31 julho 2011

"Outro amor se acabou".


- Porque você me deixou partir, em primeiro lugar? Se acreditava mesmo na gente, não devia ter me deixado ir.
- Foi você quem quis.
- Você deixou. Disse adeus e tudo.
- O que eu deveria ter feito? Segurado você?
- Talvez. Eu não sei. Eu só queria que você não tivesse desistido tão fácil.
- Você também desistiu.
- É. Foi a minha decisão. Partir. Eu quis ir embora.
Ele sentiu alguma coisa ferir dentro dele. Ela era cruel. E linda.
E continuou.
– O que eu quero dizer é: se você não estava de acordo, devia ter me dito. Naquele momento, enquanto eu ainda estava quente, disposta e indecisa. Quando a idéia de partir me deixava com o coração na mão.
- Você não se arrependeu? Não sente a minha falta?
    Os olhos dela penetraram fundo nos dele, e ele pode quase divisar a sinceridade correndo pelo castanho claro envolvente que eles eram. E tudo o que respondeu foi o encolher os ombros, como quem se desculpa.  A expressão, no entanto,não era culpada.
- Não de verdade. Doeu um pouco, no começo, mas nunca foi insuportável.
-  Pra mim foi.
- Sinto muito.
   Ele esfregou o rosto, de repente consciente do que aquilo significava. Não teria volta.
- Acabou mesmo, não é?
- É, acabou sim.
- Por que você veio, então? Por que me deixou vir?
- Achei que devia isso a nós dois.
- Mas você já sabia que...
- Eu não vim com a intenção de recomeçarmos, se é isso que você está perguntando.
- Então, por que...?
- Eu não sei. Eu só achei que não ia machucar vir até aqui e conversar.
- Fale por você.
   A expressão dela assumiu então um tom sério, essencialmente preocupado, culpado até. Ele viu os lábios dela formando o seu típico “Oh não”, e interrompeu-a antes que o deixasse escapar.
- Não tenha pena de mim.
- Eu não tenho. – E fez uma pausa, como que para se certificar que era verdade. - Não, não tenho. Eu só não achei que isso poderia fazer algum mal.
- Eu só queria que você tivesse dito “não” então.
- Eu jamais imaginaria que você criaria esperanças. Você sempre me conheceu tão bem. Você sabe que eu não volto atrás.
   E era verdade, ele sabia. Só não queria acreditar.
- Acho que eu desejei que fossemos uma exceção.
- Eu não...
- É, eu sei. Você nunca abre exceções. “Regras tem motivo de ser”.
   E ela deu um sorriso curto, sem graça e sem palavras.
   E de repente ele se sentiu muito exposto, muito sozinho, muito ingênuo. Murmurou que era melhor ir embora. Ela não disse nada, mas ele leu o adeus nos seus olhos.
   Olhou pra ela sem saber exatamente o que fazer a seguir. Ela sempre fora tão efusiva, toda abraços, toda lágrima, toda confiança. E agora estava ali, mãos nos bolsos, expressão curiosa. Esperava pelo movimento dele. Esperava pelo adeus definitivo que ele não sabia se podia dar. É que nele doía tanto.
- Eu posso te dar um beijo?
- Só se me der também um abraço.
- Acho que posso lidar com isso.
- Eu espero que sim.
   Ela não precisava dizer aquilo, mas esse era o bonito nela: era tão delicadamente desnecessária. Era amável, era divertida, inesquecível e incapaz de ser contida. E por isso partia sem muitas dores, deixando amores, deixando abraços e o perfume dos cabelos nos travesseiros. E as saudades. Ah, as saudades que ficavam, tão insuportáveis.
   Ele se aproximou e a apertou entre os braços por um breve instante, se sentindo incapaz de deixá-la ir. Mas ela o soltou e depositou-lhe o pedido beijo nos lábios saudosos, mas de leve, com cautela, para não ferir-lhe o coração. E ele sorriu, mas queria chorar. Perdera-a.
   E lá ia ela, sussurrando adeus, seus passos longos no salão, sem olhar pra trás e sem chorar lembranças. Ela nunca chorava lembranças. É que seus olhos estavam sempre ocupados brilhando futuro. Brilhando novos abraços e beijos, novos amores, novas feridas e despedidas. Novos pedidos para que não a deixassem partir. Para que a segurassem para sempre. Para que a amassem pra sempre.

25 julho 2011

Por um sorriso (meu).



