14 agosto 2011

Promessa.

Eu queria hoje poder sentar aqui e falar um pouco da minha dor. Mas não consigo. Ela já está tão velada no meu peito, tão envolta pela minha rotina sem você, que eu já não consigo separá-la de mim para encarar seus olhos e descrevê-la. È que desde criança eu vivo assim, preferindo não pensar pra não fazer doer. É que sua ausência me matou por muitos dias. Me fez chorar por muitos dias. Me fez pensar em porquês, em razões, em desesperança e em egoísmo. Eu era criança. Eu não entendia. Eu ainda não entendo. Nenhuma desculpa jamais vai ser suficiente pra entender por que o mundo levou você de mim. Eu te precisava tanto. Eu ainda preciso. Mas cresci, sobrevivi, sem a palavra e o significado que pra tantos é rotina. Eu não sei o que é. Não sei descrever. Não sei falar sobre. Desculpa, não acho que seja culpa de ninguém (a não ser talvez, daquele outro motorista que achou uma boa ideia dirigir do lado errado da pista). Mas aconteceu, e como num sopro, tudo o que eu tinha de você era poeira, meia dúzia de fotos e umas lembranças ruins, daquelas que a mente infantil nunca esquece, da bronca e dos gritos por causa de alguma coisa que eu fazia e não devia. Desculpa. Não faço mais. Nunca mais. Por que, agora, você não pode mais me corrigir. Então, o que eu deveria fazer? Qual é o plano de ação agora? Eu juro que eu tentei guardar silencio, brincar de forte, fazer de conta que eu não ligo. Eu juro que deixo escapar a palavra como quem não quer nada, como quem não se fere. E a escuto sair da boca de quem vive, de quem ainda tem, de quem não entende nada sobre o que eu sinto e se sente no direito de me dizer como devia ser. E eu sorrio falso, mas firme, que é pra ninguém achar que eu sou fraca, e que não superei. Mas eu não superei. Como poderia? Eu amo você. Daqueles amores que vão na alma, como devia ser. E eu sei que o seu também vai, lá do céu, de onde você estiver, você olha pra baixo, por mim, pra me guiar. Eu sei que você olha. Mas eu queria um abraço. Eu queria uma palavra. Eu queria lembrar dos seus olhos. Ah, céus, como eu queria ter mais que uma imagem e o som de um grito, que mesmo ruins, já se esvaíram a tempo da caixa da memória onde te guardei. E agora, pai? Eu vou ter que esperar pro infinito nos fazer reencontrar? È que dói. Mas eu te prometo, vou ser forte. Eu prometo, vou esperar. Vou fingir, se tiver, pra só você saber da minha dor, da minha espera, dessa nossa promessa. Pra não fazer doer naqueles que a gente ama também. A gente vai se reencontrar. Eu vou encarar esses olhos negros, que eu sei, eu espero, são da mesma cor dos meus. Vou achar meu rosto no seu, cara-a-cara, e não nas fotografias velhas em que eu não consigo mesmo te reconhecer. Vou chegar ai, pai. E vou viver até lá. E vou dar o meu melhor, pra viver feliz, pra alcançar. Mas vou chegar, pai. Olha por mim até lá. E guarda seus braços pro nosso abraço. Eu vou cobrar.


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