11 maio 2013

Frágil



- Você acha que eu posso deitar aí com você?
    Ele pergunta, de repente, no peito ardendo a urgência de estar mais próximo, estar com ela. Ana relanceia olhares ao redor e morde o lábio inferior, a expressão moleca que ele tanto gosta surgindo ainda linda no rosto magro demais depois de uma semana no soro.
- Faz favor, que eu tô com um frio danado e você tá com cara de quentinho.
    Ele ri, e se encaixa na cama ao lado dela, passando os braços pelo corpo magro de tal modo que ela se acomoda exatamente sobre seu peito. Por minutos inteiros eles falam de amenidades e respiram juntos, e ele brinca com os cachos do cabelo dela enquanto fala das questões das suas provas e das bobeiras dos amigos, sem reparar realmente no que fazia. Ela é tudo o que retém sua atenção quando estão juntos.
    Ela pega no sono em algum momento, e ele gosta do silêncio confortável que se instala no quarto fechado. Os minutos parecem passar cada vez mais lentos, no entanto, e o conforto finalmente some quando ela parece pegar fogo entre seus braços, adquirindo por fim uma temperatura que ele não pode mais fingir que é normal.
    Ele suspira, sabendo que precisa chamar o médico mesmo que ela fique possessa por que, se a febre voltou, algo certamente está errado e ela não poderá sair do hospital na manhã seguinte. Ele a abraça mais apertado, por um segundo amedrontado com as possibilidades.
- Você está fervendo, Ana.
    Ele sussurra, a voz quase um lamento. Ela resmunga.
- O tempo está frio, aposto que é por isso.
- Nem tão frio assim, princesa. – Ela faz um muxoxo. – Preciso chamar seu médico. É naquele botãozinho?
     Ele pergunta, apesar de não ter certeza de que ela está com os olhos abertos.
- Mas está tão confortável agora que você está aqui.
- Eu sei. Mas você precisa ser medicada.
- Eu só quero você.
     Ela diz, se enterrando mais fundo nos braços dele, os olhos fechados e a expressão suave. É nessas horas, quando ele a tem entre os braços, que ele mais a ama. Quando ela parece feita para que ele a proteja.
    Ele beija sua testa.
- Vou ficar. Dar uma chance a sua mãe para dormir em casa, pra variar.
- Ela vai gostar. Vai sim.
    Ele ri, e ela tosse enquanto se ajeita. O som seco e doído é o suficiente para animá-lo a finalmente apertar o tal botão. Agora, a enfermeira vai chegar na sala logo e ele imagina que seja melhor descer da cama da namorada, mas não consegue reunir a coragem. Ela parece tão completamente vulnerável, e as tossidas parecem ter tomado conta de seu corpo inteiramente. Ele a segura enquanto ela se sacode, tão frágil que parece prestes a quebrar. Somente a ideia já o apavora.
    Quando ela finalmente para, ele desce da cama e a cobre, mas ela imediatamente se encolhe.
- Agora está muito, muito frio mesmo nesse quarto.
    Não existe uma única célula nele que não esteja pedindo para voltar a cama do hospital com ela. Mas o bom-senso leva a melhor.
- Vou chamar a enfermeira logo, então...
- Eu não vou ficar sozinha. Não dê um passo pra fora desse quarto. 
     Ela diz, e apesar de firme, a voz é fraca e baixa. Ele puxa a cadeira pra perto da cama e se senta, entrelaçando a mão na dela.
- Sempre com você, enquanto você me quiser.
- Bom. Por que eu quero mesmo você.
     Ela tenta responder tranquilamente, mas um acesso de tosse a impede. Ele espera enquanto ela se refaz.
- Eu não vou sair amanhã, né?
     Ele fica em silêncio por um segundo.
- Acho que não, princesa. Acho que vai demorar mais um pouco.
     E aí ela suspira.

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