Eu queria que você se apaixonasse pelo meu sorriso. Pra ter o gostinho, mesmo que de leve, do que é o meu tormento. Do que é sentir doer o coração toda vez que te relanceio, por que você carrega esse inexplicável raio de sol no peito, essa alegria sem limites, esse riso solto, que parece água do mar em fim de tarde na praia. Que eu carrego também, quando te vejo por aí, mesmo que em outros braços, desde que esteja sorrindo.
Eu bem queria que você entendesse, que sentisse queimar o peito, que pensasse que qualquer outro sorriso é riso fraco, apagado e sem sentido, pelo menos quando perto do meu. Queria que você se deixasse iludir pensando que, perto de você, o meu riso é mais bonito, mais vivo, como se eu também te amasse. Como se só ao seu lado eu pudesse sorrir de verdade.
A verdade é que eu queria que você me amasse tanto a ponto de pensar que o sorriso seu só vale junto do meu, que precisa do seu pra fazer sentido, por que se não é lindo, mas vazio. Eu queria que você sorrisse sem perceber quando me ouve gargalhar, pra que eu também pudesse, então, me aproveitar do seu sorriso bonito, pra que pudesse me iludir também. Eu queria que você me dissesse coisas que me fariam sorrir só pra assistir, queria que você ligasse pra essas coisas pequenas que fazem a gente gargalhar, de quando em quando, por que o som faz você tremer por dentro.
Eu queria que você sorrisse quando pensa em mim. E queria que o seu sorriso fosse pra mim.Eu queria sorrir contigo. E eu queria que você quisesse também. Eu queria, queria mesmo, que você sentisse, mesmo que lá no fundo, aquela vontade louca de sorrir comigo. Só comigo. Eu e o riso meu. Pra causar sorriso seu. Aquele lindo sorriso seu.

22 julho 2011

As vezes.

As vezes me deixo molhar pela depressão. Me deixo envolver, abraçar, cheirar e apertar, numa caricia suave ao meu rosto, à minha alma por vezes sofrida. As vezes eu me imagino acompanhada, as vezes sozinha, as vezes me imagino só pela diversão de me colocar em algum outro mundo, outro lugar, outra pele e postura e beleza e amor, só pra ver se eu sinto no peito diferente do que eu sinto agora. As vezes eu escrevo na minha pele o que me cola na mente, e escrevo na pele dos outros palavras sem sentido, como que para marcar por um momento aquela amizade que eu não tenho, ou que não terei nunca mais. As vezes eu finjo que sou você, sua imagem sem problemas, e as vezes finjo que tenho problemas só pra tentar esquecer que eu não sei bem viver direito. As vezes penso que tudo devia ser diferente. É que eu não aguento mais o meu igual, a minha rotina, os meus mesmos rostos que fazem bater forte o coração. Não quero mais fazer bater por esses. Quero novos. Quero uma aventura, um amor, uma viagem e um chocolate. Eu quero que nunca mais seja as vezes. Eu quero um o tempo todo. A vida toda.

20 julho 2011

Quem Disse? Parte 2.

