18 novembro 2009

Vítima, Definição.

E o ar fresco era algo bom, pra variar, já que eu e a minha realidade obscura viviamos em alguma atmosfera de puro enxofre. Eu não tinha nenhuma noção de tempo ou espaço, nem de como andava pelas ruas mortas da cidade viva, mas caminhava, guiada pelo instinto que me levava para casa todos as noites depois do meu trabalho entediante. Rotina.
Talvez ele, o instinto, fosse homicida ou suicida ou só não prezasse por coisa alguma. O fato é que naquela noite, me levou àquela ruela nua, apagada e morta. Onde eu morri. Assim, de repente, num estampido. Um estalo, um zunido e um beijo.
Beijo da morte.
E então, quente e rápido, veio o sangue. E antes que pudesse tocá-lo ou entendê-lo, a queda. E sem vida, no chão, eu percebi: era vítima. E como tal, fui prenchida por dor e gelo. Por percepção. Pelo secreto dom da observação.
Sabe Deus qual era o sentido daquilo, o porquê daquele frio, a razão daquele tiro.
E o tempo era espaço, era infinito, era angustia e eu via o sangue fluir, manchar e se espalhar.
E eu não via luzes, flashes ou alguma escuridão clichê, eu só via a rua vazia de um ângulo errado, meio de lado, e escutava alguma risada ao longe, de gente feliz. De gente que ia sobreviver aquela noite não-tão-colorida.
E eu ali, caída, vítima da corriqueira violência que nos dá bom dia pela manhã. Mais uma, eu era agora estátistica, dado, sem rosto ou sabor. Eu era indigente por definição.
Eu era a definição manchada de sangue.

2 comentários:

  1. Muito bom!!!
    Assim, meio suspense e sombra.
    Adoro textos assim, também.
    Beeijos

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  2. Juro que fiquei curiosa.

    Quem a matou? Por que a mataram? E por que a risada?

    hahahaha
    ;*

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agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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