01 julho 2013

Impossibilidade


- Você precisa mesmo ir embora agora? - Ela pergunta, hesitante. Ele nem ao menos se move, entretido demais com a curva do pescoço dela para se deixar distrair. Suas palavras de resposta saem abafadas contra a pele quente. 
- Eu gostaria de poder ficar. De verdade. Mas preciso ir.
- Fica só um pouco mais.
- Eu não posso.
Ele replica e se afasta, catando as roupas pelo quarto de maneira displicente. Ela se ajoelha sobre a cama, a expressão pedinte.
- Mas eu quero mais de você.
- Nem sempre as coisas são como a gente quer, princesa.
- Você tem me dito isso vezes demais.
Ela diz, cruzando os braços feito criança e sustentando um olhar teimoso, rebelde, tão cheio dela que quase faz ele rir.
- E você tem feito essa cena vezes demais. Você sabe que eu não posso ficar.
- Eu só queria que você demonstrasse, pelo menos um pouco, que queria ficar comigo aqui. Que, se pudesse, me amaria pra sempre e essas babaquices.
E aí ele sorri e, ainda sem a camisa que repousa em algum lugar perto do corredor, se aproxima devagar, com os olhos castanhos brilhando o maior amor que ela vê em semanas. Ela mantém o beicinho, no entanto, e ele ergue seu rosto, trazendo-a para perto, os dedos carinhosamente segurando seu queixo e elevando-a para um estado de espirito oh, tão beijável.
- Eu vou te amar pra sempre e essas babaquices. Só não pode ser agora. Só não pode ser ainda. Você sabe bem como as coisas são: seu pai me detesta, meu emprego é uma merda, a faculdade tá me matando e eu preciso cruzar duas cidades pra te ver. Mas vai dar certo, princesa. A gente sempre dá.
- Eu tô cansada de esperar. De ficar com você escondida, de ter que te contrabandear pra dentro e pra fora da minha casa, das minhas paredes, de mim.
- Você quer desistir?
E ela estaca, o peso das palavras dele sacudindo tanto seu peito que ela tem medo de quebrar. Ela se inclina e o beija então, impulsivamente, desesperadamente, quente. Ele a segura com cuidado, os dedos ainda correndo o carinho pelo rosto, o gesto pausado demais pra intensidade dela. Ela não consegue parar de beijá-lo.
- Não.
É a unica palavra que lhe escapa entre os beijos, e ele sorri e ela o abraça, o desespero parecendo escorrer enquanto as peles se tocam. E suas unhas o arranham por um segundo, mas ele não diz palavra por que gosta, por que se sente especial sabendo que ela se marcou na pele das suas costas.
Ele suspira o contato intimo demais, querendo mais dela outra vez. Mas não pode. Tem que ir embora. Já é quase dia, de todo modo e ele tem que trabalhar logo mais.
- Você vai precisar me deixar ir, eventualmente. Já é quase hora do seu irmão bater na sua porta, além do mais.
- Ele que vá…
Ele ri e ela suspira, tornando leve, finalmente, o toque e o ar em volta deles. Ele deposita um beijo em sua têmpora e ela sorri, conquistada, apaixonada, derretida.
- Quando você volta?
- Eu não sei. Quarta-feira? - Ela geme, infeliz e ele morde o lábio, para não mordê-la. - Eu te ligo.
- Eu te espero.
Ela sussurra, e ele a beija uma ultima vez antes de se afastar. Calça os sapatos de qualquer jeito e se aproxima da porta do quarto, dando uma olhada cautelosa no corredor pra garantir que o irmão, com quem ela divide o apartamento, ainda está dormindo no próprio quarto. Ele ri da infantilidade da situação por um breve segundo e depois de, finalmente, colocar o corpo pra fora do cômodo (e localizar a camiseta, desleixadamente jogada contra a porta do banheiro) ele se vira, incapaz de evitar:
- Eu te vejo?
- Não se eu te ver primeiro.
E com um ultimo sorriso que parece gravado a fogo nas retinas dela, ele vai embora.

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