06 julho 2011

Madrugada e gritos na janela.

Ele gritou meu nome na janela em plena madrugada dezenas de vezes, milhares de vezes, até desistir. Pediu desculpas, uivou pra lua, ameaçou botar a porta abaixo pra me ver. Eu nem ao menos olhei. Eu não fui atender. É que eu não queria vê-lo, não queria pensar em seu rosto bonito demais, não queria mais ouvir suas desculpas chorosas. E ele era tão convincente. Eu bem sabia que se fosse espiar, se encontrasse num relance que fosse seus olhos hipnóticos, meu orgulho cairia por terra e eu novamente desceria as escadas aos saltos para me jogar em seus braços, como no primeiro dia. E eu não queria. Não queria mais não. Estar com ele feria demais, chovia demais, gritava demais. Entre nós havia mais diferenças que semelhanças, mais vontade do que prática. A gente se amava, eu não duvidava, mas é que doía demais amar daquele jeito. Apertava o peito. E eu sempre acaba chorando em seus braços, em meus braços, por sua culpa e por minha culpa que ferravam as coisas nossas. E ele sempre acaba pedindo desculpas na minha janela, gritando da calçada o quanto me amava, mesmo que a errada fosse eu. É que ele não quer abrir mão de mim. Acha que dói mais quando está distante. Mas eu não sei não. Dói tanto quando está perto também. Dói o tempo todo quando a gente briga. Como quem não sara nunca, como quem carrega aquela gripe desde sempre. Então não vou. Não vou abrir dessa vez, não vou  voltar pros braços dele pra ser feliz só por um pouco. Ele merece mais, eu mereço mais, mesmo que a gente se ame. Sei não, se essa coisa de dor já me rasga, imagina nele, que me ama muito mais, que sabe muito melhor o que fazer com isso que esquenta a noite e faz gostoso o nosso beijo. Quero fazer doer nele também não.Vai ser melhor deixar pra lá. E eu sei que ele vai saber me esquecer melhor também. É mais esperto que eu, mais agil e mais firme nas suas decisões. Vai superar mais rápido. Eu acho. Então, pensando bem, acho melhor eu dar uma ultima olhada. Vai ser bom pra mim ver a rua vazia dessa vez, pra saber que acabou. Vai substituir aquele ultima lembrança sofrida, aquele olhar magoado, ferido pelas minhas palavras. Rua vazia é sinal de recomeçar. Então vou olhar. Bem de leve. Só de relance. Pro meu subconsciente guardar. Ah, pai. Ele ainda está lá. E acaba de me ver. Posso ver seu rosto triste, posso quase sentir o frio que ele sente. A noite está esquentando agora, mas não acho que ele tenha percebido. Está chovendo nele. Ai, não. São lágrimas. Meu menino está chorando. Não tem jeito. Não tenho mais controle de mim. Só sei que de repente estou descendo escadas, saltando degraus, e novamente estou cruzando a rua de pijamas, pra me embolar nele e pedir desculpas. Choro enquanto o beijo. Enquanto ele me abraça e diz que eu não devia mais fazê-lo esperar desse jeito. Ainda que eu saiba que, se for preciso, ele vai sempre esperar. É a milesima vez que acontece. Eu não tenho jeito. É que eu não sei viver sem ele. E mesmo que eu resolva tentar, ele não deixa. Ele não me deixa. E eu nunca estou decidida a deixá-lo. Eu tento, eu juro, mas não consigo. È como gravidade. Me arrasta pra ele. Pros olhos dele. Mesmo que doa. Afinal, já que é pra doer, pelo menos dói junto. E eu nao quero nunca mais ficar sozinha. Eu não quero nunca mais ficar sem ele. Eu quero respirar nosso abraço e sentir apertar o peito. Só ele me aperta o peito. Só ele me faz chorar, me faz sorrir, me faz sofrer, me faz amar. É, é bem assim. É que só ele me faz feliz.

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