02 julho 2009

Sobre sentidos



Sentada num banco alto e com o olhar fixo na mesa, dividia sua aflição apenas com um amigo que considerava do peito, mas que na verdade, era apenas próximo. Você nunca é capaz de saber quem realmente é amigo hoje em dia, e a menina, na sua inocência, era ainda mais incapaz. Acolhia todos à sua volta de bom grado, e esperava que o contrário também acontecesse. Ela queria ser acolhida, afinal.
Encarou a folha em branco pelo que pareceram horas a ambos. As feições - que não eram de todo bonitas - estavam quase que retorcidas, procurando alguma inspiração e lógica para realizar a tal tarefa que a folha em branco lhe pedia aos berros, mas ela não se sentia capaz de seguir uma única linha de raciocínio por muito tempo. Na verdade, ao final do parágrafo, já esquecera o que escrevera no início.
- Eu...preciso fazer sentido? - A menina perguntou, parecendo confusa e perturbada somente com a idéia.
- Eu... acredito que não. - O outro respondeu. Não olhava pra ela, nunca o fazia, mas estava atento a conversa tanto quanto podia.
- É que... eu acho que não sei fazer sentido. - Ele riu. - Estou falando muito sério aqui.
- É inevitável, desculpe. - Disse ele, referindo-se ao riso. - Mas enfim, é claro que você sabe fazer sentido.
- Eu nego. - A pequena respondeu, convicta. - Eu não sou capaz de me entender, como outras pessoas...?
- Talvez a sua confusão faça sentido para alguém. - Ela o mirou, descrente. - Existem milhões de pessoas pelo mundo. Quem te garante que pelo menos uma nao vai entender o que você diz?
- Estou confusa. - Ele riu. - Pare de rir.
- Desculpe, meu bem. Mas acontece que a sua confusão é engraçada.
- Então porque eu não acho?
- Porque você é o sujeito. - Ele deu mais uma risadinha. - Não se preocupe. Tudo vai ficar bem.
- E minha única opção é acreditar em você?
- Se você encontrar alguma outra, fique a vontade.
- Tudo bem, eu fico com você. - Ele riu. - Mas que fique claro que é por falta de alternativas.
- Claro, claro, meu bem.
- E a tarefa? Ande, me ajude!
- Ora, meu bem. É simples: Não faça sentido.

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