30 setembro 2010

Mentirinhas.


Chorei quietinha, pra não ser ouvida, pra não ser consolada por gente que não liga (e quem liga?). Me escondi pra sentir sozinha, pra não ganhar os abraços fingidos e os meio sorrisos de má vontade que se soltam das bocas daqueles que fazem fila pra rir de quem passa chorando. De quem passa sofrendo. De quem vive sentindo. Fiquei em silêncio e menti, de cara lavada, pra fazer passar mais rápido as pessoas de quem eu não queria ver nem mesmo a sombra sob a parede. Eu disse tudo bem e sorri falso e sequei os olhos antes mesmos das lágrimas cairem. Eu me apaixonei sozinha, e fingi que não. Pois pior que chorar sem lágrimas, que sentir e esconder sob a pele, é se apaixonar de novo e de novo pelo mesmo olhar sem cor e abraço vazio, sem calor. E eu minto que não, que é pra ninguém menosprezar aquele sentimento. O meu sentimento que eu mesma menosprezo. E eu me ocupo de outras dores que é pra eu mesma não saber que está doendo. Por que assim, nem eu me incomodo de pensar que não há amor pra mim naquele espaço vazio. Eu minto que não há espaço vazio. Eu minto que não há dor. E assim não dói dor de amor.

18 setembro 2010

"Não é que eu não ame você"

Eles se olharam tensos, e ela parecia chocada com o que tinha acabado de ouvir. Seus olhos azuis estavam intensos, elétricos, de repente muito vivos para o rosto pálido contornado pelo cabelo loiro demais, quase branco. Mas ela ainda era linda. Mesmo com aquela expressão (entre o ofendida e o irritada), ela ainda era uma das garotas mais lindas que ele jamais veria.
"Linda demais para sofrer de amor", dissera-lhe certa vez o pai, seu confidente mais fiel, quando ela lhe confessara que se apaixonara por alguém que não era capaz de amar ninguém, nem a sí mesmo - que dirá a ela.
Linda demais para sofrer de amor? E isso lá existia?!
E agora ali estava ele, o sem-vergonha, lhe pedindo, sem nenhum pudor, que o ajudasse. Lhe pedindo que se traísse.
Bem papai, você estava obviamente errado.
- Você sabe que eu amo você, não é?
- Sei.
- E ainda sim pretende me pedir isso? Abusar assim? - De mim? Do meu amor?, ela poderia ter acrescentado, mas soaria por demais dramático. Ela não estava estrelando uma série adolescente, no final das contas.
Ele suspirou de leve. Parecia debater consigo mesmo algo importante. Ela imaginou por um segundo vê-lo corar, mas não era possivel. Não aquele cara. E quando ele levantou os olhos para ela, não havia nem a sombra de qualquer traço de rubor em seu rosto.
- Não é que eu não ame você. É só que eu ainda não estou pronto pra admitir.
A boca de Anie se abriu num pequeno "ah" enfezado.
- Você não presta.
- Eu sei. Mas ainda sim você me ama.
- Por que eu sou muito idiota.
- Não, não é não. É por que eu sou o cara certo pra você.
- Não parece, hein.
- Eu sei. Mas é só que essa ainda não é a hora certa. Falta só um pouco.
- Um pouco? - Ela perguntou, achando até graça. Ele estava mesmo, mesmo, lhe pedindo para esperá-lo? Aquele safado?
- É. Um pouco, e eu vou poder amar você. Direito.
- Direito.
Ela repetiu, sem tom. Ele sorriu. Ela baixou os olhos, para não se deixar levar pelo sorriso branco demais e quente demais do cara que ela amava.
- Eu ainda não...
- Fica quieto. Eu vou fazer como que você quer. Mas eu não quero ouvir nem uma palavra sobre nada disso. E também não quero mais ouvir sobre esse "um pouco". É ridículo.
E o sorriso dele ficou ainda maior.
- É por isso que eu amo você.
- Não, não ama não. Quem te ama sou eu. Você é só um cara que não presta.
- Eu sei. Mas eu sou o cara que não presta que você escolheu.
Ela murmurou um "blablabla" sem som e ele soltou um risinho. Os olhos azuis de Anie pareciam querer comê-lo, então ele lhe segurou a mão, tranquilo. Alisou os dedos compridos de unhas bem feitas. Ele gostava dela. Mesmo. Mas ainda não estava pronto. Ele ainda não podia garantir que não a machucaria. Não de verdade.
- Relaxa. Vai tudo se encaixar no final.
E ela não olhou pra ele, por que tinha certeza de que ele estava certo. Cedo ou tarde, ele ia acabar admitindo. E talvez, só talvez, ela ia poder descobrir que ele prestava. Ela acreditava nisso.
Só um pouco.

After all.

Fui faz tempo uma menina assustada. Abandonada por si mesma. Mas desisti de esperar que alguém viesse me buscar (já que eu não me bastava) e me tornei apenas solitária. Uma menina daquelas que passa as tardes sozinha, as noites sozinha e as manhã sozinhas. Mas quem precisa de companhia, after all? Aprenderei a me bastar, se é só o que terei. Aprenderei de um jeito ou de outro. Para, daqui um tempo, ser muito mais que uma boba menina assustada. Ser uma menina daquelas que, vai saber, chegam até a impressionar. Daquelas que sorri. Sorri de verdade.

09 setembro 2010

Desencanto.

Era macio. Colorido. Era de alguma forma, de algum modo, muito, muito especial. Eu só queria tocá-lo. E por dias, por vezes, tudo o que eu queria era tocá-lo. Mas se tornou opaco. Escuro e sem vida, sem apelo. Perdi a vontade de você. Perdi a sede, o calor. E por pouco, por muito, te perdi completamente. E nem liguei.

