21 julho 2010

Olhos D'agua.

- Você me disse que nunca partiria. - Ela acusou.
- Eu gostaria de poder ficar. - Ele se desculpou.
E ela o olhou profundamente, só para encontrá-lo com os olhos cheios de culpa e pesar. Mas nela havia apenas alguma fúria. A fúria do primeiro choque, que velava a dor que devia sentir. Que sentiria, certamente, se ele a deixasse.
- Quantas promessas suas foram falsas?
- Nenhuma. - Mas ele não a olhava.
- Está mentindo.
- Por favor, não diga assim. - Ele pediu.
- Eu quero saber quantas juras foram em vão. - Pressionou.
Ele fez silencio por um momento, e o corpo dela sentiu a tensão no ar. As palavras que viriam a seguir eram o destino e a consagração. Seria o ponto final. Ela só não sabia de quê.
Ele respirou fundo e passou as mãos pelo cabelo escuro, exasperado. Não queria que fosse daquele jeito. Queria que fosse fácil, rápido e indolor. Mas nada com ela era fácil. Nunca fora.
- Te juro que quando as fiz, nenhuma era. - E ela sorriu, de leve. - Mas agora, bem agora, todas elas são.
E a sombra do seu sorriso sumiu.
- Por que, então?
- Por que eu amava você. Eu queria você. Eu respirava você. E agora não mais.
- Mas como, tão rápido? Tão... repentinamente.
- Um olhar ou dois. Eu descobri um outro peito onde me encaixo, descobri outros braços que me alentam. E não quero partir, deixá-los, jamais.
Ela o encarou, chocada com a sinceridade dele que doía nela. Chocada com o rumo que a relação de anos tomara. Que a amizade, o carinho e todas as lembranças se dirigiam agora para o fim rápido e o esquecimento inevitável.
- Ao menos diga que sente muito.
- Eu sinto. Muito amor, desesperado, mas por outra. E agora, agora já não há espaço pra você.
Ela deu uma risada fria e ressentida. Sarcástica até a dor.
- Com que facilidade se despede da mulher que um dia jurou amar.
- Por favor, não pense que não sinto por você.
- Não quero que tenha pena de mim. – E ela lhe virou as costas, sentida. – Não, não é isso o que eu quero de você.
- Eu... já não posso te dar o que quer.
- Então, de todo nosso amor só restou a pena? É só o que pode me dar?
Ele se calou e ela não pode conter um soluço. Um maldito soluço.
- Oh, não chores. Por favor, não chores.
E ele estendeu as mãos alvas e firmes para tocá-la e consolá-la, a mulher que um dia amou, mas a bela sentiu-o se aproximar, como sempre o fez, e se afastou, fugindo dele e da dor. E embora nos olhos dele houvesse choque, ele a compreendeu.
- Por favor, não mais me toques. Jamais, nunca mais.
Ele suspirou.
- Eu o faria, se assim ajudasse seu coração. Mas não posso, por que me importo. Não quero vê-la sofrer.
- E eu não quero vê-lo, mas ainda sim aqui está você.
E ela fez um gesto para indicá-lo, e ele finalmente a viu por inteiro. Pobre mulher, pobre menina, linda e partida, tomada por lágrimas. Os olhos verdes brilhavam de dor e os cabelos, tão castanhos quanto os dele, caiam do coque, como se a partida dele os desestruturasse também. Os tirasse de órbita.
E ele voltou a passar a mão pelo próprio cabelo, procurando uma saída. Quase doía nele a dor que doía nela.
Agiu por impulso. Tomou-a nos braços como sempre, aninhando-a em seu peito forte e quente, e murmurou frases sem sentido, palavras soltas. Ele queria curá-la, queria que não houvesse causado ferimento algum. Ela se debateu em seu abraço. Ele sussurrou o quanto a amara.
- Me solte, não me diga nada, não me diga essas palavras.
- Você sabe que eu não posso deixá-la assim. Você sabe que eu te amo mais que isso.
- Só vá embora. Eu não quero um amor pela metade. Eu não quero um alento pela lembrança.
Ele novamente se calou e concordou com a cabeça, mas se viu incapaz de soltá-la. Seu corpo parecia ter vontade própria. Assim como o dela, que se unira o dele uma ultima vez, na ultima chance que teriam para guardar is detalhes e as essências um do outro. O ultimo entrelace.
- Vão estar para sempre. É um fato, não um desejo. Mas nós vamos saber conviver com isso, e seguir em frente.
- Você promete? – Ela pediu baixo, chorosa e descrente. Apaixonada.
- Sim. E é minha ultima promessa.
Ela concordou com a cabeça e eles se separaram. Os olhos se encontraram uma ultima vez, no ultimo mergulho castanho e verde da eternidade. Ela quase sorriu seu sorriso de despedida, mas lágrimas o tomavam, cristalinas e preciosas. Ele sorriu sua dor, ele se despediu. E partiu. E as ultimas palavras do caso de amor ecoaram pra sempre, nas noites e nas lágrimas de todo casal cheio de um amor que não se mostrava suficiente. De um amor que acabava, hora ou outra.
“Não chores, amada. Não agüento ver teus olhos assim cheios d’agua... então não chores menina. Minha menina.”



“Leve na lembrança a singela melodia que eu fiz pra ti, oh bem amada. Princesa, olhos d'água, menina da lua...”
Menina da Lua, Maria Rita.

07 julho 2010

Vai (Então tá, né)

Então tá, né. Vai. Se joga no mundo, me deixa pra trás. Me esquece. Apaga as lembranças, os desejos, as nossas metas. Rasga as fotos, os sorrisos e as camisas. Vai embora, correndo, desesperado. Vai, e não me olha de canto, com saudade, com vontade de mim. Perdeu o direito de sentir. Perdeu o direito de mim. Então vai, e não volta. Eu não vou esperar.

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