01 abril 2010

Despedida.

 ­ Como a minha garota tinha pedido, nós terminamos na véspera da viagem para a faculdade. Foi uma despedida estranha. Nós passamos o dia todo juntos, dormimos juntos, e pela manhã nós ainda éramos um casal, mas sabíamos que estava acabando ali. Eu queria chorar, mas tinha prometido a ela que não o faria. E eu não o fiz.
 ­ Ela não quis uma festa de despedida, então passei o dia acompanhando-a, levando-a na casa de todos, vendo-a se despedir de todos que fizeram parte da nossa vida até ali. Aquela mudança, e eu sentia isso no ar ao redor de nós, era permanente, imutável. Aquela partida era para nunca mais regressar. Aquele era um adeus de verdade, das pessoas, da cidade, das paredes. Nós não íamos voltar ali.
 ­ Fiquei surpreso por não vê-la derramar nenhuma lágrima, mesmo enquanto falava com as amigas que a acompanharam desde sempre. Ela sorriu quando se despediu delas, e prometeu voltar para vê-las, e prometeu sentir saudades. Me vi dizendo aquelas coisas para as pessoas também, depois de algum tempo. Eu também partiria em breve, e eu quase me esquecera disso. Eu mergulhara tanto na partida dela, que quase esquecera de mim. Eu, que seria outro quando nos reencontrássemos. Mais maduro, mais preparado, nos trilhos certos para realizar o meu sonho. Mas, e disso eu tinha certeza, ainda seria dela. Eu sempre seria dela.
 ­ Eu ainda a levei ao aeroporto naquele dia, e só então eu a vi derramar algumas lágrimas. Ela me disse, sorrindo, que era fraca e que estava quebrando a promessa. Mas que ela seria forte dali pra frente, e que não voltaria a fazê-lo.
- Você não chorou quando se despediu das suas amigas, ou dos seus pais. – Eu disse, quase achando graça.
- É mais fácil com eles, eu acho. Eles não fazem parte de mim do jeito que você faz.
- Sua mãe ficaria ofendida. – Eu ri, de leve. Era quase superficial.
- Ela já não gosta muito de você mesmo.
- O que é meio injusto, você sabe.
 ­ Ela riu e o som era tão leve quanto o da minha própria risada. Não machucou muito. Coisas piores me machucavam agora. A solidão que eu sentiria em minutos, por exemplo.
- Ora, você levou a menininha dela e a tornou uma mocinha. – Ela disse, e o tom se tornou parecido com o que a mãe dela começou a usar comigo depois da nossa primeira vez. – Como ousou fazer isso com a menininha dela?
- Bem, você parece mais que isso pra mim.
- Eu sou. Mas a culpa é só sua. – Ela disse, pondo o dedo sobre o meu nariz, e um sorriso sapeca tomou conta dela.
 ­ Ficamos em silencio por um momento, e eu tirei sua mão de meu rosto, apenas para segurá-la e acompanhar as linhas com o olhar. Eu tinha medo de olhar nos seus olhos e me despedir. Mas eu teria que fazê-lo, a qualquer momento. Eu só não queria deixá-la partir.
- Quando voltaremos a nos ver?
- Não me faça perguntas que eu não posso responder. Eu não sei. Espero que em breve.
- Eu também. Eu... vou sentir a sua falta.
- É claro que vai. – Ela afirmou. – Eu não quero ouvir o contrário de ninguém. Sinta minha falta pra sempre. Sempre lembre-se de mim. Me promete?
- Não havia nem a necessidade de você pedir. – Eu disse, sorrindo pra ela, sentindo meu peito queimar pela força com a qual eu segurava as minhas lágrimas.
- Vai passar rápido. – Ela disse, e eu podia sentir a esperança na voz dela.
- Vai se arrastar, como sempre acontece quando estamos separados.
- Não seja pessimista, bobinho. Vai dar tudo certo.
- Não consigo ver como.
- Seja forte. Por mim. – Foi golpe baixo, e eu sabia que ela também achava. Ela tinha total consciência que eu faria qualquer coisa por ela.
 ­ Concordei sem sons, mas eu sabia que ela entendera. Eu já não tinha palavra alguma para respondê-la, e ela não precisava de nenhuma. Nós já haviamos passado dessa fase de palavras, consentimentos e negativas. Eu simplesmente seria forte, por que ela pedira. Eu seria qualquer coisa. Qualquer um.
 ­ Passei meus braços pelo corpo pequeno dela, tomando-o pra mim. Eu sentiria tanta falta daquilo, do nosso contato, das nossas conversas. Eu sentiria falta de olhar pra ela e saber o que se passava, de ler através de todo e qualquer pretexto que ela inventasse. Eu sentiria falta de ser “nós”, agora que seria apenas eu.
- Eu te amo. – Eu sussurrei no ouvido dela e a senti estremecer em meus braços.
- Eu também.
 ­ Foi a resposta quase inaudível dela. A apertei mais em meus braços, desejando nunca soltá-la, e nós trocamos um ultimo beijo ali no saguão do aeroporto, antes dela me dar as costas.
 ­ Eu não esperei o avião sair pra sumir daquele lugar e deixar minhas lágrimas descerem livremente. Eu me sentia estranhamente dilacerado, e por mais piegas que isso possa parecer, eu realmente sentia que aquela que eu sempre chamaria de minha tinha levado uma parte de mim com ela. E eu nunca a esqueci, nem por um momento, por todo o tempo em que ficamos separados. E eu fui forte, e nunca chorei. Mas a lembrança esteve sempre lá. Me aquecendo. Esperando.
 ­ E eu nunca a esqueci.
 ­ E eu nunca a esqueci pra sempre.

2 comentários:

  1. LIIIINDO, Thaináá!
    Sem palavras!!
    Perfeito! *-*
    Adoro-te.
    Beeijos

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  2. lindo demais mesmo!!!!!!!!!

    Muitíssimo bom, emocionante, de verdade!!!

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agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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