18 maio 2009

Pobre Menina.


Ali, sentada na bancada de cimento desconfortável, era quase impossível sequer imaginar que ela sofresse tanto na calada da noite. Que ela chorasse seus fantasmas de maneira tão desesperada. Seu sorriso era tão... feliz.
Mas era de mentira. A bancada desapareceu numa espiral de fumaça, e foi substituída pela cadeira azul, de tantas formas aterrorizante. Uma prisão sem grades de ferro, sem restrições físicas. Uma prisão feita pelas garras de seu intelecto pequeno.
Eu não a via sorrir. Eu a via despedaçar a minha frente, partindo em milhões de pedaços que deslizavam junto com suas numerosas e prateadas lágrimas. Seu desespero era palpável, quase tanto quanto sua falta de capacidade. Quase.
Eu queria poder encontrar seus olhos, mas não podia. Sua agonia os tinha tomado, levado para si. Ela era um eco, uma figura desorientada que perdia seu olhar no chão, o mesmo chão em que estavam agora suas esperanças e sua já mencionada curta capacidade.
Ela nunca sairia de lá. Ficaria presa pra sempre na sua gaiola sem grades, envolta pelo desprezo que ela mesma sentia de si, do lugar. Estava perdida e era fato. Sem chance pra ela dessa vez. Pobre menina.
Continuei fitando-a, esperando pelo momento em que fosse se recompor. Onde estavam os gritos e os sorrisos? Não podia ver sentido na existência dela sem eles. Mas, dessa vez, ela não parecia ter um modo de se recompor. Seria possível?
Eu vi as lágrimas secarem e a respiração voltar ao normal, mas a pobre não se abriu num sorriso tímido, envergonhado, cheio de brilho. Ela se curvou numa bola e se lançou sobre uma folha de caderno, desesperançada e descrente de si mesma. Talvez estivesse até escrevendo as mesmas palavras que escrevi ao vê-la. Eu nunca poderia dizer. Nunca poderia afirmar.
Não acredito que vá voltar ao normal. Talvez este seja o normal dela, o normal que ela esconde nas suas noites de desespero e que agora não pode mais esconder durante o dia. Ele a perseguiu mesmo na luz do sol, cansado de ficar sempre sob as sombras da lua, destinado a atormentá-la apenas durante uma pequena fração das 24 horas. O normal estava cansado de atormentar tão pouco. Senti um arroubo de pena sobre ela. Não haveria por onde escapar agora, as lagrimas simplesmente teriam que sair, concordando com todos os argumentos da normalidade soturna dela, pois ela não tem força suficiente pra contradizê-los. Ela não é capaz.
Oh, pobre menina.

Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©