05 outubro 2010

Fulgaz.

As lágrimas rolavam continuamente, como um rio. Os olhos já não eram visíveis por detrás daquela cachoeira. Ela não conseguia ser feliz.
- Só me promete que não vai me deixar. - Ela implorou.
Os olhos dele estavam insondáveis.
- Não sei se posso. Droga, não sei nem mesmo se quero.
- Mas...
- Eu quero seguir em frente, certo?
- E me deixar pra trás?
A voz era triste. Não havia nela resignação ou desespero ou traição. Só dor. Pura e intensa.
Ele não respondeu.
Ela sentiu solidão.
- Eu nunca aprendi a ser sozinha, sabe. Sempre estive rodeada, mesmo que constantemente abandonada. Idas e vindas constantes, companhias rápidas, intensas e inesqueciveis que se iam assim que eu me acostumava a tê-las. E não é justo que tudo que eu vá ter de qualquer coisa são lembranças. Lembranças de um pai, de uma família, de amigos. De um lugar feliz, de pessoas especiais. Tudo o que eu posso ser é lembrança? Tudo o que eu posso ter é um pequeno intervalo de tempo na vida de alguém?
Ele não a olhava. Não tinha coragem de procurar os olhos sinceros e doloridos e lhe dizer que não podia fazer nada. Que, cedo ou tarde, iria partir.
- Eu não sei. Não tenho as respostas, tampouco.
Ela se abraçou, ainda chorando. Tanta solidão a engolia ultimamente. E ela sentia tanto frio.
- Eu tenho medo. Eu não quero viver de solidão. Quero viver de algo mais.
Ele suspirou, culpado. Partiria também, antes que ela se desse conta, e não havia nada que pudesse ser feito para evitar. A vida o levaria, como levara tantos outros, dos caminhos daquela pequena companheira. Da querida amiga que em breve seria de outrora.
- Então respira um pouco de companhia. Aproveita-a bem e guarde para os dias chuvosos e de trânsito ruim. E se deixa existir. Viver, de fato, é para poucos.

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