20 janeiro 2013

Amizade em Conversas Hipotéticas (I)

- Se você quiser falar sobre isso, estou aqui.
- Eu não quero falar. Eu não quero nem ao menos pensar nisso tudo. Foi, sabe, ficou pra trás.
- Você e eu sabemos que não é assim que funciona.
- Vai ter que ser assim agora; eu não estou disposta a nenhuma outra maneira.
- Você costumava falar dessas coisas. Botar pra fora.
- E, pelo que eu me lembro, você sempre achou um saco. Sempre girou os olhos e achou pouca coisa. Sempre me achou pequena.
- Não seja injusta. Eu sempre estive lá.
- Desprezando tudo o que eu sentia!
- Era o meu trabalho, como sua melhor amiga, colocar você de volta no chão, ás vezes. Você se conhece bem, sabe que nem sempre o que te preocupa é motivo pra se importar.
- Eu escolhi não me importar agora. Com mais nada.
- Você não sabe fazer isso. Não é você.
- É sim. É quem eu sou agora. E não está me incomodando, não devia incomodar você também.
- Não te incomoda, é? Não sentir mais nada, não se importar de verdade?
                E o silêncio durou apenas dois segundos, mas era o suficiente para que ela reconhecesse na melhor amiga que aquilo doía. E ela podia ver agora o que antes só podia imaginar; aquela sua amiga, que sempre se importou tanto com tão pouco, agora sangrava as dores de se importar apenas com o fato de já não conseguir se importar. Era tudo bobo, distante e superficial e ficava pra trás com o raiar do dia seguinte, do passo adiante. E nada mais importava (além do não importar). E, se ela ainda fosse a mesma, choraria pelo eco das coisas que um dia lhe doeram. Mas ela não tinha mais lágrimas, por que não sentia nada. Ela chorava vazio e seco agora.
- Eu só não consigo mais. Não vai. Nada do que eu era antes “vai”. E mesmo vocês, que eram o que me bastava pra fazer feliz, agora já não fazem. Agora eu sou a mais, sentada no canto com um sorriso fingido enquanto eu observo o mundo do qual eu fazia parte. Agora eu sou a sobra. Eu estou vazando de mim mesma e não tenho lugar pra ir, pra me colocar, pra me fazer ecoar. Nem mesmo a música consegue me conter. Então eu me calo, eu me deixo, eu esqueço de me importar. E agora eu não sinto como se falar fosse resolver qualquer coisa. Eu sei que não vai, então qual é o sentido? Me torturar não vai ajudar.
- Mas...
- No final das contas, você estava certa. Eu precisava mesmo firmar pé. E foi feito. Meus pés não saem mais do chão. Então não vem agora me dizer que tudo o que eu preciso é voar. Já cortei minhas asas. 

Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©