07 abril 2010

Um Pouco de Solidão.


Ele se aproximou da cama e se sentou ao meu lado. Não fez som algum, mas eu sabia que estava ali. Por isso, nao me assustei quando sua mão correu pelos meus cabelos, num afago silencioso.
- Nunca te vi tao frágil. - Ele comentou.
- Nunca estive tão. - Respondi.
- Tem alguma coisa a ver com...?
- Eu só estou me sentindo um pouco sozinha. - Interrompi antes que começassem as suposições. Até por que, era verdade. Eu me sentia sozinha.
- Eu estou aqui. - Ele afirmou, e a voz era puro carinho.
- Eu sei.
- Então deve saber que não está sozinha.
- Eu sei. - Repeti. - Só não sinto. Não sinto ninguém.
Ele interrompeu por um segundo suas caricias e estendeu a mão para afagar meu rosto. Hesitante, como sempre, ele me tocou, meu rosto gelado. Foi rápido e macio, fulgaz. Nem ao menos tive a chance de parar de respirar. De sentir.
- Mas eu estou bem aqui. - Ele disse, e voltou a mergulhar os dedos em meus cabelos.
Concordei com a cabeça, como quem absorve uma informação. Mas não absorvi nada. A sensação ainda era a mesma, e eu ainda sentia frio. Meu corpo tremeria, se fosse capaz de sentir.
Me encolhi mais e me movi, buscando seu corpo. Minha cabeça se aninhou em seu colo e minhas mãos se procuraram e se prenderam. Eu me sentia a cada segundo mais vulneravel. Ele quase podia perceber. Quase.
Se abaixou e me beijou o rosto. Foi sincero, mas não senti nada. Nem o toque dos lábios, nem o calor deles. Forcei um sorriso. Eu era boa atriz; ele acreditou. Ou talvez, ele apenas fosse tolo. Sorriu também, e se perdeu. O carinho continuava, lento, mas quase automatico. Ele nem percebia que o fazia. Ou talvez percebesse, mas tinha, certamente, sua mente em algum outro lugar. E não fazia a menor diferença. Ele já não existia. Nunca existiu, desde o príncipio.
Fechei meus olhos e tentei adormecer. Fingi adormecer. Mas mesmo em meus sonhos criados eu estava só. Senti uma lágrima escorrer solitária por meus olhos fechados. Seria a unica, tal como eu.
Senti palavras escapando de mim num sussuro, sem minha permissão ou ordem. Talvez eu respondesse uma pergunta. Talvez não. Mas eu certamente sussurrava. Falava sozinha, talvez.
- Eu ainda me sinto só.
- Eu nao posso fazer mais. - Ele me respondeu, e eu não consegui identificar o tom, ainda que a voz estivesse tão próxima de mim, colada ao meu ouvido. Só sei que doeu. Mas menti. Como sempre.
- Tudo bem. - E ele roçou o próprio rosto no meu, me maltratando com o meu não-sentir. Por que não, eu não sentia nada. - Eu só me sinto só.

4 comentários:

  1. Fofo, cara.
    Adoro seus textos!
    Beeijos

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  2. ai... angustiante no fim, mas gostei demais pq me lembra algumas coisas que eu sinto de vez em quando. parabéns por conseguir colocar tão bem isso em palavras!

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  3. você, de forma inacreditável, consegue fazer um momento tão depressivo ser narrado de forma tão simples e bonita. admiro muito isso em seus textos, embora esse me pareça mais um relato pessoal do que um conto qualquer.
    amo você, e espero que seja só impressão e que esse conto seja apenas isso, um conto, e não o reflexo de sua alma.

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    1. Quando que a gente não é reflexo do que escreve, Sam? Mesmo que de leve, mesmo que só um pouquinho. Ai, como deve ser difícil não escorrer pras próprias palavras. Sei fazer isso não.

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agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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