05 junho 2013

Querida Daisy,

Peço-te perdão pela intrusão, pela pressa e pelo tom forçado de poesia que escorre de mim, mas já não sou capaz de calar o peito ou de aguardar, nem um segundo a mais, pela sua resposta. E eu sei que é rude, mas oras, nunca soube ignorar meus instintos. Estou desesperada.
Minha insônia e as palavras que não sei ordenar não tem me deixado descansar. Não sei bem o que fazer de mim. Tenho evitado as lágrimas, por que tenho essa sensação de que, uma vez que comece, não serei capaz de parar, e acho que ainda não estou pronta pra encarar esses demônios. Por isso, tenho evitado os espelhos.
Não sei bem o que espero dessa mensagem. Não quero uma resposta ou uma solução.Quero um fim. Deus sabe que, se estou de pé nesse desfiladeiro, é por que tenho medo do que me espera depois do salto. Sou muito da menina católica que vovó criou para me permitir tirar de mim a vida que me foi dada. Sei bem que não tenho o direito. Mas estou evitando as ribanceiras, só por precaução. Já me despi da esperança, mas não quero dar espaço pro manto da loucura. Não quero mesmo.
Hoje foi difícil. Todas as lágrimas alheias pareciam rolar por mim e todas as músicas pareciam cantar meu coração partido pela vida que não vivi. E eu não sei dizer quanto do meu sal ficou contra a janela, ou quantos olhos me viram balbuciar a letra que pedia às vozes que gostassem de mim, por que eu só queria ser aquecida, amada, confortada. E todas as palavras que guardei e disse, e todos os abraços que me embalaram, por um segundo, me colaram por mais uma noite, mais um pouco, só um pouco, até que esta carta ficasse cheia de mim em pedaços, em sobras, em água e sal. Mas eu sei que você não se incomoda, que você me aceita partida e que você me entende quando em escala de cinza, por que a gente fala em poesia, em azul e em Leminsky, mas sabe bem o que se enconde sobre as nuvens. E tem chovido em mim sem parar, Daisy. Tem chovido oceanos.
Eu já te contei que não sei nadar, Daisy? Nunca aprendi. E essa coisa de acompanhar a correnteza, de rio da vida, de oceano de mim, tem me afogado um pouco. Tá quase impossível manter a cabeça pra fora d'água. Acho que é difícil mesmo boiar quando se quer afundar (mas não se preocupe, Daisy, querida. Essa carta é só um desabafo.  Ainda não estou abraçando âncoras. Ainda tô firme.).
Te escrevo de novo se conseguir chegar á praia. Colocarei uns grãos de areia no envelope, que é pra você dividir comigo um pôr-do-sol em terra firme. Pra compartilhar da minha paz de espírito.

Até outro dia,
da amiga,
T.

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