26 maio 2010

Marília (trecho)

"(...) Ela se tornou, sem saber, o remédio pros meus dias infelizes. E tudo o que eu precisava era algum cabelo colorido e alguma palavra sobre seguir em frente. E assim, roxo tornou-se minha cor favorita. E o sorriso que apertava os olhos, o meu preferido.
Comecei com os abraços; apertados, intensos, meus. E eu achava divertido vê-la ficar surpresa com o afeto repentino. Contato não era muito a praia dela (lembra da capacidade de aniquilar pessoas?). Mas eu continuei. Dia após dia, mês após mês, me servindo de doses saudáveis da garota que foi se revelando uma pessoa divertida, amável, tranqüila e cheia de congruências comigo. E como conseqüência, eu continuei precisando dela mesmo depois que o roxo se foi. Não era mais apenas a decisão, o cabelo, o sorriso ou a tranqüilidade. Eu tinha um amiga, daquelas de verdade, na garota que escrevia as palavras doces e amargas que me lembrava a mim.
E então eles vieram. Os meio-abraços, tímidos e sem jeito, em retribuição ao meu afeto mal explicado. Mas não se enganem, eu ficava feliz por recebê-los. Eram os melhores meio-abraços que eu poderia receber pela manhã. Tornaram-se um pequeno vicio. Nossa pequena troca. E eu invadia sua sala todos os dias para dar-lhe um sorriso (e tentar quebrar-lhe as costelas com afeto) e ganhava um meio-abraço cheio dos seus pequenos significados. E nós passamos a trocar letras e a dividir pânicos e salas de avaliações lotadas com notas baixas. Pelo menos nos fazíamos companhia. E da companhia vieram então o maior presente, os abraços inteiros. Sim, estamos realmente falando de dois braços!
E então, chegamos aquele ponto, o ponto tenso onde os caminhos se separam. Chegamos aos abraços cheios de lágrimas e ás promessas que só vamos tentar cumprir. Chegamos ao fim do lugar-comum, dos nomes em comum, do presente em comum. E mesmo agora os abraços, mesmo que inteiros, perdem a intensidade, por que perdem a freqüência. Chegamos no ponto das lembranças. Dos encontros raros. Dos desencontros. Das saudades intensas. Imensas."


ps: trecho do conto da historia da coisa que eu escrevi pra minha querida amiguinha Mah. Eu ia postar inteiro, mas ficou muito grande. vai só o trecho então.
T.

21 maio 2010

Caderno de Anotações.


Ela se sentou frente ao caderno, olhos fechados, sono. Ela queria esquecer o mundo lá fora, ela queria voar pra longe. Ela detestava o ao redor. Ela detestava as vozes, ela detestava o mundo lá fora, querendo comê-la, querendo desaparecer com tudo o que a fazia diferente. Ela só gostava do seu silêncio, das suas paredes, das suas folhas. Ela queria tanto, tanto, voar pra longe, mais longe que o longe, fora do alcance das vozes, das mãos, do desdem dos que eram massa. Massa sem raça, sem vitória, sem história. Massa que ela não era.
Mas... Ela não podia voar pra longe. Ela não tinha asas. Não tinha brisa para carregá-la nem cometa para agarrar a cauda.
Ela só tinha um caderno.
Onde voava nas linhas, nas histórias.
Ela só tinha aquilo.
Só folhas.

16 maio 2010

Felicidade.

Pensa em mim vez ou outra e me ame, nem que seja por pensamento. O importante, eu juro, é o sentimento. Ele só precisa existir pra me deixar feliz. Eu só preciso ter certeza dele. Eu só preciso ter certeza de você. Então exista, mesmo que só por alguns momentos, preu ter certeza de que não é ilusão. E se mostre, sorrindo, preu ter uma imagem a guardar. Não vou precisar do toque, de inicio, ou da palavra, da declaração. Só me deixe ver em seus olhos que existe uma verdade, e eu me darei por satisfeita. É que eu sou criança. E criança se satisfaz com pouco. Criança só quer amor de verdade. Criança só quer saber de felicidade. E você me faz feliz. Então, te encontro por aí. Não foge de mim, não. E quando me ver, sorri. Eu vou sorrir também. E ser feliz.

10 maio 2010

Contraste.

Pela manhã ela era só um emaranhado negro de cabelos sob o travesseiro branco e sobre o peito alvo do homem que a amava. O homem que ela amava.
Pela manhã, ele era só mais um apaixonado que observa a sua particurlar razão do amanhecer sorrir durante o sono. Durante sonhos. Durante um sonho com ele. Durante uma lembrança de uma tarde de amor.
Pela manhã, eram só homem e mulher, possivelmente desacordados, mas ainda sim visivelmente, palpavelmente apaixonados. Unidos em todas as possibilidades, dedos e corpos e cabelos, como se fossem um. Eles eram.
E pela manhã a diferença tornava-se clara, mas divina, como arte. Preto no branco, branco e preto, misturados, unidos e entrelaçados. E de manhã não existiam palavras, só os carinhos, os toques e os suspiros.
De manhã, tudo tornava-se banal, tudo era pouco ante a beleza e a perfeição obvia do contraste das peles em movimento suave sobre a cama. E de manhã, enquanto se amavam e abriam os olhos para absorver a beleza oposta, não existiam as críticas, não existiam vozes e não existiam olhares cheios de qualquer censura. E de manhã eles se banhavam um do outro para ter o suficiente para o dia. Para ter a dose certa de preto e branco.
Pela manhã, nus, absorvendo e observando o sol, eles sentiam e vibraram luz, vibravam contraste. Banhados nela, se sentiam e se viam perfeitamente, diferentes e identicos, unidos no contraste perfeito, no entrelace perfeito, num casal.
De manhã, eles se reconheciam e admitiam, livres, loucos e extremamente apaixonados.
De manhã, eles eram apenas e muito mais que homem e mulher. Eles eram perfeição. Preto e Branco. Contraste.

07 maio 2010

Harta.


Me cansei. Depois de tanto tempo e tantos anos, estou farta. Não quero mais. Não te quero mais. E é fato, nao possibilidade. Deixou de ser desejo para ser mais. Muito mais. Ato.
Não serei mais a menina que espera o correio a espera das suas letras. Elas nunca me diziam muito mesmo. Elas diziam pouco, muito pouco, de você e de mim. Elas nao me embebiam o suficiente em você. E agora, nao faz diferença. Não quero você.
Não vou mais esperar as ligações, a voz. Estou imune. Não ouvirei as palavras vazias, as promessas falsas. Desconsiderarei toda e qualquer declaração, assim como desconsiderarei sua existencia tola. Também não a quero.
Vou apagar todo e qualquer registro de você. Não quero nem a lembrança. Não quero a sombra nem a carne. Não quero, é fato. Não te quero. Então não me procure, por que eu não te reconheço. Nem teus atos. É tudo. Adeus.

06 maio 2010

"Fiquei com medo do pra onde caminhava. Fiquei assustada com quem era eu. E no medo, me isolei. Se alguém for bancar o herói, essa é a hora."

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