29 novembro 2013

Mesa de bar.


A risada dela lhe ecoa pelos ouvidos e ele busca seu olhar por entre os inúmeros amigos, tentando guardar nem que seja só um pouco mais dela por aquela noite. Ela resplandece. Não pelas roupas, sempre discretas, mas pela felicidade que exibia, pelo riso que aquecia, pelas mãos que não paravam quietas sobre uma superfície, sempre buscando um lugar para repousar, se encontrar, se perder. E ele queria feito o inferno aproximar-se dela, ele queria com tanta força tomar aquelas mãos dentre as suas e prende-la pelo resto da noite num abraço que a evitava, permanecendo tão estático quanto podia no seu lugar á mesa, do outro lado das bebidas e risadas e do tom de voz que conseguia enlouquece-lo mesmo a distância.
Ele queria estar um pouco mais perto.
Ele queria estar dentro.
A noite avança, mas ela não para. Ela é energia pura e em certo momento já não se atém mais a mesa; passeia por entre as cadeiras com tanta naturalidade quanto se estivesse em casa, abraçando conhecidos e se perdendo nos olhos de amigos de longa data. Troca segredos e carinhos e afagos e mãos que tocam os ombros com tantos dos seus, que ele se sente um pouco abandonado, apesar dele mesmo tê-la evitado por grande parte da noite, se esquivando de seus olhares, seus encontros.
Mas ele morre de ciúmes.
Ele procura não olhar.
E quando ela finalmente chega, radiante, com seu sorriso e seu amor e seus segredos escapando por debaixo dos olhos brilhantes, ele não a evita e a convida para ficar por perto e passa os braços ao redor da cintura familiar, como se pudesse mantê-la consigo pra sempre. Mas ela é tão inquieta, ela é tão faceira que em pouco tempo já voltou ao caminhar e ele tem de deixa-la ir, por que não há nada que ele aprecie mais do que vê-la voar, pousando ao redor da mesa com um pássaro de verão, de passagem, de canto doce e olhos de chocolate. Mas ela volta, antes mesmo que ele tenha a chance de se acostumar com sua ausência, e ele não consegue evitar mais um vez puxar seus braços para seus arredores, tomando seu abraço entre o pescoço, ficando confortável onde pertence, mesmo que dessa vez seu corpo repouse em outros corpos. Ele pode ver seu sorriso de língua entre os dentes distribuindo segredos nos ouvidos das amigas, ele vê as próprias amigas oferecendo-lhe um colo, como guardiãs, como quem cuida de uma boneca. Mas ela não é boneca, é de carne, e ele quer estar entre ela, perto dela o tempo todo. E ele não sabe bem o que fazer pra ficar. Ele não sabe se tem direito de pedir.
Mas aí quando ela levanta e se prepara para alçar seu voo, talvez pra sempre, ele age por impulso: as mãos seguram a dela, segura o corpo, traz pra perto. Ele a abraça, meio sem jeito, sem ângulo, sem porquê, ele a abraça por que ela cheira tão bem e ele quer tê-la tão perto que qualquer outra coisa sente errado. E ela pausa, mas as mãos voltam e ela o abraça e ele não se preocupa mais com nada.
Está tudo bem.

Ele está com ela.

09 novembro 2013

Biográfico

Engole esse choro. Segura tudo com força, com vontade, com medo mesmo de deixar uma única gota de ti rolar. Você é forte, é firme feito rocha. Não se deixa ruir. Não se deixa quebrar. Não se deixa abater.
Fecha esses olhos e respira fundo, fecha esses olhos e tira da mente essas coisas que doem. Dorme, se preciso for. Descansa sua mente, seu coração, sua alma. Deixa o vento tocar nas dores que você não alcança e deixa carregar. Deixa ir embora.
Mas não chora, menina. Não chora, mulher. Você já é crescida, tem que aprender a aguentar o rojão, lidar com a tristeza, com a solidão. Tem que aceitar que as vezes ninguém quer, que as vezes a gente não merece, que as vezes a gente tem que esperar.
Confia, menina. Espera, menina. Vai melhorar. Você vai ver.

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