15 maio 2011

Marinheiro, marinheiro.


 A menina tinha os olhos marejados e o sorriso meio forçado, meio sofrido, meio apagado. A sua frente, o rapaz sorria orgulhoso, uniforme branco, chapéu sob o braço, marinheiro do mar-imenso.
  Era sua primeira partida, seu primeiro adeus, e a pobrezinha se segurava pra não se desfazer em lágrimas eternas, lágrimas bobas, de saudade antecipada pelo amado que ainda não partira. Era sua primeira vez no mar-profundo-de-verdade e ele não via a hora de se lançar no azul, conhecer um mundo novo e sentir saudades dela, a constante pequena amada, cuja presença ele desfrutara desde sempre e amara desde que saias começaram a parecer levemente convidativas, seu primeiro amor de terra firme.
  E o primeiro apito soou, e as lágrimas fugiram rosto abaixo, e o sorriso pequeno e esforçado sumiu, num balançar de cachos louros nervosos. Era hora de ir. Ele limpou as lágrimas que escorriam dos olhos azuis, beijou a testa e os lábios suaves da menina, sussurrou-lhe um segredo de amor, perdeu-se nos cachos e no aroma e no pescoço macio por um segundo, e se preparou para partir.
   Ela tocou-lhe o rosto, deu-lhe bênção e pediu aos céus que bons ventos o trouxessem de volta nas ondas do mar-azul-e-verde antes que o peito doesse demasiado sua falta. Ele sorriu e beijou-lhe os dedos antes de correr para juntar-se aos homens em marcha navio acima. Partiu sorrindo e acenou para ela do mar adentro, do alto do monte de metal e água, declarando-se ao vento e sentindo arder o peito. Era quase como se ainda pudesse sentir os cachos entre os dedos. Era quase como se, nos cachos, houvesse dedos. (E o vento carregava suas lembranças até a praia todos os dias. E ela sempre mantinha a janela aberta, pra senti-lo entrar.) E saudade lhes soprava todos os dias. E a brisa, trazia sempre um cheiro bom. Cheiro de amor e sal.

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