 (...) – Você sabe, e se não sabia acaba de ficar sabendo... que eu acho que eu amo você. Muito. E de verdade.
  Ele não disse palavra.
- E bem, eu já tenho sentido isso faz um tempo... E todos os meus amigos que estão tão acostumados a me ver suspirando por aí e me lamentando por sua culpa parecem pensar que eu não posso ser feliz por causa disso. Por que você, obviamente, não sente o mesmo. E não tem nem ao menos motivo para sentir, eu sei, eu sei. – E as palavras começaram a fluir, cada vez mais rápido, como que para evitar que ele a interrompesse. – Mas, de todo modo, eu estava realmente feliz hoje. Quero dizer, de verdade. Eu acordei com essa sensação maravilhosa de que, pela primeira vez em meses, ia ser um dia realmente bom. Sabe, que tudo ia dar certo?
  Ela viu, pelo canto do olho, ele concordar com a cabeça.
- Mas, ao que parece, eu só posso ficar feliz se o motivo for diretamente ligado a você. Quero dizer, eles realmente acreditam que, só por que eu estou apaixonada, eu não tenho o direito de ficar feliz por conta própria! Percebe o absurdo disso? – Ele abriu a boca para responder, mas ela continuou a falar como se não houvesse visto. – E aí eles começaram a me perguntar por que eu estava tão animada, se você tinha finalmente percebido e me dito alguma coisa, ou algo do gênero. Mas quero dizer, não tem nada a ver! Eu só estava feliz, sabe, feliz pra caramba! E eu detesto sequer imaginar que os meus amigos pensem que eu sou tão resumida ao ponto de só poder alcançar minha felicidade se você estiver comigo. Que eu dependo de uma migalha, de um abraço ou do seu sorriso fenomenal pra me animar num dia de manhã. Me incomoda, e me incomoda muito, que eu pareça tão rasa. Por que eu não sou.
- Acho que você está fazendo tempestade em copo d’água.
- É claro que você acha.
- Não, é sério. Quero dizer, por que você liga pro que eles acham ou deixam de achar da sua felicidade? O que importa é o que você sente.
- Não é tão simples, sabe. Eles são os meus amigos, estão comigo 8 horas por dia, sem pausas. E eles falam. Pra caramba.
- Então por que você não disse pra eles o que você disse pra mim? Que você é perfeitamente capaz de ficar feliz por você mesma?
- Eles não me deram ouvidos. Disseram que eu tinha, você sabe, encontrado com você na rua e estava querendo “guardar um segredinho”. – Ela fez aspas com as mãos. - Ou algo assim.
Ele deu uma risadinha.
- Eu não tenho tanta sorte assim.
- O que?
- Bem, mesmo que você consiga levantar assim tão feliz e tudo, eu certamente não tenho tanta facilidade. Encontrar você por aí de manhã certamente teria melhorado meu humor.
- Você não parece mal humorado pra mim.
- Bem, você está aqui agora, não está?
  Ela sorriu.
- Desculpa ter gritado com você. Foi só que eu fiquei... possessa.
- Ah, tudo bem. De todo modo, você está sempre gritando comigo mesmo.
- Não to não. Eu sou sempre adorável.
- Ah, certamente. – E ela preferiu ignorar a ironia na voz dele. Suspirou.
- Acho melhor eu voltar. Agora que eu já gritei com você, eu acho que posso aguentá-los pelo resto do dia.
- Espera um minuto.
  Mas ela não queria. Estava muito consciente que tinha se declarado no meio do seu discursinho. E não queria ouvir uma resposta. Não agora, de todo modo. Se levantou.
- A gente se fala depois, certo? Eu vou ficar até mais tarde de novo, estou cheia de coisas pra fazer e...
  Ele segurou sua mão, parecendo quase entediado. Puxou-a de volta para bancada, onde ela caiu sentada com um baque suave.
- Eu pedi um minuto.
  Ela tentou evitá-lo por um segundo, mas os olhos castanhos dele consumiram-na completamente. Estavam sérios. Ela sentiu todo o seu corpo entrar numa espécie de transe. Podia sentir suas células se agitando.
- É agora que você vai ter sua revanche e vai gritar comigo?
- Não. Quero dizer, ainda não. – Ela sorriu. – Eu estou muito mais para sussurrar agora.
- E o que você vai sussurrar?
  Ela perguntou, sentindo o coração sair completamente do ritmo dentro do peito. Os olhos dele viajavam dos seus próprios olhos para sua boca, e ela estava, de repente, muito consciente disso. Muito consciente também da curta distancia que havia entre eles. Curta demais para sua sanidade mental.
- Não sei. Ainda não pensei nisso.
- É uma boa hora para...
   Nunca chegou a terminar aquela frase. Ele reivindicou completamente a sua boca para si, e as mãos dele seguraram seu queixo com tanta suavidade que ela perdeu completamente a noção e o fio do pensamento que a acompanhavam antes. Como ela chegara ali? Por que estava tão irritada momentos atrás? O mundo não era um lugar maravilhoso?
   Ele se separou dela e sorriu, parecendo realmente satisfeito.
- Eu acho que posso dizer que a minha felicidade depende bastante de você. E já tem dependido há um tempo.
- Tudo bem.
  E isso foi tudo o que ela conseguiu articular.
- Acho também que é uma boa hora pra dizer... Desde que você disse que me ama há uns minutos atrás eu não estou dando a mínima pros problemas. Eu estou feliz. Como foi que você disse, mesmo? Feliz pra caramba.
- Problemas? Eu nem mesmo me lembro da definição de um problema.
  Ele riu.
- Que bom. Vamos tentar permanecer assim.
- Droga. Quero dizer, agora minha felicidade é totalmente por causa de você. Eu perdi o argumento para mostrar pra eles a minha auto-suficiência.
  Ele lhe acariciou a bochecha com a mão livre.
- Mas você não acha que seus amigos vão adorar saber que a sua felicidade, agora, realmente tem um motivo?
- Acho, acho sim. Mas, sinceramente? Quem liga pra eles, né?
  E eles sorriram um para o outro com uma felicidade cheia de motivos antes de se perderem nos braços – e nos lábios – um do outro novamente. E novamente. E novamente. E novamente.



