03 junho 2013

Segundo Encontro

 

- Vou te ligar mais tarde, então.
Ele avisa, sorrindo suave pra mim.
- Tudo bem.
Eu digo, não muito certa do para onde isso está caminhando.
- Eu encontro você no salão? Na Igreja? Não fui a muitos casamentos, não tenho certeza.
- Oi?
- O Casamento. Eu vou com você, lembra?
Minhas sobrancelhas se levantam sem ordem específica. Estou surpresa.
- Isso nunca foi acordado, se bem me lembro.
- Foi sim. Tenho certeza. Eu, você, encontro, casamento, beijos e a sua avó. Tenho certeza de que cobrimos isso em algum momento da noite. Não finge que esqueceu; você não estava bebendo.
- Eu lembro da conversa. – Eu digo, indignada. – Eu não lembro é de ter concordado com isso. Aliás, lembro-me de ter dito algo pelas linhas de “nem pensar” e “a gente se conhece há dois dias”.
- Detalhes.
- Sério, você não pode ir. Eu nem tenho convite sobrando.
- Vou ser seu “mais um”.
Fecho meus olhos, pressentindo um desastre. Ele me beija, o que me pega de surpresa, devo admitir. Ele está tentando me subornar, tenho certeza.
- Sossega.
- Então estamos acertados.
Sacudo minha cabeça, vencida.
- Que seja. Se você quer se enfiar no meio de toda a família de uma perfeita estranha, vá em frente. Não vou te impedir.
- Não?
Ele exibe a vitória nos olhos, e parece tão bonito pela manhã que quero beijá-lo de novo.
- Só me liga mais tarde e a gente marca um lugar.
- Quer que eu vá te buscar?
- Outra cidade, lembra? Não se preocupe comigo.
Ele simplesmente sorri então, parecendo satisfeito que tenha me dobrado, afinal. Prefiro evitar pensar sobre isso, que é pra não ficar desenhando todas as situações estranhas pelas quais, certamente, vou passar mais tarde. Ele me tira de mim e beija mais uma vez, repentinamente cheio de energia, e eu me deixo abraçar, me deixando encaixar em seus braços. Não sei mesmo quando ficamos tão familiares.
Afastamo-nos devagar e sorrimos, um sorriso em que não cabe muito bem em minha normal timidez de fim de festa. Reviro os olhos quando ele parece bobo demais á minha frente, por que sei que ele só o faz para impedir que um gelo se forme entre nós.
- Até mais tarde, então, né...
- Fica mais alegrinha, vai. Isso é legal.
- É claro, é claro.
- É sério. – Ele diz, e soa tão terrivelmente natural que eu me pergunto se ele costuma frequentar casamentos de estranhos comumente. – Quero dizer, quantas vezes você já saiu da balada com um encontro marcado? É raro, hã?
- Não é muito um encontro, né, no casamento da minha prima e tudo.
- É claro que é. - Ele me dá um selinho que se demora sobre meus lábios por um segundo a mais, e se afasta com uma risada. - É por que isso é diferente. Espera só.
- Não faça promessas ainda, bonitinho. Você está prestes a conhecer todos os meus tios ciumentos e minhas avós bobas. E você nem ao menos me conhece direito, ainda.
Ele ri, parecendo seguro de si (e de mim, o que é ainda mais estranho).
- Vale a pena.
É tudo o que ele diz ao me beijar uma última vez e ainda outra última antes de sair, perigosamente satisfeito, em direção aos pontos de taxi. E eu tenho certeza de que fiquei louca e cacei todo tipo de problema quando recebo a mensagem, menos de quinze minutos depois que nos separamos:

E isso é, sim, um encontro. Espera pra ver.

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