08 setembro 2012

Hoje sou amor.



- Ando amando você.
  Eu digo, peito aberto, dúvidas guardadas pra outro dia. E ele apenas me olha, sem expressão, e eu não sei o que se passa nele, o que bate no seu peito, o que vai em sua mente, mas não me abalo. Não hoje, não depois de tanto tempo.
 O silêncio dura um minuto inteiro (ou será que foram anos?).
- Oi, isso é rude. Não me responder, eu quero dizer.
- Eu não sei o que dizer pra você.
 E isso me cala. Por que eu não sei bem o que queria escutar. Chegar aonde? Por que motivo? Eu sei (e você sabe) que a gente não é pra ser. Mas daria no mesmo não saber. Eu continuo amando você.
- Bem, eu também não sei o que você devia dizer. Obrigada? Tudo bem? Não tenho ideia. Não sei mesmo. Mas o silêncio é ruim. O silêncio é sempre sepulcral.
- O silêncio pode ser confortável, você sabe.
 E eu rio, por que ele me conhece e eu me conheço, e nós dois sabemos bem que silêncio, em mim, é sempre morte. Morte de um monte de coisas.
- Pra outras pessoas, é sim. Pra mim, nem tanto.
- Bem... Obrigada. Tudo bem?
- Acho que sim.
 Eu digo, incerta por um segundo. Mas não ligo muito, não hoje, não depois de tanto tempo. Meu peito está leve e eu carrego um sorriso puro, feito de mim, feito do meu coração flutuando sobre os campos. Hoje é dia se ser feliz. Hoje é dia de ser amor.
- Eu amo você também.
 Ele diz assim de repente, como se não importasse, como se não fosse nada. Não é. Não pra gente. Amor sempre existiu mesmo, sorriso sempre fez parte mesmo, abraço e cuidado e carinho sempre foi coisa nossa. Amor entre a gente não é novidade. Não há nada a fazer quando há amor na gente. Sempre tem amor na gente.
- É claro que ama.
- Amo sim, você sabe. Você é minha pequena, minha risada ao telefone aos domingos, minha encrenca particular.
- Eu sou, não é?
- É, é sim.
  E eu sorrio e ficamos em silêncio mais um pouco e ele me abraça de lado, só pra estarmos juntos, e eu me deixo acomodar na sua familiaridade. Ele não é lar, mas é quase, e é tão próximo que sente como soltar as malas na porta e correr pra se jogar no sofá. Ele é aquela casa de praia que me espera todo verão. Ele é meu melhor amigo e eu o amo, eu o amo, eu o amo .
- Você queria dizer mais?
  Ele pergunta de repente, o braço ainda por cima de mim, o abraço ainda quente e acolhedor e cheio da gente, de sempre, do amor que hoje eu acordei sentindo com o peito valendo por mil.
- Eu sempre quero dizer mais.
- Então, na verdade, nunca quer?
- Não sei. Acho que não. Acho que sempre quero, mesmo.
- Você me ama?
- É claro que sim.
 E ele se endireita, costas retas, e de repente o braço se vai e o abraço se desfaz e ele está me olhando e são os olhos de sempre nos meus olhos de sempre e eu estou mesmo amando um pouco mais dele hoje. Nos últimos dias. Nos últimos anos. Já faz tanto tempo que parece que surgiu agora. É sempre de novo com a gente, assim como é sempre amor na gente. Acho que são coisas que caminham juntas.
- Aquele amor de fundo do peito? De falta de ar?
- Claro que sim.
- E como você esperava que eu respondesse a isso?
- Você me conhece, eu não pensei tão à frente. E você não precisa responder de verdade, responder desse jeito, do verbo me dar uma resposta. Eu não sou assim tão patética. Eu só acordei amor hoje, e eu precisava dizer. Carrego há tanto tempo, que não soou errado dizer em voz alta.
- Eu não sei...
- Você é meu melhor amigo, meu despertador dos domingos, meu personal resolvedor de problemas. Não parece óbvio compartilhar com você o fato de ser amor?
- É claro que sim. Eu digo, com quem mais? Mas mesmo assim. A gente não é assim. A gente é amor, mas...
- Eu sei. E, acredite, eu não disse esperando mais de você. Esperando o mesmo amor, a mesma falta de ar. Eu disse por que é amor, e eu queria compartilhar, por que hoje eu acordei com o peito pronto pra admitir pra mim e pra você que, as vezes, sempre, é amor. E eu sei que não vai pra lugar algum, mas eu te amo mesmo assim. Me dê a liberdade de te amar e ser sua melhor amiga. Não são coisas mutuamente excludentes.
  E ele continua me encarando por um outro minuto inteiro, parecendo me medir, me analisar, como quem confere se estou sã, se estou bem, se não estou me ferindo enquanto digo essas palavras que soam tão casuais. Ele está cuidando de mim, como sempre. E eu o amo mais um pouco por isso.
- Você é tão complicada...
 Ele diz enquanto suspira, e sua postura relaxa e ele me beija na testa e volta a passar o braço por mim, naquele meio abraço que sente como fim de tarde no verão. E é tão confortável que eu me deixo fechar os olhos por um segundo.
- Você está mesmo bem?
 Eu ouço, e por baixo da sua voz vem aquela preocupação de fim de festa, de fim de namoro, de lágrima nos olhos. Eu rio, e posso quase sentir ele relaxar.
- Eu estou ótima. Melhor do que estive em séculos.
- Tão problemática...
- Não reclama. Você me ama.
- É claro.
  Ele concorda, e eu reviro meus olhos, por que, apesar da pose, eu sei que é verdade. E ele sabe e eu sei, e a gente segue em frente, meios abraços, sorrisos inteiros, as histórias de sempre e pra sempre e amor pra hoje, pra amanhã, pra pôr-do-sol, por que é assim que a gente é. Desde o começo, até o final - se um dia a gente chegar lá.
- Até porque, é sempre amor na gente.
  Ele termina, como quem lê meus pensamentos, e eu me deixo sorrir, por que não há nada mais a dizer. É verdade, e a gente sabe. E não há nada a fazer, além de viver.

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