04 agosto 2013

João Pedro

A primeira coisa que sinto quando volto à consciência são seus olhos sobre mim. E não preciso realmente abrir os meus ou procurar os teus para saber a direção em que olham ou os detalhes que apreendem, por que posso sentir o calor que emana de você bem acima, bem ao lado, bem por todo lado de mim. E é reconfortante te saber tão perto e é estranho te saber tão atento. Ainda é tão cedo, ainda estou tão desarrumada, tão desacordada, desalinhada demais pros seus olhos apaixonados. Ainda não estou a altura do teu verde, do teu dedicar.
Tenho vergonha das minhas falhas e me encolho, como que por reflexo, querendo tirar seus olhos de mim. Mas você me conhece bem demais e sabe tão bem quanto eu meus motivos mais escondidos. Sinto seus dedos correndo pela minha pele no carinho pausado, calmo, tranquilo de quem não se importa com minhas falhas. De quem me acha linda.
- Você está fazendo de novo.
Acuso com voz monótona, apesar do calor que corre o peito por dentro, da inquietude que é você no meu coração assim tão perto, assim tão cedo. E eu ouço antes de ver que você está rindo, e o som assim tão pela manhã parece mais claro e natural que os pássaros do lado de fora da janela.
- Não estou fazendo nada.
- Você estava me olhando dormir. De novo. Mesmo depois deu ter pedido pra você parar, por que é super creepy.
- Não é nada creepy.
Ele nega e, apesar do tom chateado, os olhos verdes estão sorrindo.
- Claro que é! Você está aí, com essa cara de bobo, com esse sorriso estampado, admirando minha inconsciência.
Ele ri e o som desperta animaizinhos no meu estomago. Borboletas? Tente elefantes.
- A culpa não é minha se você é linda. Você não tem ideia do que são seus cachos pelo travesseiro, seu sorriso enquanto sonha. Só eu sei.
Me viro de lado como quem tenta escapar, por que não sei bem o que fazer diante de elogios, nunca soube, e quando vem de você fico ainda mais sem graça, por que posso ver nos seus olhos que é tudo verdade. É esse seu verde-piscina, esse azul-fingindo-que-é-mar que me tira demais de mim, dos meus sentidos, da minha sanidade. Não sei como agir contigo. Não sei parar de sorrir.
- Para com isso. Está muito cedo pra me deixar assim tão sem graça.
- Bem, você pediu por isso.
- Não é verdade.
Eu digo, e você sorri aquele sorriso travesso e eu sei que é uma péssima ideia discordar de qualquer coisa, por que você está sempre certo quando sorri. Sacudo minha cabeça, vencida.
- Como você faz isso?
- O que?
Você pergunta, imagem da inocência, e eu não consigo conter o meu riso, o meu gargalhar. Ainda é tão cedo e já estou aqui, amando você com tanta ênfase que meu peito eclode em sorrir.
- O que eu fiz pra merecer isso, hein? Seis e quinze da manhã e eu descabelada, desacordada, esquisita, esparramada e atontada e ainda assim vítima desses holofotes verdes cheios desse... – Suspiro. – É demais, apenas.
Você sorri e se inclina e meus olhos se fecham quando nossos rostos se tocam, e seu nariz acaricia minha pele e sua respiração cumprimenta meu respirar e eu sinto que te amo tanto que as coisas chegam a sair um pouco do lugar. Mais um riso escapa de mim.
- Bom dia.
Você diz, e nenhuma outra palavra é necessária.

- Bom dia.

Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©