22 março 2011

No tom de voz.



    É só que o que havia entre eles era muito mais do que podiam traduzir palavras, sinais ou canções. Era aquele tipo de amor antigo, quase palpável, que era quase capaz de ser visto como uma terceira pessoa entre eles. Sempre foi assim. O problema nunca foi amor. Sempre houve amor. Amor demais.
   E mesmo agora, quando não eram mais um só, o tom de voz dele só lembrava ela. Como se por baixo de toda e qualquer palavra, morasse um pedido para que ela voltasse, um desejo intenso dela, uma saudade imensa dele. Provavelmente existia. E ele sempre a desejaria, sempre a amaria, ainda que não soubesse amá-la. Sempre sorriria ao se lembrar dos dias felizes e esperaria pela chance de fazê-la feliz em milhares de outros, ainda que soubesse que seu exagero - por que sim, ele a amava demais - iria, eventualmente, afastá-la de novo. Trazer a dor de novo. Fazer sofrer tudo de novo.
  E ela ia fugir fingindo desprezo enquanto estava em desespero e sorriria falso enquanto queria chorar e seria em vão, por que ele saberia ler cada canto dela, como sempre soube. Ele a conhecia muito bem, todas as pequenas manias, os segredos, os dedos enrolados nos cabelos e as lágrimas acumuladas nos olhos que, de longe, pareciam risonhos. E ele sabia que ela o amava, e a amava ele mesmo, intensamente, trôpega e sofridamente, de tal maneira que jamais deixaria de fazê-lo. E ainda que não estivessem juntos, que fossem apenas cordiais, bons amigos, ele sempre saberia - e sentiria - que por debaixo da pele, dentro das veias, corria o mesmo amor do primeiro beijo.
  E por isso, pela essência, pelo amor, ele queria acreditar. Queria acalentar a esperança de que algum dia, onde ele era menos, ela seria mais, e eles saberiam encaixar seus defeitos, falhas e pulsações de modo a não deixar espaços. Pra nunca mais haver espaços. Para só sobrar amor. Amor demais.


pra eles.

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