31 janeiro 2013

À Deriva

Eu estou bem aqui e eu não estou mais sorrindo. Eu nem ao menos estou tentando. Eu não consigo mais fingir, eu não sei mais me esconder em mim desse jeito. E ontem, quando o mundo desabou e eu pulei os cacos tentando chegar em casa, minhas lágrimas forçaram as portas dos olhos que habito e eu as segurei, eu as prendi, eu mordi os lábios e não deixei nada escapar de mim. Mas não teve jeito, sabe, não tive pra onde correr, por que bastou um minuto ou dois, uma letra tua, uma canção antiga, e eu me esvaí bem ali onde estava, sentada no banco do ônibus ao lado de gente que não me conhece e não me quer, exatamente como foi naquela época em que minha depressão era feita de olhar e sorriso, da falta do abraço que eu queria (e que acabou que nunca tive). E agora eu não quero nada, eu não sei de nada, eu não sei de mim. E eu fico aqui, e eu choro, e eu tento o quanto posso manter tudo bem no fundo de mim, mas tá saindo aos poucos, vindo a passos lentos, e eu não aguento mais guardar tudo isso. Eu não aguento mais bancar a otimista, forçar o sorriso, contar a piada e esperar o abraço. Eu não aguento mais esperar por nada. Faz vinte anos que eu espero, que eu confio, que eu me forço a acreditar que sou feita de sorriso, de pequenas alegrias, dos amigos que amei. Mas eu tô sozinha nesse quarto escuro, as lágrimas estão rolando pelo meu rosto abaixo e eu não vejo ninguém, nem ouço nada além da minha respiração falhada e do meu medo estampando as paredes. Tô morrendo no meu silêncio, enquanto você acha que eu tô fazendo graça. E quando eu te liguei e você não me atendeu, eu parti em mais um pedaço, mais um fragmento que se perdeu pra sempre, me deixou pra trás. Por que enquanto eu te ligava e chorava sem parar, sentada no banco de couro quente do desconfortável ônibus cheio de desconhecidos, eu nunca estive tão sozinha. Eu nunca estive tão a deriva. E eu nunca aprendi a nadar. Então, obrigada por nada. Obrigada por observar enquanto eu me partia. Tô perdida agora, e eu já não sei se eu quero me achar. Não tá valendo a pena colar minha consciência pra sentir toda essa dor. Não tá valendo a pena mesmo.

Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©