19 março 2012

Vilão.

Herói. Eles o chamavam assim antes, boca e peito cheios de orgulho, como se eles lhes pertencesse de algum modo. Não era verdade. Não era de ninguém além de si mesmo, e não seguia nenhum outro impulso que não o próprio. Voava pelos céus e salvava vidas não por que era o correto, mas porque sentia certo desse jeito. E  não se importava com o que era esperado dele, fazia por sabia que podia fazer. Por que queria fazer. Por que se importava.
Ele era (e sempre fora) de sí próprio, tudo o que podia fazer pertencia a sí mesmo, e ele não tinha dividas para com um mundo que teria cuspido nele, como fazia com tantos outros, se assim pudesse. Se ele não pudesse alçar voo e levantar os pés da terra, olhar de cima pra quem devora os outros, tantos outros, com os quais ele crescera e vivera e aprendera a amar e a odiar e a ignorar, de vez em quando. Ele sabia bem o destino que tinham, o que reservavam pra eles, e pra ele mesmo, se pudessem lhe dar. Que provavelmente dariam, quando estivesse distraído, procurando alguém na multidão de rostos que viviam sem voar. Ele sabia bem que a queda era certa, e sentia a revolta arder por baixo do sorriso padrão, por causa da ingratidão que, certamente, hora ou outra, viria a seu encontro.
Mas seu peito sempre foi seu maior guia e ele nunca foi de se deixar levar. Nunca foi de se deixar enganar. Ele se preparou. E enquanto as vontades coincidiram apenas rosas voaram ao seu encontro, atiradas no céu azul pelo qual ele voava sem medos. Mas então havia nuvens, havia medo e incerteza e um problema grande demais, duvidas demais e ele não queria ser nada mais que um homem comum, garoto novo, caminhando na vida querendo pouco mais que um amor pra lembrar pra sempre e conquistar um sonho. É que ele já estava farto, morto, exausto de ser o sonho. Não queria mais voar sem os braços de alguém ao redor de sí ou de correr como o vento pra ajudar fosse quem fosse, salvando apenas uma parcela de um mundo que se partia, por mais que ele tentasse colar. E ele não queria ser herói, não queria ser personagem de história, não queria ser ninguém se não pudesse fazer a diferença. E, como quem caminha em areia movediça, ele sentiu as forças serem sugadas, os esforços frustrados, a vida drenada. Não valia a pena o esforço. Ninguém queria mesmo salvar, apenas ser salvo. E ele não seria mais o palhaço que insistia. Ele não seria aquele em quem atirariam as pedras quando tudo falhasse.
E assim, aposentou a capa, amarrou bem firme os sapatos, e passou a viver com os pés no chão. Amenizou a dor, mas, desde então, foi chamado de vilão.


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