E numa única frase, numa única palavra, Suzana ruiu. As paredes vieram a baixo, a insegurança, o medo e o pânico de não ser quem sempre era lhe tomaram a garganta. E ela respira fundo, ela tenta empurrar tudo pro fim de si, ela fecha os olhos e pensa melhor.
Mas ela responde.
Ela tenta argumentar, tenta dizer que aquilo machuca, ela mostra as feridas e pede por favor. Ela tem a esperança de ser um mal entendido. Ela gosta tanto dele.
(Ela é patética).
Ele não liga.
As palavras dele são feito facas e ela tenta desviar, mas se corta. E ela não sabe bem o que queria, mas está decepcionada.
Ela esperava mais.
Ela esperava demais.
E ela tenta, ela fala baixinho, ela enche os olhos d'água e se convence que ele é assim, que ela tem mesmo que acostumar.
Ela não vê que ela merece melhor.
E aí ele dá a palavra final, ele emudece a conversa, ele faz a ameaça: ele diz que vai embora.
Suzana treme e silencia.
E ele diz que ela precisa se acalmar. Diz que não quer conversar se for pra brigar, diz que prefere não ouvir se ela se machuca. Ele diz que vai deixá-la sozinha.
(Ele não entende o peso dessas palavras).
E aí ela engole todas as frases. Cada letra, cada pausa. E aí ela engasga. Aí ela sufoca.
(Suzana nunca soube brincar de silêncio).
Aí ela vai embora, e bate a porta.
(Suzana também nunca soube brincar de solidão, mas é melhor se for por opção).
22 dezembro 2013
16 dezembro 2013
Rótulos.
E ela sorri quando eu me aproximo, e eu já sinto no peito a ansiedade que vem com os lábios. Ela é um pouco agressiva, um tanto hiperativa, mas eu sei como acalmá-la e fazer do meu jeito e deixar o nosso abraço suave. Já aprendi a lidar com toda essa energia que ela tem.
E eu junto nossos rostos e nossa respiração se mescla e ela me parece cheia de vergonha (feito sempre) e o rosto fica vermelho, tímido como toda vez.
- Você precisa acostumar com a gente, sabe.
Eu digo, como quem não quer nada, e ela sorri seu sorriso mais envergonhado, mais sem jeito, mais menina.
- Eu já acostumei com a gente. É com todo esse afeto que eu não sei lidar.
Ela brinca, tentando me enganar, como se eu fosse achar que ela está a vontade só por que ela tentou contar uma piada. Mas seu rosto ainda está vermelho e seus olhos ainda estão fugindo dos meus, e eu conheço muito bem aquela expressão neles, assim como a palma da minha mão. Eu digo a ela com todas as letras, conto que sei todos os seus segredos e ela consegue ficar ainda mais envergonhada, se encolhendo no nosso abraço feito criança.
Minha risada parece que vai morar em seus ouvidos.
- Você ainda está linda, não se preocupe. Se tanto, ficou mais meiga.
- Cala a boca.
Ela resmunga e fecha os olhos, e eu beijo as pálpebras cerradas. Ela suspira.
- Sou muito boba pra brincar de casalzinho.
- Não fala assim. Acho você uma namorada muito boa, apesar de tudo.
- Apesar de tudo? - Ela reclama, os olhos ainda fechados, mãos ao redor do meu pescoço. Ela guarda silencio por cinco segundos inteiros, respira devagar e abre os olhos pra mim e eu quero beijá-la mais, por que o seu sorriso aquece um milhão de partes de mim. Gosto de saber que ela só sorri assim pra mim.
Ela nem precisa fazer esforço pra fazer com que eu me apaixone mais.
- Mais calma?
- Você acabou de me chamar de namorada. Eu tô pirando.
Ela diz num tom de voz calmo e controlado. Não consigo guardar minha risada.
- Por que diabos? Achei que era meio obvio.
- Eu detesto essa modernidade e seus namoros implícitos. Eu gosto de palavras, de perguntas, de certezas. Então me dá licença enquanto eu sinto o gostinho do nosso novo rótulo, por favor.
Eu rio, e aperto mais meus braços ao seu redor. Ela repousa a cabeça na curva do meu pescoço e eu sinto que esse é o momento mais calmo que já tive na vida.
- Hey?
- O que?
Ela pergunta, a voz tão baixa e tão delicada que eu sei que ela também sentiu no ar nosso momento.
- Quer ser minha namorada?
- Achei que era óbvio.
É tudo o que ela responde, mas sinto seu corpo esquentar entre meus braços,e ela se põe nas pontas dos pés e me dá um beijo que parece parar o tempo.
Nunca fui tão grato por um rótulo como estou agora.
- Namorada, então.
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