em letras minúsculas: esse e um texto muito antigo de uma época em que eu não tinha mais o que fazer além de imaginar e escrever. ele tem cerca de quatro páginas do word, então nunca me veio a cabeça postá-lo no blog. mas veja que esperta eu sou, dividi, rs. espero que tenham gostado, (:

19 julho 2011

Quem disse? Parte 1.

  Ela corria pelos corredores, descontrolada, secando algumas das lágrimas que insistiam em rolar, abusadas, por seu rosto. Avistou um amigo no fim de um deles, sentado confortavelmente na bancada de concreto, lendo algum de seus tão constantes livros.
  Quase não podia acreditar que ele estava tão em paz com tudo, mas só quase. Ela sabia que aquele era o jeito dele, aquele jeito calmo que chegava a ser odioso de tão amável. Ele a deixava confusa, louca e completamente irritadiça, mesmo quando não estavam juntos. E ele realmente não tinha esse direito. Qual era o problema dele, afinal?
  Ela teria chamado seu nome, mas estava agitada demais. Ao invés disso, cutucou-o no ombro, e ele quase que imediatamente se levantou sorrindo, com aquele ar de quem lhe daria um abraço. Mas ela o empurrou de volta para a bancada, ainda mais irritada por ele ser agradável numa hora daquelas.
- Quem foi que disse que eu não posso ficar feliz se não for por sua causa?
- Ah?
  E a surpresa que surgiu da chegada abrupta da garota e da sua pergunta descabida ainda estava estampada em sua face nem tão inocente quando ela atropelou sua linha de raciocínio novamente.
- Então eu não tenho mais direito à felicidade? Não tenho nenhuma chance?
- Por que você não teria? – Ele perguntou, parecendo confuso.
- Por que diabos isto estaria ligado a você?
- Não sei. Por quê?
- Não se faça de sonso! Você sabe porque!
- Sei?
- Para!
  Ele se calou por um segundo, surpreso com a repentina agressividade (muito embora já estivesse quase acostumado), e ela se jogou na bancada ao lado dele, irada. Ele esperou, tranqüilo, que ela explicasse. Mas ela não parecia disposta. Ela estava possessa, possuída por uma depressão que saia do fato de que estava feliz.
- Você não vai mesmo me explicar, não é? – Ele perguntou, depois do que pareceu a eternidade para ambos. Ela suspirou.
- Eu não estou numa boa semana, é só isso.
- Porque não?
- Porque não.
- Mas eu achei que você estava feliz. Você estava tão bem... Antes. Como pode não estar numa boa semana?
- Eu estou num momento ruim então. Agora, bem agora, eu estou deprimida. E você está piorando tudo.
- Quer falar sobre isso?
- Não! Eu quero sufocar isso, mesmo que eu me sufoque junto. Eu não quero analisar a situação, eu não quero criar teorias ou porquês, eu não quero saber os motivos, o importante é que eu estou feliz. Ou estava, pelo menos.
- E como eu estou envolvido nisso?
Ela inspirou profundamente, tentando encontrar as palavras. Sem sucesso.
- Não é importante.
- É sim. Se não fosse, você não estaria aqui, ao meu lado, tentando esconder o que está pensando com tanto afinco. Você sabe que pode me dizer.
- Posso nada. – Ele riu.
- Sim, você pode. Ande logo, me diga.
Ela suspirou profundamente e virou de lado, para encará-lo. Os olhos castanhos pareciam ansiosos.
- Preste atenção.
- Estou fazendo isso.
- E não me interrompa.
- Posso fazer isso também.
- Shhh. – Ele deu uma risada e disse um “desculpe-me” sem som algum. Ela baixou os olhos para as próprias mãos, repentinamente envergonhada. E as palavras começaram a fluir.
(continua)

11 julho 2011

Testemunhal.

