Ela corre por aí desde pequena, pulando das pedras da cachoeira, pulando das escadas, ela pula. Ela joga terra nos vizinhos, ela odeia os gatos, ela não se preocupa em abaixar a voz. Ela era má influência, ela era assustadora, ela era a errada. A única certeza que tinham dela era que era imprevisível e todos os seus atos eram temidos. Ninguém nunca esqueceu como ela reagiu quando o cachorrinho morreu e ninguém desconhece o culpado de todas as explosões de adrenalina e de tijolos da cidade.
Seus porquês são um mistério. Provavelmente nem ela sabe porquê ela é assim.
Ela destroçou o coração do mocinho, ela esqueceu o nome do cara por quem se apaixonou, ela nem imaginava quantos ela já tinha beijado naquela unica noite. Ela não se considerava fácil, ela não se achava grande coisa, ela não pensava em si mesma e nem nos outros. Ela negou o pedido de casamento, ela desprezou a promoção, ela esqueceu do carnaval. Ela abraçou o perigo, ela beijou o desconhecido, ela se entregou ao incerto. Ela fechou os olhos e atravessou a rua, ela correu nua pelo calçadão e conseguiu escapar da polícia. Definitivamente, ela não tem jeito. Nunca teve. E pra esse caso sem solução não há nada a fazer; ela faz tudo para sí mesma. E não há nada que se possa acrescentar, ela já é suficiente. Problema o suficiente, mulher o suficiente, maravilhosa o suficiente. Ela é bitch, ela é divertida, ela é dada; definitivamente, ela é o que quer ser.
Definitivamente, não há nada que eu possa dizer para defini-la. Ela é definitiva o suficiente também. Pra mim, pelo menos. Pra ela. Pra quem quiser.
27 julho 2009
17 julho 2009
A Falha dos Contos de Fada.
Os mocinhos sempre tem final feliz. Isso é tão verdadeiro quanto que os vilões da história sempre são pegos no final. E mesmo que eles não recebam a devida punição, pelo menos a máscara cai e nós temos a quem culpar por todo o estrago e caos. É clichê, mas é o natural.
Mas e os coadjuvantes da história? Os melhores amigos dos mocinhos, as meninas apaixonadas desde a infância, os caras divertidos que dão leveza aquelas histórias velhas e sem graça que são os contos de fada? Eles não tem direito ao seu final feliz? Eles não deviam ter a chance também? Afinal, muitos e muitas delas são tão mais incriveis que os mocinhos e mocinhas, sempre tão revoltantemente corretos, tão mais pessoas de verdade. É muito mais fácil se afeiçoar a esses, a se encontrar neles, acolhê-los e esperar que consigam o seu próprio feliz-pra-sempre.
Mas o que encontramos? Toneladas de melhores amigas de coração partido, chorando nos cantos das cerimônias suntuosas dos casamentos dos mocinhos revoltantes. Quilos e quilos de caras engraçados largados ao relento, olhando de longe enquanto a melhor amiga se agarra ao mauricinho da história, o bonzinho rapaz que roubou o coração da sua amada para sempre e sempre. E no fim, eles sempre são obrigados a desistir. Eles nunca chegam lá. Nunca conseguem alcançar o amor de suas vidas, e são sempre condenados a ficarem "felizes" vendo a felicidade do seu amor- com outra pessoa.
O que isso diz sobre a vida, sobre o conto de fada que supostamente é a nossa vida? O que te resta esperar quando você definitivamente não é o mocinho ou a mocinha da história? Se você é só o melhor amigo?
Eu digo, definitivamente nós, os coadjuvantes, temos que fazer um levante. Não é possível, não é aceitável que nós não possamos ser felizes. Exijam seu final feliz. Corram atrás dele, não desistam, não abram mão. Façam sumir os finais clássicos dos contos de fada, façam desaparecer a preferência da vida pelos mocinhos. Afinal, fadas não existem, mas os vilões estão por todos os lados. A ingenuidade está totalmente fora de moda e nós, os coadjuvantes, somo muito reais e perceptivos para perecermos sozinhos.
Criem os seus finais, e acabem logo com essa regra estúpida.
Eu já cansei de mocinhos.
14 julho 2009
Férias.
Mais um.
Só mais um.
Acredite só se quiser, mas ela já não era capaz de dizer - ou pensar- mais nada. Conseguia ficar quase alegre com isso, o pensamento da liberdade, mesmo que para chegar até lá ela tivesse que rolar por alguns degraus antes. Ela já caíra da escadaria mesmo. Um ou outro degrau, uma ou outra turbulência, à essa altura, não era nada. Ela já passara pelo pior. Ou pelo menos, por coisas piores que aquelas, que uns poucos degraus até o chão. Até o fundo.
Só mais um.
Só mais um dia e ela nem pensaria no assunto. Claro que não definitivamente, não ainda, mas por algumas longas semanas. Que fossem horas, desde que fossem. Ela precisava daquele tempo para recostar a cabeça no travesseiro e pensar que o mundo não era nada, que podia rodar a vontade e ela não precisaria seguir com ele. Paz.
