31 outubro 2010

Pensando en ti...

É mais fácil - e muito mais difícil - sofrer pela lembrança que nunca foi. E nas noites, nas manhãs, fica só aquele vazio do sorriso que não me colore e do abraço que não signigicava nada. E quando eu fecho meus olhos, não vejo nada. Não há nada aqui pra mim. Não há ninguém .

Visão

Voltava os olhos pra mim com tanto calor que eu via muito além do castanho. Via luz. E me parecia tão perfeita que, como um anjo, me levava as dores e as preocupações. Mas era tão distraída que não reconhecia em mim amor, e sorria meio vazio, meio desejosa, ás vezes. E eu, fraco de palavras e declarações, lhe fazia carinhos e lhe olhava nos olhos para mostrar o que sentia. O que sinto, ainda hoje, por aquela pequena mulher que me sorri pelas manhãs. E eu tento. Chamo-lhe de amor, o meu amor, e entrelaço nossas mãos numa promessa. Faço de tudo que posso para mostrar-lhe e desenho no ar nossos nomes num pedido msem palavras pela eternidade. E deixo claro, como posso, para minha pequena -que se recusa a ver - que o meu azul só quer aquele castanho. Que minhas mãos só querem as dela e que meu coração há muito descobriu que não pode haver nenhuma outra. Ele bate castanho. Bate por ela.

28 outubro 2010

Cegueira

Ele me chamava de amor e sorria pra mim com um muita facilidade. Com que simplicidade ele voltava aqueles olhos muito azuis pro meu castanho e me falava de pôr-do-sóis. Seu carinho lhe fugia das mãos e transbordava pelo corpo, sempre unido ao meu, fosse num abraço ou numa caricia silenciosa e descompromissada na base do meu pescoço. Ele me olhava singelo e me falava banalidades o tempo todo. E não por que me amasse. Não por que eu pudesse fazê-lo feliz. Por que ele era assim. Uma existência leve, suave, feita de afagos. Um sopro, uma brisa, um suspiro de amor-perfeito. Como mágica, como um encanto pairando sobre o mundo. Sobre mim e minha pequena existência. Por que ele sorria e me falava de amor o tempo todo. Por que era feliz. E fazia feliz. Me fazia feliz.

21 outubro 2010

Caro amigo perdido,

Acho incrível poder mensurar o quanto as pessoas crescem em tão pouco tempo. Quero dizer, nós já nos conhecemos há alguns anos e você mudou tanto desde então... Acho até que eu mudei alguma coisa. Bem pouquinho, mas mudei.
Me lembro que você não era muito mais alto do que eu. Pra ser sincera, você tinha quase a minha altura e, embora negasse, eram apenas alguns dedos de diferença. Eu adorava isso em você. De algum modo, parecia deixar você mais... alcançável. Eu facilmente podia encontrar seus olhos e facilmente podia descobrir o que queria neles. Eu podia ver - quase tocar - seu interesse pelas pessoas ao meu redor. Doía, mas estava ali. Era quase meu, de alguma forma.
Pelo menos, o meu despeito tornava você o meu baixinho.
Mas um ano depois, quando você veio eu já não podia te ver... Muito menos chamá-lo de meu. Crescera, de muitas formas, o garoto genérico pelo qual eu me apaixonara uma vez. Eu já não tinha acesso aos seus olhos, aos seus sentimentos. E, de alguma forma, tudo o que era meu em você já tinha, naquela época, ficado pra trás. Eu via um outro sob o mesmo de sempre, um diferente, nas nossas poucas conversas. E agora...
Dois anos. Não te vejo. E quando vejo, não reconheço. Mas não tenho certeza se vi... Pode ter sido alguma miragem. Algum desejo oculto de recuperar o amigo que foi meu. Deus sabe que tenho me sentido muito sozinha, de verdade. E eu bem que queria um amigo, um amor, pra olhar nos olhos de vez em quando. De vez em sempre.
Mas não tenho. E nem te culpo - muito. Eu posso entender. Você só cresceu. E, aos poucos, me deixou pra trás. Acontece com todo mundo. Quando se vai assim tão longe, quando se cresce assim, tão alto, é difícil mesmo olhar pra trás. É difícil achar aquela antiga amiga, baixinha, no meio do mundo novo. Mas tudo bem. Todo mundo sempre parte. Só não me culpa por sentir saudade. Afinal de contas, eu sempre fui daquelas nostálgicas.
Da mesma de sempre,
B.

07 outubro 2010

Samba de moça.


Solidão qualquer Zé sente, e na calada da noite faz um samba que é pro coração acalmar. Dor todo mundo tem, já que ninguém é imune ao sofrimento e corações, em geral, não tem senso de preservação e não ligam muito pro que fazem com os donos. Nada me faz especial então, num contexto geral. Só que é minha dor, minha solidão, meu coração precário. Meu samba de cadência bem acabada, falando de sal e solidão. E só o que o faz especial sou eu. É o meu batuque, feito pro meu rebolado e pra minha frustração. Pra mim é único. E enquanto eu cantar pra mim e embalar meu peito na canção, haverá esperança. Serei ainda pessoa à espera de quem saiba encaixar-se nos meus versos. Serei ainda moça nova à espera de quem se jogue na roda comigo. E me faça feliz. E me faça sambar.

05 outubro 2010

Fulgaz.

As lágrimas rolavam continuamente, como um rio. Os olhos já não eram visíveis por detrás daquela cachoeira. Ela não conseguia ser feliz.
- Só me promete que não vai me deixar. - Ela implorou.
Os olhos dele estavam insondáveis.
- Não sei se posso. Droga, não sei nem mesmo se quero.
- Mas...
- Eu quero seguir em frente, certo?
- E me deixar pra trás?
A voz era triste. Não havia nela resignação ou desespero ou traição. Só dor. Pura e intensa.
Ele não respondeu.
Ela sentiu solidão.
- Eu nunca aprendi a ser sozinha, sabe. Sempre estive rodeada, mesmo que constantemente abandonada. Idas e vindas constantes, companhias rápidas, intensas e inesqueciveis que se iam assim que eu me acostumava a tê-las. E não é justo que tudo que eu vá ter de qualquer coisa são lembranças. Lembranças de um pai, de uma família, de amigos. De um lugar feliz, de pessoas especiais. Tudo o que eu posso ser é lembrança? Tudo o que eu posso ter é um pequeno intervalo de tempo na vida de alguém?
Ele não a olhava. Não tinha coragem de procurar os olhos sinceros e doloridos e lhe dizer que não podia fazer nada. Que, cedo ou tarde, iria partir.
- Eu não sei. Não tenho as respostas, tampouco.
Ela se abraçou, ainda chorando. Tanta solidão a engolia ultimamente. E ela sentia tanto frio.
- Eu tenho medo. Eu não quero viver de solidão. Quero viver de algo mais.
Ele suspirou, culpado. Partiria também, antes que ela se desse conta, e não havia nada que pudesse ser feito para evitar. A vida o levaria, como levara tantos outros, dos caminhos daquela pequena companheira. Da querida amiga que em breve seria de outrora.
- Então respira um pouco de companhia. Aproveita-a bem e guarde para os dias chuvosos e de trânsito ruim. E se deixa existir. Viver, de fato, é para poucos.

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