Gosto de ver seu amor escrito nas paredes, seus sentimentos escapando por debaixo das suas frases. Por que eu posso ver mais longe, posso quase sentir queimar na pele o seu segredo bem-guardado, seu cuidadoso passo a passo para o coração. E eu me sinto explodir a cada olhar, a cada toque, a cada pequeno gesto que mesmo indique o que você leva aí por baixo. Eu vejo bem o que você carrega no peito. Vejo e adoro, aprecio, torço mesmo pra que ela também veja. Por que, meu bem, se esse amor nascer, se encontrar o sol e se espreguiçar na areia, nada vai impedir que se torne um caso cronico de felizes para sempre. Seu peito vai cuidar disso. Eu só quero voltar meus olhos e registrar. Então vai, insiste, não desiste e não se deixe ficar pra trás por causa do medo dela. Enfrenta. Me dá esperança. Vai a luta por ela, como eu gostaria que fosse por mim. Ame-a com tudo o que tem, com tudo o que representa nela amor em você. Seja intenso assim. Alegre meu peito assim. É que eu ainda acredito no amor.

09 julho 2011

Timidez e cenas falsas.

O vi espiar por muito tempo, os olhos claros nos meus, o sorriso tímido iluminando o rosto bonito. Eu queria ir até ele, queria mesmo, mas sou tão tímida quanto ele, sou mais tímida do que ele, sou um tanto quanto envergonhada, fechada, amedontrada, apavorada com todas as possibilidades. Então o deixei apenas sorrir, me deixei sorrir também, vigiei-o o quanto pude, para guardar aquele rosto bonito me vigiando na memória. Mais um talvez, mais um silêncio, mas um se, modesto, silencioso, imaginário. Mas faz mal não. Me faz feliz pensar que poderia ser feliz. Criar em letra e cena sempre me apraziu. Criar o cenário sempre me preparou e impediu, sempre me ajudou e atrapalhou, sempre aconteceu. Faz parte de mim fazer a cena, desenhar os traços, sorrir com eles. E sorrir fez com que ele, aquele, sorrisse pra mim. E aquele sorriso me valeu a noite. Me valeu esta história. Me valeu meio amor de imaginação.

08 julho 2011

Isabela.

Hoje não tenho nada de ruim pra dizer. Não tenho infelicidade pra descarregar, dor no peito pra expor em letras. Não tenho mesmo. Hoje estou feliz. Hoje vi uma pequena peça tão gostosa da vida, vi dois olhos tão abertos tentando descobrir, encontrar, procurando o aconchego do peito quente da mãe, que estou sorrindo, mesmo com minhas dores. Hoje não tem quem me faça infeliz. Não adianta. Hoje sou só sorriso, sou só orgulho - que de fato, nem é por mim. É que hoje eu sou adulta vendo vida nascer. Já me imagino tão velha, só porque a vi tão pequena e frágil, tão coisa nova. Tão coisa linda, coisa perfeita. Coisa que vai ser. Ah, pequena Isabela, seja bem vinda ao meu planeta, ao seu planeta, ao seu mundo. O mundo vai ser seu, pequena. Vai com tudo, eu só quero observar, te ver crescer, te ver sorrir, te ver viver. Tão perfeita, tão coisa viva, tão criança, tão bebê. Ah, Isabela, bebê, te esperei tanto. Como se fosse minha, como se fosse irmã, como se fosse o único dos meus presentes de natal. E agora que você chegou, que chorou pra anunciar sua chegada, que abriu os olhos e se balançou, como quem alcança o mundo, sem me deixar saber se chorava ou se ria, ah estou tão feliz. Ah, Isabela, seja feliz. Eu quero te ver feliz. Eu quero te ver bebê. Eu quero o mundo, inteiro, de laço e fita, pra você. Seja bem-vinda. Seja abençoada. Seja criança viva. Seja pequeno pedaço de milagre, brilhante, perfeito. Seja você.



ps: queria tanto ter uma foto da menina Isabela pra mostrar pro mundo. mas fiquei tão embasbacada de vê-la finalmente presente, aquela promessa de felicidade radiante que finalmente nasceu, que eu não lembrei de tirar. perdão, mundo. vai ter que esperar ela crescer pra poder ver.

ps2: essa foto é do ano passado. Isabela já tem dois anos. Meu amor não diminuiu um ponto. Ao contrário, só faz crescer.

06 julho 2011

Madrugada e gritos na janela.

