14 abril 2013

É preciso aprender


- Tô querendo você.
Ele diz, voz sensual, e eu não consigo evitar dar uma risada. Não parece real.
- Acho que você vai ter que trabalhar seus desejos. Esse não vai ter jeito.
- Ah, não faz assim, Luana.
Ele pede, tão manso quanto um gatinho. Ele pega minha mão, e os malditos olhos verdes estão tão brilhantes esta noite que eu poderia ceder, se ele me pressionasse. Decido-me então por mandá-lo embora. Não posso tê-lo. Não posso querê-lo. Não posso beijá-lo.
Com um puxão, me afasto. Ele me olha, como que desafiado.
Minha espinha gela.
- Não adianta fugir de mim, você sabe? Eu não vou desistir. Eu não vou te deixar. Eu não vou deixar meus braços longe de você.
E ao final ele está sussurrando, o corpo colado no meu e os braços, de fato, ao redor da minha cintura. É o paraíso, mas preciso resistir.Tento fazer cara feia, apesar de já saber que ele vai tomar como charme. Ele sempre o faz. Ele finge não entender quando digo não.
- Você precisa aprender a ler os sinais, André. Eu estou dizendo não, estou de braços cruzados, estou te mandando embora. Pra quê insistir?
- Por que eu sei que é cena. Que você me ama. Que, mesmo agora, tudo o que você quer é um beijo. E é por isso que não consegue tirar os olhos dos meus lábios.
- Eu acho que isso tem mais a ver com o fato deu não conseguir enxergar além deles. Você é alto. Eu já disse isso antes.
Ele bufa, e o ar quente faz cócegas no meu pescoço. Me encolho, como que por reflexo, e ele chega ainda mais perto. É um martírio.
- Essa é sua desculpa? "Você é alto pra mim"?
- Não. Minha razão, e você sabe muito bem disso, é por que você não presta. Por que você acha que é só estalar os dedos que eu vou estar aos seus pés, na palma da sua mão, com o coração entregue, prontinha pra ser feita de boba mais uma vez. E eu não quero, droga, e eu não vou. - Ele tenta responder, mas eu não deixo. Minha cabeça se esconde em seu pescoço e, por um segundo, parecem os velhos tempos, quando ainda era cumplicidade e confiança. Antes que eu ficasse irremediavelmente apaixonada e me deixasse ser feita de tola.- Eu não nasci pra isso.
Meu sussurro parece quebrá-lo. Posso senti-lo tremer sobre minhas mãos que, de alguma forma, foram parar sobre seu peito. Me odeio por tocá-lo. Me odeio por saber que não vou ser capaz de resistir de novo. É que eu o amo tanto que faz mal pra mim.
- Não faz assim. Você sabe que eu não sou assim. Droga, eu sou louco por você.
- Não faz diferença se você não se comporta como se fosse. Você precisa me respeitar antes de me amar.
- E isso é tudo? É o fim da gente até que eu me comporte como você quer?
Suas palavras me acordam, e eu me esforço pra me afastar. Dura uma era e é difícil deixar seus olhos, mas consigo ser firme. Coloco três passos entre nós e me forço a encará-lo de frente. No entanto, meus olhos não passam de seu peito, onde, de alguma forma, minhas unhas fizeram marcas sobre seu coração. Sorrio.
- É o fim da gente até que você se comporte como um homem.
Minhas palavras parecem machucá-lo. Gosto disso. Mas só um pouco.
Ele guarda silêncio por um momento.
- Então eu aprendo a ser o homem pra você.Você vai esperar? Vai me dar a chance?
Meses antes, as palavras teriam sido o mundo inteiro. Agora, eram uma esperança fraca e quase vã. Eu já não acreditava nele, não depois que tantas lágrimas lavaram meus olhos. Eu via melhor agora.
- Eu não posso prometer. Você sabe que eu não posso.
- Se você encontrar outra pessoa...
Deveria soar como uma ameaça, mas é apenas uma súplica. Posso até sentir o desespero correndo por trás das palavras. Ele me quer. Do seu jeito torto e inconsequente, ele me ama, tenho certeza. Mas não importa. Só eu importo.
- Então você vai saber que seu tempo acabou e a gente morreu. Vai ser o fim de nós dois e vai ser adeus.
E meu peito dói sabendo que, nesse dia, não haverá mais volta.

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