31 outubro 2009
Curvas.
Escondi meu rosto na curva do seu pescoço, apenas por procurar um lugar onde o mundo não me alcançaria. Dali eu não via seu sorriso, nao via suas lágrimas, não via você. Eu só sentia, quieto e calmo, e eu só podia imaginar, tranquilo e sereno, como eu precisava. Como eu queria.
Sua respiração era a minha, meu sentir era seu.
Na curva do teu pescoço eu descansava, na curva da tua alma eu me infiltrava. Eu me instalava em ti, como você em mim. Eu fazia de você minha morada, meu esconderijo, meu porto seguro. Eu fazia você, eu pertencia a você, eu me atava a você. Mesmo nas mais violentas curvas, eu simplesmente me segurava mais forte e seus braços nunca me deixavam partir. Me moldavam.
E eu podia sentir todas as suas nuances, todos os teus limites, todos os seus segredos. Nós nos encontramos naquelas curvas. Naquela chuva. Naquela esquina. E eu era tua desde então, era parte de ti, me escondia em ti. Nas suas curvas, nas minhas curvas, nas suas mãos. No nosso encontro. No nosso contato.
E nas suas curvas eu me achei, e nas minhas curvas se perdeu. E pertencemos. E caminhamos. E pertencemos.
26 outubro 2009
Chorar por sorrir.
Ela mais uma vez chorou.
E para a maior das ironias, ela novamente chora por um sorriso. E para maior das surpresas do circo, ela cometeu o mesmo erro de se deixar levar por um sorriso encantador, por um ar de vida leve. Ela se deixou apaixonar, e chorou de verdade por isso.
Sua recompensa foi só a água, as lágrimas que escorreram amargas e incessantes sobre o seu rosto, à luz do dia. Ao lado de estranhos. Ao lado da pena alheia, de gente que nunca a havia visto. De gente que não se importava. De pessoas que evitavam o banco onde a pobre se enroscara na esperança de desaparecer sob o sol quente.
E ela, contra todas as ordens da sua mente consciente do erro, se deixou acalentar na esperança de que os olhares fossem pra ela. De que as coincidências fossem algo mais. De que o sorriso era dela. De que o garoto, o garoto do sorriso, o garoto com quem ela esbarrava todos os dias pelo corredor do seu trabalho desgastante fosse... Pobre tola, se deixou enganar pelos desejos do próprio coração solitário. E agora, chora, sem ombros, sem palavras e sem sorrisos. Sem presenças.
E ela chora, desesperada, sobre rodas de ônibus, sobre camas quentes, sobre a luz do sol e ursos de pelúcia. Sobre qualquer lugar em que ela possa se recostar, em qualquer lugar e a qualquer momento que o coração precise desabafar. Por pra fora essa esperança masoquista que persiste, que corta e que fere. Que faz chorar. Que faz sangrar e se esconder.
Que envergonha.
Ela chora, porque não há nada mais que fazer.
Ela chora, porque chorar dói menos.
Ela chora, porque já não sabe sorrir.
A vida levou seus sorrisos.
E para a maior das ironias, ela novamente chora por um sorriso. E para maior das surpresas do circo, ela cometeu o mesmo erro de se deixar levar por um sorriso encantador, por um ar de vida leve. Ela se deixou apaixonar, e chorou de verdade por isso.
Sua recompensa foi só a água, as lágrimas que escorreram amargas e incessantes sobre o seu rosto, à luz do dia. Ao lado de estranhos. Ao lado da pena alheia, de gente que nunca a havia visto. De gente que não se importava. De pessoas que evitavam o banco onde a pobre se enroscara na esperança de desaparecer sob o sol quente.
E ela, contra todas as ordens da sua mente consciente do erro, se deixou acalentar na esperança de que os olhares fossem pra ela. De que as coincidências fossem algo mais. De que o sorriso era dela. De que o garoto, o garoto do sorriso, o garoto com quem ela esbarrava todos os dias pelo corredor do seu trabalho desgastante fosse... Pobre tola, se deixou enganar pelos desejos do próprio coração solitário. E agora, chora, sem ombros, sem palavras e sem sorrisos. Sem presenças.
