10 novembro 2012

Já é tarde (Ya no llores).




    Os pés marcaram na areia o longo caminho que percorrera. E ele caminhara pelo que lhe pareceram horas, forçando um silêncio até mesmo de seus próprios pensamentos. Pois sua consciência pesava, maltratando-o e recordando-o, quando ele lhe dava a brecha, de que toda sua sanidade estava por um fio. A mulher que ele amava estava a um passo de partir. E a culpa não era de nenhum outro, se não dele.
    Não fazia mais de uma hora ele finalmente confessara, após meses de uma consideração culpada, que andara vendo outra mulher. Mas sentia que agora, as vésperas de um casamento, não era justo com ela, a sua noiva, firmar este compromisso sem que estivesse ciente disso. E ela, tal como ele esperara, apenas perguntara se aquilo queria dizer, para eles, o fim.
    E ele não tinha uma resposta.
    Era óbvio que ele não queria deixá-la, ele disse a si mesmo, mas tampouco conseguia olhar dentro daqueles profundos olhos castanhos com a sinceridade que um dia sentiu. Mas a devoção e o amor que lhe dedicava, esses ainda eram os mesmos da primeira vez. Talvez fossem até maior agora. Ele aprendera que não podia viver sem ela, coisa da qual duvidava quando começaram. Definitivamente, ele a queria muito mais agora, quando estava a um passo de perdê-la. Na iminência do adeus, ele aprendera a amá-la muito mais.
     Mas era igualmente óbvio que aquilo não fora de todo suficiente. Ele se deixou levar, e antes que percebesse estava frequentando a casa e dormindo com a mulher que um dia fora sua secretária. Ela saiu, deixou o emprego, e antes que pudesse se impedir estava nos braços dela. Estava nela. Uma e outra vez, uma noite após a outra. Ele não prestava. Ele sabia. Mas ele a amava. Ele sabia agora. Mas tudo o que precisou fazer para ter certeza... o fazia sentir um homem pior. Um homem sem moral, sem decência. Por que ele a amava, e mesmo naqueles dias ele sabia disso, mas ainda assim, fora capaz de fazer o que fez. Mais de uma vez. Mais de uma noite, mais de um final de semana. 
    Ele a vira, a amante, e cuidara e abraça e acarinhara o corpo pequeno de riso fácil, com as mesmas mãos que tocavam a futura esposa e os mesmos lábios com os quais mentia pra ela. E ele não podia voltar para ela com esses mesmos lábios, essas mesmas mãos, essa mesma alma marcada pela vergonha de ter ferido a mulher que amava. A mulher que era a correta, que era sua, que lhe prometera sempre estar, que o desejara tanto a ponto de querer que fosse sempre eterno para sempre diante de algo maior. E ele, o pária, quebrara todas as promessas e jogara fora todo o futuro e agora queria perdão. Mas ele sabia que não devia. Sabia que era sua hora de ir embora. Por que ela merecia mais.
      Então, quando caminhou de volta pela praia que deveria ser onde eles se tornariam tão infinitos quanto os grãos de areia, ele tinha a resposta para a pergunta que ela tinha nos lábios, tinha nos olhos, tinha no peito e nas lágrimas que escorriam e que ele podia ver mesmo a distância. E ele também chorava, chorava por tudo o que eles jamais seriam, por que ele não merecia e ela merecia muito mais. Então ele veio e se sentou ao lado dela, e não tocou-lhe as mãos, por que sentia-se sujo, e disse-lhe apenas que não chorasse mais, que não valia a pena, que os cacos do que se quebra deve se varrer porta afora, e não alma adentro. 
     Ele não ia ficar, eles não iam ser, por que ele não sabia encará-la depois de tê-la traído. Ele não queria ver nela as feridas que causara. E ela guardou silêncio, mas não as lágrimas, e ele olhou-a nos olhos - uma ultima vez, pensou, - e disse que não chorasse mais. Era o fim, mas só pra ele. Pra ele, já era tarde. Pra ela, era apenas o começo. O começo do infinito de outros amores. O começo de um mar de novas possibilidades.


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