24 setembro 2012

Dois Cafés e uma lembrança.


Era quinta-feira e já fazia um ano, mas a rotina fazia parte dela, tanto quanto ele um dia fizera, e ela não conseguia evitar; quando dava por sí era 23 e lá estava ela, dois copos de café, o mesmo canto do bar, e o coração cheio daquela esperança que esmagava. E ela esperava por uma hora antes de lembrar que nunca mais ele e ela naquele bar (ou qualquer outro lugar). E embora devessem, as lágrimas nem sempre vinham, mas a tristeza era tanta ao recordar que ela poderia ficar mais uma hora inteira que fosse sentada naquele banco de sempre, encarando a parede com olhos antigos, olhos vividos, olhos sofridos. Olhos de uma saudade que pra sempre viveria no peito, apertada contra a respiração, tentando se fazer confortável, já que não ia mesmo partir. E era quinta-feira e já fazia um ano, mas ela sempre esperava que ele voltasse, mesmo já sabendo que nunca mais. Ele se fora, ele quisera, ele partira, e ela ficara pra trás, sozinha com seu café, o bar e a lembrança, e aquela saudade que machucava até o ultimo pedacinho de sua esperança. É que, no final da contas, ele partira pra longe demais e tudo o que restara à ela era mesmo aquele café, agora, gelado, um orgulho partido e um amor que ia morrer dentro do peito, que a tornaria estéril, frígida e infeliz. E ela suspirava e pensava nele com tudo de sí bem ali, enquanto ainda podia, por que quando saísse pela porta sabia bem que deveria esquecê-lo de novo. E talvez a rotina a trouxesse de volta num outro 23, numa outra quinta-feira, na calada da noite, num domingo de manhã, como eles faziam quando sentiam vontade um do outro e saudade daquela paixão que costumava consumir até a alma. Mas ele jamais voltaria, ele partira pra sempre, e ela ficara pra trás, ficara pra agora, ficara. E assim, sabendo bem, sabendo melhor, se resignando ao adeus, ao menos por agora, joga umas moedas na mesa e encara o café intocado, que era pra ele, mas que ele jamais beberia. E suspira, e se recolhe, e não se deixa chorar por que é a vida, e chegou a hora - já fazia um ano, afinal. É a hora dela partir também.


ps: isso foi escrito pra alguma pauta do bloinquês de muito tempo atrás, mas, por um motivo ou outro eu provavelmente perdi o prazo, eu não postei.

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