Ele gritou meu nome na janela em plena madrugada dezenas de vezes, milhares de vezes, até desistir. Pediu desculpas, uivou pra lua, ameaçou botar a porta abaixo pra me ver. Eu nem ao menos olhei. Eu não fui atender. É que eu não queria vê-lo, não queria pensar em seu rosto bonito demais, não queria mais ouvir suas desculpas chorosas. E ele era tão convincente. Eu bem sabia que se fosse espiar, se encontrasse num relance que fosse seus olhos hipnóticos, meu orgulho cairia por terra e eu novamente desceria as escadas aos saltos para me jogar em seus braços, como no primeiro dia. E eu não queria. Não queria mais não. Estar com ele feria demais, chovia demais, gritava demais. Entre nós havia mais diferenças que semelhanças, mais vontade do que prática. A gente se amava, eu não duvidava, mas é que doía demais amar daquele jeito. Apertava o peito. E eu sempre acaba chorando em seus braços, em meus braços, por sua culpa e por minha culpa que ferravam as coisas nossas. E ele sempre acaba pedindo desculpas na minha janela, gritando da calçada o quanto me amava, mesmo que a errada fosse eu. É que ele não quer abrir mão de mim. Acha que dói mais quando está distante. Mas eu não sei não. Dói tanto quando está perto também. Dói o tempo todo quando a gente briga. Como quem não sara nunca, como quem carrega aquela gripe desde sempre. Então não vou. Não vou abrir dessa vez, não vou  voltar pros braços dele pra ser feliz só por um pouco. Ele merece mais, eu mereço mais, mesmo que a gente se ame. Sei não, se essa coisa de dor já me rasga, imagina nele, que me ama muito mais, que sabe muito melhor o que fazer com isso que esquenta a noite e faz gostoso o nosso beijo. Quero fazer doer nele também não.Vai ser melhor deixar pra lá. E eu sei que ele vai saber me esquecer melhor também. É mais esperto que eu, mais agil e mais firme nas suas decisões. Vai superar mais rápido. Eu acho. Então, pensando bem, acho melhor eu dar uma ultima olhada. Vai ser bom pra mim ver a rua vazia dessa vez, pra saber que acabou. Vai substituir aquele ultima lembrança sofrida, aquele olhar magoado, ferido pelas minhas palavras. Rua vazia é sinal de recomeçar. Então vou olhar. Bem de leve. Só de relance. Pro meu subconsciente guardar. Ah, pai. Ele ainda está lá. E acaba de me ver. Posso ver seu rosto triste, posso quase sentir o frio que ele sente. A noite está esquentando agora, mas não acho que ele tenha percebido. Está chovendo nele. Ai, não. São lágrimas. Meu menino está chorando. Não tem jeito. Não tenho mais controle de mim. Só sei que de repente estou descendo escadas, saltando degraus, e novamente estou cruzando a rua de pijamas, pra me embolar nele e pedir desculpas. Choro enquanto o beijo. Enquanto ele me abraça e diz que eu não devia mais fazê-lo esperar desse jeito. Ainda que eu saiba que, se for preciso, ele vai sempre esperar. É a milesima vez que acontece. Eu não tenho jeito. É que eu não sei viver sem ele. E mesmo que eu resolva tentar, ele não deixa. Ele não me deixa. E eu nunca estou decidida a deixá-lo. Eu tento, eu juro, mas não consigo. È como gravidade. Me arrasta pra ele. Pros olhos dele. Mesmo que doa. Afinal, já que é pra doer, pelo menos dói junto. E eu nao quero nunca mais ficar sozinha. Eu não quero nunca mais ficar sem ele. Eu quero respirar nosso abraço e sentir apertar o peito. Só ele me aperta o peito. Só ele me faz chorar, me faz sorrir, me faz sofrer, me faz amar. É, é bem assim. É que só ele me faz feliz.

03 julho 2011

Alternativo.

Só a presença, a simples presença, já me deixa mais calma. Como se só assim fosse real. Como se meu mundo fosse frágil e sonolento, simples, mas inconstante. Um sonho. Nebuloso até mesmo depois do piscar de olhos. E eu sorrio, eu choro, eu corro ao redor e abraço e beijo pessoas, centenas de pessoas, milhões de pessoas. É real? Essa pele que me envolve, essa boca que roça na minha, esses dedos que se enrolam nos meus cachos? É de verdade? Posso tocar, posso sentir, posso viver como se fosse um sonho? Não é um sonho? Por que se é real, está errado e eu estou sozinha com meus lábios, minha pele e meus cachos, do lado errado do universo alternativo que de real só tem o meu não pertencer. E eu estou sozinha no escuro e esperando. Esperando. Esperando que seja real. Mas é só sombra...

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