24 abril 2009

Saído da Insônia.


E a menina ali, quase estática, inquieta, com a caneta em punho arriscando algumas letras no papel. Era quase carinhosa a preocupação com cada uma delas, suas preciosas idéias, e o esforço que fazia para tirá-las de si. Ainda sim, linha após linha, palavra após palavra, ela riscava tudo o que conseguia pôr pra fora, frustrada com sua falta de capacidade de escrever algo que agradasse pelo menos a si mesma.
Os cabelos, presos em um nó frouxo, iam lentamente, fio após fio, de encontro ao rosto aflito e nunca considerado verdadeiramente bonito, pelo menos não por ela mesma. Não que ela se importasse com sua beleza naquele momento. Não se importava com nada além da folha já muito marcada, embora originalmente lisa e branca, que ela tinha a sua frente.
E a caneta continuava a escrever e a riscar compulsivamente, nervosa, enquanto seus pensamentos fluíam, suas idéias rejeitadas seguidamente por seu afiado (e descontrolado) senso crítico.
Risc. Risc.
Não fazia sentido, não tocava ninguém, não era o que ela queria dizer agora. Justificativas para os cortes na linha de pensamento pipocavam uma atrás da outra enquanto ela seguia pela folha de ininterruptamente, quase desesperada.
Ela não sabia o que dizer. Tinha tantas idéias, tantos caminhos pra seguir que não conseguia descobrir o que mostrar, o que fazer, o que explorar. A consciência disso era mais dolorosa que o fato em si. Estava perdida, simplesmente. Não era capaz de encontrar um caminho pra seguir, não se acreditava capaz de seguir nenhum. Mas ela era, não era? Essa era a única coisa na qual sempre pôde acreditar e, de repente, isso era uma dúvida.
Perturbada com suas conclusões (ou falta delas) tentou de novo. E as palavras saíram, querendo se passar por verdadeiras:
Eu não tenho certeza do que fazer.
Risc.
Eu não sei o que fazer.
Risc.
Eu sei o que fazer.
Risc. Risc. Risc.
O que fazer?
E, cansada de suas próprias perguntas, abandonou a folha, quase completamente preenchida. Não por palavras, como ela pretendera, mas por riscos. Por cortes. Por Dúvidas.

Um comentário:

  1. E eu nem tenho palavras pra descrever o texto que acabei de ler...
    Se a gente parar para pensar, como é difícil escrever os sentimentos!
    Talvez porque as mãos não acompanhem os pensamentos, ou pelo fato de não existirem palavras em quaisquer idiomas para expressar o que sentimos.

    Parabéns pelo blog!
    Já está nos meus favoritos ^^
    Beijos ;*

    ResponderExcluir

agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©