28 abril 2009

Sobre si mesma.

Ela se olhava no espelho, mas não era seu reflexo que a encarava de volta. Não podia ser. Ela se recusava a acreditar nisso.
E por mais que os cabelos parecessem os seus, os olhos castanhos parecessem os seus e até mesmo a sua pinta “de estimação” estivesse no mesmo lugar, ela não podia aceitar que aquela pessoa era ela mesma. Não fazia sentido! Como se transformara naquilo? Quando tudo chegou naquele ponto?
Ela queria respostas. Ela tinha tantas perguntas! Já estava naquele ponto em que as duvidas não podiam ser respondidas por ninguém que não fosse ela. Não haveria certeza no que quer que fosse dito se não fosse ela a dizê-lo. Esta era a única coisa da qual ela estava convicta: somente ela conhecia o suficiente de si mesma para obter as respostas. E por mais clichê que isso possa parecer, ela sabia que o único lugar onde ela encontraria suas respostas, era em si mesma. No seu interior.
E então ela mandou pro inferno todas as preocupações das outras pessoas. Já estava confusa o suficiente sobre si mesma pra se preocupar com a opinião dos outros em relação as suas escolhas. E, ao se conscientizar disso, alguma coisa voltou ao lugar. Ela pode ver, no seu reflexo, algum traço de si mesma.
Seu próximo passo foi desprezar todas as opções que ela realmente não gostava. Era direito dela escolher o que fazer da própria vida, como vivê-la, com quais bases e convicções. Era direito dela gostar do modo como ia viver por muitos dos seus dias. E ao tomar essa decisão, outro grande pedaço de si voltou a pertencer a ela. Ela gostava da sensação de voltar a se conhecer, de reconhecer quem seus olhos mostravam no espelho.
E assim, decisão por decisão, fato por fato, ela se remontou. Coisas novas adentraram em sua mente, pontos de vista variados foram adicionados a suas antigas decisões e questões. Ela voltava a ser ela mesma, mas transformada pelo que deixava de ser.
Se encarou novamente no espelho, procurando por algo que ainda não fizesse parte. E não ficou surpresa de encontrar seu olhar, estranhamente brilhante e sonhador. Esse não era o tipo de coisa que ela teria facilidade em transformar de volta ao que já fora, e ela sabia exatamente o porquê: estava perdida e inegavelmente apaixonada por ele. Aquele brilho atípico nos seus tranqüilos olhos castanhos só podia comprovar o quanto ele a afetava, ainda que não o quisesse fazer.
“Talvez com o tempo”, ela pensava, “eu possa tirá-lo de mim. E aí então, eu poderei voltar a ser eu mesma, ou finalmente evoluir para algum outro estágio, para onde eu possa levar só o melhor que há em mim”.
E depois de tudo isso foi capaz, novamente, de sorrir. Quase lhe foi doído fazer o movimento sincero depois de tanto tempo aprisionada em seu outro eu, mas aquela pequena dor poderia ser facilmente suportada pela simples motivação do prazer que aquilo trazia à sua renovada alma. Era só o que ela queria fazer agora. Era só o que ela queria fazer pra sempre.

Um comentário:

agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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