E ela chora, desesperada, sobre rodas de ônibus, sobre camas quentes, sobre a luz do sol e ursos de pelúcia. Sobre qualquer lugar em que ela possa se recostar, em qualquer lugar e a qualquer momento que o coração precise desabafar. Por pra fora essa esperança masoquista que persiste, que corta e que fere. Que faz chorar. Que faz sangrar e se esconder.
Que envergonha.
Ela chora, porque não há nada mais que fazer.
Ela chora, porque chorar dói menos.
Ela chora, porque já não sabe sorrir.
A vida levou seus sorrisos.
17 outubro 2009
Na soleira da porta.
Ela abriu a porta de casa e a primeira coisa que viu foi o conhecido contorno das costas magras que ela tanto admirava. Um susto e um sorriso.
Uma saudade.
A única coisa que ele foi capaz de dizer quando a viu foi "Oi". Ao vê-la, seus olhos quase se arregalaram e sua boca quase se abriu num pequeno ''Oh'' de surpresa. E ele realmente foi pego de surpresa, realmente esperava que ela já não estivesse lá. Que ela já não esperasse por ele. Um susto e uma não-expressão.
Uma dúvida.
E depois de tantos meses de ausência infinita, ela definitivamente esperava por algo mais. Que o encontro fosse mágico. Que as palavras fossem poucas, mas precisas, devido somente, e tão somente, ao calor do momento. Ao abraço e aos beijos que ocupariam todos os segundos do doce reencontro.
Mas ali estavam, parados frente a frente, ela com o sorriso que esmorecia e ele com a mesma expressão surpresa que criara no primeiro segundo, no primeiro fio do cabelo loiro que ele conseguiu enxergar na soleira da porta.
Ela tossiu de leve, como quem pedia que ele falasse. Ele coçou a cabeça, sem jeito e sem palavras. Balbuciou alguma coisa sobre não esperar vê-la, ao que foi prontamente respondido com um sorriso e um brincalhão "moro aqui". Ele pensou sobre isso. Fazia sentido. E ela permaneceu em silencio, observando sua confusão e sua linha aparente de pensamento. Afinal, ela era óbvia: ele acreditara que ela havia partido.
E então? Ele não a queria mais? Ele arranjara alguém? Ele jogara fora todo o seu amor? E ela? Ela que queria pular sobre ele. Queria beijá-lo. O queria. E o quis por tanto tempo, com tanta afeição, com tanta saudade. E ali estava ele, inalcançável. Distante e sem jeito como um estranho que se encara no metrô.
Ela queria chorar. E ela iria. Mas não ali, no lugar que acalentava até agora, até o presente segundo, o amor imenso que dividiram antes de sua partida. De sua não-volta.
E então, quase que por um segundo inteiro, os olhares se encontraram.
Meia volta. Fora de casa. Da sua própria casa. Da casa deles.
Um sussurro. Uma desculpa. Uma única lágrima.
"A gente se fala depois. Eu... acho que volto amanhã".
E saiu.
Uma saudade.
A única coisa que ele foi capaz de dizer quando a viu foi "Oi". Ao vê-la, seus olhos quase se arregalaram e sua boca quase se abriu num pequeno ''Oh'' de surpresa. E ele realmente foi pego de surpresa, realmente esperava que ela já não estivesse lá. Que ela já não esperasse por ele. Um susto e uma não-expressão.
Uma dúvida.
E depois de tantos meses de ausência infinita, ela definitivamente esperava por algo mais. Que o encontro fosse mágico. Que as palavras fossem poucas, mas precisas, devido somente, e tão somente, ao calor do momento. Ao abraço e aos beijos que ocupariam todos os segundos do doce reencontro.
Mas ali estavam, parados frente a frente, ela com o sorriso que esmorecia e ele com a mesma expressão surpresa que criara no primeiro segundo, no primeiro fio do cabelo loiro que ele conseguiu enxergar na soleira da porta.