Coisas da vida.

O peito nunca doeu tanto por causa tão pequena, traição tão pequena. Solidão nunca foi tão intensa, tão propensa ou tão real. E eu volto ao ursinho de pelúcia saudoso, ao único companheiro. Mas agora nem ele me conforta. É dor demais pra um algo inanimado. É dor demais até pra mim.

Recisão

Afrouxei os laços em volta dos seus pulsos, porque sei que não és minha.
Afastei de mim, a passos lentos, a devoção e a incondicionalidade que sempre nos rodeou, por que já entendi que sou apenas eu. Não quero entrar no mérito do "sempre fui" por que mesmo imaginar solidão por tanto tempo já me machuca. Me enche os olhos d'agua.
Agradeci em voz baixa - e em letras apologéticas - por todos os anos e por todas as lembranças, que são apenas o que levarei comigo.
Acenei meu adeus seco e sentido, sorrindo forçado e me recusando a pensar em traição.
Assinei os termos, dei meia volta e chorei meu pranto sem lágrimas e sem sinais - meu sofrimento era só resquicio e já não tinha mais graça ou sentido, nem mesmo para mim.
Tranquei nossas fotos numa caixa no alto do armário e recebi a solidão a pão-de-ló. Se ela era tudo o que eu tinha, que fosse ao menos bem tratada, para que depois, não saísse reclamando de solidão.

06 setembro 2010

"Costas Distantes"

Ela observou, com os olhos reservados de muitas emoções, as costas dos seus amigos seguirem seus caminhos, a passos firmes e decididos. A maioria deles agora tinha novas companhias para sua nova jornada e parecia bem feliz; mas ela não podia confirmar já que não podia ver seus rostos para confirmar se neles havia sorrisos. O máximo que podia fazer, dali onde se mantinha estática, era esperar que sentissem falta dela em algum ponto do caminho e lhe voltassem então suas memórias mais sorridentes e felizes. Desejar que pensassem nela com algum carinho. Com alguma saudade.
Ela bem que tentou se resignar a sua nova vida de solidão. Ela se prepara para isso, tempos atrás, mas foi surpreendida com os mais valiosos amigos que pôde ter. E agora, três anos depois do que ela previra, se via sozinha. A solidão viera, de todo modo. Ela não pôde fugir.
- Cedo ou tarde todo mundo tinha que ir embora mesmo. - Ela ouviu a voz sentenciar, não parecendo realmente incomodada com aquela triste realidade. - Algúem disse, em algum ponto do caminho, que as pessoas sempre deixam você pra trás.
- É, eu sei... - Ela respondeu devagar à voz sem rosto. - Mas tinha mesmo que ser todo mundo ao mesmo tempo? Como se participassem todos de uma maratona para ver quem ia primeiro?
A pobre perguntou, parecendo ressentida do modo como as coisas iam.
- Bem, é a vida, querida.
E ela suspirou, cansada demais dessa respostinha incompleta para se dignar a respondê-la.
- E você, está esperando o quê pra partir?
Houve silencio por um momento, e então a voz saiu meio risonha, como quem zomba da coragem da pequena de peitá-la.
- Apenas o Sol se pôr. Aí, minha cara, nem essa sombra medíocre que eu sou você terá por companhia.
- Ora, é mesmo? E quem me garante que não é melhor a solidão?
- Vai saber logo.
- Então pretendes mesmo partir?
A pergunta soara de algum modo doce, de algum modo dolorida, mas ninguém a respondeu.
- Eu perguntei se é verdade que partirás? - Ela repetiu, uma nota de pânico se mostrando em sua voz fina.
A própria voz pareceu ganhar eco em seus ouvidos, mas não era verdade; o silêncio era tudo o que era latente ao seu redor. Parecia contínuo, um grito que se estendia, devagar e preguiçoso do mundo invisivel e vazio que a rodeava agora. Tremeu. E percebendo seu frio, notou o que lhe ocorria.
Lá se fora o Sol. E lá se fora o ultimo dos restantes, a sua ultima companhia. Lá se fora sua amarga consciência. Seus ressentidos sentimentos.
E nada restou à pobre além de dizer olá àquela escuridão. A mesma escuridão que já não lhe permitiria nem mesmo divisar as costas das pessoas que lhe deixavam para trás. Nada lhe restou além de lhe fazer uma mesura à guisa de boas maneiras. E também à solidão que veio com ela.
Eterna, até lhe provarem o contrário. Eterna e Inquebrável.

05 setembro 2010

Alternativo.

Fiquei me perguntando se teria sido diferente se você tivesse ficado. Se teríamos lutado por nós com unhas e dentes, se nos agarraríamos um ao outro como se não houvesse mais ninguém a amar. Fico as vezes até imaginando suas palavras, desenhando no ar o seu rosto doce das minhas lembranças e escutando, sem querer, a sua voz como soava de manhã, no pé do meu ouvido. E é por acalentar, as vezes, essas alucinações, que fico me perguntando se você poderia ter ficado, mesmo que um pouco, pra tentar me aceitar com meus defeitos e me acariciar com sua perfeição desconcertante (que, de fato, só era perfeita aos meus olhos). Às vezes eu fico me perguntando, mas não gasto muito tempo por que tenho todas as respostas. Você jamais teria ficado, quer eu tivesse escolha quer não. Você era orgulhoso demais, e ainda é, admito, para aceitar mesmo a minha dúvida sobre a vida daquele momento. Mas eu gosto de me perguntar, mesmo assim. Faz mal nenhum sonhar contigo.

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