18 setembro 2010

"Não é que eu não ame você"

Eles se olharam tensos, e ela parecia chocada com o que tinha acabado de ouvir. Seus olhos azuis estavam intensos, elétricos, de repente muito vivos para o rosto pálido contornado pelo cabelo loiro demais, quase branco. Mas ela ainda era linda. Mesmo com aquela expressão (entre o ofendida e o irritada), ela ainda era uma das garotas mais lindas que ele jamais veria.
"Linda demais para sofrer de amor", dissera-lhe certa vez o pai, seu confidente mais fiel, quando ela lhe confessara que se apaixonara por alguém que não era capaz de amar ninguém, nem a sí mesmo - que dirá a ela.
Linda demais para sofrer de amor? E isso lá existia?!
E agora ali estava ele, o sem-vergonha, lhe pedindo, sem nenhum pudor, que o ajudasse. Lhe pedindo que se traísse.
Bem papai, você estava obviamente errado.
- Você sabe que eu amo você, não é?
- Sei.
- E ainda sim pretende me pedir isso? Abusar assim? - De mim? Do meu amor?, ela poderia ter acrescentado, mas soaria por demais dramático. Ela não estava estrelando uma série adolescente, no final das contas.
Ele suspirou de leve. Parecia debater consigo mesmo algo importante. Ela imaginou por um segundo vê-lo corar, mas não era possivel. Não aquele cara. E quando ele levantou os olhos para ela, não havia nem a sombra de qualquer traço de rubor em seu rosto.
- Não é que eu não ame você. É só que eu ainda não estou pronto pra admitir.
A boca de Anie se abriu num pequeno "ah" enfezado.
- Você não presta.
- Eu sei. Mas ainda sim você me ama.
- Por que eu sou muito idiota.
- Não, não é não. É por que eu sou o cara certo pra você.
- Não parece, hein.
- Eu sei. Mas é só que essa ainda não é a hora certa. Falta só um pouco.
- Um pouco? - Ela perguntou, achando até graça. Ele estava mesmo, mesmo, lhe pedindo para esperá-lo? Aquele safado?
- É. Um pouco, e eu vou poder amar você. Direito.
- Direito.
Ela repetiu, sem tom. Ele sorriu. Ela baixou os olhos, para não se deixar levar pelo sorriso branco demais e quente demais do cara que ela amava.
- Eu ainda não...
- Fica quieto. Eu vou fazer como que você quer. Mas eu não quero ouvir nem uma palavra sobre nada disso. E também não quero mais ouvir sobre esse "um pouco". É ridículo.
E o sorriso dele ficou ainda maior.
- É por isso que eu amo você.
- Não, não ama não. Quem te ama sou eu. Você é só um cara que não presta.
- Eu sei. Mas eu sou o cara que não presta que você escolheu.
Ela murmurou um "blablabla" sem som e ele soltou um risinho. Os olhos azuis de Anie pareciam querer comê-lo, então ele lhe segurou a mão, tranquilo. Alisou os dedos compridos de unhas bem feitas. Ele gostava dela. Mesmo. Mas ainda não estava pronto. Ele ainda não podia garantir que não a machucaria. Não de verdade.
- Relaxa. Vai tudo se encaixar no final.
E ela não olhou pra ele, por que tinha certeza de que ele estava certo. Cedo ou tarde, ele ia acabar admitindo. E talvez, só talvez, ela ia poder descobrir que ele prestava. Ela acreditava nisso.
Só um pouco.

Um comentário:

agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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