Comecei com os abraços; apertados, intensos, meus. E eu achava divertido vê-la ficar surpresa com o afeto repentino. Contato não era muito a praia dela (lembra da capacidade de aniquilar pessoas?). Mas eu continuei. Dia após dia, mês após mês, me servindo de doses saudáveis da garota que foi se revelando uma pessoa divertida, amável, tranqüila e cheia de congruências comigo. E como conseqüência, eu continuei precisando dela mesmo depois que o roxo se foi. Não era mais apenas a decisão, o cabelo, o sorriso ou a tranqüilidade. Eu tinha um amiga, daquelas de verdade, na garota que escrevia as palavras doces e amargas que me lembrava a mim.
E então eles vieram. Os meio-abraços, tímidos e sem jeito, em retribuição ao meu afeto mal explicado. Mas não se enganem, eu ficava feliz por recebê-los. Eram os melhores meio-abraços que eu poderia receber pela manhã. Tornaram-se um pequeno vicio. Nossa pequena troca. E eu invadia sua sala todos os dias para dar-lhe um sorriso (e tentar quebrar-lhe as costelas com afeto) e ganhava um meio-abraço cheio dos seus pequenos significados. E nós passamos a trocar letras e a dividir pânicos e salas de avaliações lotadas com notas baixas. Pelo menos nos fazíamos companhia. E da companhia vieram então o maior presente, os abraços inteiros. Sim, estamos realmente falando de dois braços!
E então, chegamos aquele ponto, o ponto tenso onde os caminhos se separam. Chegamos aos abraços cheios de lágrimas e ás promessas que só vamos tentar cumprir. Chegamos ao fim do lugar-comum, dos nomes em comum, do presente em comum. E mesmo agora os abraços, mesmo que inteiros, perdem a intensidade, por que perdem a freqüência. Chegamos no ponto das lembranças. Dos encontros raros. Dos desencontros. Das saudades intensas. Imensas."
ps: trecho
T.