Ah, só mais um dia.
Um dia e paz.
Só mais um.
Acredite só se quiser, mas ela já não era capaz de dizer - ou pensar- mais nada. Conseguia ficar quase alegre com isso, o pensamento da liberdade, mesmo que para chegar até lá ela tivesse que rolar por alguns degraus antes. Ela já caíra da escadaria mesmo. Um ou outro degrau, uma ou outra turbulência, à essa altura, não era nada. Ela já passara pelo pior. Ou pelo menos, por coisas piores que aquelas, que uns poucos degraus até o chão. Até o fundo.
Só mais um.
Só mais um dia e ela nem pensaria no assunto. Claro que não definitivamente, não ainda, mas por algumas longas semanas. Que fossem horas, desde que fossem. Ela precisava daquele tempo para recostar a cabeça no travesseiro e pensar que o mundo não era nada, que podia rodar a vontade e ela não precisaria seguir com ele. Paz.
Ah, só mais um dia.
Um dia e paz.
11 julho 2009
abrindo o sol.
Senti o telefone vibrar no bolso e já prevendo quem era, o ignorei. O sol queimava minhas pálpebras e aquecia tudo que era eu, e eu me sentia satisfeita por poder apreciar o fim de tarde que eu tanto gostava sem realmente me preocupar com ninguém. Me sentia rebelde e ingrata pela minha desconsideração, mas a sensação era quente e provocativa, de algum modo satisfatória.
Sabia que o toque viria me incomodar a qualquer momento. A música nunca pararia até eu atender o pedido de socorro da voz que sairia triste e desesperada do outro lado, mas eu estava disposta a escutá-la (a música) até que deixasse de tocar. Não estava disposta a perder o fim de tarde em troca de uma transtornada conversa sobre problemas sem solução. Ou que nao queriam ser solucionados. Eu realmente não queria me deixar engolir pela realidade que até pouco me engolira, a realidade que eu lutei tanto pra abandonar. Eu estava segura longe dela, e nao estava preparada pra voltar. Provavelmente, nunca estaria.
Abracei a mim mesma e me deixei sentir o Sol. Era bom, quente e reconfortante. E pensando em como eu não conseguia ver razão de ser nisso até poucos dias atrás - quando uma mão amiga me puxou pra fora do véu negro que tentava me empurrar poço abaixo - eu percebi o quão egoísta estava sendo. Ignora-la, deixar de ajudá-la, embora agora parecesse cômodo, não era justo. Ela precisava de mim, assim como eu precisei de um ombro, e eu sabia disso. A unica diferença entre as nossas situações é que eu procurei ajuda e não recebi. Eu fui ignorada na única vez em que queria atenção. Ela, bem, ela não queria ajuda, mas ainda sim eu ia dá-la. Era meu dever, era minha obrigação como pessoa que se importava com ela.
Suspirei e perdi meu olhar uma ultima vez no mar vermelho antes de apertar o botão que abria a porta para o mundo real e escuro da minha melhor amiga. Era hora de fazer alguma coisa de verdade, de abrir o sol para mais alguém. Quase pude sorrir quando pensei na minha felicidade - e na dela - quando ela fosse capaz de sentir o calor também. De entender e apreciar isso. Quase contente com essa predição - da felicidade - eu me armei de paciência e de uma fé inabalável e confiante em Deus, no sol, no amor do mundo. Estava pronta para o send. Hora de enfrentar o escuro.
- Alô?
Sabia que o toque viria me incomodar a qualquer momento. A música nunca pararia até eu atender o pedido de socorro da voz que sairia triste e desesperada do outro lado, mas eu estava disposta a escutá-la (a música) até que deixasse de tocar. Não estava disposta a perder o fim de tarde em troca de uma transtornada conversa sobre problemas sem solução. Ou que nao queriam ser solucionados. Eu realmente não queria me deixar engolir pela realidade que até pouco me engolira, a realidade que eu lutei tanto pra abandonar. Eu estava segura longe dela, e nao estava preparada pra voltar. Provavelmente, nunca estaria.
Abracei a mim mesma e me deixei sentir o Sol. Era bom, quente e reconfortante. E pensando em como eu não conseguia ver razão de ser nisso até poucos dias atrás - quando uma mão amiga me puxou pra fora do véu negro que tentava me empurrar poço abaixo - eu percebi o quão egoísta estava sendo. Ignora-la, deixar de ajudá-la, embora agora parecesse cômodo, não era justo. Ela precisava de mim, assim como eu precisei de um ombro, e eu sabia disso. A unica diferença entre as nossas situações é que eu procurei ajuda e não recebi. Eu fui ignorada na única vez em que queria atenção. Ela, bem, ela não queria ajuda, mas ainda sim eu ia dá-la. Era meu dever, era minha obrigação como pessoa que se importava com ela.
