolescentes. Sem limites.
  Me senti sorrir em seus lábios e percebi a música animada da noite de festa voltar aos meus ouvidos anteriormente entorpecidos pelo nosso primeiro contato. E pelo segundo também. Por todos eles. E com a música veio a separação lenta e indesejada, cheia de voltas e lábios e línguas e puxões - na camisa dele e na minha. Puro charme. Eu sabia - e quase queria - que ele iria embora logo. Eu só estava prolongando os últimos momentos. Mas senti uma mão, nada suave, me avisando que meu tempo já acabara. Minhas amigas impacientes não eram capazes de esperar por nós para sempre - ou até quando nossos lábios deixassem de sentir vontade um do outro. Afinal, esse era um prazo que poderia durar muito.
  Olhamos os dois para trás, em resposta a nada silenciosa reclamação das minhas acompanhantes. Nós ainda sorríamos. Elas nem tanto.
  Voltei meu corpo pra ele e nós trocamos olhares cúmplices. Ele murmurou algo como "Acho que você tem que ir". Digo murmurou, mas talvez tenha falado; era apenas o som alto demais ao redor de nós e o fato de que meus ouvidos já não tinham minha atenção. Apenas meus olhos, fixados nos lábios que eu queria re-tomar, tomavam qualquer parte de minha mente.
  Dei meu melhor sorriso de desculpa e fiz uma careta clássica, de quem pedia mais. Puro teatro. Mas isso não significa que eu quisesse deixá-lo. Ele sorriu e me beijou, quase de leve, e nossos corpos se separaram com algum esforço. Eu ri.
 "A gente se esbarra por aqui". Ele disse, com a careta do "não-quero-te-deixar" muito mais crível que a minha. Eu concordei, embora não estivesse muito certa. Mas ele nem percebeu. Me beijou de novo (a saideira), me apertou um pouco mais e nos separamos.
  Fiz um bico e o vi sorrir mais uma vez antes de sumirmos os dois na multidão. Eu, provavelmente, nunca mais o veria. Ou talvez visse e aí então nós faríamos tudo de novo. Naquele momento, eu não estava preocupada com isso. Em algum lugar perto de mim começava a minha música. E eu fui atrás, guiada pelas enormes caixas de som que estavam, basicamente, em todo o lugar. E estava tudo bem. Era carnaval.

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