24 fevereiro 2014
Arrepio.
E suas mãos se encaixavam em cada canto de mim como se eu fosse dele, como se fosse pra ser. E eu podia sentir seu respirar nos dedos que acompanhavam minhas curvas, tomavam minha pele e escreviam nela canções sobre pedaços de mim que eu pouco visitava.
E quando estávamos juntos ele me abraçava apertado e roçava o nariz no meu pescoço, descobrindo com os lábios e olhos fechados meus contornos, meus cantinhos, meus segredos. E eu me acostumei a ter tuas mãos ao redor da minha cintura naquele meio abraço entre o possessivo e o carinhoso, me acostumei ao arrepio que corria espinha acima toda vez que sua língua desenhava círculos na minha pele exposta e você dizia, com aquele sorriso que escapava voz afora, que minha pele era salgada, apesar do tom de chocolate. Me acostumei ao som da tua voz sussurrando pedidos e bobagens ao pé do meu ouvido.
E hoje em dia quando me lembro de nós dois, fecho os olhos pra evitar os arrepios e a sensação familiar de você ao meu redor. É que me lembro das tuas histórias, do teu tom de voz, da dança que teus olhos faziam toda vez que você os voltava pra mim. E eu me lembro de cada pequeno morro e rua e vale e mar que vi ao teu lado, me lembro de cada esquina que percorremos, de cada canto que você me fez descobrir. Eu me lembro de tudo e a lembrança é tão real que parece de verdade, que parece que estamos de novo naquele momento em que suas mãos circundam minha cintura ou entrelaçam as minhas ou me rodopiam pra mais perto, pra mais um beijo, pra mais um momento que eu gravei na pele, nos lábios, no castanho chocolate que sou eu por inteiro.
E fica difícil te deixar escorrer pra longe quando meu próprio corpo te faz presente, te pede nos dedos, te sente nos abraços de outros corpos. E parece bobo tentar resistir às lembranças quando eu sei que eu e você ficamos ecoando pelas minhas costelas, pelas paredes, pelos cabelos, pelo toque suave e palavras singelas de um verão que não volta mais, nunca mais. E eu fico pra sempre só com aquela memória boa dos olhos e carinhos e do verão que me virou de ponta a cabeça com um único toque ou com mil deles. É que poucos braços se encaixaram tão bem nos meus abraços. Mas tudo bem, é adeus, é lembrança de toque, de pele, de você na minha cintura, nos meus braços e no meu abraçar. Tudo bem, é adeus, mas vou guardar estes detalhes, estes rabiscos suaves que consigo recordar só de fechar os olhos.
Então tudo bem, é adeus, mas vou te guardar.
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