06 abril 2014

Funeral.

Sua vida não era ruim. Não era absurda, impossível ou horrorizante. Não era pesada, incontrolável nem daquelas de dar dó. A vida fez com ela apenas o que já havia feito com tantos outros. Mas ela, que nem era de papel nem nada, se desmanchou com o impacto. Assim, bem aos olhos de todos, bem a vista, sem pudor. E foi se retorcendo, encolhendo, diminuindo até caber num quarto (na cama), numa caixa (de madeira), numa gaiola tão pequena que a física da coisa parecia impossível (a vida).
E ela mesma bateu a tampa e se escondeu lá dentro, covarde que sempre foi, e pediu, por favor, para deixarem-na em paz. E lá dentro, apertada, encolhida, desfeita e compactada, ela respirou fundo e, sem forças, sem vontade e sem querer, decidiu que nunca mais.
E enterraram a caixa no chão.



Um comentário:

agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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