Suspirei e perdi meu olhar uma ultima vez no mar vermelho antes de apertar o botão que abria a porta para o mundo real e escuro da minha melhor amiga. Era hora de fazer alguma coisa de verdade, de abrir o sol para mais alguém. Quase pude sorrir quando pensei na minha felicidade - e na dela - quando ela fosse capaz de sentir o calor também. De entender e apreciar isso. Quase contente com essa predição - da felicidade - eu me armei de paciência e de uma fé inabalável e confiante em Deus, no sol, no amor do mundo. Estava pronta para o send. Hora de enfrentar o escuro.
- Alô?
09 julho 2009
a morte da protagonista.
A folha em branco me encarava. E eu não tinha nada pra escrever nela. Prometi escrever a minha irmã uma carta falando sobre as novidades, falando sobre os dias no hospital, as visitas que recebia, sobre a minha melhora no tratamento. Infelizmente essa ultima parte não era verdade, mas eu jamais iria dizer isso a ela. Minha dedicada irmã provavelmente despencaria de Paris, onde ela estuda moda hoje, só para me ver definhar nessa cama onde eu certamente morrerei daqui há semanas, se tiver sorte. Eu não quero que ela passe por isso, nem quero passar tampouco. Quero que as pessoas tenham lembranças felizes de mim, e que pensem que eu estava feliz, no fim. Mesmo que eu não estivesse. Mesmo que doesse e eu tivesse que agüentar calada. E eu quase podia sentir meu sangue fluindo, pingando, manchando a ponta do lençol. Infelizmente, pra mim, eu só quase podia fazer isso. E quando o vermelho vivo tomou conta da cama, já era tarde demais para pedir socorro. Morri.
05 julho 2009
E era incrível o quanto era quente e o quanto era bom. Mesmo que não fosse de verdade, que não fosse eu, que não fosse meu.
Eu estava aquecida, eu estava feliz.
E naquela hora de felicidade, de madrugada, eu era completa, eu estava cheia do sentimento que nao podia viver, mas que sentia, por outros.
Eu amava.
E eu era feliz.
Eu estava aquecida, eu estava feliz.
E naquela hora de felicidade, de madrugada, eu era completa, eu estava cheia do sentimento que nao podia viver, mas que sentia, por outros.
Eu amava.
E eu era feliz.
02 julho 2009
Sobre sentidos
Sentada num banco alto e com o olhar fixo na mesa, dividia sua aflição apenas com um amigo que considerava do peito, mas que na verdade, era apenas próximo. Você nunca é capaz de saber quem realmente é amigo hoje em dia, e a menina, na sua inocência, era ainda mais incapaz. Acolhia todos à sua volta de bom grado, e esperava que o contrário também acontecesse. Ela queria ser acolhida, afinal.
Encarou a folha em branco pelo que pareceram horas a ambos. As feições - que não eram de todo bonitas - estavam quase que retorcidas, procurando alguma inspiração e lógica para realizar a tal tarefa que a folha em branco lhe pedia aos berros, mas ela não se sentia capaz de seguir uma única linha de raciocínio por muito tempo. Na verdade, ao final do parágrafo, já esquecera o que escrevera no início.
- Eu...preciso fazer sentido? - A menina perguntou, parecendo confusa e perturbada somente com a idéia.
- Eu... acredito que não. - O outro respondeu. Não olhava pra ela, nunca o fazia, mas estava atento a conversa tanto quanto podia.
- É que... eu acho que não sei fazer sentido. - Ele riu. - Estou falando muito sério aqui.
- É inevitável, desculpe. - Disse ele, referindo-se ao riso. - Mas enfim, é claro que você sabe fazer sentido.
- Eu nego. - A pequena respondeu, convicta. - Eu não sou capaz de me entender, como outras pessoas...?
- Talvez a sua confusão faça sentido para alguém. - Ela o mirou, descrente. - Existem milhões de pessoas pelo mundo. Quem te garante que pelo menos uma nao vai entender o que você diz?
- Estou confusa. - Ele riu. - Pare de rir.
- Desculpe, meu bem. Mas acontece que a sua confusão é engraçada.
- Então porque eu não acho?
- Porque você é o sujeito. - Ele deu mais uma risadinha. - Não se preocupe. Tudo vai ficar bem.
- E minha única opção é acreditar em você?
- Se você encontrar alguma outra, fique a vontade.
- Tudo bem, eu fico com você. - Ele riu. - Mas que fique claro que é por falta de alternativas.
- Claro, claro, meu bem.
- E a tarefa? Ande, me ajude!
- Ora, meu bem. É simples: Não faça sentido.
sem texto.
Ela não escrevia nada há semanas.
Pensava as frases, as sentenças, as histórias, mas não era capaz de traduzi-las. E ficava assim, encarando a folha vazia, caneta na mão, por minutos imensuráveis.
Sem saber por onde começar, onde terminar ou como ligar os fatos.
Coçava o rosto, se descabelava, berrava e desistia.
Talvez depois.
Depois.
Talvez.
Pensava as frases, as sentenças, as histórias, mas não era capaz de traduzi-las. E ficava assim, encarando a folha vazia, caneta na mão, por minutos imensuráveis.
Sem saber por onde começar, onde terminar ou como ligar os fatos.
Coçava o rosto, se descabelava, berrava e desistia.
Talvez depois.
Depois.
Talvez.
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