08 junho 2013

Entre tuas mãos


- Eu sou problema, sabe? Problema dos grandes.
- Vale a pena.
Ele responde, confiante, feito daquele sorriso levado que eu sei que ele separa só pra mim.
Ele não entende. Digo isso a ele, e ele dá um passo a mais em minha direção.
- Eu não estou brincando. Eu sou causa grande, lágrimas de madrugada, depressão que vem em ondas. Eu sou saudade aleatória até de gente que eu nem lembro mais.
Ele sabe que eu não sou capaz de dizer o nome, pronunciar a palavra. Ele já conhece uma parte dos meus danos. Sabe onde estão algumas das minhas cicatrizes.
Mas é só o começo e ele precisa entender.
- Eu sei que não sou boneca, mas eu tô quebrada. E a evidência é clara, as peças estão pra todo lado. Eu tô partida, você tem que ver. Isso aqui é só fachada, a parte da frente que tá colada pra mostrar na vitrine.
- Eu não ligo. Eu quero você.
Ele diz, e a voz é tão firme que eu até acredito - apesar de ainda não concordar. Ele não sabe bem onde está se metendo. Não imagina a extensão do rasgo no peito da mulher que ele segura entre os braços, tão protetor.
- Vai doer se você desistir quando descobrir que eu era caótica demais pra você.
- Eu estou te tomando inteira, boneca. Com os rasgos, os cortes e as peças faltando. Por que eu não tô aqui pra amar só uma parte de você, seja o rostinho bonito ou o corpo que foi feito pra encaixar no meu. Eu quero o pacote completo. E, quem sabe, eu não posso consertar você? Colar uma parte, fazer uns remendos. Não sou nenhum mestre e tenho eu mesmo alguns cacos faltando, mas tenho certeza de que dá pra improvisar um conserto.
Eu rio, mas posso sentir minhas lágrimas borbulhando por trás do sorriso. Ainda não sei se acredito. Estive partida por tempo demais.
Ele me abraça mais apertado.
- Não me manda embora, boneca. - Ele roça o rosto no meu e meus olhos se fecham. - Me deixa ficar. Me deixa pelo menos tentar de deixar inteira de novo.
Uma lágrima escorre e morre cativa de seus lábios. Não sei o que estou fazendo quando roço os meus nos dele, mas posso me sentir ceder.
Eu também o quero.
- Eu espero que saiba o que está fazendo, - sussurro, minhas mãos perdidas em seu cabelo, nós dois tão próximos que, por um momento, meu peito sente inteiro como nunca é. - por que estou colocando todos os pedaços de mim em suas mãos. E é isso, é final. Se me quer, sou tua.



Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©