Ela tossiu de leve, como quem pedia que ele falasse. Ele coçou a cabeça, sem jeito e sem palavras. Balbuciou alguma coisa sobre não esperar vê-la, ao que foi prontamente respondido com um sorriso e um brincalhão "moro aqui". Ele pensou sobre isso. Fazia sentido. E ela permaneceu em silencio, observando sua confusão e sua linha aparente de pensamento. Afinal, ela era óbvia: ele acreditara que ela havia partido.
E então? Ele não a queria mais? Ele arranjara alguém? Ele jogara fora todo o seu amor? E ela? Ela que queria pular sobre ele. Queria beijá-lo. O queria. E o quis por tanto tempo, com tanta afeição, com tanta saudade. E ali estava ele, inalcançável. Distante e sem jeito como um estranho que se encara no metrô.
Ela queria chorar. E ela iria. Mas não ali, no lugar que acalentava até agora, até o presente segundo, o amor imenso que dividiram antes de sua partida. De sua não-volta.
E então, quase que por um segundo inteiro, os olhares se encontraram.
Meia volta. Fora de casa. Da sua própria casa. Da casa deles.
Um sussurro. Uma desculpa. Uma única lágrima.
"A gente se fala depois. Eu... acho que volto amanhã".
E saiu.
08 outubro 2009
Gestualmente música.
Luz. Som. Multidão.
Gestos.
Os movimentos eram sensuais, sinuosos, sedutores. Seu corpo era luz, era som, era só o compasso, o ritmo da musica.
Os cabelos castanhos reluziam, voavam, exalavam rosas ao menor dos toques das suas mãos delicadas. E ela se despenteava por vontade própria, ela se desarrumava só pelo prazer de se desarrumar.
Ela estava livre de todos e de si mesma, ela existia só pela liberdade de ser quem quisesse. De fazer o que quisesse. Do jeito que quisesse.
E não importavam as pessoas ao redor, o espaço, o pouco espaço, era todo dela. E os corpos que se tocavam, que se esbarravam, que se afastavam para vê-la se mover.
Ela despertava os olhares, ela atraia a massa, ela esteve sempre no meio da roda. Ela era exibição pura e simples e ela estava gestualmente num holofote. Ela se comportava como se estivesse em um. De fato, ela estava em um.
Luz. Som. Sorriso.
Gestos.
Ela era a atração, ela era o elemento principal da uma boate escura e viva. Que respirava e exalava sensualidade. Que era inaudivel e se fazia ouvir. Que ressoava pela cidade o enorme som da diversão. Da libertinagem.
E ela era o calor daquele lugar, do lugar mais quente. Ela era musica, ela era os passos, ela era o rebolado. Ela era mulher.
Mais que isso, ela era a mulher.
E era luz.
E era gestos.
Gestos.
Os movimentos eram sensuais, sinuosos, sedutores. Seu corpo era luz, era som, era só o compasso, o ritmo da musica.
Os cabelos castanhos reluziam, voavam, exalavam rosas ao menor dos toques das suas mãos delicadas. E ela se despenteava por vontade própria, ela se desarrumava só pelo prazer de se desarrumar.
Ela estava livre de todos e de si mesma, ela existia só pela liberdade de ser quem quisesse. De fazer o que quisesse. Do jeito que quisesse.
E não importavam as pessoas ao redor, o espaço, o pouco espaço, era todo dela. E os corpos que se tocavam, que se esbarravam, que se afastavam para vê-la se mover.
Ela despertava os olhares, ela atraia a massa, ela esteve sempre no meio da roda. Ela era exibição pura e simples e ela estava gestualmente num holofote. Ela se comportava como se estivesse em um. De fato, ela estava em um.
Luz. Som. Sorriso.
Gestos.
Ela era a atração, ela era o elemento principal da uma boate escura e viva. Que respirava e exalava sensualidade. Que era inaudivel e se fazia ouvir. Que ressoava pela cidade o enorme som da diversão. Da libertinagem.
E ela era o calor daquele lugar, do lugar mais quente. Ela era musica, ela era os passos, ela era o rebolado. Ela era mulher.
Mais que isso, ela era a mulher.
E era luz.
E era gestos.
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