- E se você quer saber, eu tô cansada. Cansada de ter que me explicar, de ter que engolir minha tristeza, de ter que disfarçar. Tô cansada de sentir tudo isso e não ter o que fazer, de te encarar nos olhos sem resposta a dar quando você pergunta "mas o que você quer?". E eu fico tão irritada de te ver tentar, me olhar de cima, do alto do pedestal de "comigo está tudo bem, obrigada" e "ai que dó, tadinha, vive em dor". E eu sei que a culpa não é sua e que você quer ajudar, mas é como eu me sinto, ás vezes. É que eu tô navegando sem rumo, eu tô em dor em alto mar e não tem nada que eu possa fazer sobre isso. Eu não quero pena e eu não quero que você me dê uma resposta, eu só não quero palavra vazia, uma opção sem sentido. Eu já me sinto impotente. Eu me sinto demais.
E ele se cala e a encara e tampouco tem palavras, por que ele não sabe bem, e nunca soube, o que fazer por ela. E ele procura os olhos castanhos, cheios d'água e abre os braços e a engolfa, a embala, a aproxima tanto que, por momentos, eles são um. Ela fecha os olhos e abraça o peito e tenta esquecer do mundo na sensação de casa que ele sempre é.
(Por que já faz tempo que ele é sua única certeza).
- Não se desfaz, por favor.
Ele pede, ele implora, ele sussurra e a lágrima dela escapa, incapaz de morar dentro do castanho por mias um segundo que fosse.
- Tá tão difícil.
- Eu não sei. Eu queria saber, mas eu não sei. Pra mim nunca foi tão ruim. Mas fica firme. Por favor. Não vai embora de mim, tá? Não vai.
E ela silencia e se afasta um pouco, só um pouco, para olhá-lo nos olhos. Porque o castanho dele sempre foi corda de segurança, sempre foi motivo pra manter pé firme no chão, apesar de tudo. E ela precisa ficar, precisa permanecer com ele. Por que aí já dói bem menos.
- Não me deixa partir, então. Me deixa ficar bem aqui.
E ele a puxa de volta, num abraço meio sem jeito, sem angulo, por que a única certeza que ele tem quando o assunto é a tristeza dela é que ele pode segurá-la no peito e mantê-la aquecida. Ele pode amá-la, e disso nenhum dos dois nunca esquece.
- Eu prometo que no final vai ficar tudo bem.
- Como você pode prometer uma coisa dessas, seu bobo? Você não sabe.
- Eu acredito. E nem é só isso, nem é apenas fé; é lógica. Quero dizer, nós dois estamos bem, não é?
- É claro. Nós somos a única coisa certa em mim nesse momento.
- Então pronto. Se a gente ficar junto, vai ficar tudo bem. Simples assim. Então espera. Respira. Eu prometo que no final tudo vai dar certo.