18 maio 2016
Sequencial
"Reparei que algumas fotos sumiram da mesa da sala", ele diz, cuidadoso. Os olhos castanhos do meu melhor amigo me sondam, mas não tenho emoções a entregar.
"Acabou".
Eu digo simplesmente, entre goles do meu café amargo, sem meias palavras ou mágoas. Suas sobrancelhas se erguem por detrás de sua própria caneca, mas se ele está surpreso com meu tom blasé, não dá nenhum outro sinal.
Suas palavras hesitam por um segundo.
"E agora?"
"Finalmente um pouco de paz de espírito? Não sei. Foi bom saber que meu coração ainda era capaz de bater, que eu ainda podia completar. Mas acabou, e eu preciso lidar com isso também".
"E é só isso? E tudo bem?"
"Estranhamente, sim. As vezes, é claro, me bate solidão, e a saudade daquele abraço parece me dominar, mas a vida segue. Eu vou seguir também. A gente precisa aprender a ser feliz sozinho".
E seus olhos me percorrem como quem procura uma brecha, como quem procura me ver através. Mas sou transparente e não guardo segredos, dou voz e letra e cor a tudo o que me transtorna. Não tenho tempo para guardar velhas ou novas mágoas. Não tenho energia ou vontade para rancores.
"Tem certeza?"
"É claro", concordo, meu semblante tranquilo. As bordas de um sorriso cansado e doído se abrem em mim, mas o gosto é de fim de tarde e não sinto doer muito mais do que no fundo de mim. Faz semanas. Eu já me acostumei às minhas ausências.
"Não quero soar negativo, mas estou um tanto surpreso. Vocês respiravam um ao outro. E agora...".
Ele deixa no ar sua confusão, mas eu posso apenas encolher meus ombros. Não tenho respostas a dar quanto aos amores que me falharam.
"Eu sei. Mas é assim que as coisas são. O tempo passa. A gente cura".
Ele me faz um carinho a esmo e eu reviro meus olhos, exasperada. Mas meu sorriso cresce, cheio de certeza, e ele relaxa contra a parede oposta, suas preocupações se esvaindo tão rápido quanto surgiram. É que ele me conhece bem, sabe me ler como ninguém. E agora, está tudo bem.
Sequencial
2016-05-18T17:44:00-03:00
thaic.
bobagens e romances|cartas pra ninguém|falando em desamor|histórias do melhor amigo|
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