22 abril 2009

Vermelho - Fúria.


E eu pude ver seus olhos injetados de vermelho, de cólera, de lágrimas raivosas e silenciosas que desciam sem parar pelo seu rosto transtornado. Lágrimas que se convertiam em rios espessos e profundos, lágrimas cheias de um ódio que ela não sabia em quê mais descarregar.
Sua respiração descompassou. E eu podia ver que quanto mais ela tentava respirar fundo, se acalmar, mais o ar ia lhe faltando, mais desesperada ela ficava, mais pálida e gelada, mais assustadoramente perturbada.
Eu queria ajudá-la, abraçá-la, mas ela não parecia nem ao menos perceber minha presença. O mundo parecia vazio para aquela pequena criatura, e nele tudo era vermelho e cinza, tudo era a causa de sua impossível raiva. Eu gostaria de saber o que teve esse efeito tão grande nela, que é tão pequena. E mais que isso,eu queria que ela não se importasse.
Todos dissemos palavras que a acalmassem. Ela ignorou a todo nós. Ela seguia na sua tentativa frustrada de respirar, seguia não achando todo o ar que nós respirávamos tranquilamente. Ficou assim por minutos incontáveis, até finalmente alguém levá-la para lavar o rosto e beber alguma água -mais uma vez. Não faço idéia de como ela aguentou tudo aquilo. Nós, que olhávamos de fora, nunca acreditamos que ela fosse capaz de suportar esse sentimento de fúria tão intenso e tão devastador capaz de transfigurar até mesmo seu rosto, no qual estavámos acostumados a ver o sorriso de bom dia de todas as manhãs.
Parou de chorar. Mas os olhos vermelhos, agora secos, estavam enlouquecidos de fúria, de inconformação, de revolta por fosse qual fosse a injustiça pela qual ela passara ainda naquela manhã.Acho que não estou muito errado em afirmar que assustou-nos tão súbita mudança de humor. Do desespero á raiva em apenas um gole d'água e uma mirada rápida no espelho.
Começou a gritar. As explicações vieram nos berros, as ameaças a fosse quem fosse que arruinara seu dia logo pela manhã, os risos (descontrolados) junto com algumas de suas lágrimas que ainda não tinham tido a chance de cair. Vi nos olhos de uma de suas vítimas o pânico por simplesmente não saber o que fazer ante àquela aberração gritante cheia de ódio, vi o modo como surgiam as risadas de nervoso, as miradas curtas para as amigas do lado com a pergunta muda sobre como proceder. Mas era querer demais da própria menina descontrolada que reparasse ou se sentisse culpada por isso naquela hora.
Depois de gritar mais um pouco com algumas pessoas desavisadas que tentaram perguntar o que houve, ela se sentou na sua cadeira, ali, há pouca distância de mim. Vi outras lágrimas vermelhas descerem, vi sua respiração e vi, muito lentamente, ela se controlar.
Como se observasse uma criança descobrindo o mundo, eu observei seus olhos molhados e vermelhos voltando ao natural, seu primeiro sorriso, seu primeiro comentário que não era gritado do dia. E então, o primeiro abraço.
Nesse ponto, todos relaxamos.
Voltava ao normal.
Voltava ao castanho.

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